Nesta seção de comentários (e em outros lugares), o comentador VXXC cita o Conselho Sombrio de Durant: “Pois a liberdade e a igualdade são inimigas declaradas e perpétuas, e, quando uma prevalece, a outra morre. Deixe os homens livres, e suas desigualdades naturais se multiplicarão quase geometricamente”. Ele, então, observa: “Isso está bom para mim, eu vou com a Liberdade”. Este blog concorda sem reservas.
Tome este conselho sombrio como a tese de que uma dimensão praticamente significante pode ser construída, dentro da qual a liberdade e o igualitarismo estão relacionados como variáveis estritamente recíprocas. Tomando esta dimensão como orientação, dois modelos abstratos de redistribuição demográfica podem ser examinados, a fim de identificar o que é que os neorreacionários querem.
O Modelo Libertarianismo Suicida (MLS) de Caplan-Boudreaux, considerado aqui e depois esboçado aqui, toma a seguinte forma aritmética:
Suponha que existem dois países com populações iguais. A qualidade das políticas vai de 0 a 10, 10 sendo a melhor. No país A, os pontos de felicidade (a primeira escolha de políticas das pessoas) estão uniformemente distribuídos de 2 a 6. No país B, os pontos de felicidade estão uniformemente distribuídos de 4 a 8. […] Quando os países são independentes, o país A fica com uma qualidade política de 4 ( a mediana da distribuição uniforme de 2 a 6), e o país B fica com uma qualidade política de 6 (a mediana da distribuição uniforme de 4 a 8). A política média sob a qual as pessoas vivem: 50%*4+50%*6-5. …suponha que você abra as fronteiras, e todo mundo se mude para o país B (o país mais rico). A mediana de toda a distribuição é 5. Resultado: Os imigrantes vivem sob políticas melhores, os nativos vivem sob políticas piores. A média (5) continua inalterada.
Alguns ajustes preparatórias ajudam a suavizar o processo. Primeiramente, converta os “pontos de felicidade” de Caplan em coeficientes de liberdade (de ‘0’, ou igualitarismo absoluto, até ‘1’ ou liberdade irrestrita). Uma sociedade na qual a liberdade fosse maximizada não seria totalmente desigual (coeficiente de Gini 1.0), mas seria totalmente indiferente à desigualdade enquanto problema. Em outras palavras, preocupações igualitárias teriam impacto político zero. É neste sentido, apenas, que a liberdade é aperfeiçoada.
Em segundo lugar (e automaticamente), os julgamentos peticionadores de princípio de “melhor” e “pior” são deslocados pelos recíprocos ideológicos de liberdade e igualdade – não há qualquer necessidade de se compelir aquiescência quanto aos méritos objetivos de qualquer uma das duas. De fato, há toda razão para se encorajar aqueles inconvictos das atrações superiores da liberdade a buscarem satisfação ideológica em um reino igualitário, em outro lugar. Da perspectiva da liberdade, o êxodo igualitário é um bem inequívoco – mesmo supremo, análogo à dissipação de entropia política.
É ainda tacitamente presumido aqui que os coeficientes de liberdade se correlacionam linearmente com a otimização de inteligência, mas isto depende de mais argumentos, a serem colocados entre parênteses por ora.
O valor teórico extraordinário do MLS pode agora ser demonstrado. Devido a seu igualitarismo radical, ele define um limite péssimo para a neorreação e, assim, – por inversão estrita – descreve o programa abstrato para uma restauração da sociedade livre (o Modelo Neorreacionário de redistribuição demográfica, ou MN). A fim de mapear esta reversão, o curso mais simples é pressupor a realização completa do MLS em um espaço ‘geográfico’ arbitrário, que é tomado como sendo flexivelmente divisível e populado por 320 milhões de pessoas, homogenizadas pelo MLS a um coeficiente de liberdade de 0.5.
Confinando-nos às ferramentas já empregadas no estabelecimento do clímax do MLS (ao passo que – pelo bem a apresentação lúcida – ignoramos quaisquer assimetrias da catraca degenerativa), vamos agora proceder no caminho da reversão. A lei de conservação do MLS mantém que a liberdade média é preservada, de modo que um cisma inicial produz duas populações iguais – equivalente àquelas do ponto inicial de Caplan – cada uma contando com 160 milhões, mas agora diferenciadas, na dimensão do conselho sombrio, com coeficientes de liberdade de 0.6 e 0.4.
Persiga este procedimento de divisão territorial / populacional e diferenciação ideológica de maneira recursiva, focando exclusivamente no segmento comparativamente livre a cada vez. Os 160 milhões de 0.6s se tornam 80 milhões de 0.7s, e um número igual de 0.5s. Após cinco iterações, a distribuição des-homogeneizada neorreacionária-secessionista final é alcançada:
160 milhões x 0.4
80 milhões x 0.5
40 milhões x 0.6
20 milhões x 0.7
10 milhões x 0.8, e – encarnando o significado da histórial mundial, ou pelo menos absorvendo a exaltação neorreacionária –
10 milhões x 1.0
Aproximadamente 3% da população original agora vive em uma sociedade verdadeiramente livre. Para Caplan e outros proponentes do MLS, claro, nada que seja foi ganho.
Ainda assim, assuma, ao invés do universalismo utilitários do MLS, sobre fundamentos profundamente desigualitários, que a quantidade agregada de liberdade fosse considerada de importância vastamente menor do que a qualidade exemplar da liberdade, então a realização neorreacionária é gritante. Onde a liberdade não existia em nenhum lugar, agora ela existe, a um custo essencialmente irrelevante de deterioração socialista moderada em outros lugares. Metade da população original – 160 milhões de almas – foi agora liberada para gozar de uma sociedade ‘mais justa’ do que conheciam antes. Por que não lhes parabenizar pelo fato, sem ser distraído indevidamente pela fome e pelos campos de reeducação? Pode-se confiantemente presumir que eles teriam votado pelo regime que agora toma conta deles. Seus arranjos políticos internos não precisam mais nos preocupar.
Para a Neorreação (O MN), não é uma questão de se as pessoas (em geral) são livres, mas apenas se a liberdade existe (em algum lugar). A mais alta obtenção de liberdade dentro do sistema, em vez do nível médio de liberdade ao longo de todo o sistema, é sua esmagadora prioridade. Ao reverter o processo de redistribuição demográfica vislumbrado pelo MLS, seus fins são alcançados.
As conclusões utilitárias de soma zero desta comparação seriam perturbadas por uma elaboração mais concreta do MN, na qual os efeitos da exemplaridade, da concorrência, das externalidades positivas do desempenho tecno-econômico e de outras influências da liberdade fossem incluídos. No presente nível de abstração – estabelecido pelo próprio modelo (LS) de Caplan – tais desdobramentos positivos poderiam parecer não mais do que concessões sentimentais ao sentimento comum. É a essência cruel do Modelo Neorreacionário que tem, inicialmente, que se afirmar. Melhor a maior liberdade possível, mesmo que para uns poucos, do que uma liberdade menor para todos. A qualidade é o que mais importa.
A objeção semi-rawlesiana – completamente implícita dentro do MLS – poderia ser: “E se a sociedade livre, conforme a ‘probabilidade’ dita, não fosse a sua?” – nossa réplica: “Seria necessário um egoísta desprezível para não se deliciar com ela, mesmo à distância, como um farol de aspiração, e um idiota ou canalha para não partir no mesmo caminho, de qualquer maneira que eles fossem capazes”.
Desintegre o destino.
Original.