Zack-Pop II

A política de Zack é interessante o suficiente para ter gerado preocupação:

A lógica do apocalipse zumbi inevitavelmente pinta os humanos – os que sobrevivem, de qualquer forma – como egoístas, perigosos e prontos para se voltar uns contra os outros quando confrontados com dificuldades. É uma visão perversa e darwinista social de uma sociedade que se desvenda rápida e facilmente; as únicas coisas que aparentemente nos mantém juntos são departamentos de polícia e a eletricidade. […] …Os princípios básicos da lógica zumbi também seguem princípios conservadores da linha dura (auto-suficiência, individualismo, isolacionismo), que têm sido cada vez mais forçosamente articulados ao longo dos últimos quinze anos. Em seu livro de 2012, Thomas Edsall examina o trabalho do professor Philip Tetlock de Wharton, que descobriu que os conservadores “toleram menos compromissos; vêem o mundo em termos de ‘nós’ versus ‘eles’; estão mais dispostos a usar força para ganhar uma vantagem; são mais ‘propensos a confiar em regras avaliativas simples (bom vs. mau) ao interpretar questões de política’; estão motivados a punir violadores de normas sociais (por exemplo, desvios das normas tradicionais de sexualidade ou comportamento responsável) e a dissuadir caroneiros”. Soa familiar? Basicamente descreve o compasso moral de sobreviventes bem-sucedidos de zumbis. Engraçado, então, que os Republicanos, na verdade, tendam a odiar The Walking Dead. […] Independentemente disso, a proliferação da cultura zumbi, neste momento, é incompreensível. Como ainda estamos, enquanto público, fascinados pelo mesmo cenário, os mesmos vilões com morte cerebral, os mesmos desertos esvaziados? “Está se alimentando de si mesmo”, disse [Daniel] Drezner. “Toda vez que alguém diz que atingimos o pico dos zumbis, alguma outra vem junto”.

A hipótese provisória do XS: a preparação para Zack é a resposta comercial-estética à morte do conservadorismo. Os progs não podem ser parados por nenhum mecanismo político já instalado, então é hora de estocar o porão com munição e feijões. Naturalmente, eles vão dizer: você não deveria estar pensando assim! É encorajante que tantas pessoas estejam.

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Zack-Pop

Michael Totten cobre uma quantia impressionante de terreno em seu resumo da cultura zumbi contemporânea. Poderia ser chamada de Antropoceno Sombrio: Um mundo emergente assombrado pelo medo espesso de que todo o resto do planeta é uma ameaça zumbi latente. Debaixo de um pele de civilidade fina e que facilmente de rasga, seus vizinhos cada vez mais incompreensíveis são canibais sem mente, aguardando um desencadeamento. Estados-Nação disfuncionais não oferecem nenhuma proteção crível, mas estiveram por aí por tempo o bastante para garantir que você tenha sido drasticamente desarmado das competências básicas de sobrevivência. Algum pulso de amídala residual está lhe dizendo para começar a pensar como você vai lidar quando tudo finalmente vier abaixo.

Não é surpresa para ninguém que este blog vê isso, de forma bastante direta, como introspecção democrática. Só é necessário que as pessoas comecem a se banquetear da mesma maneira em que votam, e estamos zackados. Toda a cultura está dizendo – e agora praticamente gritando – que essa é a forma em que a modernidade sócio-política acaba.

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Futuro Zackado

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Charlton:

A Revolução Industrial teve o efeito de permitir que muitos bilhões de pessoas que teriam morrido ficassem vivas – isto significou que mutações genéticas que teriam sido eliminadas pela morte durante a infância, em vez disso, se acumularam. […] …por um lado, as mutações têm se acumulado, geração a geração, com (aprox.) um ou duas mutações deletérias sendo adicionadas a cada linhagem a cada geração; pelo outro, as pessoas que exibiam traços causados por mutações deletérias – tais como inteligência reduzida e conscienciosidade de longo prazo debilitada, ou maior impulsividade, agressão e criminalidade – foram positivamente selecionadas, foram geneticamente favorecidas – simplesmente porque suas patologias significavam que elas eram incapazes ou relutantes em usar tecnologias reguladoras de fertilidade. […] Em outras palavras, o acúmulo de mutações que prejudicam a funcionalidade, na verdade, amplifica o sucesso reprodutivo sob as condições atuais e durante várias gerações passadas.

Em algum ponto, a proporção de mutantes – que são, em média, significantemente debilitados em funcionalidade – se tornará tão grande que a Revolução Industiral desmoronará, colapsará; o excesso populacional de 6-7 bilhões será insuportável; haverá uma escala Giga de mortes (isto é, bilhões de mortes) de mortalidade ao longo de um período… […] Uma população de mutantes cuja inteligência tenha sido arrastada para baixo até um certo nível será muito menos funcional do que uma população em que a seleção a manteve em equilíbrio nesse nível – os mutantes carregarão múltiplas patologias além de sua inteligência debilitada. […]

Esse mundo de morte em massa fornecerá um novo tipo de ambiente seletivo – alguns mutantes podem se reproduzir muito rapidamente sob essas condições estranhas (e temporárias), ao evoluir para explorar recursos incomuns que estão (temporariamente) em abundância em um mundo de Giga-morte…

E se a extinção durar algumas gerações, alguns ‘carniceiros’ mutantes esquisitos podem vir a dominar em alguns lugares.

É possível que esta passagem não esteja nos arrastando para um cenário de Zack ou “Raiva Africana” de Apocalipse Zumbi canibal – ou quase – mas os parágrafos finais são não fáceis de se interpretar de qualquer outra maneira. Se eu fosse um roteirista de Hollywood, eu estaria sobre essa narrativa especulativa como um mutante carniceiro sobre uma montanha de cadáveres.

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Horror Abstrato (Parte 1a)

Zack

Zumbis reduzem o tom, de inúmeras maneiras. A decadência sócio-biológica é seu elemento natural, levando a vida em direção a uma afetividade de grau zero, sem neutralizar um animação agora repulsiva. Eles existem para serem chacinados – em retaliação – o que, por sua vez, promove sua descida, por entre o darwinismo pulp da mídia de entretenimento, às profundezas da insensatez, onde a vitória está praticamente assegurada. Conforme o mundo desmorona em um lodo dinâmico, o horror popular fica cada vez mais infestado de zumbis.

Quando conjeturados como um antagonista militar em escala global, Max Brooks ‘os’ chama de Zack (entre outras coisas). Se ‘Charlie’ abrevia ‘Victor Charlie’ enquanto substantivo do jargão casual para Viet Cong, como se deriva ‘Zack’? Brooks não oferece nenhuma resposta específica. Parece pelo menos plausível que ‘Zombie Apocalypse‘ seja o termo que sofreu compressão. Em todo caso, ‘Zack’ é um nome com um futuro, fornecendo um substantivo coletivo – ou denso – conciso para uma síndrome monstruosa que assoma além do horizonte histórico.

‘Zack’, assim como ‘Charlie’, é o inimigo, apelidado com um informalidade projetada para enfatizar a redução. A intensidade do rótulo é associada com sua ambivalência, como um cognome que libera ou legitima a matança irrestrita. ‘Zack’ soa como se ‘ele’ pudesse ser nosso camarada, de modo que possamos desencadear violência contra ‘ele’ sem escrúpulos ou inibição. Por mais estranha que pareça essa fórmula psicológica, Brooks a herda, em vez de inventá-la.

Charlie já é uma abstração da familiaridade ética, mas nada como Zack. Onde acabamos, Zack se inicia, recrutando nossos cadáveres em enxames mortos-vivos. Nossas calamidades são ‘sua’ munição, porque Zack é puro armamento, a primeira verdadeira instanciação da guerra total, encarnando perfeitamente o antagonismo à sobrevivência humana. Zack não é nada além do inimigo, ‘que’ – inteiramente desprovido de propósitos ou interesses não beligerantes – não pode ser aterrorizado, intimidado ou dissuadido. Assustar Zack? Não se tem chance menor de assustar um vírus de resfriado. Então as coisas sempre retornam à mesma conclusão básica: Zack tem que ser morto, como nada foi antes (muito embora – ou especialmente porque – já esteja morto).

Brooks é um neo-tradicionalista zumbi. Seus mortos-vivos re-animados se arrastam (lentamente). Propagam-se através de contágio canibal. Apenas ferimentos na cabeça os exterminam. Mas os zumbis não são os monstros. Zack é o monstro. É a síndrome – a onda convergente – que realiza o fenômeno, como uma questão de espalhar enxames, ou populações irredutíveis.

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Taticamente, a força de Zack é o número, a resistência esmagadora e se reabastecer com as baixas que inflige. Estrategicamente, ele prevalece através de um choque sistêmico, no padrão de epidemia e registrado não como o vampiro humanoide ‘individual’, mas como um surto emergente e global. Não há qualquer prospecto de neutralização racional ou ‘desapaixonadamente’ efetiva até que seja entendido que Zack não é uma mera horda vampiresca, mas um trauma planetário singular. Zack é tensão total.

Brooks insiste no realismo de seus métodos:

Os zumbis podem ser falsos, mas eu queria que todo o resto em “Guerra Mundial Z” fosse real. Assim como com “O Guia de Sobrevivência a Zombies”, eu queria que a estória estivesse enraizada em fatos concretos. É por isso que eu pesquisei a geopolítica real do mundo no início do século XXI, a ciência militar, a macroeconomia e as peculiaridades culturais de cada país sobre o qual eu estava escrevendo. Por mais criativo que eu pense que sou, eu também sei que não consigo inventar nada tão interessante (ou assustador) quanto o planeta real em que vivemos. Como um nerd historiador, eu também queria embasar o livro na estória de vida de nossa espécie. Nada em “Guerra Mundial Z” foi inventado, tudo realmente aconteceu: Yonkers foi Isandlwana; o encobrimento chinês foi a SARS. Não há nada que os zumbis possam fazer conosco que já não tenhamos feito uns aos outros.

Pegue o mundo, exatamente como ele é, e postule um tensionador como destinação histórica. Projete, com toda precisão possível, uma colisão especulativa com um desastre absoluto – uma guerra mundial total que também é uma praga, um precipício de degeneração biossocial e um episódio psicótico universal – isso é Zack. Compreensivelmente, as pessoas ficarão relutantes em descrever este método como realismo derradeiro. Não obstante, conforme as coisas desordeiramente se desenrolam, vamos ouvir muito mais sobre ele.

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Fome Zumbi

O Psykonomist encaminhou (pt) um extraordinário ensaio sobre o tópico do apetite popular pelo Apocalipse Zumbi, considerado como um canal expressivo para uma hostilidade vagamente ‘anarquista’ ao estado. Dada a falha das iniciativas democráticas do polo Direito em reverter – ou sequer restringir – as implacáveis concentração e expansão governamentais, ‘soluções’ catastróficas emergem como a única alternativa:

Filmes e programas de televisão têm permitido que os americanos imaginem como seria a vida sem todas as instituições que lhes disseram que eles precisam, mas que eles agora suspeitam que podem estar frustrando sua autorrealização. Estamos lidando com uma ampla variedade de fantasias aqui, principalmente nos gêneros do horror e da ficção científica, mas o padrão é bastante consistente e impressionante, atravessando distinções genéricas. No programa de televisão Revolution, por exemplo, algum evento misterioso faz com que todos os dispositivos elétrico ao redor do mundo deixem de funcionar. O resultado é catastrófico e envolve uma enorme perda de vida, conforme aviões em pleno ar se chocam contra a terra, por exemplo. Todas as instituições sociais se dissolvem, e as pessoas são foçadas a confiar em suas habilidades  pessoais de sobrevivência. Governos ao redor do mundo colapsam, e os Estados Unidos se dividem em uma série de unidades políticas menores. Este desenvolvimento contraria tudo que temos sido ensinados a acreditar sobre “uma nação, indivisível”. Ainda assim, é característico de quase todos esses programas que o governo federal esteja entre as primeiras baixas do evento apocalíptico e – por mais estranho que isso possa parecer a princípio – que haja um forte elemento de realização de desejos neste evento. A força destes cenários de fim do mundo é precisamente o governo ficar menor ou desaparecer inteiramente. Esses programas parecem refletir um sentimento que o governo ficou grande e distante demais das preocupações dos cidadãos comuns e indiferente às suas necessidades e exigências. Se o Congresso e o Presidente são incapazes de diminuir o tamanho do governo, talvez uma praga ou uma catástrofe cósmica possam fazer algum corte real de orçamento para variar.

O ensaio captura uma dimensão crítica de desintegração dentro do ‘campo reacionário’, que divide aqueles que buscam cooptar a elite gerencial da Catedral-Leviatã para uma filosofia política mais realista (ou tolerante à tradição) e aqueles que – bem mais numerosa e desarticuladamente – estão investidos na morte dura do regime. A última posição (imoderada), parece, é genuinamente e até mesmo chocantemente popular. Grupos de produção de entretenimento em massa são capazes de prosperar com base em seus pesadelos sedutores. (Seria o catastrofismo pulp é a base econômica que apoiará o contágio neorreacionário?)

Ler o ensaio de Cantor junto com o histórico ensaio Natural Law and Natural Rights de Jim Donald é altamente sugestivo. Um fio condutor comum a ambos é a centralidade do vigilantismo para a Direita popular. O propósito da Lei Natural, Donald argumenta, não é exigir justiça de uma autoridade superior, mas neutralizar a interferência de qualquer autoridade desse tipo na busca da justiça por parte de agências descentralizada. A Lei Natural protege o direito de vingança legítima, garantindo que os indivíduos não sejam inibidos no seu exercício da auto-proteção. Quando o se vê o Estado operar primariamente como uma força social que defende os criminosos contra a retaliação, ele perde a solidariedade instintiva dos cidadãos, e sonhos sombrios de um Apocalipse Zumbi começam a se amalgamar.

Dada a ética sobrevivencialista em todos esses programas sobre o fim do mundo, eles provavelmente não são populares com os defensores controle de armas. Um dos motivos mais impressionantes que eles têm em comum – evidente em Revolution, Falling Skies, The Walking Dead e muitos outros programas do tipo – é o cuidado amoroso com o qual eles descrevem um espantoso conjunto de armas. The Walking Dead apresenta uma guerreira amazona, que é adepta de uma espada samurai, assim como um redneck sulista, que se especializa em uma besta. A oferta cada vez menor de munições coloca um prêmio nas armas que precisam de balas. Isso não quer dizer, contudo, que The Walking Dead não tenha lugar para armas de fogo modernas e, com efeito, para o que há de mais recente em armas automáticas. Tanto os heróis quanto os vilões na série – difíceis de diferenciar a este respeito – estão tão bem armados quanto o time local da SWAT na América contemporânea.

Entre as atrações do Apocalipse Zumbi, nesta construção, está o desaparecimento do Estado enquanto um fator inibidor na economia social da retaliação. O mundo empesteado de zumbis é uma zona de fogo livre, na qual não há mais nenhuma autoridade entre os remanescentes armados e as hordas triturantes de descivilização. Quaisquer que sejam as probabilidades da luta por vir, o direito à violência vigilante e contra-revolucionária foi inequivocamente restaurado e isto é profundamente apreciado – por um impulso popular opaco – como um returno à ordem natural. O Estado havia tomado partido contra a Lei Natural, de modo que sua extirpação do campo social é saudada com alívio, mesmo que o custo deste desaparecimento seja um mundo reduzido a cinzas, predominantemente populadas pelos mortos-vivos canibais.

Há uma ferocidade nisto que será trabalhada. É melhor estar preparado.

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Notas de Citação (#23)

Zonbi Diaspora esquematiza a ‘evolução’ do zumbi, notando que, para além de sua definição ‘folclórica haitiana’:

O próximo estágio, ostensivamente “revolucionário”, ocorre depois do lançamento da Noite dos Mortos-Vivos (1968) de George A. Romero, que introduziu, de maneira espetacular, o zumbi Canibal Apocalíptico. Esta versão da figura é tão radicalmente diferente de suas predecessoras que é mais como um ponto fundamental de bifurcação (ou quebra de espécie) dentro do complexo. Não mais um agente-sem-autonomia controlado remotamente, como os zumbis Folclórico Haitiano e Cinemático Clássico, o zumbi Canibal Apocalíptico ganha uma força nova e massivamente insurrecionária (em termos representacionais, pelo menos). Há muitas diferenças entre o zumbi CA e seu predecessores, mas uma das mais importantes é que, nesta forma, ele se torna uma entidade (quase) inteiramente ficcional (isto é, não há nenhum zumbi ‘real’ à espreita no porão de um hipnotizador louco ou trabalhando inconscientemente para um bokor em alguma plantação haitiana). Como tal, seus significados social e político se tornam menos uma maneira de ensaiar visões de mundo conflitantes, sistemas de crença “sinistros” ou epistemes interculturais do que uma maneira de representar os fins terminais da “humanidade” (ou do ser humanos enquanto espécie).

(Na momento em que chegamos a Max Brooks, esta fase e mesmo sua sucessora ‘pós-Millenial’ – na qual o tema do contágio é acentuado – se consolidaram como tradição cultural.)

Original.