O horror…

“A coisa é que, agora que fiquei ciente do fenômeno, eu o vejo em todo lugar…”

“Não se pode deixar isso assim. Isso é como descobrir que um serial killer abusador de crianças está no comando da seu time da liga júnior local. Este não é um caso de tolerância. Este é um caso de forquilhas e tochas metafóricas. …isto, a ‘Neorreação’, é uma ameaça definitiva, e deve ser encarada.”

(Alguns empurrões impressionantes já estão ocorrendo na seção de comentários lá em cima.)

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Notas de Citação (#26)

Otimize a inteligência não é um grito de guerra ao qual Chip Smith está sucumbindo:

… a alta inteligência pode muito bem ser um beco evolutivo sem saída. Eu certamente fico sem saber como apresentar uma boa razão de por que um traço outrora adaptativo, que ocorre de eu e você valorizarmos, deveria gozar de uma defesa especial ante ao ruído algorítmico cego que é a seleção natural.

Mas mesmo que os musculosos em cérebro de fato descubram uma maneira de desafiar a gravidade antes que o sol exploda, eu acho que ainda existem razões para se questionar se a ascensão galopante da mente é realmente digna de aplauso. Nerds futuristas nos informarão de que existe uma miríade de revoluções tecnológicas em andamento – todas encabeçadas por sabichões, podemos estar certos. E eu sugeriria que, dessas, as que convergem na promessa dourada de computação quântica e nanotecnologia poderia aconselhar uma segunda pausa reflexiva – uma que vem por meio do “Não tenho boca e preciso gritar” de Harlan Ellison e se resolve no consolo solene que resta nas explicações mais sombrias que sempre cercaram o Enigma de Fermi.

Talvez eu esteja sendo críptico. O que eu quero considerar é simplesmente que a trajetória evolutiva da inteligência ainda pode levar, e já levou, a coisas muito ruins. Pode um dia ser possível, por exemplo, criar experiência senciente – não sejamos tão audazes de chamá-la de “vida” – não a partir de gametas, mas na medula profunda de estados de quibits [sic] e, se isto vier a ocorrer, não é um salto tão grande imaginar que tais simulações inteligentes – okay, elas estão vivas – serão capazes de sofrer, ou que se fará com que elas sofram, talvez por emoções sádicas, talvez em loops recursivos de intensidade imensurável que se aproximam o suficiente do estado eterno de tortura que se ameaça em toda visão febril do Inferno para tornar a distinção irrelevante.

Utilitaristas não tem nenhum senso de diversão.

(via)

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Guerras Zumbi

Zumbis são visado com antecedência para a aplicação de uma violência desinibida. Sua chegada anuncia um conflito no qual todas as considerações morais são definitivamente suspensas. Uma vez que eles não têm ‘almas’, não há nada que não façam, e se esperar que façam o pior. Reciprocamente, ele merecem exatamente zero preocupação humanitária. A relação com o zumbi é uma na qual toda a simpatia é anulada de maneira absoluta (殺殺殺殺殺殺殺).

Não é nenhuma surpresa, então, que a identificação do zumbi tenha se tornado um conflito crítico, travado através do terreno da cultura popular. Ela descreve uma zona de fogo livre, ou um gradiente antecipado na direção social da violência. Os zumbis ou são ralé ou são drones.

Michael Hampton esboça essas alternativas de maneira convincente:

Historicamente, o zumbi só começou a migrar para além dos confins do Haiti no período entre a Quebra da Bolsa de Nova York e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, infectando Hollywood em filmes tais como The Magic Island, 1929, White Zombie, 1932 e Revolt of the Zombies, 1936. Como um monstro não-europeu, o zumbi foi usado aqui como um tipo conveniente e sem face de alteridade, que, embora temporariamente desprovido de suas associações canibais do século XIX, se tornou um assustador substituto para as subclasses despojadas da América das tempestades de areia, e uma ameaça racial às mulheres brancas civilizadas também. (“Extermine os brutos”)

Ao passo que a contraparte horrorológica, da maneira em que é percebida / construída pela Esquerda…

…veio a figurar como um símbolo fatídico da massa de tecno-humanos sem subjetividade sob o capitalismo, lumpen-não-seres de pesadelos, cuja alteridade havia sido completamente internalizada, e depois suavizada, e devolvida com juros descontados como um entretenimento desalmado; não tanto mortos-vivos quanto hipermediados e vivos sob uma restrição globalizada severa; sedentários gravemente afligidos pela ‘síndrome de cadáver que respira’ ou ‘síndrome do parcialmente morto’. Voyeur hipócrita, você se reconhece?

Como quer que a guerra contra os zumbis seja vislumbrada, a guerra pelos zumbis tem estado há muito em andamento. É inextricável da questão: A violência legítima vem da Direita ou da Esquerda?

Uma vez que esta questão é historicamente inextinguível, é seguro prever que os zumbis não desaparecerão tão logo do mundo do pesadelo popular. Quase certamente, veremos bem mais deles. Se você quiser tem um sentimento de onde as linhas de tiro estão sendo colocadas, você precisa dar uma olhada cuidadosa…

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Horrorizado

Há um post sobre o racismo extremo de H. P. Lovecraft a caminho e, dada a abundância de material estimulante sobre o tópico, um tira-gosto menor é irresistível. Este] ensaio altamente representativo de Nicole Cushing serve como oportunidade. Ela escreve:

Abordar este assunto também é difícil porque ele tem que ser tratado com algum nuance (o que é difícil de conseguir em uma discussão sobre um tópico uma carga emocional tão justificadamente grande quanto o racismo americano). Seria fácil demais apontar para o racismo de Lovecraft (e para algumas de suas outras falhas enquanto autor) e descartá-lo como um idiota indistinto que não merecia nada melhor do que ser publicado em pulps. Eu não vou fazer isso aqui. Minha posição é de que Lovecraft fez uma contribuição importante para o horror e para a ficção científica ao focar (de uma maneira persistente e convincentemente imaginativa) no terror induzido pela revelação da não-significação humana no cosmos. […] Lovecraft teve uma influência significativa na ficção de horror (em particular) durante muitos anos, uma influência que transcende seu racismo. …Tudo isso é apenas uma maneira verbosa de explicar que o racismo de Lovecraft não nega suas realizações.

Mas suas realizações não negam seu racismo. (Entre, dissonância cognitiva).

Entre os aspectos mais fascinantes deste comentário é sua flagrante desorientação, uma vez que – claro – o fenômeno indicado não tem absolutamente nada a ver com dissonância cognitiva. Há aqui um encontro com uma espécie anormal de gênio literário, associada com uma verdade metafísica profunda, o que, ao mesmo tempo, – e por razões inextricavelmente emaranhadas – desencadeia uma reação de pânico moral, que se inclina para uma repulsa somática profunda. Em outras palavras, e talvez até mesmo bastante simplesmente, o que está sendo relatado por Nicole Cushing é – horror.

ADICIONADO: Isto me divertiu morbidamente:

“Houve essa janela de oportunidade”, continua [o boateiro sobre o Necronomicon, Peter Levenda], revisando a ressurgência ocultista nos anos 1970, quando “queríamos mostrar que isso não era uma coisa assustadora. Poderia ser poderosa, poderia alterar sua mente, poderia mudar sua vida. Mas não era perigoso, não ia te matar. E era isso que estávamos tentando promover.”

Eu recentemente visitei o antigo local do The Magickal Childe. Herman Slater morreu de AIDS em 1992…

ADICIONADO: Nicole Cushing (em sua própria seção de comentários: “Em posts nos quais “a palavra com n” apareceria, eu editei para ser ‘N—-r’ ou algum outro arranjo similar. Dessa maneira, os leitores devem ser capazes de entender a essência do que o comentador está se referindo sem ter que olhar para a palavra em si”.  – Por que não simplesmente deixar como “Neorreação”? – não pode ser tão aterrorizante assim.

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Missão Arrepio

A sensação – nutrição da mídia – está situada em uma fronteira. Ela conta ao interior algo sobre o exterior e é moldada por ambos os lados. O exterior é o que é, o que poderia não ser perceptível ou aceitável. O interior quer informação relevante, selecionada e formatada para os seus propósitos. A sensação é, portanto, onde o sujeito e o objeto se encontram.

…essa é uma tentativa de expressar uma simpatia preliminar pela situação de Matt Sigl, preso entre uma coisa sinistra e uma agenda definida. De maneira concreta; a pesquisa colide com a edição, com o cérebro de Sigl como marco zero. O encontro da Neorreação com a mídia é peculiarmente vicioso, com sensações condizentes.

Falando de maneira crua, a Neorreação é o desgosto com a mídia condensado em uma ideologia. Embora desdenhosa, de maneira geral, com a forragem humana que compõe as democracias modernas, a Neorreação visa principalmente o complexo midiático-acadêmico (ou ‘Catedral’) para antagonismo, porque é a mídia que é o real ‘eleitorado’ – dizendo ao eleitores o que fazer. Esta crítica fundamental, por si só, seria o suficiente para garantir um ódio recíproco intenso. Claro, ela não está sozinha. A Neorreação é, em quase todos os aspectos, a anti-mensagem da Catedral, o que quer dizer que ela está consistente, radical e desafiadoramente ‘fora da mensagem’ sobre todo tópico de significância e é, assim, algo indizivelmente horrível. Ainda assim, dicção – agora parece – tem que haver…

Então, o que aparece na fronteira – ou sensacionalmente – é algo notavelmente arrepiante. Enquanto comunicação pública profundamente ressonante do que acabou de acontecer, e continua acontecendo, assim como do que foi editorialmente decidido, essa palavra é quase primorosa demais para se contemplar. Podemos, pelo menos, nos enfiar um pouco mais fundo nela.

O que é o arrepio exatamente? A intratabilidade desta questão é o fenômeno (que não é um fenômeno exatamente). O arrepio não é bem o que parece, e esta insinuação do desconhecido, ou inexatidão intrínseca, é algo horrível, que excede a sensação inicial de repulsa. Ela sugere uma revelação em estágios, complicada por revisões sucessivas, mas levando inexoravelmente, cada vez mais fundo, a um encontro do qual se recua, pressentindo (de maneira inexata) que se o descobrirá, em última análise, intolerável.

Já é uma pequena estória de horror, muito provavelmente com uma protagonista feminina (como observado, de maneira aguçada, em Amos & Gromar). Desde o princípio, é uma sensação sinistra. Não se pode ver exatamente por quê, já que não se pode suportar ver. A imprecisão da percepção já é protetora, ou evasiva, servindo dramaticamente como um pressentimento agourento do pânico cegante, da fuga selvagem e dos gritos que certamente devem vir. Você realmente não quer ver isso, muito embora (horrivelmente) você saiba que você tem que ver, porque poderia ser perigoso. Como os lívidos cartazes de filmes guincham sensacionalmente, é uma coisa que É Melhor Você Levar a Sério.

Isso é o jornalismo comendo a si mesmo, ou sendo comido, em um encontro com algo monstruoso vindo do Exterior. Olhe para esta coisa que você não será capaz de olhar (sem gemer em horror). Observe o que você não pode suportar ver. Inclina-se para um tipo de loucura, que não poderia ser mais óbvia ou menos claramente perceptível. Os editores de Sigl foram sugados para dentro de um vórtex de sensacionalismo horrível que chama atenção para a única coisa que eles têm o dever de esconder das pessoas. Tem que ser arrepiante, isto é: imperceptível no momento mesmo em que é vista. A resposta aprovada à Neorreação é ficar arrepiado, mas isso não pode ser o suficiente.

A princípio poderíamos pensar que ‘arrepiante’ é um adjetivo subjetivo, que descreve algo horrível demais para se descrever. É tentador, uma vez que suspeitamos que essas pessoas se retiraram aos seus sentimentos há muito tempo. A realidade é bem mais arrepiante.

As coisas realmente arrepiam, embora não exatamente de maneira objetiva, quando procedem de uma maneira que você não é bem capaz de perceber. Evidentemente, Moldbug  isso (“Algo está acontecendo aqui. Mas você não sabe o que é – sabe, Mr. Jones?”).

Você tem que imaginar que você é a mídia para ir mais adiante na estória de horror. Aí você pode ver que é arrepiante, em parte (sempre em partes), porque você a deixou entrar. Aquela coisa de guinchar que você estava fazendo? Talvez você devesse ter tomado como um sinal. Agora ela está rastejando por dentro, na sua mídia, nos seus cérebros, em seus pensamentos vagos e sem escrutínio e em todos aqueles elaborados sistemas de segurança que você gastou tanto tempo montando – agora eles são em sua maior parte uma pista de obstáculos para os tiras, ou quem quer que seja que você pensa que poderia, em imaginação, vir a seu resgate, porque eles certamente não estão entre você e o Vírus Mental.

Sério, o que você estava pensando, quando começou a gritar sobre ela e, assim, a deixou entrar? Você não sabe, né? – e isso é seriamente arrepiante. Muito embora você não queira – de maneira alguma – ela lhe faz pensar sobre BDH, hereditariedade, instintos, impulsos e máquinas química incompreensíveis, furtivamente operantes por trás de seus pensamentos, obstinadas em sua realidade e intoleráveis para além do reconhecimento. Guinchar “ciência nazista!” (ou o que seja) não ajuda, porque agora ela está dentro, e você sabe que é verdade, mesmo enquanto você atua como a heroína sendo caçada, balbuciando “não, não, não, não, não…”, recuando cada vez mais profundamente nas sombras. Isto é a realidade, e já está dentro, era isso que você estava dizendo quando a chamou de ‘arrepiante’.

Está acontecendo, e não faz sentido nenhum dizer “supere” – porque você não vai.

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Uma Escuridão Mais Profunda

No ponto em que as pessoas começaram a falar sobre “um efeito positivo da Peste Negra”, elas percebem o quão longe elas descenderam às sombras? O horror hardcore da análise malthusiana sempre tem algumas novas profundidades para sondar.

A ideia de que os padrões de vida europeus se elevaram após o ‘alívio’ da pressão malthusiana oferecido pela peste bubônica está longe de ser nova. É até mesmo algo que se aproxima de um fato incontroverso da história econômica. Dar um passo a mais, contudo, e atribuir a ascensão do Ocidente à sua devastação epidêmica na metade do século XIV é vagar em tratos inexplorados de misantropia glacial. A Europa teve sorte o suficiente de que pessoas o suficiente morreram.

A implicação malthusiana (sistematizada por Gregory Clark), de que apenas a mobilidade social descendente é compatível com tendências eugênicas, é um pensamento sombrio no qual eu toquei ocasionalmente, mas ainda tenho que me fixar firmemente. A ideia de uma destruição populacional massiva como uma dádiva no desenvolvimento, em qualquer situação na qual as taxas de crescimento econômico caiam abaixo da fertilidade média (eu simplifico), leva o Iluminismo Sombrio a todo um novo nível.

Como nota de rodapé, ela levanta a questão: A Grande Divergência foi eugênica para o Extremo Oriente (que ficou para trás) e disgênica para o Ocidente (que seguiu adianta)? A prosperidade econômica é essencialmente uma destruidora de genes?

Eu tendo a ficar do lado dos libertários em sua aversão à economia (keynesiana) de janelas quebradas, mas é de se esperar que tal raciocínio rapidamente desapareça em pura paralisia cognitiva quando as conclusões malthusianas bem mais perturbadoras forem introduzidas. Os libertários já pensam que eles ‘pegaram’ Malthus, como o cara que perdeu a aposta de Simon-Ehlirch – um profeta anti-capitalista verde pregando a restrição populacional.

O Malthus real vai vir como um choque. Ele certamente gela minha espinha.

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Niilismo e Destino

Leitores de Nietzsche ou de Eugene Rose já estão familiarizados com a atribuição de uma teleologia cultural à modernidade, direcionada à realização consumada do niilismo. Nossa crise contemporânea encontra esse tema reanimado dentro de um contexto geopolítico através da obra de Alexandr Dugin, que a interpreta como um condutor de eventos concretos – mais especificamente a antagonização da Rússia por parte de uma ordem liberal mundial em implosão. Ele escreve:

Há um ponto na ideologia liberal que causou uma crise dentro dela: o liberalismo é profundamente niilista em seu âmago. O conjunto de valores defendidos pelo liberalismo está essencialmente ligado a sua tese principal: a primazia da liberdade. Mas a liberdade, na visão liberal, é uma categoria essencialmente negativa: ela reivindica ser livre de (nos termos de John Stuart Mill), não ser livre para, algo. […]…os inimigos da sociedade aberta, que é sinônima da sociedade Ocidental pós-1991 e que se tornou a norma para o resto do mundo, são concretos. Seus inimigos primários são o comunismo e o fascismo, ambas ideologias que emergiram da mesma filosofia Iluminista e que continham conceitos centrais não-individualistas – a classe no Marxismo, a raça no Nacional-Socialismo, e o Estado nacional no fascismo). Assim, a fonte do conflito do liberalismo com as alternativas existentes de modernidade, fascismo ou comunismo, é bastante óbvia. O liberais alegam liberar a sociedade do fascismo e do comunismo, ou seja, das duas grandes permutações de totalitarismo moderno explicitamente não-individualistas. A luta do liberalismo, quando vista enquanto parte do processo da liquidação de sociedades não-liberais, é bastante significativa: ela adquire seu significado do fato da própria existência de ideologias que explicitamente negam o indivíduo como o valor mais alto da sociedade. É bastante claro ao que a luta se opõe: à liberação de seu oposto. Mas o fato de que a liberdade, da maneira em que ela é concebida pelos liberais, é uma categoria essencialmente negativa não é claramente percebida aqui. O inimigo está presente e é concreto. Esse fato mesmo dá ao liberalismo seu conteúdo sólido. Algo além da sociedade aberta existe, e o fato de sua existência é o suficiente para justificar o processo de liberação.

Na análise de Dugin, o liberalismo tende à auto-abolição no niilismo e é capaz de neutralizar esse destino – mesmo que apenas temporariamente – ao se definir contra um inimigo concreto. Sem a guerra contra o iliberalismo, o liberalismo volta a ser nada em absoluto, uma negação flutuando livremente sem propósito. Portanto, a iminente guerra contra a Rússia é uma exigência do processo cultural intrínseco ao liberalismo. É uma fuga do niilismo, o que é dizer: a história do niilismo o propele.

Este blog está bem mais inclinado a criticar Dugin do que a se alinhar com ele, ou com as forças que ele orquestra, mas é difícil negar que ele representa uma espécie definida de gênio político, suficiente para categorizá-lo como um homem do destino. A mobilização da resistência à modernidade em nome de um contra-niilismo é inspirada, porque o entendimento histórico que ela desenha é genuinamente penetrante. Através de uma alquimia política potente, a destruição do significado coletivo é transformada em uma causa revigorante. Quando Dugin argumento que haverá sangue, o apelo a vitimologia eslava poderia ser considerado abjeto (e, claro, extremamente ‘perigoso’), mas a compreensão profética não é fácil de descartar.

A modernidade foi iniciada pela assimilação européia do zero matemático. O encontro com o nada está em sua raiz. Neste sentido, entre outros, ela é niilista em seu âmago. Os frívolos ‘significados’ a que as sociedades em modernização se agarram, como distrações de sua propulsão para dentro do abismo, são indefensáveis contra a ridicularização – e até mesmo contra a repulsa – daqueles que as contemplam com distanciamento. Uma modernidade que evade seu niilismo essencial é uma presa lamentável nas planícies da história. Isto é o que vimos antes, vemos agora e, sem dúvidas, veremos de novo.

Dugin fita a modernidade com os olhos frios de um lobo. É meramente patético denunciá-lo por isso.

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História Zerocêntrica

A Reação – e até mesmo a Neorreação – tende a ser dura com a Modernidade. Deus sabe (por assim dizer) que existem inúmeras razões para isso.

Se o critério de julgamento for estabelecido pelo Ocidente, quer determinado através de sua fé outrora dominante ou por seu povo outrora dominante, o caso contra a Modernidade talvez seja irrespondível. A civilização ocidental em que a Modernidade se inflamou foi, em última análise, consumida por suas chamas. De uma perspectiva Tradicionalista Ocidental, a Modernidade é um suicídio complexo e prolongado.

Um Ultra-Modernista, que afirma a destruição criativa de qualquer coisa no caminho da modernização, assume um critério alternativo, inerente à própria Modernidade. Pergunta: O que teve que ocorrer ao Ocidente para que ele se tornasse moderno? Qual foi o evento essencial? A resposta (e nosso postulado básico): O zero chegou.

Sabemos que o zero aritmético não cria o capitalismo por si só, porque ele pré-existiu a catálise da Modernidade durante diversos séculos (embora menos do que um milênio). A Europa foi necessária, enquanto matriz, para sua ativação histórica explosiva. Este blog está persuadido de que a condições críticas encontradas pela numeracia embasada-em-zero no norte do mundo Mediterrâneo pré-Renascentista incluíram decisivamente uma fragmentação sociopolítica extrema, acompanhada por uma susceptibilidade cultural à dinâmica ordem espontânea. (Este é um tópico para uma outra ocasião.)

Na Europa, o zero era um alienígena e, da perspectiva da tradição paroquial, uma infecção. A resistência cultural era explícita, com bases teológicas, entre outras. Implícito no Argumento Ontológico para a existência de Deus estava a definição do não-ser como uma imperfeição derradeira e a ‘cifra’ – cujo nome era Legião – a evocava. O críptico ‘algarismo’ oriental era um estrangeiro indesejável.

O zero pegou, porque a emergência do capitalismo era inseparável dele. Os cálculos que ele facilitou, através do portal da contabilidade de partidas dobradas, se provaram indispensáveis para os empreendimentos comerciais e científicos sofisticados, prendendo os incentivos do lucro e do poder no lado de sua adoção. A vantagem prática de sua notação técnica se sobrepôs a todas as objeções teóricas, e nenhuma autoridade no quebra-cabeça despedaçado da Europa estava em posição de suprimi-lo. O mundo havia encontrado seu ponto morto, ou havia sido encontrado por ele.

The Nothing That Is: A Natural History of Zero de Robert Kaplan é um excelente guia para esses desenvolvimentos. Ele observa que, no despontar da Renascença:

Assim como o espaço pictórico, que houvera sido ordenado hierarquicamente (o tamanho da figura correspondia à importância), em breve seria colocado em perspectiva através do dispositivo de um ponto de fuga, um zero visual; também assim o zero da notação posicional foi o precursor de um reordenamento do espaço social e político.

O capitalismo – ou explosão tecno-comercial – promovia de maneira massiva o cálculo, o que normalizou o zero enquanto número. Kaplan explica:

[O crescimento de] uma linguagem para a aritmética e para a álgebra… teria consequências de longo alcance. A incômoda lacuna entre números, que representavam coisas, e o zero, que não o fazia, se estreitaria conforme o foco passou do que eles eram para como eles se comportavam. Tal comportamento ocorria em equações – a solução de uma equação, o número que a fazia se equilibrar, tinha tanta probabilidade de ser zero quanto qualquer outra coisa. Uma vez que os valores que x ocultava eram todos de um tipo, isso significava que a lacuna entre zero e os outros números se estreitou ainda mais.

É assim que o zero, enquanto número em vez de mero marcador sintático, rastejou para dentro. Em três das operações aritméticas elementares, o comportamento do zero é regular e rapidamente aceito como ordinário. Ele é, claro, um número extremo, perfeitamente elusivo nas operações de adição e subtração, ao passo que demonstra uma soberania aniquiladora na multiplicação, mas em nenhum desses casos ele perturba o cálculo. A divisão por zero é diferente.

O zero denota uma dinamização vinda do Exterior. É um sinal de fronteira, marcando a borda, onde o calculável cruza o insolúvel. Consolidado dentro da Modernidade como uma quantidade indispensável, ele retém uma qualidade liminar, que eventualmente seria explorada (embora não resolvida) pelo cálculo diferencial e integral.

A pura concepção do zero sugere uma reciprocidade estrita com o infinito, tão convincente que os maiores matemáticos da Índia antiga foram completamente seduzidos por ela. Bhaskara II (1114-1185) confiantemente afirmou que n/0 = infinito, e, no Ocidente, Leonhard Euler concordou. (A sedução persiste, com John D. Barrow escrevendo em 2001: “Divida qualquer número por zero e temos infinito.”)

Ainda assim, essa equação, que aparece como a mais profunda conclusão acessível à inteligência rigorosa, não se obtém sem contradição. “Por que?” [Kaplan novamente]

Nossos matemáticos indianos nos ajudam aqui: qualquer número vezes zero é zero – de modo que 6×0 e 17×0 = 0. Logo, 6×0 = 17×0. Se você pudesse dividir por zero, você teria (6×0)/0 = (17×0)/0, os zeros se cancelariam e 6 seria igual a 17. …Esse tipo de prova por contradição era conhecido desde a Grécia antiga. Por que ninguém na Índia deu de cara com ela neste momento, quando era necessário?

A prova de Kaplan demonstra que, para o zero, peculiarmente, a multiplicação e a divisão não são operação recíprocas. Elas ocupam um eixo que corta transversalmente um limite absoluto, perfeitamente solúvel de um lado, problemático do outro. O zero é revelado como uma porta obscura, uma junção que conecta a precisão aritmética com predicamentos filosóficos (ou religiosos), intratável para os procedimentos estabelecidos. Ao tentar reverter, de maneira normal, uma operação aritmética mundana, um sinal liminar é acionado: acesso negado.

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Ciência

Esta (pt) seção de comentários entrou em uma discussão sobre ciência, de considerável complexidade e originalidade. O post em questão se focava em Heidegger, que tem ideias bem definidas sobre a ciência natural, mas essas ideias – dominadas por sua concepção de ‘ontologias regionais’ – não são especialmente dignas de nota, seja para um entendimento da preocupação principal de Heidegger ou para uma compreensão realista do empreendimento científico. Por essa razão, parece sensato recomeçar a discussão em outro lugar (aqui).

A primeira tese crucial sobre a ciência natural – ou ‘filosofia natural’ autônoma – é que ela é um fenômeno exclusivamente capitalista. A existência da ciência, enquanto realidade social efetiva, está estritamente limitada a tempos e lugares nos quais certas estruturas elementares de organização capitalista prevalecem. Ela dependente, de maneira central e definidora, de uma forma moderna de competição. Isso é dizer que não pode haver ciência sem um mecanismo social efetivo para a eliminação da falha, baseado em critérios extra-racionais, inacessíveis à captura cultural.

Se uma empresa ou teoria científica falhou não pode – em última análise – ser uma questão de concordância. Nenhuma decisão política possível, embasada na persuasão e no consenso, pode decidir a questão. Claro, muito do que se passa pelo nome de ciência e empreendimento comercial capitalista está sujeito a exatamente essas formas de resolução, mas, em tais casos, nem o capitalismo, nem a ciência está mais em operação efetiva. Se um apelo ao poder pode garantir viabilidade, o critério da competição é desativado, e a descoberta real deixou de ocorrer.

Sob condições de um processo social capitalista desencadeado, tanto empresas quanto teorias envolvem um aspecto duplo. Sua expressão semiótica é matematizada, e sua operação é testada pela realidade (ou não-politicamente performativa). A matemática elimina a retórica no nível dos sinais, comunicando os resultados experimentais – independente de qualquer exigência de concordância – que determinam a força competitiva. Não é nenhuma coincidência que empresas capitalistas e teorias, quando não suportadas por instituições compatíveis, se voltam para cumplicidade com a guerra e com a decisão militar, que as acompanharam em seu nascimento na Renascença européia. Não se pode ‘debater’ com a derrota militar. É apenas quando a exigência de um debate é deixada de lado – quando o capitalismo começa – que a compulsão realista militar se torna desnecessária.

O capitalismo está em operação onde não há nada para se discutir. Um empresa ou teoria simplesmente está falida (ou não). Se – dados os fatos – as somas não funcionam, acabou. A retórica política não tem nenhum lugar. ‘Ciência politizada’, bastante simplesmente, não é ciência, assim como a atividade empresarial politizada é anti-capitalismo. Nada foi entendido sobre qualquer um dos dois, até que isso o seja.

Na medida em que há qualquer coisa como um ‘contrato social’ na origem do capitalismo – empresa e ciência igualmente – é este: se você insistir em um debate, então vamos ter que lutar. O desempenho real é o único critério crível, para o qual nenhuma estrutura política de disputa pode ser um substituto. A guerra só se torna desnecessária quando (e onde) o debate é suspenso, permitindo que os processos modernos de descoberta empresarial e científica da realidade avancem. Quando o debate se reimpõe, politizando a economia e a ciência, a guerra reemerge, tácita mas inevitavelmente. O antigo e esquecido contrato ressurge. “Se você insistir em um debate, então vamos ter que lutar.” (Esse é o jeito de Gnon.)

É bastante natural, portanto, que a ‘tecnologia’ seja considerada um sumário adequado da cultura capitalista de descoberta. Máquinas – máquinas sociais não menos do que máquinas técnicas – não podem ser retoricamente persuadidas a funcionar. Quando a ciência realmente funciona, é guerra de robôs, na qual a decisão é estabelecida do lado de fora, para além de qualquer apelo à razão. Experimentos bem projetados antecipam o que a guerra diria, de modo que nem um debate nem uma luta seja necessária. Isto é o falsificacionismo popperiano, re-embutido na realidade sócio-histórica. Experimentos que não podem abater são lembranças imperfeitas do campo de batalha primordial.

É intrínseco à Catedral que ela ganhe todos os debates, conforme sucumbe – através da pura vontade-de-poder – à reimposição da sociologia argumentativa. Ao fazê-lo, ela destrói o capitalismo, o empreendimento e a ciência. No fim desta trajetória, ela escava o esquecido contrato social da modernidade. Sua descoberta final é a guerra.

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O Que é Filosofia? (Parte 2a)

Por mais estranho que o reconhecimento possa ser, não se pode evitar o fato de que a filosofia, quando apreendida dentro da tradição Ocidental, é o pecado original. Entre a árvore da vida e a árvore do conhecimento, ela não hesita. Seu nome é indistinguível de uma lascívia pelo proibido. Embora queimar filósofos não seja mais socialmente aceitável, nossa ordem canônica de proibição cultural – em sua raiz – só pode considerar tal punição obrigatória. Uma vez que se permita que filósofos vivam, a civilização estabelecida está acabada.

Para a filosofia, o sussurro da serpente não é mais uma tentação resistível. Ela é, pelo contrário, um princípio constitutivo, ou fundação. Se há uma diferença entre um daemon socrático e um demônio diabólico, não é uma que importa filosoficamente. Não pode haver nenhuma recusa de qualquer informação acessível. Esta é uma suposição tão básica que a filosofia não pode existir até que ela tenha passado para além de questão. Transgressão religiosa derradeira é a iniciação.

Não deveria ser nenhuma surpresa para os Tradicionalistas Cristãos, portanto, encontrar as extremidades do esforço filosófico misturadas, intimamente, nas cinzas do Terceiro Reich. O absoluto religioso negativo, ou mal infinito, do experimento Nacional-Socialista, que suplanta toda a revelação positiva sob as condições socioculturais da Catedral madura, é, ‘coincidentemente’, o lugar em que o limite da filosofia foi traçado. Isto é, claro, introduzir o pensamento de Martin Heidegger.

Como a perfeita negação de Cristo, ou realização consumada do Anti-Cristo, Adolf Hitler fecha – ou completa de maneira essencial – a história do Ocidente. Não importa se acreditamos nisso. A Catedral o faz, absolutamente, ao ponto de doutrina selada. Heidegger antecipou lucidamente esta conclusão. Em um comício eleitoral, realizado por acadêmicos alemães em 11 de novembro de 1933, ele declarou:

Declaramos nossa independência do ídolo do pensamento que não tem fundamento, nem poder. Vemos o fim da filosofia que serve a tal pensamento. …E, assim, nós, a quem a preservação da vontade de saber de nosso povo será no futuro confiada, declaramos: A revolução Nacional-Socialista não é meramente a assunção do poder, da forma em que ele existe atualmente no Estado, por outro partido, um partido que ficou suficientemente grande em números para ser capaz de fazê-lo. Antes, esta revolução está realizando a total transformação de nossa existência alemã. …O Führer despertou essa vontade [de auto-responsabilidade nacional] em todo o povo e a fundiu em uma única resolução. Ninguém pode ficar longe das urnas no dia em que esta vontade for manifestada.
Heil Hitler!

Naturalmente, enquanto pronunciamento democrático (endereçado a comparativos imbecis), apenas algumas pistas da profunda modulação de Heidegger da “vontade de saber” germânica se infiltram. A [reconstrução, por parte da Wikipédia, do pano de fundo visionário oculto, extraída da obra de Michael Allen Gillespie, é excelente:

Heidegger acreditava que o mundo ocidental estivesse em uma trajetória em direção à guerra total e à beira de um niilismo profundo (a rejeição de todos os princípios religiosos e morais), que seria a revelação mais pura e elevada do Ser em si mesmo, oferecendo uma horrível encruzilhada de salvação ou do fim da metafísica e da modernidade; fazendo do Ocidente: um deserto populado por brutos que usam ferramentas, caracterizado por uma ignorância sem precedentes e por um barbarismo em que tudo é permitido. Ele pensava que a última possibilidade degeneraria a raça humana, de maneira geral, em: cientistas, trabalhadores e brutos; vivendo sob o último manto de uma de três ideologias: Americanismo, Marxismo ou Nazismo (que ele considerava metafisicamente idênticas; enquanto avatares de subjetividade e do niilismo institucionalizado) e sob uma tecnologia mundial totalitária irrestrita. Supostamente, esta época seria ironicamente celebrada como a mais iluminada e gloriosa da história humana. Ele vislumbrava este abismo como sendo o maior evento na história do Ocidente; porque ele permite que a Humanidade compreenda o Ser mais profunda e primordialmente do que os Pré-Socráticos.

É errôneo sugerir que Heidegger via qualquer distinção entre “salvação” e “o fim da metafísica e da modernidade”, ou que não via nenhuma distinção significativa entre a díade tecnológica irrefletida do Americanismo/Marxismo e o despertar Nacional-Socialista da existência alemã, mas nos outros aspectos essa descrição é penetrante. Ao trazer a história da ocultação do Ser à sua ruinosa conclusão, o niilismo consumado proclamaria um retorno à origem da filosofia, abrindo o caminho para um encontro cru com o abismo escondido e inominável (o Ser em sua própria verdade). Como porta para o fim do mundo, Hitler liderava o caminho ao historicamente impensável.

Sim, isso é altamente – de fato, singularmente – arcano. Antes d’O Evento, não pode haver qualquer formulação adequada do problema, muito menos a solução. Por volta de 1927, com a publicação de Ser e o Tempo (Parte I), Heidegger havia completado o que é alcançável antes da calamidade, que é esclarecer a insuficiência da Questão do Ser, como ela foi formulada dentro da história da ontologia.

Os recursos cognitivos de Heidegger são basicamente kantianos, o que é dizer que ele empreende um crítica transcendental da ontologia, produzindo não uma filosofia crítica, mas um esboço de uma ‘ontologia fundamental’. Onde Kant diagnostica o erro da metafísica especulativa como uma confusão entre objetos e suas condições de possibilidade (o que então interpreta as últimas como objetos de um discuso insustentável), Heidegger ontologiza a abordagem transcendental, distinguindo entre ‘seres’ e sua base (o Ser), ao passo que diagnostica o concomitante erro de interpretar a base dos seres como ela mesma um ser (de algum tipo). Uma vez que o ser mais dignificado – e, assim, exemplar – conhecido da tradição Ocidental é Deus, Heidegger se refere à má apreensão estrutural do Ser – que define e ordena a história da filosofia – como ‘Onto-Teologia’.

Criticamente (ou ‘destrutivamente’) concebida, a ontologia fundamental é aquela investigação que não apresenta a Questão do Ser de tal maneira que ela possa ser respondida pela invocação de um ser. Nenhuma formulação adequada, compatível com este critério transcendental (ou ‘diferença ontológica’), é concebível, porque não importa como ‘o Ser’ seja nomeado, sua concepção permanece presa dentro da esfera ‘ôntica’ dos (meros) seres. Não podemos, através de um ato de vontade filosófica – não importa o quão estrênuo – deixar de pensar sobre o Ser como se ele fosse algum tipo de coisa, mesmo depois de entender a inadequação de tal apreensão. É assim, quebrada por sobre um problema derradeiro que não pode ser nem dispensado, nem resolvido, que a filosofia alcança seu fim, aguardando a ruína do clímax d’O Evento.

[Breve intervalo – e depois tempo, linguagem e mais apocalypse ontológico nazista]

Original.