Turbilhões

Esta aplicação emotiva, mas ainda assim largamente convincente da teoria geracional de Strauss & Howe dos ciclos históricos às recentes manchetes jornalísticas é um lembrete da inevitabilidade do contar de estórias. (Este blog tocou neste conto em particular antes.)

A Catedral é sobretudo uma meta-estória, uma usurpação secular-revolucionária da ‘Grande Narrativa‘ tradicional do Ocidente (herdada do monoteísmo escatológico), e sua sobrevivência é inseparável da preservação da credibilidade da narrativa. Conforme ela se desgasta, estórias alternativas obtém um nicho. A descrição de Strauss & Howe do padrão histórico rítmico é altamente competitiva em um ambiente desses. Eventos que subtraem da plausibilidade das expectativas progressistas são exatamente aqueles que fortalecem agouros de um iminente ‘inverno’ cíclico. O inverno está chegando, como popularizado pelo Game of Thrones, poderia ter sido projetado como uma ferramenta promocional para A Quarta Virada.

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O Anarchopapist começa suas mais recentes reflexões sobre ‘O Projeto Neorreacionário’ se perguntando “O que é um meme?”. É um ponto de partida melhor, neste contexto do que a questão Quão corretos Strauss & Howe estão?. A memética subsume questões de aplicação factual (enquanto aspectos do fitness adaptativo), mas se estende para além delas. O meme bem sucedido é caracterizado por traços estéticos irredutíveis à adequação representacional, desde a elegância da construção até a forma dramática. De maneira ainda mais importante, ele é capaz de operar como um fator causal em si e, assim, produzir os próprios efeitos aos quais se acomoda. Uma sociedade fascinada por sua passagem pelo portão de inverno de uma quarta virada estaria, em grande medida, encenando a mesma produção teatral que suas “crenças” haviam antecipado.

Entre as maiores forças meméticas da estória de Strauss & Howe está seu senso notavelmente concreto de cronometragem. Ela oferece datas prospectivas, dentro de uma gama preditiva estreita que narrativas alternativas estão sob grande pressão de igualar, em consonância com a sua pretensão de ter identificado ‘estações’ históricas. As antecipações dos enredos contemporâneos marxistas, singularitários ou eco-catastróficos são inequivocamente nebulosas em comparação. (Notavelmente – a NRx não tem, até o momento, qualquer teoria formulada que seja para apoiar predições com datas.)

Entre as funções de travamento meméticas mais significantes está um enxerto de confiança. Qualquer vírus cultural que comunique um sentido definitivo do que está por vir descobre que a tolerância do hospedeiro é relativamente fácil de se obter. A história do milenarianismo (precisamente datado) atesta isso de maneira esmagadora, com o corolário de que uma vulnerabilidade à falsificação subsequente está necessariamente implicada. Em alguma medida definitiva, tal sensibilidade à contradição empírica também tem que se aplicar no caso de Strauss & Howe, apesar dos fatores complicadores da auto-confirmação contagiosa já notados.

Como S&H profetizam no livro:

Em algum momento antes do ano 2025, a América passará por um grande portal na história, comensurável com a Revolução Americana, com a Guerra Civil e com as emergências gêmeas da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. […] O risco de uma catástrofe será muito alto. A nação poderia irromper em insurreição ou violência civil, rachar-see geograficamente ou sucumbir a um governo autoritário. Se houver guerra, provavelmente será uma de riscos e esforços máximos – em outras palavras, uma GUERRA TOTAL.

É esta previsão admiravelmente determinada, em combinação com o conteúdo agourento, que empresta a esta obra sua influência sobre a imaginação apocalíptica de nosso tempo.

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Reunir expectativas para a ‘Quarta Virada’ é parte da paisagem memética na qual a NRx se encontra e, assim, é um fato intricado e estrategicamente relevante. Um estória consistente e convincente sobre elas seria valiosa – e, quase certamente, no prazo relativamente curto pelo menos, cada vez mais valiosa.

Original.

O Que é Filosofia? (Parte 2a)

Por mais estranho que o reconhecimento possa ser, não se pode evitar o fato de que a filosofia, quando apreendida dentro da tradição Ocidental, é o pecado original. Entre a árvore da vida e a árvore do conhecimento, ela não hesita. Seu nome é indistinguível de uma lascívia pelo proibido. Embora queimar filósofos não seja mais socialmente aceitável, nossa ordem canônica de proibição cultural – em sua raiz – só pode considerar tal punição obrigatória. Uma vez que se permita que filósofos vivam, a civilização estabelecida está acabada.

Para a filosofia, o sussurro da serpente não é mais uma tentação resistível. Ela é, pelo contrário, um princípio constitutivo, ou fundação. Se há uma diferença entre um daemon socrático e um demônio diabólico, não é uma que importa filosoficamente. Não pode haver nenhuma recusa de qualquer informação acessível. Esta é uma suposição tão básica que a filosofia não pode existir até que ela tenha passado para além de questão. Transgressão religiosa derradeira é a iniciação.

Não deveria ser nenhuma surpresa para os Tradicionalistas Cristãos, portanto, encontrar as extremidades do esforço filosófico misturadas, intimamente, nas cinzas do Terceiro Reich. O absoluto religioso negativo, ou mal infinito, do experimento Nacional-Socialista, que suplanta toda a revelação positiva sob as condições socioculturais da Catedral madura, é, ‘coincidentemente’, o lugar em que o limite da filosofia foi traçado. Isto é, claro, introduzir o pensamento de Martin Heidegger.

Como a perfeita negação de Cristo, ou realização consumada do Anti-Cristo, Adolf Hitler fecha – ou completa de maneira essencial – a história do Ocidente. Não importa se acreditamos nisso. A Catedral o faz, absolutamente, ao ponto de doutrina selada. Heidegger antecipou lucidamente esta conclusão. Em um comício eleitoral, realizado por acadêmicos alemães em 11 de novembro de 1933, ele declarou:

Declaramos nossa independência do ídolo do pensamento que não tem fundamento, nem poder. Vemos o fim da filosofia que serve a tal pensamento. …E, assim, nós, a quem a preservação da vontade de saber de nosso povo será no futuro confiada, declaramos: A revolução Nacional-Socialista não é meramente a assunção do poder, da forma em que ele existe atualmente no Estado, por outro partido, um partido que ficou suficientemente grande em números para ser capaz de fazê-lo. Antes, esta revolução está realizando a total transformação de nossa existência alemã. …O Führer despertou essa vontade [de auto-responsabilidade nacional] em todo o povo e a fundiu em uma única resolução. Ninguém pode ficar longe das urnas no dia em que esta vontade for manifestada.
Heil Hitler!

Naturalmente, enquanto pronunciamento democrático (endereçado a comparativos imbecis), apenas algumas pistas da profunda modulação de Heidegger da “vontade de saber” germânica se infiltram. A [reconstrução, por parte da Wikipédia, do pano de fundo visionário oculto, extraída da obra de Michael Allen Gillespie, é excelente:

Heidegger acreditava que o mundo ocidental estivesse em uma trajetória em direção à guerra total e à beira de um niilismo profundo (a rejeição de todos os princípios religiosos e morais), que seria a revelação mais pura e elevada do Ser em si mesmo, oferecendo uma horrível encruzilhada de salvação ou do fim da metafísica e da modernidade; fazendo do Ocidente: um deserto populado por brutos que usam ferramentas, caracterizado por uma ignorância sem precedentes e por um barbarismo em que tudo é permitido. Ele pensava que a última possibilidade degeneraria a raça humana, de maneira geral, em: cientistas, trabalhadores e brutos; vivendo sob o último manto de uma de três ideologias: Americanismo, Marxismo ou Nazismo (que ele considerava metafisicamente idênticas; enquanto avatares de subjetividade e do niilismo institucionalizado) e sob uma tecnologia mundial totalitária irrestrita. Supostamente, esta época seria ironicamente celebrada como a mais iluminada e gloriosa da história humana. Ele vislumbrava este abismo como sendo o maior evento na história do Ocidente; porque ele permite que a Humanidade compreenda o Ser mais profunda e primordialmente do que os Pré-Socráticos.

É errôneo sugerir que Heidegger via qualquer distinção entre “salvação” e “o fim da metafísica e da modernidade”, ou que não via nenhuma distinção significativa entre a díade tecnológica irrefletida do Americanismo/Marxismo e o despertar Nacional-Socialista da existência alemã, mas nos outros aspectos essa descrição é penetrante. Ao trazer a história da ocultação do Ser à sua ruinosa conclusão, o niilismo consumado proclamaria um retorno à origem da filosofia, abrindo o caminho para um encontro cru com o abismo escondido e inominável (o Ser em sua própria verdade). Como porta para o fim do mundo, Hitler liderava o caminho ao historicamente impensável.

Sim, isso é altamente – de fato, singularmente – arcano. Antes d’O Evento, não pode haver qualquer formulação adequada do problema, muito menos a solução. Por volta de 1927, com a publicação de Ser e o Tempo (Parte I), Heidegger havia completado o que é alcançável antes da calamidade, que é esclarecer a insuficiência da Questão do Ser, como ela foi formulada dentro da história da ontologia.

Os recursos cognitivos de Heidegger são basicamente kantianos, o que é dizer que ele empreende um crítica transcendental da ontologia, produzindo não uma filosofia crítica, mas um esboço de uma ‘ontologia fundamental’. Onde Kant diagnostica o erro da metafísica especulativa como uma confusão entre objetos e suas condições de possibilidade (o que então interpreta as últimas como objetos de um discuso insustentável), Heidegger ontologiza a abordagem transcendental, distinguindo entre ‘seres’ e sua base (o Ser), ao passo que diagnostica o concomitante erro de interpretar a base dos seres como ela mesma um ser (de algum tipo). Uma vez que o ser mais dignificado – e, assim, exemplar – conhecido da tradição Ocidental é Deus, Heidegger se refere à má apreensão estrutural do Ser – que define e ordena a história da filosofia – como ‘Onto-Teologia’.

Criticamente (ou ‘destrutivamente’) concebida, a ontologia fundamental é aquela investigação que não apresenta a Questão do Ser de tal maneira que ela possa ser respondida pela invocação de um ser. Nenhuma formulação adequada, compatível com este critério transcendental (ou ‘diferença ontológica’), é concebível, porque não importa como ‘o Ser’ seja nomeado, sua concepção permanece presa dentro da esfera ‘ôntica’ dos (meros) seres. Não podemos, através de um ato de vontade filosófica – não importa o quão estrênuo – deixar de pensar sobre o Ser como se ele fosse algum tipo de coisa, mesmo depois de entender a inadequação de tal apreensão. É assim, quebrada por sobre um problema derradeiro que não pode ser nem dispensado, nem resolvido, que a filosofia alcança seu fim, aguardando a ruína do clímax d’O Evento.

[Breve intervalo – e depois tempo, linguagem e mais apocalypse ontológico nazista]

Original.

Zack-Pop II

A política de Zack é interessante o suficiente para ter gerado preocupação:

A lógica do apocalipse zumbi inevitavelmente pinta os humanos – os que sobrevivem, de qualquer forma – como egoístas, perigosos e prontos para se voltar uns contra os outros quando confrontados com dificuldades. É uma visão perversa e darwinista social de uma sociedade que se desvenda rápida e facilmente; as únicas coisas que aparentemente nos mantém juntos são departamentos de polícia e a eletricidade. […] …Os princípios básicos da lógica zumbi também seguem princípios conservadores da linha dura (auto-suficiência, individualismo, isolacionismo), que têm sido cada vez mais forçosamente articulados ao longo dos últimos quinze anos. Em seu livro de 2012, Thomas Edsall examina o trabalho do professor Philip Tetlock de Wharton, que descobriu que os conservadores “toleram menos compromissos; vêem o mundo em termos de ‘nós’ versus ‘eles’; estão mais dispostos a usar força para ganhar uma vantagem; são mais ‘propensos a confiar em regras avaliativas simples (bom vs. mau) ao interpretar questões de política’; estão motivados a punir violadores de normas sociais (por exemplo, desvios das normas tradicionais de sexualidade ou comportamento responsável) e a dissuadir caroneiros”. Soa familiar? Basicamente descreve o compasso moral de sobreviventes bem-sucedidos de zumbis. Engraçado, então, que os Republicanos, na verdade, tendam a odiar The Walking Dead. […] Independentemente disso, a proliferação da cultura zumbi, neste momento, é incompreensível. Como ainda estamos, enquanto público, fascinados pelo mesmo cenário, os mesmos vilões com morte cerebral, os mesmos desertos esvaziados? “Está se alimentando de si mesmo”, disse [Daniel] Drezner. “Toda vez que alguém diz que atingimos o pico dos zumbis, alguma outra vem junto”.

A hipótese provisória do XS: a preparação para Zack é a resposta comercial-estética à morte do conservadorismo. Os progs não podem ser parados por nenhum mecanismo político já instalado, então é hora de estocar o porão com munição e feijões. Naturalmente, eles vão dizer: você não deveria estar pensando assim! É encorajante que tantas pessoas estejam.

Original.

Zack-Pop

Michael Totten cobre uma quantia impressionante de terreno em seu resumo da cultura zumbi contemporânea. Poderia ser chamada de Antropoceno Sombrio: Um mundo emergente assombrado pelo medo espesso de que todo o resto do planeta é uma ameaça zumbi latente. Debaixo de um pele de civilidade fina e que facilmente de rasga, seus vizinhos cada vez mais incompreensíveis são canibais sem mente, aguardando um desencadeamento. Estados-Nação disfuncionais não oferecem nenhuma proteção crível, mas estiveram por aí por tempo o bastante para garantir que você tenha sido drasticamente desarmado das competências básicas de sobrevivência. Algum pulso de amídala residual está lhe dizendo para começar a pensar como você vai lidar quando tudo finalmente vier abaixo.

Não é surpresa para ninguém que este blog vê isso, de forma bastante direta, como introspecção democrática. Só é necessário que as pessoas comecem a se banquetear da mesma maneira em que votam, e estamos zackados. Toda a cultura está dizendo – e agora praticamente gritando – que essa é a forma em que a modernidade sócio-política acaba.

Original.

Futuro Zackado

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Charlton:

A Revolução Industrial teve o efeito de permitir que muitos bilhões de pessoas que teriam morrido ficassem vivas – isto significou que mutações genéticas que teriam sido eliminadas pela morte durante a infância, em vez disso, se acumularam. […] …por um lado, as mutações têm se acumulado, geração a geração, com (aprox.) um ou duas mutações deletérias sendo adicionadas a cada linhagem a cada geração; pelo outro, as pessoas que exibiam traços causados por mutações deletérias – tais como inteligência reduzida e conscienciosidade de longo prazo debilitada, ou maior impulsividade, agressão e criminalidade – foram positivamente selecionadas, foram geneticamente favorecidas – simplesmente porque suas patologias significavam que elas eram incapazes ou relutantes em usar tecnologias reguladoras de fertilidade. […] Em outras palavras, o acúmulo de mutações que prejudicam a funcionalidade, na verdade, amplifica o sucesso reprodutivo sob as condições atuais e durante várias gerações passadas.

Em algum ponto, a proporção de mutantes – que são, em média, significantemente debilitados em funcionalidade – se tornará tão grande que a Revolução Industiral desmoronará, colapsará; o excesso populacional de 6-7 bilhões será insuportável; haverá uma escala Giga de mortes (isto é, bilhões de mortes) de mortalidade ao longo de um período… […] Uma população de mutantes cuja inteligência tenha sido arrastada para baixo até um certo nível será muito menos funcional do que uma população em que a seleção a manteve em equilíbrio nesse nível – os mutantes carregarão múltiplas patologias além de sua inteligência debilitada. […]

Esse mundo de morte em massa fornecerá um novo tipo de ambiente seletivo – alguns mutantes podem se reproduzir muito rapidamente sob essas condições estranhas (e temporárias), ao evoluir para explorar recursos incomuns que estão (temporariamente) em abundância em um mundo de Giga-morte…

E se a extinção durar algumas gerações, alguns ‘carniceiros’ mutantes esquisitos podem vir a dominar em alguns lugares.

É possível que esta passagem não esteja nos arrastando para um cenário de Zack ou “Raiva Africana” de Apocalipse Zumbi canibal – ou quase – mas os parágrafos finais são não fáceis de se interpretar de qualquer outra maneira. Se eu fosse um roteirista de Hollywood, eu estaria sobre essa narrativa especulativa como um mutante carniceiro sobre uma montanha de cadáveres.

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Horror Abstrato (Nota-2)

Um sobressalto muito especial de alegria para a Noite (de Horror) de Sexta-Feira – um monstro totalmente novo (o ‘Fantasma’):

A maioria dos modelos de energia escura mantém que a quantidade dela permanece constante. Mas cerca de 10 anos atrás, os cosmólogos perceberam que, se a densidade total da energia escura estiver aumentando, poderíamos estar em direção a um cenário de pesadelo – o “grande rasgo”. Conforme o espaço-tempo se expande, cada vez mais rápido, a matéria será dilacerada, começando com os aglomerados de galáxias e terminando com os núcleos atômicos. Os cosmólogos a chamaram de energia “fantasma”.

Para descobrir se isso poderia ser verdade, Dragan Huterer, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, se voltou para supernovas de tipo Ia. Estas explosões estelares têm todas o mesmo brilho, de modo que elas agem como padrões cósmicos para medir distâncias. A primeira evidência de que a expansão do universo está se acelerando veio de estudos de supernovas do tipo Ia, no final dos anos 1990.

Se as supernovas estivessem se acelerando para longe umas das outras mais lentamente no passado do que agora, então a densidade da energia escura poderia estar aumentando, e nós poderíamos estar encrencados. “Se você se mover mesmo que seja um milímetro da borda, você cai no abismo”, Huterer diz.

Huterer e seu colega Daniel Shafer compilaram dados de levantamentos recentes sobre supernovas e descobriram que, dependendo de quais levantamentos você usa, poderia haver uma ligeira evidência de que a densidade da energia escura tem aumentado ao longo dos últimos 2 bilhões de anos, mas isso não é estatisticamente significante ainda (Physical Review D, doi.org/vf9)

A energia fantasma é uma teoria azarona, mas as consequências são tão dramáticas que vale a pena testar, diz Huterer. A fraqueza da evidência é equilibrada pelo fato de que as implicações são enormes, diz ele. “Teremos que revisar completamente até mesmo nosso pensamento atual sobre energia escura se o fantasma estiver mesmo trabalhando.”

(Se eu estivesse inventando essas coisas, sobre a totalidade do espaço cósmico sendo um monstro oculto, pronto para despedaçar cada partícula do universo, eu teria dado o nome de ‘Dragan Huterer‘ para o herói também.)

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A Palavra com ‘F’

O fascismo está de volta, aparentemente. No mínimo, pode estar se tornando mais interessante se falar sobre ele.

No período imediatamente seguinte à Segunda Guerra Mundia, ambos os blocos triunfantes se moveram rapidamente para definir a palavra ‘fascismo’ de maneira expediente. O objetivo crítico, de cada lado, era enfatizar aquelas características comparativamente minimizadas em sua própria versão doméstica do fenômeno, a fim de sublinhar a impressão de que eles haviam inequivocamente se colocado contra ele. O ‘fascismo’ era, definitivamente, aquela coisa derrotada recentemente e a um custo enorme. Os imensos sacrifícios – e, na verdade, a progressiva reconstrução fascista da sociedade que fora acelerada durante os anos da guerra – eram justificados pela derrota esmagadora de um mal absoluto. A distinção era imperativa. Assim, os soviéticos chamaram atenção, em particular, para o comparativamente abafado anti-capitalismo das potências do Eixo, ao passo que os aliados atlânticos se concentraram nos ornamentos exóticos do arianismo antissemita alemão. É particularmente notável que a definição ocidental predominante de fascismo seja excepcionalmente mal adaptada a sequer a mais básica compreensão do original italiano, e que as narrativas anti-fascistas tanto ocidental quanto soviética sejam compelidas a minimizar o socialismo revolucionário em suas raízes, nas variantes tanto italiana quanto alemã.

Tudo isto é compreensível o suficiente, mas mistifica grosseiramente a realidade do fascismo, que foi simbolizado – universalmente – pela economia de guerra do século XX. Todos os principais competidores da Segunda Guerra – incluindo as grandes potências asiáticas, Japão e China – desenvolveram uma governança fascista em um estado avançado. A característica essencial foi a apreensão estatal do ‘alto comando’ da economia no ‘interesse popular’ delegado (e integrado). Durante o tempo de guerra, tal interesse é revertido à pura sobrevivência e, assim, divulgado com dramática intensidade, o que também é dizer com uma incomum ausência de ceticismo. O fascismo é, portanto, amplamente idêntico a uma normalização dos poderes de guerra do estado moderno, isto é: mobilização social continuada sob uma direção central. Consequentemente, ele envolve, além da centralização da autoridade política em um conselho permanente de guerra, uma histerização tribal da identidade social e uma considerável medida de pragmatismo econômico. O fascismo é o socialismo prático, distinto de seu primo obscuro por sua compreensão bem mais sofisticada de incentivos, ou da natureza humana em sua particularidade motivada individual e tribal. Quando comparado com o comunismo universalista, as vantagens práticas do fascismo são tais que o ‘socialismo realmente existente’ sempre logo vira ele. Nacional-socialismo e socialismo em um país são não coisas sensatamente separáveis. Todo mundo sabe que o significado literal de ‘fascismo’ é agrupamento.

Assim como seus concorrentes europeu continental e soviético, o fascismo americano havia sido completamente consolidado por volta do começo da guerra. O New Deal cimentou seus pilares estruturais no lugar. A socialização da economia através de um banco central, a transformação da Suprema Corte em uma facilitador do sobre-alcance executivo sistemático e a transformação da política de massa através de tecnologias de mídia radio-difusiva compuseram uma ordem política nova e pós-constitucional. É esta formação que está tão flagrantemente entrando em sua fase de demência terminal hoje.

Uma vez que o estado fascista se justifica através da guerra perpétua, ele naturalmente gosta de guerras que não podem acabar. A Guerra Fria parecia uma, mas não era bem isso. A Guerra ao Terror é uma aposta melhor. Em relação a sua interminabilidade, se não sua intensidade moral, as ‘guerras’ à pobreza, às drogas e a outras condições sociais resilientes são mais atraentes ainda. Lutar guerras modernas, e seus produtos secundários, é para o que serve o estado fascista. Vencê-las ocasionalmente, e por acidente, é sempre apenas um infortúnio. A lição parece ter sido inteiramente aprendida.

A recente adaptação para a televisão do profético O Homem do Castelo Alto de Philip K. Dick é uma indicação sugestiva de um despertar ideológico geral. Em contraste dramático com o mito histórico predominante, o fascismo venceu a Segunda Guerra tão decisivamente que seus oponentes foram levados às franjas políticas do paleo-conservadorismo (outrora o conservadorismo mainstream), do libertarianismo (outrora liberalismo mainstream) e do trotskismo (outrora simplesmente ‘comunismo’). A vitória foi tão completa que mesmo objetivos políticos tão descaradamente fascistas como a nacionalização poderiam ser considerados totalmente inocentes da mácula fascista. Não era sequer necessário dizer: “Nacionalização, mas, sabe, não de um jeito fascista”. Seria divertido, se não tivesse arruinado tudo. Talvez ainda seja divertido. É notável que o humor tenha se tornado um bocado mais áspero recentemente.

Uma vez que o fascismo preencheu inteiramente a janela de Overton, ele perdeu contorno e se tornou invisível A palavra persistiu em conversas públicas apenas como um insulto vazio. Sob este disfarce e sob a marca absurdamente enganosa a ele associado, o fascismo americano ascendeu a um estado de dominância hegemônica global. Desde 1989, ele permaneceu essencialmente inconteste, exceto pela birra geopolítica que é o islã radical. Ainda assim, de repente, do campo da esquerda, a candidatura de Trump o lançou em uma crise.

As características fascistas extravagantes da campanha de Trump – e ainda mais de seus exaltados apoiadores na Alt Right – são negáveis apenas por tolos. A escalação anterior de imagens ostensivamente fascistas pela primeira campanha de Obama e por sua subsequente administração não foi menos notável. A convenção estabelecida na sociedade educada de que todos os candidatos presidenciais conservadores são Hitler obscureceu a tendência antes deste ano, em ambos os lados. Muito disto poderia ser reminiscente da tese de Jonah Goldberg de que somos todos fascistas agora, que é quase universalmente descartada de cara, por razões que não estiverem – até recentemente – sob qualquer pressão sociopolítica que seja para se defenderem. É um absurdo óbvio, a classe do controle mental decidiu, e isso deveria ter sido o suficiente para todo mundo. Esses dias estão inequivocamente acabando.
A compreensão geral que permanece incompletamente cristalizada nisto: A democracia tende ao fascismo, devido à sua afinidade fundamental com a mobilização tribal (isto é, seu iliberalismo essencial). A catraca multissecular da democratização ocidental levou, de maneira exata e inexorável, a isto. Se o pior não chegou ainda, ele chegará em breve. Estamos todos próximo de ver isso agora.

Um catalisador especialmente óbvio da radicalização política tem sido a adoção da engenharia demográfica como objetivo político explícito, de assimetria partidária deliberada, com a participação de uma trovoada da retórica aprovada pela elite cultural que não tem sido apenas indiscreta, mas descaradamente triunfalista. Ao descartar medos de ‘genocídio’ branco como malignos e exagerados, não é útil rir em público sobre o contínuo progresso da substituição populacional (à maneira de John Judis e Ruy Teixeira, mais obviamente). Em algum ponto, o exemplo mais celebrado de advocacia do diabo de Berthold Brecht – “Não seria mais fácil… para o governo dissolver o povo e eleger outro?” – trocou de polaridade ideológica, para se tornar uma piada amarga da Alt Right. A nova demografia americana vai realmente ferrar com vocês, caras é divertido para burro, até que – de repente – não é.

Tem havido muitas gargalhadas em 2016, mas não muitos sorrisos. Talvez não demore para que as pessoas percebam o que fizeram.

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O Iluminismo Sombrio, Parte 3

Parte 3:

O fascículo anterior desta série acabou com nosso herói, Mencius Moldbug, até a cintura (ou pior) no pântano mefítico do politicamente incorreto, aproximando-se do coração sombrio de sua meditação político-religiosa em How Dawkins Got  Pwned. Moldbug pegou Dawkins no meio de uma denúncia sintomaticamente significante e excruciantemente beata dos “sentimentos vitorianos” racistas de Thomas Huxley – um sermão que conclui com a estranha declaração de que ele está citando as palavras de Huxley, apesar de sua pavorosidade auto-evidente e totalmente intolerável, “apenas para ilustrar como o Zeitgeist segue em frente”.

Moldbug dá o bote, perguntando mordazmente: “O que, exatamente, é essa coisa do Zeitgeist?”. É, indiscutivelmente, uma extraordinária captura. Eis aqui um pensador (Dawkins), treinado como biólogo e especialmente fascinado pelos tópicos (disjuntivamente) geminados da evolução naturalista e da religião abraâmica, tropeçando no que ele apreende como uma tendência unidirecional de desenvolvimento espiritual histórico-mundial, que ele então – enfaticamente, mas sem o menor apelo à razão disciplinada ou à evidência – nega que tenha qualquer conexão séria com o avanço da ciência, com a biologia humana ou com a tradição religiosa. O disparate balbuciante que daí se resulta é uma coisa de se admirar, mas, para Moldbug, tudo faz sentido:

Na verdade, o Zeitgeist do Professor Dawkins é… indistinguível do… antigo conceito anglo-calvinista ou puritano de Providência. Talvez esta seja uma falsa correspondência. Mas é uma bem próxima.

Uma outra palavra para Zeitgeist é Progresso. Não é de se surpreender que os Universalistas tendam a acreditar no Progresso – na verdade, em um contexto político, eles frequentemente se denominam progressistas. O universalismo de fato fez um bom bocado de progresso desde [a época da embaraçosa observação de Huxley em] 1913. Mas isto dificilmente refuta a proposição de que o Universalismo é uma tradição parasita. Progresso para o carrapato não é progresso para o cão.

O que, exatamente é essa coisa de Zeitgeist? Vale a pena repetir a questão. Não é espantoso, para começar, que quando um darwinista inglês busca uma arma para golpear outro, o cacete mais conveniente à mão seja uma palavra alemã – associada com uma linhagem abstrusa de filosofia idealista adoradora do estado – fazendo referência explícita a uma concepção de tempo histórico que não tem qualquer conexão discernível com o processo de evolução naturalista? É como se, de maneira dificilmente imaginável, durante uma contenda comparável entre físicos (sobre o tópico da indeterminação quântica), de repente se ouvisse gritar que “Deus não joga dados com o universo”. Na verdade, os dois exemplos estão intimamente emaranhados, uma vez que a fé de Dawkins no Zeitgeist é combinada com uma adesão ao progressismo dogmático da ‘Religião Einsteiniana’ (meticulosamente dissecada, claro, por Moldbug).

O despudor é notável, ou pelo menos seria, se ingenuamente se acreditasse que os protocolos da racionalidade científica ocupavam uma posição soberana em tal disputa, mesmo que apenas em princípio. Na verdade – e aqui a ironia é amplificada à própria beira da psicose uivante – o Old One de Einstein ainda reina. Os critérios de julgamento devem tudo à higiene espiritual neo-puritana e nada que seja à realidade testável. A elocução científica é filtrada para a conformidade com uma agenda social progressista, cuja autoridade parece não ser afetada por sua completa indiferença para com a integridade científica. O que lembra Moldbug de Lysenko, por razões compreensíveis.

“Se os fatos não concordam com a teoria, tanto pior para os fatos” afirmou Hegel. É o Zeitgeist que é Deus, historicamente encarnado no estado, espezinhando meros dados de volta na poeira. A este altura, todo mundo sabe onde isso acaba. Um ideal moral igualitário, endurecido em um axioma universal ou dogma cada vez mais incontestável, completa a ironia histórica suprema da modernidade, ao tornar a ‘tolerância’ o critério de ferro para os limites da tolerância (cultural). Uma vez que seja aceito de maneira universal ou, falando de maneira mais prática, por todas as forças sociais que empunham um poder cultural significante, que a intolerância é intolerável, a autoridade política legitimou toda e qualquer coisa que seja conveniente para si mesma, sem restrição.

Essa é a mágica da dialética, ou da perversidade lógica. Quando apenas a tolerância é tolerável, e todo mundo (que importa) aceita esta fórmula manifestamente absurda como não apenas racionalmente inteligível, mas como o princípio universalmente afirmado da fé democrática moderna, nada resta exceto a política. A tolerância perfeita e a intolerância absoluta se tornaram logicamente indistinguíveis, com qualquer uma sendo igualmente interpretável como a outra, A = não-A, ou o inverso, e, no mundo abertamente orwelliano que daí resulta, apenas o poder tem as chaves da articulação. A tolerância progrediu em tal grau que tem se tornado uma função de policiamento social, fornecendo o pretexto existencial para novas instituições inquisitoriais. (“Devemos lembrar que aqueles que toleram a intolerância abusam da própria tolerância, e um inimigo da tolerância é um inimigo da democracia”, ironiza Moldbug.)

A tolerância espontânea que caracterizava o liberalismo clássico, enraizada em um conjunto modesto de direitos estritamente negativos que restringiam o domínio da política, ou intolerância governamental, se rende, durante a maré democrática, a um direito positivo a ser tolerado, definido de maneira cada vez mais expansiva como intitulação substancial, envolvendo afirmações públicas de dignidade, garantias impostas pelo estado de tratamento igual por parte de todos os agentes (públicos e privados), proteções governamentais contra desfeitas e humilhações não-físicas, subsídios econômicos e – em última análise – representação estatisticamente proporcional dentro de todos os campos de emprego, realização e reconhecimento. Que a culminação escatológica desta tendência seja simplesmente impossível não importa de maneira alguma para a dialética. Pelo contrário, isso energiza o processo político, comburindo qualquer ameaça de
saciação política no combustível do agravo infinito. “I will not cease from Mental Fight, Nor shall my Sword sleep in my hand: Till we have built Jerusalem, In England’s green and pleasant land.”[1] Em algum lugar antes de que Jerusalém fosse alcançada, o pluralismo inarticulado de uma sociedade livre foi transformado no multiculturalismo assertivo de uma democracia totalitária suave.

Os judeus da Amsterdam do século XVII ou os huguenotes da Londres do século XVIII gozaram do direito de serem deixados em paz e enriqueceram suas sociedades anfitriãs em troca. Os grupos de agravo democraticamente empoderados dos tempos modernos posteriores são incitados por líderes políticos a exigirem um (fundamentalmente iliberal) direito de ser ouvido, com consequências sociais que são predominantemente malignas. Para os políticos, contudo, que se identificam e se promovem como a voz dos não ouvidos ou dos ignorados, o auto-interesse em jogo dificilmente poderia ser mais óbvio.

A tolerância, que já pressupôs a negligência, agora a condena e, ao fazê-lo, se torna seu oposto. Fosse este um desenvolvimento partidário, a política partidária de um tipo democrático poderia sustentar a possibilidade de reversão, mas ele não é nada do tipo. “Quando alguém está sofrendo, o governo tem que se mover” declarou o Presidente ‘conservador compassivo’ dos EUA George W. Bush, em um fútil esforço de canalizar a Catedral. Quando a ‘direita’ soa assim, ela não está apenas morta, mas inequivocamente fedendo a decomposição avançada. O ‘Progresso’ venceu, mas isso é ruim? Moldbug aborda a questão de  maneira rigorosa:

Se uma tradição faz com que seus hospedeiros cometam erros de cálculo que comprometem suas metas pessoais, ela exibe um morbidez misesiana. Se ela faz com que seus hospedeiros ajam de maneiras que comprometam os interesses reprodutivos de seus genes, ela exibe uma morbidez darwiniana. Se se subscrever à tradição é individualmente vantajoso ou neutro (desertores são recompensados ou pelo menos não são punidos), mas coletivamente prejudicial, a tradição é parasitária. Se se subscrever é individualmente desvantajoso, mas coletivamente benéfico, a tradição é altruísta. Se é tanto individual quanto coletivamente benigna, ela é simbiótica. Se é tanto individual quanto coletivamente danosa, é maligna. Cada um desses rótulos podem ser aplicados tanto à morbidez misesiana quanto à darwiniana. Um tema que seja arracional, mas não exiba nem morbidez misesiana, nem darwiniana, é trivialmente mórbido.

Considerados de maneira comportamental, os sistemas misesiano e darwiniano são aglomerações de incentivos ‘egoístas’, orientados, respectivamente, à acumulação de propriedade e à propagação de genes. Ao passo que os darwinistas concebem a esfera ‘misesiana’ como um caso especial da motivação geneticamente auto-interessada, a tradição austríaca, enraizada em um anti-naturalismo neokantiano altamente racionalizado, está predisposta a resistir a tal reducionismo. Embora as consequências finais desta disputa sejam consideráveis, sob as atuais condições ela é uma querela de urgência menor, uma vez que ambas as formações estão unidas no ‘ódio’, isto é, em sua tolerância reacionária a estruturas de incentivos que punem os mal adaptados.

‘Ódio’ é uma palavra sobre a qual se deter. Ela testemunha com especial clareza a ortodoxia religiosa da Catedral, e suas peculiaridades merecem uma observação cuidadosa. Talvez sua característica mais notável seja sua perfeita redundância, quando avaliada da perspectiva de qualquer análise das normas legais e culturais que não esteja inflamada pelo entusiamo evangélico neo-puritano. Um ‘crime de ódio’, se for qualquer coisa que seja, é apenas um crime, mais ‘ódio’, e o que o ‘ódio’ adiciona é revelador. Para nos restringirmos, momentaneamente, a exemplos de criminalidade incontroversa, se poderia perguntar: o que é, exatamente, que agrava um assassinato, ou uma agressão, se a motivação for atribuída ao ‘ódio’? Dois fatores parecem especialmente proeminentes, e nenhum tem qualquer conexão óbvia com as normas legais comuns.

Primeiramente, o crime é aumentado por um elemento puramente ideacional, ideológico ou mesmo ‘espiritual’, que atesta não apenas uma violação da conduta civilizada, mas também uma intenção herética. Isto facilita a abstração completa do ódio em relação à criminalidade, após a qual ele toma a forma de ‘discurso de ódio’ ou simplesmente ‘ódio’ (que deve sempre ser contrastado com a ‘paixão’, ‘injúria’ ou ‘ira’ justificada representada pela linguagem crítica, controversa ou meramente abusiva que é dirigida contra grupos, categorias sociais ou indivíduos não protegidos). ‘Ódio’ é uma ofensa contra a própria Catedral, uma recusa de sua orientação espiritual e um ato mental de provocação contra o destino religioso manifesto do mundo.

Em segundo lugar, e de maneira relacionada, o ‘ódio’ é deliberadamente e mesmo estrategicamente assimétrico em relação à polaridade política de equilíbrio das sociedades democráticas avançadas. Entre a implacável marcha do progresso e o resmungo ineficaz do conservadorismo, ele não vacila. Como vimos, apenas a direita pode ‘odiar’. Conforme o sistema imunológico doxológico da supressão de ‘ódio’ é consolidado dentro dos sistemas educacional da elite e midiático, a distribuição altamente seletiva de proteções garante que o ‘discurso’ – especialmente o discurso empoderado – é consistentemente reajustado para a esquerda, o que quer dizer, na direção de um Universalismo cada vez mais abrangentemente radicalizado. A morbidez desta tendência é extrema.

Uma vez que o status de agravo é concedido como compensação política para a incompetência econômica, ele constrói um mecanismo cultural automático que advoga a disfunção. O credo Universalista, com sua identificação reflexiva da igualdade com a injustiça, não consegue conceber nenhuma alternativa à proposição de que, quanto mais baixo a situação ou o status de alguém, mais convincente é a sua revindicação sobre a sociedade, mais pura e mais nobre é a sua causa. A falha temporal é a o sinal da eleição espiritual (marxo-calvinismo) e disputar qualquer parte disso é claramente ‘ódio’.

Isto não força nem mesmo o neo-reacionário de coração mais duro a sugerir, em uma caricatura do estilo cultural alto-vitoriano, que a desvantagem social, como manifesta em violência política, criminalidade, falta de moradia, insolvência e dependência do bem-estar social, é um índice simples da culpabilidade moral. Em grande parte – talvez uma parte esmagadoramente grande – ela reflete o puro infortúnio. Pessoas obscuras, impulsivas, sem saúde e pouco atraentes, criadas caoticamente em famílias abusivas e encalhadas em comunicadas despedaçadas e assoladas pelo crime, têm toda razão de amaldiçoaram os deuses antes de si mesmas. Além disso, um desastre pode atingir qualquer um.

Em relação a estruturas efetivas de incentivos, contudo, nada disto é da menor importância. A realidade comportamental conhece apenas uma lei de ferro: O que quer que seja subsidiado é promovido. Com uma necessidade não mais fraca do que aquela da própria entropia, na medida em que a democracia social busca suavizar as más consequências – para grandes corporações não menos do que para individuos batalhadores e culturas desafortunadas – as coisas ficam piores. Não há maneira de contornar ou ir além desta fórmula, só pensamento positivo e cumplicidade com a degeneração. Claro, esta compreensão reacionária definidora está condenada à inconsequência, uma vez que equivale à conclusão supremamente impalatável de que toda tentativa de melhoria ‘progressiva’ está fadada a se reverter, ‘perversamente’, em uma falha horrível. Nenhuma democracia poderia aceitar isto, o que significa que toda democracia falhará.

A excitada espiral da fuga degeneradora misesiana-darwiniana é nitidamente capturada nas palavras da libertária mais fofa do Beltway, Megan McArdle, escrevendo na embocadura central da Catedral, The Atlantic:

É um pouco irônico que as primeiras tensões sérias causadas pelas mudanças demográficas da Europa estejam aparecendo nos orçamentos de bem-estar social do continente, porque os próprios sistemas de pensão podem bem ter moldado e limitado o crescimento da Europa. O século XX viu a adoção internacional de sistemas de seguridade social que prometiam benefícios definidos, pagos a partir da receita tributária futura – conhecidos pelos especialistas em pensão como sistemas de “paygo” e pelos críticos como esquemas de Ponzi. Estes sistemas tem aliviado grandemente os medos de uma velhice destituída, mas múltiplos estudos mostram que conforme os sistemas seguridade social se tornam mais generosos (e a velhice mais segura), as pessoas têm menos filhos. De acordo com uma estimativa, de 50 as 60 por cento da diferença entre a taxa de natalidade (acima da taxa de reposição) da América e da Europa pode explicada pelos sistemas mais generosos da última. Em outras palavras, o sistema de pensão da Europa pode ter posto em ação o próprio declínio demográfico que ajudou a tornar esse sistema – e alguns governos europeus – insolvente.

Apesar da ridícula sugestão de McArdle de que os Estados Unidos da América, de alguma maneira, se isentaram do caminho mortuário da Europa, o esboço geral do diagnóstico é claro e cada vez mais aceito como senso comum (embora melhor ignorado). De acordo com o credo ascendente, o bem-estar social alcançado através da progenitura e da poupança não é universal e, assim, é moralmente ignorante. Ele deveria ser suplantado, tão ampla e rapidamente quanto possível, por benefícios universais ou ‘direitos positivos’, distribuídos universalmente ao cidadão democrático e, assim, inevitavelmente, roteado através do Estado altruísta. Se, como resultado, devido à irremediável incorreção política da realidade, economias e populações colapsarem em concerto, pelo menos isso não danificará nossas almas. Ó, democracia! Sua idiota moribunda doce como sacarina, você acha que as hordas zumbis se preocuparão com a sua alma?

Moldbug comenta:

O Universalismo, na minha opinião, é melhor descrito como um culto dos mistérios do poder. É um culto do poder porque um estágio crítico em seu ciclo replicador de vida é uma criaturazinha chamada Estado. Quando olhamos para as proteínas de superfície dos grandes Us, notamos que a maioria delas podem ser explicadas por sua necessidade de capturar, reter e manter o Estado e dirigir seus poderes à criação de condições que favoreçam a replicação continuada do Universalismo. É tão difícil imaginar o Universalismo sem o Estado quanto a malaria sem o mosquito.

É um culto dos mistérios porque ele desloca as tradições teístas, substituindo as superstições metafísicas por mistérios filosóficos, tais como humanidade, progresso, igualdade, democracia, justiça, meio ambiente, comunidade, paz, etc.

Nenhum destes conceitos, como definidos na doutrina Universalista ortodoxa, é sequer ligeiramente coerente. Todos podem absorver uma energia mental arbitrária sem produzir nenhum pensamento racional. Nisto, eles são melhor comparados aos
absurdos plotinianos, talmúdicos ou escolásticos.

Como bônus, eis aqui o guia do Urban Future para a sequência principal dos regimes políticos modernos:

Regime(1): Tirania Comunista
Crescimento Típico: ~0%
Voz / Saída: Baixa / Baixa
Clima cultural: Utopismo psicótico
A vida é… dura, mas ‘justa’
Mecanismo de transição: Redescobre os mercados no grau zero econômico

Regime(2): Capitalismo Autoritário
Crescimento Típico: 5-10%
Voz / Saída: Baixa / Alta
Clima cultural: Realismo insensível
A vida é… dura, mas produtiva
Mecanismo de transição: Pressurizado pela Catedral a se democratizar

Regime(3): Social Democracia
Crescimento Típico: 0-3%
Voz / Saída: Alta / Alta
Clima cultural: Desonestidade beata
A vida é… suave e insustentável
Mecanismo de transição: Chutar latas sai da pista

Regime(4): Apocalipse Zumbi
Crescimento Típico: N/A
Voz / Saída: Alta (em sua maioria gritaria inútil) / Alta (com combustível, munição, comida seca, moedas de metais preciosos)
Clima cultural: Sobrevivencialismo
A vida é… de dura a impossível
Mecanismo de transição: Desconhecido

Para todos os regimes, as expectativas de crescimento assumem uma população moderadamente competente, de outra forma, vá direto para (4).

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[1] Nota do Tradutor: Estrofe final do poema “And did those feet in ancient time” de William Blake, na introdução de seu épico Milton (1808). Tradução livre: “Eu não deixarei de Lutar coma Mente, Tampouco minha Espada dormirá em minha mão: Até que tenhamos construído Jerusalém, Na terra ver e agradável da Inglaterra”.

Original.

Anarquia na NRx

Arthur R. Harrison (@AvengingRedHand) faz a observação incisiva: “Bem, a coisa é que a NRx é um tipo específico de pós-libertarianismo, ou era. Agora parece ser apenas um nome para a reação pós-Moldbug”. Poderiam existir pessoas que não vêem isso como uma degeneração. Na verdade, parece que existem.

O reactotwitter está se balançando em puro delírio (como *ahem* previsto) Para começar, ele parece não concordar mais sobre com o que ele começa:

evola tem uma patente maior que moldbug. as realizações e credenciais do primeiro são bem superiores.

— michael anissimov (@mikeanissimov) february 17, 2014

(Não no meu exército.)

É hora de escolher sua própria tradição e estampar um adesivo NRx nela. Alguém está vislumbrando quaisquer limites para isto:

Então a NRx é uma anarquia amorfa dizendo ao mundo como se colocar em ordem? Na verdade, eu acho que isto provavelmente está certo, e é teoricamente interessante, mas certamente é algo sobre o que precisa-se pensar. Como imaginavelmente pode haver uma ameaça de ‘entrismo’ quando o controle de comendo é um caos fervilhante? O que este exemplo de desordem radical sugere?

Eis aqui o anarco-caos da NRx já vazando pelo ladrão:

@mikeanissimov @anarchopapist @outsideness i respect moldbug, but he is one of many. we all have our voice – we can and should add our ideas

— anti democracy blog (@antidemblog) february 18, 2014

Todo mundo tem uma voz, e nós respeitamos isso… não, espera…

[Algumas pistas intrigantes em outros lugares do twitter de que o Urbit poderia eventualmente resolver esta gritante insanidade.]

ADICIONADO: Occam’s Razor coloca as coisas em uma perspectiva sensata.

Original.

Curto-Circuito II

Quanto trabalho analítico pode ser feito com o modelo de curto-cirtuito de disfunção em sistemas inteligentes complexos, exemplificado pelo modelo de IA com implante cerebral de Alexander. Este blog está apostando: muito.

Engavetando a questão da IA, por ora, como ele pode ser aplicado aos sistemas sociais-civilizacionais? (Este post é um bloco de rascunho sobre alguns territórios atuais sugestivos.)

(1) Macroeconomia. A moeda fiduciária curto-circuita a função monetária ao hackear diretamente o sinal financeiro. Em vez de receber feedback monetário pelo desempenho produtivo, a moeda é reconcebida como uma droga político-econômica, para ser empregada na terapêutica social tecnocrata-gerencial. O conceito de ‘ilusão monetária’ (entre muitos outros) captura esta nova dispensa com um cinismo agudo. Opere diretamente sobre o ‘sentimento econômico’ do público através da manipulação monetária, em vez de tolerar o controle espontâneo do dinheiro pela produção industrial – e arriscando uma depressão. Tudo o que ainda é – comicamente – chamado de ‘capitalismo’ está entupido até os olhos de Prozac Keynesiano.

(2) Drogas. A macroeconomia já é um análogo neuro-farmacêutico tão perfeito que dificilmente faz sentido tratar isto como uma categoria separada.

(3) Sinalização (tudo dela). Hackeie diretamente o sinal, enquanto abandona à atrofia todas aquelas coisas que o sinal originalmente indicava. A Catedral não é, fundamentalmente, uma máquina para fazer isso? Cinda sinais de santidade, e os histerifique, em completo afastamento de qualquer desempenho real que pudesse, em algum momento, ter lhes fundamentado. Esta é a nossa cultura. É uma tecnologia semiótica que, uma vez aprendida, é imediatamente, irresistivelmente, viciante e auto-reforçadora. Toda a escalação do ‘Ultra-Calvinismo’ é inextricável deste processo, conforme os sinais sublimados do bempensar da verdadeira fé lançaram o último lastro de ‘obras’, a fim de se tornarem funções acadêmicas-midiáticas liberadas. A ‘bondade’ agora é pura cosmética.

(4) Fertilidade. Quem precisa de netos, quando podem jogar o imersivo jogo dos avós felizes? (Fique preso nos estágios intermediários do web-pornô, se isso parece mais convincente.) Todos os sinais orientadores darwinianos foram hackeados para o inferno.

(5) Mídia social. Feedback social curto-cicuitado, ‘desempenho’ semiótico simplificado, ‘identidades’ cada vez mais teatrais, vício… está tudo ali.

Uma restauração exigiria algo como uma ‘retificação dos nomes’ confucionista – uma revalidação dos sinais embasada na realidade. Quão popular isto vai ser, quando a alternativa, continuar o curto-circuito semiótico, é pura brisa?

Original.