Realismo Neorreacionário

O lugar mais fácil para se começar é com o que o realismo neorreacionário não é, que é isto:

Para se estabelecer um estado reacionário no Ocidente durante nossas vidas, precisaremos articular a necessidade de um em uma linguagem que milhões de pessoas possam entender. Se não para produzir nacionalistas, para pelo menos produzir um grande contingente de simpatizantes. A questão “O que é exatamente que vocês propõem fazer?” deve ser respondida, primeiro em termos simples, e depois em termos detalhados que apoiem de forma direta os argumentos simples. A ânsia de desenvolver teorias esotéricas de causas e circunstâncias deveria ser deixada de lado e substituída por propostas concretas para uma nova forma de governo que harmonize com princípios perenes. Isto pode ser alcançado ao se produzir teorias positivas para uma nova ordem, em vez de analizar as porcas e parafusos de uma ordem decadente.

Começar com um modelo de uma sociedade ideal é um procedimento que já tem um nome, e um que é diferente: Utopismo. Não é uma maneira difícil de pensar. Por exemplo, imagine um regime embasado na política fiscal comutativa. No que concernem considerações econômicas, o problema político está resolvido. Escolhas de políticas estão alinhadas com incentivos práticos, e o impulso democrático manifestamente irresistível em direção à violação redistributiva dos direitos de propriedade é imediatamente exterminado. O problema com esta ideia? – Não há nenhuma maneira prática de consegui-la. O problema real da filosofia política não está no esforço conceitual de modelar uma sociedade ideal, mas em sair de onde estamos, em uma direção que tenda à otimização de um valor selecionado (igualdade é uma merda, utilidade não funciona, liberdade é OK, inteligência é o melhor).

Aonde podemos chegar a partir daqui? A menos que esta questão controle a teoria política, o resultado é irrelevância utópica. O problema inicial real é escapar. Em consequência, duas amplas avenidas de reflexão neorreacionária realista estão abertas:

(1) Elabore a escapada. Este tópico naturalmente se bifurca, por sua vez, em identificação e investimento em instituições embasadas em saída e na promoção de opções secessionistas (desde o federalismo fissional até o seasteading). Uma sociedade baseada em escapar, ao contrário de uma utopia, é estruturada da mesma maneira em que é alcançada. Ao se chegar em um mundo feito do tipo certo de fragmentos – estilhaçado por filosofia política, em vez de variedade tribal – todos os tipos de possibilidades reais surgem. (Tribos são uma distração inútil, porque elas ressoam com filosofias defeituosas – um mundo de social-democracias fracassadas, diferenciadas no esquema Benetton, é no que estamos sendo arrebanhados agora.)

(2) Defenda a diversidade. Mais uma vez, a diversidade étnica – como tal – não significa quase nada (na melhor das hipóteses). Todo ‘povo’ se mostrou capaz de idiotice política. O que merece preservação é a fratura, definida em posição ao universalismo da Catedral. Qualquer lugar que possa contar, de maneira prática, como ‘offshore’ é uma base para o futuro. Em particular, a tradição tecnocapitalista antidemocrática do Leste Asiático merece uma defesa ideológica feroz contra a subversão catedralista. Dentro do Ocidente, enclaves domésticos que resistiram à absorção macrossocial – de comunidades Amish à movimentos de milícias sobrevivencialistas – têm valor comparável. Onde quer que o globalismo político falhe, a neorreação vence.

A última coisa que a neorreação tem para declarar de maneira útil é Eu tenho um sonho. A promoção de sonhos é o inimigo. O único futuro pelo qual vale a pena lutar está estilhaçado em miríades, frouxamente reunidas por conexões de saída livre, e que conduza a inúmeros experimentos de governo, a vasta maioria dos quais falhará.

Não sabemos e não podemos saber o que queremos, não mais do que podemos saber como serão as máquinas do próximo século, porque potenciais reais precisam ser descobertos, não imaginados. O realismo é o negativo de uma pretensão infundada de conhecimento, não menos na sociologia política do que na tecnologia da informação. Invenção não é planejamento, e castelos no céu não oferecem nenhum refúgio contra a Catedral. Se há uma coisa que precisamos ter aprendido, e nunca esquecer, é isso.

Original.

NRx com Características Chinesas

Ao passo que reconhece (pelo menos um pouco) das múltiplas complexidades envolvidas, este blog se atém a uma determinação fundamentalmente cladística da Neorreação. A NRx é irredutivelmente Ocidental, emergindo a partir de um ramo altamente específico do Ultra-Protestantismo Anglófono. É apenas de se esperar que a maioria de seus adeptos estejam situados dentro de países falantes de inglês, expostos intimamente à decomposição civilizacional que se acelera de maneira radical. A resposta é natural:

Como um convidado do Reino do Meio, o problema parece muito diferente. A última coisa que se quer aqui, de uma perspectiva reacionária, é uma reinicialização. Pelo contrário, a prioridade esmagadora é conservadora, o que é dizer – mais precisamente – o imperativo de que qualquer modernização que ocorra absolutamente não tome o caminho ocidental. Uma estase quase total seria preferível a mesmo à reforma mais profundamente inteligente, se a última incluísse o menor sinal de submissão à catraca democrática (que significa destruição social inevitável e abrangente). Entre as razões para se apoiar a extirpação completa de toda inclinação liberal-democrática da sociedade chinesa é a consequente liberação real que isto tornaria possível, ao confirmar um caminho de Modernização Confucionista livre de corrosão demótica.

A China deve ser defendida, precisamente porque é alienígena à Catedral. Por esta mesma razão, pode-se prever com grande confiança que a investida Ocidental contra a Civilização Chinesa será escalada a um extremo, conforme se tornar claro que a pseudo-teleologia progressista está sendo rejeitada aqui. Se a China for bem sucedida em recusar a Catedral, a civilização sobreviverá. Não pode haver causa mais significativa – ou praticamente contra-revolucionária.

É indecoroso que ‘reacionários’ estejam tramando revoluções ou qualquer coisa remotamente parecida com elas. Na medida em que lealdades etno-nacionalistas os levem nesta direção, é um sinal de que uma linha de demotismo romântico continua a envenenar suas almas, mesmo ao passo que impulsos democráticos mais claramente formalizados são apropriadamente repudiados. Argumentar que “queremos nosso próprio estado” é uma perversão cruamente populista. O estado – qualquer estado – responde apenas ao Mandato do Céu e não ao povo. Ele responde ao Mandato do Céu exatamente na medida em que se protege da voz do povo. (Qualquer estado que seja sensível à plebe é um cão que merece morrer.)

Um convidado estrangeiro na China vive sob um substituto próximo do governo colonial, e nenhum arranjo superior talvez seja possível nesta terra. Dada a história das relações anglosféricas com a China, isto é, claro, irônico, mas é uma ironia rica em significado. Hong Kong ou a Xangai da era da concessão eram bem melhor governadas durante o período colonial do que a própria Grã-Bretanha metropolitana. Se agora é possível que um expatriado encontre refúgio em tais lugares, despojado de todos os direitos políticos positivos e libertado em apreciação muda de uma administração eficiente e alienígena, a ruína democrática que consumiu sua terra natal tem um exterior demonstrável. A única decência ‘política’ aberta a ele nesta situação é a cessação absoluta da alma revolucionária ocidental e o cultivo da docilidade ante o Mandato do Céu. Ele está, afinal, cercado de pessoas civilizadas que se beneficiaram de oportunidades equivalentes em circunstâncias inversas. Estas sociedades funcionam. Gnon manifestamente lhes abençoa.

Levar uma vida decente e produtiva em um lugar digno dela é o mais alto bem político. Na medida em que mecanismos de Saída prevaleçam, as escolhas tácitas de tal vida reforçam o que merece reforço, ao passo que desinvestem aquilo que requer o açoite do desinvestimento. O antagonismo raivoso não tem qualquer lugar útil. Na escala mais ampla, o mal é melhor punido pelo abandono.

Isto não é criticar tendências secessionistas em sociedades que apodrecem – que devem ser, antes, entusiasticamente aplaudidas – mas é sugerir que a dinâmica profunda que alavanca o mundo colapsado em pedaços tem maior probabilidade de começar do abandono estratégico do que da raiva oposicionista. Não é que se lute primeiro a fim de depois escapar. Antes, escapa-se desde o princípio, para acelerar o colapso do inimigo. (Aqueles mais inflexíveis sobre a justiça de seu confronto com o Grande Inimigo são os mesmos que – em termos bastante concretos – têm maior probabilidade de estar lhe fornecendo recursos.)

Você acha que ele está se alimentando do seu sangue para desovar seus horrores? Então pare de doar seu sangue. Não é difícil, pelo menos em princípio.

O Exterior é um lugar e não um sonho. A NRx com características chinesas recomenda que você procure por ele.

ADICIONADO: Se você se considera um biorrealista anti-democrático e você não acha que a Ordem virá do Leste, é provavelmente porque a lealdade tribal está operando sua mente.

ADICIONADO: Legionnaire lança um olhar impressionantemente sóbrio sobre a discussão.

Original.

Saia

Foseti escreve:

Há muito torcer de mãos nestas partes da interwebz sobre o que os reacionários deveriam fazer.

Eu não tenho ideia. Eu certamente não tenho quaisquer grandes planos para mudar o mundo. Eu gosto de saber o que está acontecendo ao meu redor e gosto de discussões abertas – isto é, aquelas que não são sufocadas até a morte pelo politicamente correto.

Contudo, se eu fosse sugerir um plano, eu diria conte a verdade.

Suas sugestões (ligeiramente) mais detalhadas também são louváveis. A Catedral provoca a reação ao tornar obrigatória a fantasia acima da realidade, e não há dúvida de que muito poderia ser feito sobre isso.

Há uma sub-questão sobre tudo isso, contudo, que dificilmente é menos insistente: O que ‘nós’ realmente queremos?

Mais cibernética, argumenta o determinadamente não reacionário Aretae. Claro, este blog concorda. O maquinário de feedback social e técnico é o (único?) amigo da realidade, mas com o que a Catedral se importa sobre qualquer parte disso? Ela está ganhando uma guerra de religião. O anti-realismo compulsório é o espírito reinante da época.

A única maneira de conseguir um feedback mais firme sob as condições atuais é dividindo, em todos os sentidos. Este é o imperativo prático esmagador: Fuja, rompa, se retire e escape. Persiga todo caminho de autonomização, federalismo fissional, desintegração política, secessão, êxodo e encobrimento. Roteie ao redor do aparato educacional, midiático e financeiro da Catedral em cada uma e todas as maneiras possíveis. Prepare-se, fique Galt, fique cripto-digital, expatrie-se, recue para as colinas, vá para o subterrâneo, faça um seastead, construa mercados negros, o que quer que funcione, mas dê o fora.

Contar a verdade já pressupõe uma escapada do império dos sonhos neo-puritanos. ‘Nós’ precisamos escancarar os portões de saída, onde quer que os encontremos, para que o barco afunde sem nós. A reação começa com a proposição de que nada pode ou deveria ser feito para salvá-lo. Desista de afiançar. Já era. Quanto mais cedo afundar, melhor, para alguma outra coisa possa surgir.

Mais do que qualquer coisa que possamos dizer, a saída prática é o sinal crucial. A única pressão que importa vem disso. Para encontrar caminhos para fora é deixar o Lado de fora entrar.

Original.

Doctor Gno II

O Kokomo pretende ser uma espécie de base domiciliar, aonde viajantes entusiastas podem ir em seus helicópteros e barcos – ou iates submersíveis. A Migaloo também tem um conceito para um híbrido iate-submarino no qual os super-vilões provavelmente mal podem esperar para colocarem suas mãos. Sério, esta companhia está nos inspirando a inventar tantos enredos de filme. (Fonte.)

ka00-e1461252123581

Da ABC: “Chega de ficar preso em um único lugar. Esta ilha privada flutua. …A ilha – que contará com uma cobertura, deck de selva com cascata e uma área refeições ao ar livre – seria a primeira no mundo a operar com sua própria energia, de acordo com a companhia. …A inclusão de jardins verticais, palmeiras e mesmo uma estação de alimentação de tubarões ‘adicionam elementos mais naturais à ilha náutica’, de acordo com a companhia.”

Tecnologias de saída vão ser difíceis de parar.

A segurança mais forte ainda precisa de algum trabalho, motivo pelo qual o tema de Vilão do Bond surge tão previsivelmente. A capacidade de dissuasão no nível inter-estatal só pode ser uma questão de tempo. Para citar o feiticeiro secreto do basilisco neorreacionário, Eliezer Yudkowsky: “A cada dezoito meses, o QI mínimo necessário para destruir o mundo cai em um ponto”. Então, tudo que é necessário é paciência.

O Doctor Gno é um tipo frio. Ele aguardará calmamente o tempo que for necessário para operacionalizar a estratégia de escape (mas, com sorte, não muito mais tempo).

“Alimentar tubarões” ou jogar pessoas para fora de helicópteros – é sequer uma questão?

Original.

Doctor Gno

Uma coisa tem que ser concedida ao artigo sub-adolescente de Pein (casualmente descartado aqui) – ele desencadeou uma agústia interessante. Esta interpretação da Neorreação (tecno-comercial) como vilania de Bond é especialmente notável. Ao contrário de Pein, Izabella Kaminska demonstra pelo menos um pouco de perspicácia genuína. De maneira mais importante, ela se agarra ao Secessionismo do Vale do Silício como um (assustador) projeto criptopolítico, de real significância. Suas referência são excelentes (a história é construída em torno de uma série de slides extraídas desta palestra histórica, de Balaji Srinivasan, intitutlada Silicon Valley’s Ultimate Exit (“A Saída Derradeira do Vale do Silício”, em tradução livre).

dr-no

A elegância desse projeto repousa em sua combinação de simplicidade e radicalidade, capturada em elementos essenciais pela fórmula S > V (Saída sobre Voz). Ele avança o prospecto, já em movimento, de uma destruição da política (embasada em voz) através da inovação tecno-comercial de mecanismos de saída. Está começando a deixar os progressistas insanos.

O ponto fundamental não poderia ser mais claro: Não queremos governar vocês. Queremos escapar de vocês.

Claro, toda a agenda da Catedral é levar esta mensagem de volta à ininteligibilidade, ao inundá-la com a tediosa dialética política BDSM esquerdista, como se a questão fosse uma luta por domínio. A este respeito, os memes monarquistas predominantes dentro da NRx desempenham um papel distintivamente amigável aos progs.

Entre os slides de Srinivasan, há um com o cabeçalho Um contínuo de abordagens válidas: De ilhas privadas à colonização de Marte. Ele contém a nota: “E a melhor parte disto: as pessoas que pensam que isso é esquisito, que zombam da fronteira, que odeiam tecnologia – elas não vão te seguir lá para fora”.

Os progressistas sabem como argumenter sobre reis (não importa o quão ineptamente). Aquilo com que eles não têm nenhuma ideia de como argumentar – aquilo com o que não se pode argumentar – é a fuga.

O Secessionismo do Vale do Silício é o melhor campo de batalha que temos.

Original.

Arbitragem Geopolítica

Stross:

… as coisas vão ficar muito feias em Londres quando a Square Mile e o setor de bancos de investimento levantar acampamento e for para Frankfurt, deixando o setor de serviços e a população urbana multiétnica pobre para trás.

As especificidades desta previsão são amalucadas, se apenas porque a Europa continental está indo pelos canos muito mais rápido do que o Reino Unido, mas a ansiedade abstrata é precisa. A globalização da direita é inteiramente sobre arbitragem geopolítica (ao passo que a da esquerda é sobre homogeneizar a governança global). Todas as tendências críticas apontam em direção à exacerbação do ‘problema’. O século XXI é a época da fragmentação – diferente de qualquer coisa já vista desde o início do período moderno – transferindo poder para os andarilhos e para longe de sistemas mega-políticos de domínio territorial. Ser deixado para trás é a ameaça crescente, e podemos esperar confiantemente vê-la se consolidando como o sub-texto de toda queixa esquerdista. Você não pode simplesmente sair. Assista.

Os obstáculos à arbitragem geopolítica – isto é, pressão espacial de Saída – são restrições de segurança. São necessárias bases além-mar defensáveis (e Frankfurt quase certamente não vai fornecer uma). Os olhos precisam estar firmemente fixados em dinâmicas de secessão (fragmentação), descentralização tecno-comercial de segurança sólida, cripto-anonimização, inteligência artificial e na emergência de postos avançados do capital na região do Pacífico Ocidental. Fatores mais exóticos incluem oportunidades de êxodo radical (submarino, Antártico, e para fora do planeta), facilitadas pela produção territorial (ilhas artificiais). O maquinário de captura precisa manter todas essas rotas de escape firmemente suprimidas a fim de se perpetuar. Isso simplesmente não vai acontecer.

O capital está aprendendo mais rápido que seus adversários e tem feito isso desde que se tornou auto-propulsor, aproximadamente meio milênio atrás. Ele é alérgico ao socialismo (obviamente) e tende a fugir de lugares em que a influência socialista é substancialmente maior do que zero. A menos que enjaulado de maneira definitiva, eventualmente ele escapa. Ao longo das próximas décadas – apesar da criptografia cada vez mais profunda – deve ficar evidente em que direção isso está indo.

Original.

Da Dificuldade

Desde o momento de sua concepção, este blog esteve acampado na margem da ‘reactosfera’ – e tudo que ocorre sob o rótulo de ‘NRx’ é (pelo menos nominalmente) de seu interesse. Conforme este território se expandiu, de um compacto reduto a tratos que se alastram, cujas fronteiras estão perdidas para além de horizontes enevoados, um escrutínio minucioso e abrangente se tornou impraticável. Em vez disso, temas e tendências emergem, absorvendo e carregando meros incidentes. Como mudanças climáticas, ou vagos sistemas meteorológicos, eles sugerem padrões de desenvolvimento persistente e difuso.

Entre esses rumores, os mais indefinidos, tentativos e irresolutos tendem ao estético. Sem critérios de avaliação estabelecidos, há pouca base óbvia para a colisão produtiva. Em vez disso, há afirmações idiossincráticas de apreciação, expressadas como tal, ou juízos inflexíveis de afirmação ou negação, ganhando força, envoltos na elegância heráldica do absoluto, antes colapsarem de volta no vazio de suas pretensões insustentáveis. Da maneira em que as coisas estão, quando alguém posta uma foto de algum tesouro arquitetônico ou de uma pintura clássica, observando (ou, mais comumente, meramente insinuando) “Vocês deveriam todos estimar isto”, não há nenhuma resposta verdadeiramente apropriada além da gargalhada. Se não houvesse um problema profundo exatamente a este respeito, a NRx não existiria. Critérios são quebrados, dispersos e despojados, a tradição oficial é esmagada, infectada ou reduzida a auto-paródia, as Musas, estupradas e massacradas. É neste lugar em que estamos na terra do sol moribundo.

Um murmúrio associado e insistente diz respeito à lucidez comunicativa. Isto não é unicamente uma questão de estética, mas, em sua trêmula falta de fundamento, comporta-se como uma. Surge mais tipicamente como a afirmação – inicialmente sem suporte e subsequentemente não desenvolvida – de que, claramente, ‘a obscuridade desnecessária’ deveria ser condenada.

A culpabilidade deste blog enquanto vórtex de obscurantismo eufórico dificilmente pode ser duvidada, então abordar o desafio se aproxima de um dever. Deixando de lado, no momento, os aspectos sociais e criptográficos do tópico, assim como a crítica específica da cognição humana por sua intolerância à real obscuridade (comparativamente articulada, da minha perspectiva, mesmo que obscura a partir de outras), este posta perseguirá diretamente a questão da linguagem.

Esta questão é, acima de tudo, sobre confiança. Mesmo nesta consideração inicial, ela já é difícil. Enquanto uma ferramenta complexa, há coisas que ela pode fazer e coisas que ela não pode fazer. Falando de maneira aproximada e incerta, se ela for dirigida àquelas empreitadas que têm, ao longo das eras, exercido pressão seletiva sobre si – satisfazer as necessidades sociais de grupos humanos paleolíticos – então uma suposição de sua inerente confiabilidade é pelo menos plausível. Estender tal suposição mais além é pura imprudência. Nada na linguística suporta a selvagem hipótese de que este código, desenvolvido pouco a pouco para a coordenação social de primatas, é necessariamente adequado aos desafios cognitivos modernos. A gramática não é uma boa epistemologia. Os matemáticos abandonaram a ‘linguagem natural’ inteiramente. Presumir que a linguagem nos permite pensar é um salto de fé. A desconfiança radical é o padrão mais rigoroso.

Promover a ‘clareza’ enquanto um ideal óbvio, que não precisa de qualquer justificação a mais, é uma exigência de que a linguagem – como tal – possa ser confiada, de que ela seja competente para todas as tarefas comunicativas razoáveis e de que a ‘razão’ possa ser definida de uma maneira que torne esta afirmação tautológica (tal definição é eminentemente tradicional). “Eu lhe dou minha palavra” de que a linguagem não está predisposta à enganação – nenhum investigador pensativo jamais se encontrou de acordo com tal alegação. Vocabulários são retardo, e a gramática, quando é mais do que um jogo, é uma mentira. A linguagem é boa apenas para jogos de linguagem, e, entre estes, os jogos de confiança são os mais irremediavelmente estúpidos.

Não há nenhuma obrigação geral de se escrever a fim de atacar a linguagem, mas é isto que Xenosistemas faz e continuará a fazer. A língua não é um transportador neutro de infinitas possibilidades comunicativas, mas uma caixa de inteligência. Ela deve ser contada entre as armadilhas a serem escapadas. Ela é um alvo da Saída – e a saída é difícil.

Original.

Exterioridade

Em um universo alternativo, em que não houvesse ninguém além de Michael Anissimov e eu brigando pela identidade da Neorreação, eu iria propor uma distinção entre ‘NRx Interna’ e ‘Externa’ como o eixo mais apropriado de fissão. Naturalmente, neste universo real, tal dimensão secciona um rico tecido de nós, tensões e diferenças.

Para a facção interna, uma identidade essencial firmemente consolidada é a ambição central. (Vale a pena notar, contudo, que uma relação ainda não interrogada com o transhumanismo parece não menos problemática, em princípio, do que a relação vastamente mais ferozmente contestada com o libertarianismo demonstrou ser.) A NRx Interna, enquanto micro-cultura, se modela sobre um estado protegido, no qual o pertencimento é sagrado, e as fronteiras, rigorosamente policiadas.

A NRx Externa, definida primariamente pela Saída, se relaciona com aquilo de que escapa. Ela é refúgio e periferia, mais do que um núcleo substituto. Ela jamais espera governar o que quer que seja (acima do nível mais microscópico de realidade social e aí sob nomes bastante diferentes.) O Patchwork é para ela um conjunto de opções e oportunidades de alavancagem, em vez de um menu de lares potenciais. Ela é intrinsecamente nômade, incerta e micro-agitadora. Sua cultura consiste de afastamentos dos quais ela não se arrepende. (Embora nem remotamente globalista, ela é inequivocamente cosmopolita – com o entendimento de que o ‘cosmo’ consiste de chances para cisão.)

A NRx Exterior tende a gostar de libertários, pelos menos daqueles com uma forte persuasão de direita, e o portal que permitiu que ela estivesse fora do libertarianismo é a zona ideológica à qual ela gravita. Deixar o libertarianismo (pela direita) fez dela o que ela é e continua a nutri-la. O ‘entrismo’ – como foi frequentemente observado – não é uma ansiedade significante para a NRx Exterior, mas bem mais um estímulo e, em sua forma mais aguda, uma provocação intelectual bem-vinda. Não são os espertalhões refugiados do PZA que ameaçam a reduzir sua exterioridade e colocá-la de volta em uma armadilha.

O Lado de Fora é o ‘lugar’ da vantagem estratégica. Ser jogado lá fora não é causa para nenhuma lamentação, nem um pouco.

Original.

A Pílula Vermelha

Morpheus: Eu imagino que você esteja se sentindo um pouco como a Alice. Hm? Entrando pela toca do coelho?
Neo: Você tem razão.
Morpheus: Eu vejo nos seus olhos. Você tem o olhar de um homem que aceita o que vê porque está esperando acordar. Ironicamente, não deixa de ser verdade. Você acredita em destino, Neo?
Neo: Não
Morpheus: Por que não?
Neo: Porque não gosto da ideia que não controlo minha vida.
Morpheus: Sei exatamente o que quer dizer. Vou lhe dizer por que está aqui. Você está aqui porque você sabe de algo. O que você sabe, você não consegue explicar, mas você sente. Você sentiu a sua vida inteira que há algo de errado com o mundo. Você não sabe o que é , mas está lá, como um zunido na sua cabeça, te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando?
Neo: Da Matrix?
Morpheus: Você deseja saber o que ela é?
Neo: Sim.
Morpheus: A Matrix está em todo lugar. Em toda nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho… quando vai à igreja… quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para lhe cegar à verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus:[se inclina para perto de Neo] De que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro. Nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente.
[pausa]
Morpheus: Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. [Abre uma caixa de pílulas, esvazia os conteúdos nas palmas das mãos e estica sua mãos] Esta é sua última chance. Depois disso, não há como voltar. Se tomar a pílula azul [abre sua mão direita para revelar uma pílula azul translúcida], a estória acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha [abre sua mão esquerda, revelando uma pílula vermelha similarmente translúcida], ficará no País das Maravilhas e eu lhe mostro até onde vai a toca do coelho. [Neo apanha a pílula vermelha] Lembre-se: tudo que ofereço é a verdade. Nada mais.

– Esta é versão dos irmãos Wachowski do Platonismo Gnóstico e ela acerta exatamente quase tudo. A Alegoria da Caverna, de Platão (no Livro VII da República), conta precisamente a mesma estória, mas com um elenco mais barato, efeitos especiais inferiores e menos drogas. Não é surpreendente que o Iluminismo Sombrio tenda a ficar com o remake, conforme fica Neo(reacionário).

A chave crítica para a gnose é a percepção de que todo o seu mundo é um lado de dentro, que implica em um Lado de Fora e na possibilidade radical de escapada. O que parecera ser realidade ilimitada é exposto como um receptáculo, desencadeando uma partida abrupta, saindo um sistema de ilusão. Tudo o mais é meramente a rota tomada para nos alcançar, adaptada às ruínas. As especificidades da estória são restrições das quais se livrar retorcendo-se, uma vez que suas funções foram exauridas, como ganchos, dentes cerrados, circuitos de replicação memética e manchas de camuflagem. Contanto que uma diferença interior / exterior seja efetivamente comunicada, os detalhes narrativos são incidentais.

A versão chinesa, que talvez tenha se originado com Zhuangzi, descreve um sapo em um poço, que nada sabe sobre o Grande Oceano (井底之蛙,不知大海). Esta simples fábula já é completamente adequada às mais exaltadas ambições da filosofia mística.

Colocar as coisas em caixas ou retirá-las de caixas é o todo do pensamento, tão logo as ‘coisas’ possam, elas mesmas, serem tratadas como caixas. Categorias e conjuntos são caixas, de modo que mesmo dizer “um A é um B” é efetuar uma operação de inclusão ou inserção, através da qual a ‘identidade’ é primordialmente aplicável. Ser é estar dentro. Colocar uma espécie dentro (ou ‘sob’) um gênero tem uma originalidade cognitiva insuperável, estendendo-se até o horizonte mais distante da ontologia (uma vez que um horizonte ainda é uma caixa). Conter, ou não conter, é a primeira e última relação inteligível. Caixas são básicas.

Tomar a pílula vermelha é escalar para fora de uma caixa. Ao mostrar a jaula, já alcança uma liberação cognitiva e, assim, fornece um modelo para qualquer escapologia prática que haja para seguir. Saber como deixar uma caverna ou um poço já é saber – de maneira abstrata – como deixar um mundo (e a abstração não é nada além de exterioridade).

O que é inescapável, a não ser através de uma auto-escravização precipitada, é a desagradabilidade social do Iluminismo Sombrio. A gnose é ineliminavelmente hierárquica e, na melhor das hipóteses, condescendente (quando não abrasivamente desdenhosa), porque uma mente livre não pode fingir igualdade com uma mente escrava, independente do escárnio lançado contra ela por causa disso. Como Brandon Smith observa:

Frequentemente se diz que há apenas dois tipos de pessoas neste mundo: aquelas que sabem e aquelas que não sabem. Eu expandiria isto e diria que há, na verdade, três tipos de pessoas: aquelas que sabem, aquelas que não sabem, e aquelas que não se importam em saber. Membros do último grupo são o tipo de pessoa que eu caracterizaria como “sheeple”.

As ‘sheeple’ de Smith não são meramente ignorantes, mas ativamente auto-enganadoras. Ao tomarem a pílula azul, elas optaram por residir na prisão de mentiras. É neste ponto, contudo, que a metáfora farmacêutica muda de gancho para obstáculo, porque não há nenhuma ‘pílula azul’ ou qualquer coisa funcionalmente equivalente além da própria Matrix como um todo (o que seria dizer, claro, a Catedral).

Um ponto crítico da análise política e social é alcançado aqui, e é um que continua a evadir a apreensão definitiva, devido a suas elusivas sutilizas. Entre o arquiteto oculto da Matrix e as sheeple que tomam a pílula azul, ou “rio de carne“, não há nenhuma ordem simples de maestria, seja indo na direção óbvia (da elite doutrinária para a massa doutrinada) ou na alternativa democrática-perversa (colocando a especialidade a serviço da ignorância popular e suas vulgaridades). A Matrix é tanto um objeto de apego popular ‘genuíno’ quanto um aparato de controle mental sistemático. Ela é mais verdadeiramente democrática quando atinge mais completamente seu estado de clímax na falsidade totalitária leve. A máquina de propaganda não é menos do que um circo. O que é exigido – o que sempre foi exigido – é a mentira.

A invocação mais recente da pílula vermelha por Moldbug diz:

Eu acho que escolhi minha candidata para a Pílula em si. E vou ficar com ela. Minha Pílula é:

A América é um país comunista.

O que eu gosto sobre esta afirmação é que ela é ambígua. Especificamente, ela é uma ambiguidade Empsoniana do segundo ou talvez terceiro tipo (eu nunca realmente entendi a diferença). Incorporada como está na louca tapeçaria da história do século XX, AEUPC pode ser interpretada de inúmeras maneiras.

Todas estas interpretações – a menos que inventadas como um espantalho intencional e obviamente idiota – são absolutamente verdadeiras. Às vezes elas são obviamente verdadeiras, às vezes surpreendentemente verdadeiras. Elas são sempre verdadeiras. Porque a América é um país comunista.

A verdade é que a América serve ao povo através da mentira. Esta é a ‘escolha’ representada pelo progressismo (= comunismo), instalado, em um estado altamente acabado, por mais de um século, como auto-engano popular triunfante. O serviço fornecido – e exigido – é o engano. Se as pessoas virem através da mentira, a insatisfação resultante não derivará do fato de que se mentiu para elas, mas da revelação de que não se mentiu para elas bem o suficiente. Algo poderia ser mais claro do que isso? Os surtos de ira popular ocorrem exatamente naquelas momentos em que a realidade ameaça a se manifestar – quando a Matrix falha. “Nós os elegemos para nos esconder a verdade”, o povo guincha, “então apenas façam o seu maldito trabalho e façam a realidade desaparecer”.

Não há nenhuma pílula vermelha para salvar a sociedade. Imaginar que poderia haver é não entender nada.

Original.

Premissas da Neorreação

Patri Friedman é tanto extremamente inteligente quanto, para este blog entre outros na ‘sfera, altamente influente. Então, quando ele nos promete “um iluminismo sombrio mais politicamente correto” (“adicionando anti-racismo e anti-sexismo à minha controversa nova posição pró-monogamia”), isso é uma coisa. Acentua preocupações sobre ‘entrismo’ e entropia ideológica, levando a algumas respostas pensativas tais como esta (de Avenging Red Hand).

Michael Anissimov antecipou isto em um post em More Right sobre as ‘Premissas do Pensamento Reacionário’, que começa: “Fazer progresso em qualquer área de empenho intelectual requer conversa entre aqueles que concordam com premissas básicas e a exclusão daqueles que não concordam”. (O comentário de Cathedral Whatever também vale bem a pena uma olhada.) As cinco premissas originais de Anissimov, subsequentemente atualizadas para seis (com uma nova #1 adicionada) são:

1. As pessoas não são iguais. Elas nunca serão. Rejeitamos a igualdade em todas as suas formas.
2. A direita está certa e a esquerda está errada.
3. A hierarquia é basicamente uma boa ideia.
4. Os papéis sexuais tradicionais são basicamente uma boa ideia.
5. O libertarianismo é retardado.
6. A democracia é irremediavelmente falha e precisamos acabar com ela.

Estes ‘artigos’ neorreacionários merecem uma resposta em detalhada, mas neste ponto eu simplesmente avançarei uma lista alternativa, na expectativa de que ainda outras versões estarão por vir no futuro próximo, fornecendo uma referência para a discussão. Meu objetivo (condizente com o conselho de ARH) é a economia, afinada através da abstração, no interesse da sustentação da diversidade produtiva. Minimamente, afirmamos:

1. A democracia é incapaz de controlar o governo. Com esta proposição, a possibilidade efetiva de uma direita mainstream é negada. Na medida em que qualquer movimento político retenha sua fidelidade ao mecanismo democrático, ele conspira com a catraca da expansão governamental e, assim, essencialmente se dedica a fins esquerdistas. A porta de entrada do Libertarianismo para a Neorreação se abre com este entendimento. Como corolário, qualquer política imperturbável pelo estatismo expansionista não tem qualquer razão para se desviar para dentro do caminho neorreacionário.

2. O igualitarismo essencial à ideologia democrática é incompatível com a liberdade. Esta proposição é parcialmente derivada da #1, mas se estende mais além. Quando elaborada historicamente, e cladisticamente, ela se alinha com a teoria Cripto-Calvinista da evolução política Ocidental (e depois Global). A crítica que ela anuncia intercepta significantemente os rigorosos achados da BDH. As conclusões extraídas são primariamente negativas, ou seja, elas suportam uma rejeição, baseada em princípios, da política igualitária positiva. A hierarquia emergente é pelo menos tolerada. Modelos mais assertivos e ‘neofeudais’ da hierarquia social ideal são devidamente controversos dentro da Neorreação.

3. As soluções sócio-políticas neorreacionárias são, em última análise, baseadas em Saída. Em todos os casos, a saída deve ser defendida contra a voz. Nenhuma sociedade ou instituição social que permite a livre saída está aberta a qualquer crítica politicamente eficiente adicional, exceto àquela que a própria seleção sistemática de saída aplica. Dada a ausência de tirania (isto é, livre saída), todas as formas de protesto e rebelião devem ser consideradas perversões esquerdistas, sem direito a proteção social de nenhum tipo. O governo, de qualquer forma tradicional ou experimental, é legitimado a partir do lado de fora – através da pressão de saída – em vez de internamente, através da capacidade de resposta à agitação popular. A conversão da voz política em orientação à saída (por exemplo, revolução em secessionismo), é a principal característica da estratégia neorreacionária.

Da perspectiva deste blog, nenhuma premissa além dessas – não importa o qual amplamente endossada dentro da Neorreação – é verdadeiramente básica ou definidora. A resolução de disputas elaboradas é remetida, em última análise, à geografia dinâmica, e não à dialética. É o Lado de Fora, trabalhando através da fragmentação, que rege, e nenhuma outra autoridade tem legitimidade.

[Se alguém perguntar “Como esse post de repente pulou do ‘Iluminismo Sombrio’ para ‘Neorreação’?”, minha resposta é “Bom ponto!” (mas um para uma outra ocasião).]

Original.