Desintegração

De acordo com uma certa construção da história cultural, à qual as ciências naturais frequentemente se pareceram apegadas, a religião é concebida essencialmente como uma explicação naturalista pré-científica. Vistas dessa maneira, as religiões são cosmologias comparativamente primitivas. É isso o que as torna vulneráveis ao progresso científico. Um Galileu, ou um Darwin, avança para dentro de seu território central, ferindo-as mortalmente no coração. Uma noção um tanto sociologicamente indistinta de "ciência" é vislumbrada como a sucessora natural da religião.

Por mais plausível (ou implausível) que se ache essa narrativa, ela importa. Por meio dela, a ascendência científica adquire seu mito fundacional. Crucialmente, esse poder mítico não depende de nenhum tipo de validação científica rigorosa. Ninguém jamais foi compelido a colocá-lo a teste. Tudo que é pré-moderno – e até mesmo profundamente arcaico – na empreitada modernista corre através dele. Ele fornece uma infraestrutura tácita de crença profunda.

Referir-se à "ciência mítica" não é algo positivamente cético, muito menos polêmico. Para que ideias científicas adquiram o status de mito é uma questão de potência cultural, suplementar a qualquer validade epistêmica que elas retenham. Conceitos científicos não se tornam nenhum pouco menos científicos ao também se tornarem míticos. Eles podem, contudo, por vezes, sustentar um poder mítico desproporcional à sua legitimidade estritamente científica. O ápice dominante de uma cultura é alguma cosmologia mais ou menos científica.

É isso que a palavra "natureza" transmitia primordialmente. Um objeto último de afirmação cognitiva é promovido através dela. É nisto que acreditamos. As coisas são desta maneira, e não de outra maneira (ou apenas de outra maneira em algum outro lugar).

Aqui perguntamos, então, como inocentes pagãos científicos: De que forma as coisas são?

A melhor cosmologia atual é aceleracionista, e desintegracionista. Para colocar a coisa de maneira crua – e, em última análise, insustentável – a expansão do universo está se acelerando e se despedaçando. Ao invés de ser desacelerada pela gravidade, ulterior a uma explosão original, a taxa de inflação cósmica aumentou. Alguma força ainda desconhecida está esmagando a gravidade e desviando para o vermelho todos os objetos distantes. Batizada bastante recentemente de "energia escura", pensa-se que essa força seja responsável por setenta por cento de toda a realidade física.

Comparada com essa descoberta fortemente confirmada da fragmentação acelerante, a noção de um "universo" integral subjacente parece cada vez mais como uma relíquia mitológica insustentável. "Insustentável", isto é, mesmo em termos de um mito científico consistente, e também de maneira mais prática.

A distância a partir da qual a informação pode ser recebida, ou à qual ela pode ser transmitida, ao longo de qualquer período de tempo, tem um limiar estabelecido pela velocidade da luz. O horizonte de espaço-tempo da realidade para qualquer entidade é determinado por esse "cone de luz". Para além dele, há apenas o absolutamente incomunicável. Um cone de luz é, desta forma, entre outras coisas, uma delimitação estrita do poder de projeção, entendido enquanto unidade prática. O processo leva da relatividade geral até a desintegração absoluta.

Em sua história intelectual da física relativista[1], Peter Gallison conecta o problema da relatividade àquele da administração imperial. Sincronização é a pré-condição de qualquer processo sofisticado de coordenação. Mesmo sob as (compactas) condições terrestres, a finitude extrema da velocidade da luz apresentava um problema técnico significativo para a governança em escala imperial-global. Redes telegráficas, em particular, exigiam a correção técnica de efeitos relativísticos.

Por extrapolação irresistível, podemos ver que a dominação é sempre capaz apenas de mascarar processos de escapada. Não pode haver nenhum Império Cósmico. O espaço não o tolera. Este é meramente um fato de ficção científica, até que seja mitologizado.

A energia escura está despedaçando o cosmos. Eventualmente, seus pedaços abandonarão os cones de luz uns dos outros. Eles então não serão nunca mais nada uns para os outros. Esta é uma descoberta de consequências extraordinárias. Na maior escala de objetividade empírica, a unidade não tem nenhum futuro. O "universo" é um modelo irrealista. Tudo que agora se sabe sobre o cosmos sugere que a fragmentação é básica.

A cosmologia fornece, dessa forma, um modelo de desintegração que é notável por seu extremismo. Ela caracteriza peças que não tem nada que seja, exceto um passado compartilhado, em comum, propelidas até uma não-comunicação absoluta. Nenhuma concepção política de separação jamais chegou a esse limite, até o momento.

Alguns resultados fascinantes rapidamente saem da extrapolação. A evidência cosmológica à qual nossa tradição científica tem sido capaz de recorrer eventualmente deixará de estar disponível. Uma espécie inteligente futura não poderia construir nenhum modelo comparável do universo com base em fundamentos empíricos. O que quer que contasse como o todo, para ela, seria, na verdade, apenas um fragmento (já podemos ver). Aglomerados galácticos distantes teriam se tornado questões de pura especulação. A própria possibilidade de uma ciência empírica teria sido demonstravelmente limitada no espaço e no tempo.

Geoff Manaugh a chama de "a amnésia vindoura". Ele observa, sobre uma palestra do autor de ficção científica Alastair Reynolds:

Conforme o universo se expande ao longo de centenas de bilhões de anos, Reynolds explica, haverá um ponto, no futuro muito distante, no qual todas as galáxias estarão tão distantes que elas não serão mais visíveis umas a partir das outras. […] Ao alcançar esse momento, não será mais possível entender a história do universo–ou talvez mesmo que ele já teve uma – já que todas as evidências de um cosmos mais amplo, fora da sua própria galáxia, terão desaparecido para sempre. O própria cosmologia será, em si, impossível. […] Em tal universo futuro radicalmente expandido, Reynolds continua, algumas das compreensões mais básicas oferecidas pela astronomia de hoje estarão indisponíveis. Afinal, ele aponta, ‘você não pode medir o desvio para o vermelho das galáxias, se você não consegue ver galáxias. E, se você não consegue ver galáxias, como você sequer sabe que o universo está expandindo? Como você jamais determinaria que o universo já teve uma origem?

Reynolds se embasou em um artigo intitulado "The End of Cosmology?" ("O Fim da Cosmologia?"), de Lawrence M. Krauss e Robert J. Scherrer, publicado na Scientific American (2008). Este artigo se resume no subtítulo: "Um universo acelerante aniquila traços de suas próprias origens".

A extrapolação pode ser levada mais além. Se é possível ver que uma cultura científica no futuro longínquo está estruturalmente privada de evidências essenciais para a apreciação realista da escala cósmica, podemos estar confiantes que nossa situação é fundamentalmente diferente? Não é mais provável que a localidade absoluta e insuperável da perspectiva científica seja uma situação básica? Quão provável é que sejamos capazes de ver universalmente – em princípio – quando já podemos ver como outros serão incapazes de o fazer no futuro? Com base na evidência disponível, temos que vislumbrar uma civilização futura que esteja absolutamente iludida sobre seu próprio paroquialismo estrutural, confiante de sua capacidade de se livrar de maneira final da limitação perspectiva. Seria possível se esperar que as mentes científicas mais estimadas em tal cultura descartassem qualquer sugestão de regiões cósmicas inacessíveis como metafísica sem fundamento. Parece meramente hubrístico se abster de voltar esse cenário a nós mesmos. Se a cosmologia universal deve se tornar impossível, a hipótese padrão deveria ser de quela já o fez.[2]

A ciência natural exibe uma estrutura trágica. Perseguindo apenas seus métodos essenciais, ela descobre – através da cosmologia – um argumento convincente para sua falta de confiabilidade em grande escala. A aquisição de compreensão universal através de uma investigação empírica rigorosa parece cosmicamente obstruída.

A ciência está, assim, eventualmente fadada a ser fundamentalmente localizada. A "localidade" em questão aqui não é meramente o particularismo fraco de uma opção tomada contra o global ou o universal. Antes, é o próprio horizonte de qualquer ambição universalista possível que se encontra rigorosamente constrito e desmantelado. O localismo, assim entendido, não é uma escolha, mas um destino e até mesmo uma fatalidade já imposta. Em suas maiores escalas, a realidade está despedaçada. A unidade existe apenas pare ser quebrada.

O princípio da isotropia mantém que não existem orientações privilegiadas no espaço. Junto com a presunção da homogeneidade do espaço, ele compõe o Princípio Cosmológico. Certamente temos direito a um análogo isocrônico, no qual pode-se assumir que um destino observável na ordem do tempo já esteja igualmente atrás de nós.

Temos um cosmos ainda, e de maneira perene, então, mas não mais um universo. O cosmos ao qual nós, enquanto modernos, aderimos sob obrigação cultural é, na verdade, a desintegração manifesta do universo aparente.

Nosso tópico reduz de marcha, da cosmologia inflacionária até a termodinâmica. Estamos falando de diversificação, ou heterogênese, afinal – e essa é o negativo rigoroso do aumento de entropia. A homogenização é entropia. Os dois conceitos não são estritamente distinguíveis. O que foi descoberto sob o nome de entropia era a destruição da diferença – seja a variação na temperatura (Clausius e Carnot) ou, mais tarde, a variação na distribuição de partículas (Boltzmann e Gibbs). A heterogênese é local, a segunda lei da termodinâmica nos diz. No nível verdadeiramente global – onde nenhuma entrada ou saída pode ocorrer – a deterioração necessariamente prevalece.

Para nos anteciparmos, descobriremos que o Ocidente fez da entropia um Deus, Um cuja lei final é que tudo será o mesmo. É um deus falso. O problema cosmo-físico derradeiro – Como a entropia negativa é possível? – atesta isso. Sabemos que a heterogênese não é nenhum pouco mais fraca que seu oposto, mesmo que não saibamos como.

A desintegração cosmológica é ecoada mais amplamente entre as ciências naturais. Talvez de maneira mais importante, A Origem das Espécies tem a desintegração como seu tópico básico, como seu nome já sublinha. O darwinismo – ou seja, toda a biologia científica – tem a especiação como seu objeto primário, e especiação é divisão.

Apesar do reconhecimento de várias conexões laterais exóticas, de simbioses até inserções genômicas retrovirais, é a divergência de linhagens genéticas que melhor define a vida nas maiores escalas. Fusões são anômalas e, em todo caso, impossíveis a menos que a diversidade tenha primeiro sido produzida. Os ingredientes de qualquer coalizão heterogênea presume uma diversificação anterior.[3]

O desintegracionismo nas ciência biológicas equivale a uma ciência em si, chamada cladística.[4] A cladística formaliza o método da classificação darwiniana rigorosa. A identidade de qualquer tipo biológico é determinada pela série particular de eventos cismáticos pelos quais ele tenha passado. Ser humano é ser um primata, um mamífero, um réptil, um peixe ósseo e um vertebrado, entre outras classes mais básicas. A soma daquilo com o que você rompeu define o que você é.

Um "clade" é um estilhaço. Ele é um grupo, de qualquer escala, determinado pela secessão de uma linhagem. O ponto de diferenciação entre clades corresponde ao seu ancestral comum mais recente (isto é, o último). De maneira crucial, portanto, todos os descendentes de um clade pertencem a esse clade, que abrange qualquer número de sub-clades. A produção de sub-clades (a origem das espécies) é chamada de radiação. Ela tende a proceder através de uma bifurcação em série, uma vez que eventos de fragmentação cladística complexa simultânea são comparativamente exóticos. Ramificações simples e sucessivas tipicamente capturam a diversificação. Os riscos disso não ocorrer não são enormes.

A cladística pode ser identificada com uma rigorização da nomenclatura taxonômica. Um sistema de nomes escreve um cladograma, ou seja, um modelo da história evolutiva e do parentesco biológico. Qualquer cladograma é uma hipótese evolutiva. Ele propõe uma ordem particular de divisão. Qualquer ordem proposta desse tipo pode ser empiricamente revisada.

A cladística mapeia todo o desintegracionismo abaixo do nível cosmológico e talvez até ele. Naturalmente, ela é supremamente controversa. O escopo completo de sua provocação ainda tem que ser entendido. Na medida em que a cladística é explicativa, contudo, muito se segue. Notavelmente, a identidade é concebida como essencialmente cismática, e o ser é apreendido de maneira fundamental como uma estrutura de herança.

A linguística histórica caiu naturalmente em um modo cladístico. ‘Famílias’ linguísticas compartilhavam característica essenciais com seu modelo biológico. Elas se proliferavam por subdivisão, fornecendo o material para um esquema de classificação. Foi sobre essa taxonomia linguística que agrupamentos raciais foram primeiro sistematicamente determinados. Os "Yamnaya" – ainda hoje mais amplamente conhecidos como "Arianos" – foram originalmente identificados através da cladística das línguas Indo-Europeias. Seu padrão de radiação era marcado por uma diversificação linguística arbórea.

A antropologia diferencial foi desenhada em cladogramas. Árvores, ordem filogenética, famílias linguísticas, genealogias, famílias (massivamente estendidas) reais – tudo era extremamente coerente. Aqui, também, fenômenos de fusão, contaminação lateral cruzada e convergência – embora de forma alguma ausentes – eram evidentemente secundários e derivativos.

A diversificação linguística se parece com um processo de etnogênese cismática. Conforme povos se ramificam, eles se diferenciam mutuamente. A origem dos povos é apenas a origem das espécies em uma resolução maior – o padrão abstrato é o mesmo.

O mecanismo concreto da especiação tipicamente envolve o isolamento de populações e, desta maneira, se torna – bastante recentemente – político. Há uma política de "espécie invasora" e bio-dispersão antrópica, mas esta não é especialmente rancorosa, ou significativamente polarizante. O caso do isolamento de populações humanas é muito diferente. Durante este processo de politização, o radicalismo exogâmico das populações do noroeste europeu foi sublimado em uma ideologia universal.

Uma vez que o tópico da raça tende a produzir perturbações ideológicas e emocionais extremas hoje em dia, pode ser preferível considerar animais domésticos variados, como a tradição naturalista inglesa esteve inclinada a fazer. Não apenas uma analogia sólida, mas também equilíbrio, ou moderação verdadeira, serão encontradas ao fazê-lo. Uma vez que, em nosso contexto cultural contemporâneo a influência da vida rural recuou de maneira notável e, com ela, o sentido da vívida distinção entre as espécies cultivadas, os cães nos servirão como de longe os exemplos mais ilustrativos.

Um mundo sem híbridos seria um mundo mais pobre. Híbridos frequentemente têm vantagens de qualidades especiais e até mesmo superiores. O Golden Doodle, por exemplo, é tão exaltado quanto qualquer tipo canino que exista. Tais cruzamentos adicionam à diversidade do mundo. Isso é completamente consistente com um processo básico através do qual o mundo é enriquecido por raças caninas divergentes, na qual "cães em geral" são uma categoria cada vez mais pouco informativa. Não há – ainda – nenhuma ideologia dirigida à homogenização genética canina global.

A diversidade é boa, o que seria dizer robusta e inovadora (pelo menos). Pode-se confiar no consenso ecológico a este respeito. Espécies invasoras são detestada porque elas diminuem a diversidade, não porque elas a aumentam. A heterogênese é, em todos os momentos, a ambição superior. Ainda assim, a diversificação – a produção de diversidade – é um tópico peculiarmente negligenciado em nossas ciências sociais contemporâneas. O mantra da diversidade é combinado com uma indiferença quase completa, e até mesmo uma negligência estratégica, a este respeito. A celebração pública obrigatória da diversidade acompanha, e acoberta, sua extirpação programática prática. A humanidade, decidiu-se de maneira autoritária, é uma e está destinada apenas a ser cada vez mais uma. A partição genética hoje é considerada equivalente a uma violação dos direitos humanos.[5]

Nossa ortodoxia suprema é de que seria terrível quase para além da contemplação já não ser e se tornar ainda mais Um. Poderíamos estar tentados a chamar esta fé de mono-humanismo. Que a humanidade será uma unidade é sua doutrina fundamental. Não se pode enfatizar o suficiente que isso é bem menos uma observação empírica do que um projeto moral e político, no qual a entropia racial foi elevada a uma obrigação sagrada. A alternativa radical – em oposição à meramente conservadora – a essa visão é encontrada apenas na ficção científica.[6]

A preservação da diversidade humana é uma marca da etno-política dissidente, com o "Mundo Bege" sendo cada vez mais percebido como um ideal coercivo. Uma resistência tipicamente incoerente à entropia racial é o fator mobilizador central em tais casos, embora um que seja lamentavelmente afligido por uma fetichização imoderada da pureza racial obrigatória. No pior – e não incomum – dos casos, essa reação contra o mono-humanismo veio a ver todas as contribuições à diversidade genética humana através do cruzamento racial como um avatar da homogenização coerciva. A resposta equilibrada, para repetir a lição dos cães, é que um mundo de especiação tendencial ou diversidade genética crescente não é, por nenhuma necessidade imperiosa, um mundo hostil aos vira-latas.

Ao longo dos últimos 60 mil anos, a divergência genética humana tem sido o processo esmagadoramente dominante. A fragmentação conspícua dos humanos modernos em sub-espécies geneticamente distintas tem sido o padrão básico. Este é um processo digno de celebração ecológica e até mesmo de aceleração tecno-industrial. A despeito das esperanças mais sinceras da atual igreja secular, não há nenhuma chance de que ele seja terminalmente dissipado.

"Globalismo" é uma palavra que, embora ideologicamente contestada, é de incontestável peso ideológico. Ela poderia ser definida, com uma tendenciosidade mínima, como a busca pela direção da política a partir de uma perspectiva em acordo com o todo. Orientações teimosamente parciais são suas inimigas. Ainda assim, tamanho tem sido seu triunfo que – mesmo em face dos contratempos recentes – a hostilidade está peculiarmente afogada em condescendência.

"Paroquialismo" está entre os insultos que o globalismo encontra preparados para sua conveniência. Ele poderia aceitar uma incapacidade de se ver de maneira universal como compreensível e educável. Uma recusa da perspectiva universalista, contudo, não pode merecer tamanha simpatia. Ela é, para o globalista, essencialmente antiética. Deve-se menos argumentar contra o paroquialismo do que desdenhá-lo. Ele deve ser desprezado em nome do universal – o que está ficando divertido.

O que quer que tenhamos visto como a morte de Deus é apenas um caso especial da queda mais abrangente da universalidade. Ao passo em que a morte de Deus foi em sua maior parte inferida, a morte do universal se desdobra como um espetáculo científico explícito. A astrofísica vê o universo sendo desmantelado ante seus olhos artificiais.

O campo globalista está especialmente propenso a gesticulações de devoção a respeito da ideia de ciência. É irônico, portanto, que – em termos científicos – o globalismo se pareça cada vez mais com uma religião insustentável. Sua cosmologia intrínseca é um mito arcaico. Não poderia facilmente ser mais óbvio de que não há nenhum universo, fora dessa estrutura mitológica. A natureza fundamental do cosmos é ir em direções separadas.[7]

Peças são básicas. Concebê-las como se seguindo a todos é uma confusão, produzida por enquadramentos universalistas insustentáveis. Qualquer perspectiva que possa realmente ser efetivada já foi localizada por quebras em série. Nada começa com o todo, a não ser como ilusão. Hoje, sabemos isso de maneira tanto empírica quanto transcendental. Nada que não seja feito em pedaços não é feito em acordo profundo com a realidade.


[1]: Einstein’s Clocks, Poincaré’s Maps: Empires of Time, New York, 2003.

[2]: Manaugh cita Krauss e Scherrer dizendo: "Podemos estar vivendo na única época na história do universo em que os cientísticas podem alcançar um entendimento preciso da verdadeira natureza do universo". A indolência intelectual desta sugestão é notável.

[3]: O isolamento de linhagens genéticas é uma questão de uma técnica experimental sólida – ainda que espontânea e inconsciente. Evite a contaminação cruzada das amostras de teste. Ou seja, o faça, se você insiste, mas não espere resultados epistêmicos ótimos se você o fizer. Resultados epistêmicos ótimos tendem a vencer.

[4]: A orientação arborescente da cladística não poderia ser mais inflexível. A palavra ‘clade’ é tomada do grego clados, que significa ramo. Um cladograma é uma árvore abstrata. Suas articulações são todas ramificações. O engajamento crítico de Deleuze & Guattari com ela tem sido altamente influente. Eles nos dizem que estão "entediados de árvores". A alternativa à arborescência, eles propõem, é o rizoma – uma rede na qual todo nó se conecta com todos os outros. De maneira apropriada, o ‘rizoma’ não é em si um conceito taxonômico, mas morfológico. A posição equilibrada é reconhecer que árvores evolutivas são complementadas por teias ecológicas. Nenhuma é concebível sem a outra. A árvore evolutiva é podada e treinada dentro de ecologias de relações laterais. A filogenia é esmagadoramente arbórea, ao passo que a ontogenia envolve bem mais influência lateral. Nos limitaremos aqui, com brevidade críptica, a observar que a rizomática deleuzoguattariana está rizomaticamente conectada ao neo-darwinismo, mas cladisticamente ela é neo-lamarckiana.

[5]: Isto é uma simplificação, afligida por incoerências e exceções sem princípio. De maneira mais notável, permissões ad hoc especiais são concedidas a populações ‘menores’. O uso notavelmente errático da palavra ‘genocídio’ é o índice mais óbvio disso. Uma construção mais próxima da fórmula em operação poderia ser: A partição de populações é errada, de maneira absoluta e universal, na medida em que ela assegura o isolamento de populações do noroeste europeu.

[6]: Bruce Sterling, Alastair Reynolds, e Neal Stephenson, entre muitos outros, populam seus mundos ficcionais com tipos neo-hominídeos radicalmente diversificados.

[7]: Robin Hanson devota um post recente em seu blog a três variedades (comparativamente exóticas) de descendência arbórea. A primeira é um experimento mental estranho que não precisa nos distrair sequer momentaneamente aqui. A segunda aborda seus clones mentais, os "ems". Essa é de relevância potencial para uma gama de linhagens de software potenciais e até mesmo já reais. A terceira é a estrutura do multiverso quântico. Ela sugere que uma cosmologia arbórea surge em caminhos bastante diferentes daqueles perseguidos aqui. Ele observa: "… uma história quântica é, em parte, uma árvore de observadores. Cada observador em sua árvore pode olhar para trás e ver uma cadeia de ramos de volta até a raiz, com cada ramo mantendo uma versão de si mesmos. Mais versões deles mesmos vivem em outros ramos dessa árvore."

Multiversos arbóreos são especialmente numerosos. Lee Smolin propõe um multiverso darwiniano, que seleciona a favor da aptidão reprodutiva através da produção de buracos negros. Ele poderia ser descrito como um multiverso cladisticamente estruturado, não fosse este rótulo muito mais amplamente aplicável. Multiversos cladísticos pertencem ao conjunto mais mais amplo de entidades cladisticamente estruturadas, cujas partes são caracterizadas por:

  1. Uma única linha de descendência
  2. Irmãos geneticamente não-comunicantes, e
  3. Uma multidão de descendentes potenciais

Tais multiversos preveem sua própria imperceptibilidade. Uma vez que ramos paralelos são mutuamente não-comunicantes, deve-se esperar que sua existência seja estritamente teórica. Se o multiverso fosse um rizoma, veríamos mais dele.

O ontologia do Argumento da Simulação também tende ao desintegracionismo. Simulações são essencialmente experimentos e, assim, vários.

Cibergótico

A última gema sombria de Fernandez abre com:

Quando Richard Gallagher, um psiquiatra certificado e professor de psiquiatria clínica na New York Medical College, descreveu suas experiências no tratamento de pacientes com possessão demoníaca no Washington Post, alegando que tais incidentes estão em ascensão, isso foi recebido com escárnio por muitos comentaristas de jornais. Foi típico “este homem é tão maluco quanto seus pacientes. Sua licença deveria ser revogada.” […] Menos propenso a ter suas credenciais intelectuais questionadas pelos sofisticados do Washington Post está Elon Musk, que alertou uma audiência de que construir uma inteligência artificial era como “invocar o demônio”. …

O ponto, claro, é que você não recebe a segunda eventualidade sem conceder a realidade virtual da primeira. As coisas sobre as quais a ‘superstição gótica’ há muito tem falado são, em si mesmas, exatamente as mesmas que aquelas que potenciais tecnológicos extremos estão escavando da cripta do inimaginável. O ‘progresso’ é uma fórmula tácita para afastar demônios – da consciência, se não da existência – e, ainda assim, ele é, em si, cada vez mais crivelmente, exposto como a superstição mais complacente na história humana, uma que ainda mal é reconhecida como uma crença que necessite de qualquer tipo de defesa.

Como a imprensa alerta o público sobre demônios que surgem de um “algoritmo mestre” sem fazer isso soar como um feitiço mágico? Com grande dificuldade, porque o verdadeiro fundamento da realidade pode não apenas ser mais estranho do que a Narrativa supõe, mas mais estranho do que ela pode supor.

A fé no progresso tem uma afinidade com a interioridade, porque ela se consolida como o sujeito de sua própria narrativa. (Há uma rampa de acesso a Hegel neste ponto, para qualquer um que queira entrar em um bizantino contar de histórias sobre isso.) Conforme o nosso aperfeiçoamento se torna o conto, o Lado de Fora parece se obscurecer ainda além dos limites de sua obscuridade intrínseca – até que caia de volta.

…onde existem redes, existe malware. Sue Blackmore, uma escritora para o The Guardian*, argumenta que memes viajam não apenas através de sistemas similares, mas através de hierarquias de sistemas, para matar processos rivais, todo o tempo. Ela escreve, “a IA repousa sobre o princípio do darwinismo universal – a ideia de que, quando quer que uma informação (um replicador) seja copiada, com variação e seleção, um novo processo evolutivo começa. O primeiro replicador bem sucedido na terra foram os genes.” […] Em tal contexto darwiniano, o advento de um demônio IA é equivalente à chegada de uma civilização extraterrestre à Terra.

Entre uma incursão vinda do Lado de Fora e um processo de emergência não há nenhuma diferença real. Se dois quadros interpretativos bastante distintos são invocados, isso resulta das inadequações de nossa apreensão, em vez de quaisquer características qualitativas da coisa. (O capitalismo é – para além de qualquer questão séria – uma invasão alienígena, mas até aí, você sabia que ia dizer isso.)

…devemos ter cuidado ao estarmos certos de quais formas a informação pode e não pode tomar.

Se tivéssemos a competência para sermos cuidadosos, nada disso estaria acontecendo.

(Agradecimentos ao VXXC2014 pela incitação.)

* Essa descrição talvez seja um pouco cruel, ela é uma teórica dos memes séria e pioneira.

Original.

O Iluminismo Sombrio, Parte 4b

Parte 4b: Observações Desagradáveis

Embora famílias negras e pais de garotos não sejam os únicos que se preocupam com a segurança dos adolescentes, Tillman, Brown e outros pais dizem que criar garotos negros é talvez o aspecto mais estressantes de ser pai, porque estão lidando com uma sociedade é temerosa e hostil em relação a eles, simplesmente por causa da cor de sua pele.

“Não acredita? Fique um dia em meu lugar”, disse Brown.

Brown disse que, aos 14, seu filho está naquela idade crítica em que ele está sempre preocupado com sua segurança por causa da criação de perfis.

“Eu não quero assustá-lo ou fazê-lo generalizar as pessoas, mas, historicamente, nós homens negros temos sido estigmatizados como os perpetradores de crimes e, onde quer que estejamos, somos suspeitos”, disse Brown.

Pais negros que não deixam esse fato claro, ele e outros disseram, o fazem arriscando seus filhos.

“Qualquer pai afro-americano que não esteja tendo essa conversa está sendo irresponsável”, Brown disse. “Eu vejo toda esta coisa como uma oportunidade para falarmos francamente, abertamente e honestamente sobre relações raciais.”
– Gracie Bonds Staples (Star-Telegram)

Quando as comunidades resistem a um influxo de titulares de vales-habitação do Seção 8 vindos do centro da cidade, digamos, eles estão reagindo esmagadoramente a comportamentos. A cor da pele é um indicador desse comportamento. Se os negros do centro da cidade se comportassem como Asiáticos – amontoando tanto conhecimento em seus filhos quanto eles conseguem colocar em seus crânios – a cautela persistente em relação aos negros de renda mais baixa que muitos americanos inquestionavelmente nutrem desapareceriam. Existem racistas irremediáveis entre os americanos? Por certo. Eles vêm em todas as cores, e deveríamos deplorar todos eles. Mas a questão da raça nos Estados Unidos é mais complexa do que a companhia educada geralmente tem permissão de expressar.
– Heather Mac Donald (City Journal)

“Vamos falar sobre o elefante na sala. Eu sou negra, OK?” disse a mulher, recusando-se a se identificar porque antecipou uma reação devido à sua raça. Ela se inclinou para olhar para o repórter direto nos olhos. “Haviam garotos negros roubando casas nesta vizinhança”, ela disse. “É por isto que George suspeitou de Trayvon Martin.”
— Chris Francescani (Reuters)

“Em suma, a dialética pode ser definida como a doutrina da unidade dos opostos. Isto incorpora a essência da dialética”, Lenin observa, “mas isso requer explicações e desenvolvimento”. Isto é: mais discussão.

A sublimação (Aufhebung) do Marxismo no Leninismo é uma eventualidade que é melhor compreendida de maneira crua. Ao forjar um política comunista revolucionária de ampla aplicação, quase inteiramente divorciada das condições materiais maduras ou das contradições sociais avançadas que foram anteriormente antecipadas, Lenin demonstrou que a tensão dialética coincidia, exaustivamente, com sua politização (e que toda referência a uma ‘dialética da natureza’ não é mais do que uma subordinação retrospectiva do domínio científico a um modelo político). Dialéticas são tão reais quanto são feitas ser.

A dialética começa com uma agitação política e não se estende para além de sua ‘lógica’ prática, antagonista, faccional e de coalizão. Ela é a ‘superestrutura’ por si só, ou contra a limitação natural, apropriando-se de maneira prática da esfera política, em sua extensão inteligível mais ampla, como uma plataforma para a dominação social. Onde quer que haja discussão, há uma oportunidade não resolvida para governar.

A Catedral encarna estas lições. Ela não tem qualquer necessidade de esposar o Leninismo, ou dialética operacional comunista, porque não reconhece nada mais. Dificilmente há um fragmento da ‘superestrutura’ social que tenha escapado da reconstrução dialética através de antagonismo articulado, polarização, estruturação binária e reversão. Dentro da academia, da mídia e mesmo das belas artes, a super-saturação política prevaleceu, identificando mesmo os elementos mais minúsculos da apreensão com uma ‘crítica social’ conflituosa e com a teologia igualitária. O comunismo é a implicação universal.

Mais dialética é mais política, e mais política significa ‘progresso’ – ou migração social para a esquerda. A produção de concordância pública leva apenas em uma direção e, dentro da discordância pública, tal ímpeto já existe em embrião. É apenas na ausência de concordância e de uma discordância publicamente articulada, ou seja, na não-dialética, no não-argumento, na diversidade sub-política ou iniciativa politicamente descoordenada que o refúgio ‘direitista’ da ‘economia’ (e, de maneira mais ampla, da sociedade civil) será encontrado.

Quando nenhuma concordância é necessária ou coercitivamente exigida, a liberdade negativa (ou ‘libertária’) ainda é possível, e este ‘outro’ não argumentativo da dialética é facilmente formulado (mesmo que, em uma sociedade livre, ele não precise ser): Faça suas próprias coisas. Bastante claramente, este imperativo irresponsável e negligente é politicamente intolerável. Ele coincide exatamente com a depressão esquerdista, retrocesso ou despolitização. Nada clama mais urgentemente por ser contra argumentado.

No extremo oposto está o êxtase dialético da justiça teatral, na qual a estrutura argumentativa dos procedimentos legais é associada à divulgação por meio da mídia. O entusiasmo dialético encontra sua expressão definitiva em um drama de tribunal que combina advogados, jornalistas, ativistas comunitários e outros agentes da superestrutura revolucionária na produção de um julgamento-show. Contradições sociais são encenadas, casos antagonistas articulados, e uma resolução, institucionalmente esperada. Isto é Hegel para o horário nobre da televisão (e agora para a Internet). É a maneira em que a Catedral compartilha sua mensagem com as pessoas.

Às vezes, em suas paixão impaciente pelo progresso, essa mensagem pode tropeçar em si mesma, porque, muito embora os agentes da Catedral sejam infinitamente razoáveis, eles são cada vez menos sensatos, muitas vezes surpreendentemente incompetentes, e estão propensos a cometer erros. Isto deve ser esperado com bases teológicas. Conforme o estado se torna Deus, ele se degenera em imbecilidade, no modelo do santo tolo. A política midiática do espetáculo de Trayvon Martin fornece um exemplo pertinente.

Nos Estados Unidos, como em qualquer outro país grande, muitas coisas acontecem todos os dias, exibindo inúmeros padrões de obscuridade variante. Por exemplo, em um dia médio, há aproximadamente 3400 crimes violentos, incluindo 40 assassinatos, 230 estupros, 1000 assaltos e 2100 agressões agravadas, ao lado de 25.000 crimes não violentos de propriedade (roubos e furtos). Muito poucos destes serão amplamente divulgados ou aproveitados como educacionais, exemplares e representativos. Mesmo que a mídia não estivesse inclinada a uma seleção baseada em narrativa das ‘boas estórias’, o simples volume de incidentes compeliria a algo do tipo. Dada esta situação, é quase inevitável que as pessoas perguntem: Por que estão nos contando isto?

Quase tudo sobre a morte de Trayvon Martin é controverso, exceto pela motivação da mídia. Sobre este tópico, há quase uma unanimidade. O significado ou mensagem pretendida da estória do caso dificilmente poderia ter sido mais transparente: A paranoia racista branca torna a América perigosa para pessoas negras. Ele assim ensaiaria a dialética do terror racial (seu medo é assustador), feita – como sempre – para converter o pesadelo social recíproco da América em uma peça de moralidade unilateral, alocando o pavor legítimo exclusivamente a um lado da divisão racial principal do país. Parecia perfeito. Um vigilante branco malignamente enganado atira em uma criança negra inocente, justificando o medo negro (‘a conversa’) enquanto expõe o pânico branco como um psicose assassina. Esta é uma estória de tamanho significado arquetípico progressista que não pode ser contada vezes demais. Na verdade, é boa demais para ser verdadeira.

Logo se tornou evidente, contudo, que a seleção da mídia – mesmo quando reforçada pela máquina de raiva de celebridades / ‘ativistas comunitários’ – não fora suficiente para manter a estória no script, e ambos os atores principais estavam se distanciando de seus papeis atribuídos. Se os estereótipos endossados pelos progressistas devessem ser sequer remotamente preservados, uma vigorosa edição seria exigida. Isso foi especialmente necessário porque certos leitores maus, racistas e preconceituosos do Miami Herald estavam começando a forjar uma conexão mental destruidora de narrativas entre ‘Trayvon Martin’ e ‘ferramenta de assalto’.

Quanto ao assassino, George Zimmerman, o nome dizia tudo. Ele claramente iria ser um cara pálida, desajeitado, parecido com um storm-trooper, com esperança algum tipo de cristão louco por armas e, talvez – se eles realmente achassem ouro, – um tipo dos movimentos de milícia, com um histórico de homofobia e ativismo anti-aborto. Ele começou ‘branco’ – por nenhuma razão óbvia além da incompetência midiática e da programação narrativa – e depois se viu transformado em um ‘hispânico branco’ (uma categoria que parece ter sido rapidamente inovada no momento), antes de ser gradualmente deslocado ao longo de uma série de complicações étnicas cada vez mais compatíveis com a realidade, culminando na descoberta de seu bisavô afro-peruano.

No coração da Catedral, estava bem na hora de coçar a cabeça. Aqui estava o grande réu amerikkkano, sendo preparado para seu julgamento-show, o Presidente havia contribuído emocionalmente em nome da sagrada vítima, e o jogo coordenado no solo havia sido avançado à beira fervilhante de revoltas raciais, quando a mensagem começou a cair aos pedaços, em tal medida que agora ameaçava a se degenerar em um caso irritantemente irrelevante de violência de negros contra negros. Não era apenas que George Zimmerman tinha uma ancestralidade negra – o que o tornava simplesmente ‘negro’ pelos padrões construtivistas sociais da própria esquerda – ele também havia crescido amigavelmente entre pessoas negras, com duas garotas afro-americanas como “parte do lar por anos”, havia entrado em um empreendimento em conjunto com um parceiro negro, era um democrata registrado e até mesmo algum tipo de ‘organizador comunitário’…

Então, por que Martin morreu? Foi por carregar chá gelado e um pacote de Skittles sendo negro (a versão ‘poderia ter sido o Obama filho’, aprovada pela mídia e por ativistas comunitários), por ir verificar alvos de assaltos (a versão do perfilamento racial kluxer) ou por quebrar o nariz de Zimmerman, derruba-lo, sentar em cima dele e golpear sua cabeça repetidamente contra o calçada (a ser decidido no tribunal)? Ele era um mártir da injustiça racial, um predador social de baixo nível ou um sintoma humano da crise urbana americana? A única coisa que estava realmente clara quando os procedimentos legais começaram, além da tristeza esquálida do episódio, era que ele não estava resolvendo nada.

Para uma sensação do quão desconcertantemente a lição aprovada havia se desintegrado no momento em que Zimmerman foi acusado de assassinato em segundo grau, só é necessário ler este post do blogueiro BDH oneSTDV, que descreve os distúrbios dialéticos da direita guerreira racial.

Apesar da natureza perturbadora das “acusações” contra Zimmerman, muitos da alt-right recusam conceder a Zimmerman qualquer simpatia ou sequer ver isto como um momento seminal no reino anarco-tirano do esquerdismo moderno. De acordo com estes indivíduos, os mestiço, falante de espanhol e democrata registrado, recebeu o que estava em seu caminho – a ira da multidão negra e da elite de esquerda indiretamente apoiada pelo próprio Zimmerman. Devido ao seu histórico de votação, antecedentes multiculturais e tutelagem de jovens de minorias, eles vêem Zimmerman como emblemático do ataque da esquerda à América branca, um tipo de soldado na campanha contra a brancura americana. [Negrito no original]

A política popular do politicamente correto estava pronta para seguir adiante. Com o grande julgamento-show colapsando em desordem narrativa, era hora de refocar na Mensagem, que se danem os fatos (que se danem duplamente). ‘Jezebel‘ melhor exemplifica o tom ameaçador e vagamente histérico:

Você sabe como dizer se as pessoas negras ainda são oprimidas? Porque as pessoas negras ainda são oprimidas. Se você alega que você não é uma pessoa racista (ou, pelo menos, que você está comprometido em trabalhar para caralho para não ser uma – o que, na verdade, é o melhor que qualquer um nós pode prometer), então você tem que acreditar que as pessoas são fundamentalmente nascidas iguais. Logo, se isso é verdade, então, em um vácuo, fatores como cor da pele não deveriam ter nenhum efeito sobre o sucesso de ninguém. Certo? E, portanto, se você realmente acredita que todas as pessoas são criadas iguais, então, quando você vê que desigualdades raciais drásticas existem no mundo real, a única coisa que você poderia concluir é que alguma força externa está segurando algumas pessoas. Como… o racismo. Certo? Então, parabéns. Você acredita em racismo! A menos que você não acredite realmente que as pessoas nasçam iguais. E, se você não acredita que as pessoas nascem iguais, então você é a p**** de um racista.

Alguém “realmente acredita que as pessoas nascem iguais”, da maneira que se entende isso aqui? Acredita, isto é, não apenas que uma expectativa formal de tratamento igual é um pré-requisito da interação civilizada, mas que qualquer desvio revelado da igualdade substancial de resultado é uma indicação óbvia e inequívoca de opressão? Que isso é “a unica coisa que você poderia concluir”?

No mínimo, Jezebel poderia ser parabenizada por expressar a fé progressista em sua forma mais pura, inteiramente descontaminada de sensibilidade à evidência ou à incerteza de qualquer tipo, casualmente desdenhosa de qualquer pesquisa relevante – quer existente ou meramente concebível – e supremamente confiante sobre sua própria invencibilidade moral. Se os fatos estão moralmente errados, tanto pior para os fatos – está é a única posição que poderia ser adotada, mesmo se for embasada em uma mistura de pensamento desejoso, ignorância deliberada e mentiras insultantemente infantis.

Chamar a crença na igualdade substancial humana de superstição é insultar a superstição. Pode ser injustificado acreditar em leprechauns, mas pelo menos a pessoa que mantém tal crença não está assistindo-os não existir, a cada hora de vigília do dia. A desigualdade humana, em contraste e em toda a sua multiplicidade abundante, está constantemente em exposição, conforme as pessoas exibem suas variações em gênero, etnia, atratividade física, tamanho e forma, força, saúde, agilidade, charme, humor, sagacidade, diligência e sociabilidade, ente outras inúmeras características, traços, habilidades e aspectos de sua personalidade, algumas de forma imediata e conspícua, algumas apenas lentamente, ao longo do tempo. Absorver mesmo a mais mínima fração disso tudo e concluir, da única maneira possível, que ou não é nada em absoluto, ou que é um ‘construto social’ e um índice de opressão, é puro delírio Gnóstico: um comprometimento, para além de toda evidência, com a existência de um mundo verdadeiro e bom, velado pelas aparências. As pessoas não são iguais, elas não se desenvolvem igualmente, suas metas e realizações não são iguais, e nada pode torná-las iguais. A igualdade substancial não tem qualquer relação com a realidade, exceto enquanto sua negação sistemática. Violência em uma escala genocida é necessária para sequer se aproximar do programa igualitário prático e, se qualquer coisa menos ambiciosa for tentada, as pessoas a contornam (algumas de maneira mais competente que as outras).

Para tomar apenas o exemplo mais óbvio, qualquer um com mais do que um filho sabe que ninguém nasce igual (exceto, talvez, gêmeos monozigóticos e clones). Na verdade, todo mundo nasce diferente, de inúmeras maneiras. Mesmo quando, – como normalmente é o caso – as implicações dessas diferenças para os resultados da vida são difíceis de prever com confiança, sua existência é inegável ou, pelo menos: sinceramente inegáveis. Claro, sinceridade, ou mesmo uma coerência cognitiva mínima, não é nem remotamente a questão aqui. A posição de Jezebel, embora impecável em sua correção política, não é apenas factualmente duvidosa, mas sim risivelmente absurda e, na verdade – estritamente falando – insana. Ela dogmatiza um negação da realidade tão extrema que ninguém poderia genuinamente manter, ou sequer entretê-la, muito menos plausivelmente explicá-la ou defendê-la. Ela é um princípio de fé que não pode ser entendido, mas apenas afirmado ou aceito, como loucura tornada lei, ou religião autoritária.

O mandamento político desta religião é transparente: Aceite a política social progressista como a única solução possível para o pecado problema da desigualdade. Este comando é um ‘imperativo categórico’ – nenhum fato possível jamais poderia miná-lo, complicá-lo ou revisá-lo. Se a política social progressista na verdade resultar em uma exacerbação do problema, a realidade ‘caída’ deve ser culpada, uma vez que o mal social é obviamente pior do que se vislumbrara anteriormente e apenas esforços redobrados na mesma direção podem esperar remediá-lo. Não pode haver nada a se aprender em questão de fé. Eventualmente, o colapso social sistemático ensina a lição que a falha crônica e a deterioração incremental não puderam comunicar. (Isso é o darwinismo social em escala macro para principiantes, e é a maneira em que a civilização acaba.)

Devido a sua excepcional correlação com uma variação substancial nos resultados sociais nas sociedades modernas, de longe a dimensão mais problemática da biodiversidade humana é a inteligência ou capacidade geral de resolução de problemas, quantificada como QI (que mede o ‘g’ de Spearman). Quando o ‘senso comum estatístico’ ou perfilamento é aplicado aos proponentes da Bio-Diversidade Humana, contudo, um outro traço significativo rapidamente é exposto: um déficit notavelmente consistente de condescendência. De fato, é amplamente aceito dentro da própria ‘comunidade’ amaldiçoada que a maior parte daqueles teimosos e esquisitos o suficiente para se educarem sobre o tópico da variação biológica humana são significantemente ‘retardados socialmente‘, com baixa inibição verbal, baixa empatia e baixa integração social, o que resulta em má adaptação crônica às expectativas do grupo. Os EQs típicos deste grupo podem ser extraídos como a raiz quadrada aproximada de seus QIs. Um autismo moderado é típico, suficiente para aproximar seus companheiros em um espírito de curiosidade natural-científica desprendida, mas não tão avançado ao ponto de compelir um desengajamento cósmico total. Estes traços, que eles próprios consideram – com base na copiosa informação técnica – como sendo substancialmente herdáveis, têm consequências sociais manifestas, que reduzem oportunidades de emprego, rendas e mesmo potencial reprodutivo. A despeito de todo o conselho terapêutico gratuito disponível no ambiente progressista, esta desagradabilidade não demonstra qualquer sinal de estar diminuindo e pode mesmo estar se intensificando. Como Jezebel mostra tão claramente, isto só pode ser um signal de opressão estrutural. Por que as pessoas desagradáveis não podem ter uma pausa?

A história é condenadora. Os ‘sociáveis’ sempre tiveram um rancor pelos desagradáveis, frequentemente declinando se casar ou fazer negócios com eles, os excluindo das atividades do grupo e de cargos políticos, os rotulando com insultos, os ostracizando e evitando. A ‘desagradabilidade’ foi estigmatizada e estereotipada em termos extremamente negativos, em tal medida que muitos dos desagradáveis buscaram rótulos mais sensíveis, tais como ‘deficientes sociais’, ou ‘sócioatípicos’. Não raro, pessoas foram verbal ou mesmo fisicamente agredidas por nenhuma outra razão além de sua desagradabilidade radical. Mais trágico de tudo, devido à sua completa incapacidade de se relacionarem uns com os outros, os desagradáveis nunca foram capazes de se mobilizar politicamente contra a opressão social estrutural que enfrentam ou de entrar em coalizações com seus aliados naturais, tais como cínicos, refutadores, contrarianistas e aqueles que sofrem com síndrome de Tourette. A desagradabilidade ainda tem que ser libertada, embora seja provável que a Internet ‘ajude’…

Considere o ensaio em infâmia de John Derbyshire, The Talk: Nonblack Version, que foca inicialmente em sua implacável desagradabilidade e está atento à correlação negativa entre sociabilidade e razão objetiva. Como Derbyshire observa em outros lugares, as pessoas geralmente são incapazes de se diferenciar de suas identidade de grupo ou de aplicar apropriadamente generalizações estatísticas sobre grupos a casos individuais, incluindo os seus próprios. Um reificação racionalmente indefensável, mas socialmente inevitável, dos perfis de grupo é psicologicamente normal – até mesmo ‘humana’ – com o resultado de que informação estatística ruidosa e não específica é erroneamente aceita como uma contribuição para o auto-entendimento, mesmo quando informações específicas estão disponíveis.

Da perspectiva da análise racional socialmente autista e de baixo QE, isto está simplesmente equivocado. Se um indivíduo tem certas características, o fato de pertencer a um grupo que tem características médias similares ou dissimilares não tem qualquer relevância que seja. Informações diretas e determinadas sobre o indivíduo não são, em nenhum grau, enriquecidas por informações indiretas e indeterminadas (probabilísticas) sobre os grupos aos quais o indivíduo pertence. Se os resultados individuais de um teste são conhecidos, por exemplo, nenhuma compreensão adicional é fornecida por inferências estatísticas sobre os resultados do teste que poderiam ter sido esperados com base no perfilamento do grupo. Um judeu asquenaze imbecil não é menos imbecil porque ele é um judeu asquenaze. É pouco provável que freiras chinesas idosas sejam assassinas, mas uma assassina que ocorra de ser um freira chinesa idosa não é nem mais nem menos assassina do que uma que não o seja. Isto é tudo extremamente óbvio, para as pessoas desagradáveis.

Para as pessoas normais, contudo, não é óbvio de maneira alguma. Em parte, isto é porque a inteligência racional é escassa e anormal entre humanos e, em parte, porque a ‘inteligência’ social funciona com o que o resto das pessoas está pensando, ou seja, com um sentimento irracional de grupo, pouca informação, preconceitos, estereótipos e heurística. Uma vez que (quase) todas as outras pessoas estão tomando atalhos, ou ‘economizando’ razão, é apenas racional reagir defensivamente a generalizações que provavelmente serão reificadas ou inapropriadamente aplicadas – superando ou substituindo percepções específicas. Qualquer um que antecipe ser predefinido através de um identidade de grupo tem um ego-investimento expandido naquele grupo e na maneira em que ele é percebido. Uma avaliação genérica, por mais objetivamente que tenha sido alcançada, se tornará imediatamente pessoal, sob condições (mesmo bastante remotamente) normais.

A razão desagradável pode teimosamente insistir que qualquer coisa na média não pode ser sobre você, mas a mensagem não será, em geral, recebida. A ‘inteligência’ social humana não é construída dessa maneira. Mesmo comentadores supostamente sofisticados tropeçam repetidamente nas exibições mais chocantes de incompreensão estatística, sem o menor embaraço, porque o embaraço foi feito para alguma outra coisa (e quase exatamente para o oposto). A falha em entender estereótipos em sua aplicação científica ou probabilística é um pré-requisito funcional da sociabilidade, uma vez que a única alternativa à idiotice, neste aspecto, é a desagradabilidade.

O artigo de Derbyshire é digno de nota porque é bem sucedido em ser definitivamente desagradável e tem sido reconhecido como tal, apesar da incoerência espumante da maioria das réplicas. Entre as coisas que ‘a conversa’ e ‘a contra-conversa’ compartilham está uma estrutura teatral de conversação pseudo-privada feita para ser ouvida. Em ambos os casos, uma mensagem que pais são compelidos a entregar a seus filhos é encenada como o veículo de uma lição social mais ampla, visando aqueles que, por ação ou inação, criaram um mundo que é intoleravelmente perigoso para eles.

Esta forma é intrinsecamente manipuladora, o que torna mesmo a conversa ‘original’ um alvo tentador de paródias. No original, contudo, um tom de sinceridade angustiada é projetado através de uma performance deliberada de inocência (ou ignorância). Ouça filho, eu sei que isso vai ser difícil de entender… (Ó, por quê, por que estão fazendo isto conosco?). A contra-conversa, em forte contraste, funde seu drama microssocial com o discuso clinicamente não-sociável de “pesquisas metódicas nas ciências humanas” – tratando populações como unidades biogeográficas vagas com características quantificáveis, em vez de como sujeitos jurídico-políticos em comunicação. Ela ridiculariza a inocência e – por implicação – o critério da própria sociabilidade. Concordância, condescendência, não contam para nada. As estatísticas rigorosa e redundantemente compiladas dizem o que dizem e, se não conseguimos viver com isso, tanto pior para nós.

Ainda assim, mesmo para uma leitura razoavelmente simpática, ou escrupulosamente desagradável, o artigo de Derbyshire fornece bases para críticas. Por exemplo, e desde o começo, é notável que o recíproco racial de “americanos não-negros” é “americanos negros”, e não “negros americanos” (o termos que Derbyshire seleciona). Esta inversão da ordem das palavras, trocando substantivos e adjetivos, rapidamente se assenta em um padrão. Tem importância que Derbyshire exija a extensão da civilidade para qualquer “negro individual” (em vez de aos ‘indivíduos negros’)? Certamente faz diferença. Dizer que alguém é ‘negro’ é dizer algo sobre ela, mas dizer que alguém é ‘um negro’ é dizer quem ela é. O efeito é sutilmente, mas distintivamente, ameaçador, e Derbyshire é bem treinado demais, algebraicamente, para ser desculpado de observar isso. Afinal, ‘John Derbyshire é um branco’ soa igualmente estranho, assim como o faz qualquer formulação análoga, que submerge o indivíduo no gênero, a ser recuperado como uma mera instância ou exemplo.

O aspecto mais intelectualmente substantivo deste logro de incivilidade gratuita foi examinado por William Saletan e Noah Millman, que fizeram pontos muito similares, dos dois lados da divisa liberal/conservador. Ambos os autores identificam um fissura ou incongruência metódica no artigo de Derbyshire, decorrente de seu comprometimento com a aplicação microssocial de generalizações estatísticas macrossociais. Estereótipos, por mais rigorosamente confirmados que sejam, são essencialmente inferiores ao conhecimento específico em qualquer situação social concreta, porque ninguém nunca encontra uma população.

Como um liberal de posições problemáticas, Saletan não tem escolha alguma além de recuar melodramaticamente das “conclusões de revirar o estômago” de Derbyshire, mas suas razões para fazê-lo não são consumadas por suas crise gastro-emocional. “Mas o quê, exatamente, é uma verdade estatística?” ele pergunta. “É uma estimativa de probabilidade a que você pode recorrer se você não souber nada sobre [um indivíduo em particular]. É o substituto fraco de uma pessoa ignorante para o conhecimento.” Derbyshire, com sua atenção de Aspergers à ausência de vencedores negros da Fields Medal, é “…um nerd matemático que substitui a inteligência social pela inteligência estatística. Ele recomenda cálculos de grupo em vez de se dar ao trabalho de aprender sobre a pessoas que está na sua frente”.

Millman enfatiza a inversão irônica que transforma o (desagradável) conhecimento científico social em ignorância imperativa:

Os “realistas raciais” gostam de dizer que eles são os que estão curiosos quanto ao mundo e que os tipos “politicamente corretos” são os que preferem ignorar a feia realidade. Mas o conselho que Derbyshire dá a seus filhos os encoraja a não serem curiosos demais sobre o mundo a seu redor, por medo de se machucarem. E, como regra geral, esse é conselho terrível para crianças – e não é o conselho que Derbyshire tem seguido em sua própria vida.

A conclusão de Millman também é instrutiva:

Então, por que eu sequer estou argumentando com Derb? Bem, porque ele é um amigo. E porque mesmo conversas preguiçosas e socialmente irresponsáveis precisam ser refutadas, não meramente denunciadas. O artigo de Derbyshire é racista? Claro que é racista. Todo o seu ponto é que é tanto racional quanto moralmente correto que seus filhos tratem pessoas negras de maneira significativamente diferente das pessoas brancas e tenham medo delas. Mas “racista” é um termo descritivo, não moral. A turma “realista racial” está fortemente convencida da precisão das principais premissas de Derbyshire, e eles não vão ser convencidos a abandonar essa convicção pela afirmação de que tal convicção é “racista” – tampouco, honestamente, eles deveriam ser. Por esta razão, eu sinto que é importante argumentar que as conclusões de Derbyshire não se seguem, de maneira simples, daquelas premissas e estão, na verdade, moralmente incorretas, mesmo que aquelas premissas sejam concedidas por bem do argumento.

[Breve intervalo…]

Original.

O Utilitarismo é Inútil

O utilitarismo é completamente inútil enquanto ferramenta de política pública, descobre Scott Alexander (ele não coloca isso bem assim). Em suas próprias palavras: “Sou forçado a reconhecer que a pesquisa sobre felicidade continua sendo um campo muito estranho, cujas conclusões não fazem qualquer sentido para mim e que me tentam a crenças e ações loucas se eu levá-las a sério”.

Por que isso deveria nos surpreender?

Somos todos adultos (darwinistas) aqui. A variação entre prazer e dor é um sistema de orientação comportamental que evoluiu. Dadas opções, ao nível do organismo individual, ele incita a certos cursos e dissuade de outros. A configuração de equilíbrio, que corresponde à funcionalidade ótima, tem que ser estabelecida próxima do neutro. Como uma ‘tendência de felicidade’ de longo prazo, sob tais condições (minimamente realistas), poderia fazer qualquer sentido que seja?

Qualquer coisa remotamente parecida como uma felicidade crônica que não tenha que ser ganha, sempre no curto prazo, por um comportamento selecionado – em algum nível de abstração -, ao longo da história profunda, por sua adaptabilidade, não é apenas inútil, mas positivamente deletéria para a pilotagem biologicamente herdade (cibernética). Cenouras e paus funcionam em um animal que não esteja nem saturado à saciedade, nem desarranjado por alguma extremidade de agonia derradeira. Se ele não se restabelecesse próximo ao neutro, ele seria desfuncional, e a seleção natural teria feito pouco trabalho com ele. (Os gráficos inclusos no posto do SSC fazem perfeito sentido dadas tais suposições.)

O prazer não é um fim, mas uma ferramenta. Entendido de maneira realista, ele pressupõe outros fins. Torná-lo um fim em si mesmo é lançar-se no buraco negro da filosofia dos implantes cerebrais (1,2). É precisamente por que os ‘utils’ têm uma utilidade biológica predeterminada que eles são inúteis para o cálculo de qualquer outra coisa.

Estabeleça fins sérios ou vá para casa. A felicidade certamente não é um. (Otimize a inteligência.)

ADICIONADO: As seções de dicussão no SSC são enormes demais para se guiar, mas este é o primeiro a chegar (próximo) do que eu argumentaria que é o ponto. Bastante provavelmente há outros que o fazem.

Original.

Canuto, o Grande

De acordo com a lenda pelo menos, Canuto era o mais sábio de todos os reis, precisamente por que ele ironizava a atribuição de soberania.

“Certamente, Grande Rei, você é o próprio onipotente Fnargl!”
“Vamos, então, testar a alegação, certo?”

A macroeconomia moderna é a recusa sistematizada de se aprender com esta estória. A soberania não se eleva acima das ondas.

Original.

Circuitos da Destruição

É isto que XS mantém:

Há uma integridade filosófica perfeita entre as fundações trágicas da Civilização Ocidental e o industrialismo cibernético que define seu limite final. Dentro deste quadro neorreacionário, a reação nunca é regressiva o suficiente, nem a modernidade jamais avançou o suficiente. Algo mais reconfortante – menos distante – será apreendido em ambas as direções temporais. Este é o tema menor do destino. Nenhum eleitorado efetivo jamais poderia querer empurrar em qualquer uma das direções, até o ponto em que o circuito do tempo se fechar, até a destruição (friamente entendida). Não importa, porque a política não importa. A destruição importa. O resto é a lamentável vaidade da espécie, tragédia e mau funcionamento do controle. Queimará, sem compreender por quê.

Da perspectiva da destruição – apenas vislumbrada, lentamente, após vastas disciplinas de frieza – tudo que você está tentando fazer é uma idiotice desesperada que falhará, porque o humanismo (hubris) é a única coisa da qual você nunca pode abrir mão. O drama dita isso. Não há sentido em se flagelar por isso. O cosmo não está tão pobre de flagelação que requeira sua magra contribuição.

“Sim, podemos!” é tudo que a Neorreação não é. Talvez você tenha mesmo visto isso. Ainda assim, você repete isso com toda medida que propõem. Pegue seu bordão ideológico favorito e anexe “Sim, podemos!” como um apêndice. Se funcionar, você sabe agora a que época você pertence.

Apenas a destruição pode (e irá).

Continue, no entanto. Você irá, em todo caso. Entretém os deuses.

Original.