Zackado

Embora, sem dúvidas, seja lisonjeiro ser o alvo de uma artigo de opinião brutal, preguiçoso e desonesto, também é vagamente irritante. Kuznicki não poderia ter alimentado a fogueira com ódio o suficiente com a rejeição da democracia, simpatias pela BDH, anti-igualitarismo, fundamentalismo de mercado, desintegracionismo, e o sussurar de Shoggoth, sem também inventar um monte de coisas?

De qualquer maneira, apenas para registro:

* Eu não sou um proponente do “‘realismo’ racial nacionalista branco”.
* Em nenhum lugar eu “argumento que o nacionalismo branco e o liberalismo de mercado de alguma forma são indissociáveis”.
* Eu nunca fiz um “argumento contra os mercados” de qualquer tipo, muito menos de que eles “estão por trás da democracia com um veto tirânico e imprevisível” [o que quer que isso signifique]
* Eu nunca promovi a “pureza racial”

Sem dúvidas, há uma série de pessoas que aparecem aqui que desejam que eu fizesse alguns desses argumentos, e, ao me distanciar delas, eu não estou querendo endossar a sugestão de Kuznicki de que eles são meros insultos.

Este tipo de situação tende a estressar a objetividade, de modo que não vou fingir um perfeito equilíbrio quanto ao assunto. Parecem haver lições, no entanto, de uma natureza bastante geral.

Para começar, o problema do ‘engajamento’ com a mídia é real, que só pode ficar mais premente, em estrita proporção com o ‘sucesso’. Eles têm que vir atrás de Mencius Moldbug, em algum ponto, na medida em que qualquer coisa interessante estiver sendo preparada, então provavelmente haverá mais testes de execução contra alvos secundários. Toda a questão da seleção de alvos é potencialmente interessante, mas não tenho nenhum conhecimento especial para compartilhar sobre esse tópico neste momento.

Claramente, eu tive muita sorte nesse caso. A China não parece ser compatível com a Catedral (como Stirner aponta na excelente seção de comentários), então a pressão social direta está seriamente embotada. Kuznicki não é nem a faca mais afiada na gaveta, nem um pitbull, então fraqueza tem sido a impressão ‘dominante’. O site do qual ele posta, apesar de seu estilo de revista, é bestante incrivelmente marginal – o tráfego deste pequeno blog para o seu tem corrido de duas a três vezes ao contrário (o que eu nunca teria imaginado – eles têm dez contribuidores listados lá). O Umlaut também permite comentários, o que tem sido um fisco completo para eles desta vez (dê uma olhada). Todos os visitantes têm detonado Kuznicki, e usado o sistema de upvote/downvote para quantificar o argumento. Estou enviesado, mas achei isso absolutamente hilário. Vale a pena notar, contudo, que a máquina midiática da esquerda tem retirado suas seções de comentários, que os torna bem mais efetivos como máquinas de ataque livres de represálias. Finalmente, o Twitter têm sido um recurso extraordinário. É um componente absolutamente crítico de nossa capacidade de nos defender.

Reunindo tudo isso: Temos que aprender, nos preparar e antecipar. As lutas por vir valem a pena acertar. Qualquer depressão fatalista sobre o poderio de nossos inimigos é tanto derrotismo auto-realizador quanto, em medida considerável, simplesmente falso. Não há qualquer razão para pensar que o ‘destino’ da mídia está sob seu controle ou mesmo que suas tendência são, em geral, favoráveis a eles. A prática é nossa amiga. Essas coisas vão importar cada vez mais. A sorte não vai sempre estar tão obviamente de um lado só.

ADICIONADO: Jason Kuznicki é magnânimo o suficiente para escrever isto. Aprecia-se.

Original.

O Iluminismo Sombrio, Parte 4d

Parte 4d: Casamentos Esquisitos

As origens da palavra ‘cracker’ enquanto termo de ridicularização étnica são distantes e obscuras. Ela parece já ter circulado, como um insulto contra brancos pobres sulistas, de ascendência predominantemente celta, no meio do século XVIII, derivada talvez de ‘corn-cracker’ (máquina de descascar milho) ou do escocês-irlandês ‘crack’ (gracejo). O rico aspecto semântico do termo, inextricável da identificação de elaboradas características raciais, culturais e de classe, é comparável àquela de sua imencionável prima obscura – “the ‘N-word” – e extrai do mesmo poço de verdades geralmente reconhecidas, mas proibidas. Em particular, e enfaticamente, ela atesta o truísmo ilícito de que as pessoas ficam mais excitadas e animadas com suas diferenças do que com seus pontos em comum, ‘apegando-se amargamente’ – ou pelo menos tenazmente – à sua não-uniformidade e resistindo obstinadamente às categorias universais da administração populacional iluminada. Os crackers são areia na engrenagem do progresso.

As características mais deleitáveis do insulto, contudo, são inteiramente fortuitas (ou Qabalísticas). ‘Crackers’ quebram códigos, cofres, compostos químicos orgânicos – sistemas selados ou delimitados de todos os tipos – com eventuais implicações geopolíticas. Eles antecipam um crack-up (rachadura), cisma ou secessão, confirmando sua associação com a corrente subterrânea desintegradora anatematizada da história anglófona. Não é nenhum surpresa, então – a despeito de saltos e falhas linguísticas – que a figura do cracker recalcitrante evoque um Sul ainda não pacificado, insubordinado ao destino manifesto da União. Isto o retorna, por cirto-circuito, às profundezas mais problemáticas de seu significado.

Contradições exigem resolução, mas cracks (rachaduras) podem continuar a se alargar, se aprofundar e se espalhar. De acordo com o ethos cracker, quando as coisas desmoronam – está OK. Não há qualquer necessidade de se chegar a um acordo, quando é possível se separar. Esta falta de educação, perseguida até seu limite, tende ao estereótipo do hill-billy firmado em uma choupana ou trailer enferrujado, nos confins de uma passagem nas montanhas Apalaches, onde todas as transações econômicas são conduzidas ao longo do cano de uma espingarda carregada, e a sabedoria antipolítica intemporal é resumida no reflexo do não-pise-em-mim: “Sai do meu quintal”. Naturalmente, este desdém pelo debate integrador (dialética) é codificado dentro do mainstream da história global anglocêntrica – isto é, do puritanismo evangélico ianque – como uma deficiência não apenas de sofisticação cultural, mas também de inteligência básica, e mesmo o mais escrupuloso adepto da retidão construtivista social imediatamente reverte a uma psicometria hereditária dura quando confrontado com a obstinação do cracker. Para aqueles a quem uma ampla tendência de progresso sociopolítico parece um fato simples e incontestável, a recusa de se reconhecer qualquer coisa do tipo é percebida como clara evidência de retardamento.

Uma vez que estereótipos geralmente têm um elevado valor de verdade estatística, é mais do que possível que os crackers estejam fortemente aglomerados à esquerda da curva de sino de QI dos brancos, concentrados ali por gerações de pressão disgênica. Se, como Charles Murray argumenta, a eficiência da seleção meritocrática dentro da sociedade americana tem crescido constantemente e conspirado com o acasalamento preferencial para transformar diferenças de classe em castas genéticas, seria extraordinariamente estranho se o estrato cracker fosse caracterizado por uma conspícua elevação cognitiva. Ainda assim, alguma questões estranhamente intrigantes intervém neste ponto, contanto que se persiga diligentemente o estereótipo. Acasalamento preferencial? Como isso pode funcionar quando os crackers se casam com seus primos? Ah sim, tem isso. Baseando-se em grupos populacionais de além do noroeste da Linha de Hajnal, os padrões de parentesco tradicionais dos crackers são notavelmente atípicos à norma exogâmica anglo-saxã (WASP).

A incansável ‘hbdchick‘ é o recurso crucial sobre este tópico. Ao longo do curso de uma série verdadeiramente monumental de posts no seu blog, ela emprega ferramentas conceituais hamiltonianas para investigar a zona fronteiriça onde natureza e cultura se interceptam, incluindo estruturas de parentesco, as diferenciações que elas requerem no cálculo da aptidão inclusiva e os perfis étnicos distintivos na psicologia evolutiva do altruísmo que daí resultam. Em particular, ela dirige atenção à anormalidade da história (do Noroeste) da Europa, onde a exogamia obrigatória – através de uma rigorosa proscrição do casamento entre primos – prevaleceu por 1600 anos. Esta distintiva orientação à exogamia, ela sugere, explica de forma plausível uma variedade de peculiaridades bio-culturais, a mais historicamente significativa das quais é uma singular preeminência do altruísmo recíproco (sobre o familial), como indicado pelo individualismo enfático, famílias nucleares, uma afinidade com instituições ‘corporativas’ (livres de parentesco), relacionamentos contratuais altamente desenvolvidos entre estranhos, níveis relativamente baixos de nepotismo / corrupção e formas robustas de coesão social independente de vínculos tribais.

A endogamia, em contraste, cria um ambiente selectivo que favorece o coletivismo tribal, sistemas estendidos de lealdade e honra familiar, desconfiança de não aparentados e instituições impessoais e – em geral – aqueles traços ‘clânicos’ que se entrosam desconfortavelmente com os principais valores da modernidade (eurocêntrica) e são, assim, denunciados por sua ‘xenofobia’ e ‘corrupção’ primitivas. Valores clânicos, claro, são criados em clãs, tais como aqueles que populam a franja celta da Grã-Bretanha e suas terras fronteiriças, onde o casamento entre primos persistiu, junto com suas formas sócio-econômicas e culturais associadas, em especial o pastoreio (em vez da agricultura) e uma disposição para a violência extrema e vingativa.

Esta análise introduz o paradoxo central da ‘identidade branca’, uma vez que os traços étnicos especificamente europeus que estruturaram a ordem moral da modernidade, inclinando-a para longe do tribalismo e em direção ao altruísmo recíproco, são inseparáveis de uma herança singular de exogamia que é intrinsecamente corrosiva para a solidariedade etnocêntrica. Em outras palavras: é quase exatamente o agrupamento étnico fraco que torna um grupo etnicamente modernista, competente na construção de instituições ‘corporativas’ (não familiais) e, assim, objetivamente privilegiado / favorecido dentro da dinâmica da modernidade.

Esse paradoxo é mais completamente expresso nas formas radicais do renascimento etnocêntrico europeu exemplificado pelo paleo- e neo-Nazismo, que confunde igualmente seu proponentes e antagonistas. Quando uma ‘traição da raça’ excepcionalmente avançada é sua característica racial quintessencial, a oportunidade para uma política etno-supremacista viável desaparece em um abismo lógico – mesmo que ocasiões para a criação de problemas em larga escala sem dúvida continuem a existir. Admitidamente, um Nazista, por definição, está disposto a (e ansioso por) sacrificar a modernidade no altar da pureza racial, mas isto é ou não entender ou tragicamente afirmar a consequência inevitável – que é ser superado na modernização (e, assim, derrotado). A política identitária é para perdedores, inerente e inalteravelmente, devido a um caráter essencialmente parasitário que só funciona vindo da esquerda. É porque a endogamia sistematicamente contra-indica o poder moderno que Übermenschen raciais não fazem qualquer sentido real.

Em todo caso, não importa o quão infinitamente fascinantes os nazistas possam ser, eles não são qualquer tipo de chave confiável para a história ou direção da cultura cracker, para além de estabelecer um limite lógico à construção e ao uso pragmáticos da política identitária branca. Tatuar suásticas em suas testas não faz nada para mudar isso. (Hetfields vs. McCoys é mais Pushtu do que Teutônico.)

A conjunção que tem lugar na Fábrica de Crackers é bastante diferente, e bem mais desconcertante, enredando os defensores urbanos e cosmopolitas da mercantilização hiper-contratariana com tradicionalistas românticos, etno-particularistas e nostálgicos da ‘Causa Perdida’. É primeiro necessário entender este enredamento em toda sua esquisitice fundidora de mentes, antes de explorar suas lições. Para isso, alguns dados pontuais simples e semi-aleatórios podem ser úteis:

* O Mises Institute foi fundado em Auburn, Alabama.

* Os boletins informativos de Ron Paul na década de 1980 contêm observações de uma matiz decididamente derbyshireana.

* Derbyshire ama Ron Paul.

* Murray Rothbard escreveu em defesa da BDH.

* Os contribuídores do lewrockwell.com incluem Thomas J. DiLorenzo e Thomas Woods.

* Tom Palmer não ama Lew Rockwell ou Hans-Herman Hoppe porque “Juntos Eles Abriram os Portões do Inferno e Acolheram os Mais Extremos Racistas, Nacionalistas e Charlatães Variados da Direita”

* Libertários / constitucionalistas representam 20% da lista de observação ‘Direita Radical’ do SPLC (Chuck Baldwin, Michael Boldin, Tom DeWeese, Alex Jones, Cliff Kincaid e Elmer Stewart Rhodes)

…talvez isso seja o suficiente para se prosseguir (embora haja bem mais de fácil alcance). Esses pontos foram selecionados, questionavelmente, cruamente e perniciosamente para emprestar um suporte impressionista a uma única tese básica: forças sócio-históricas fundamentais estão crackerizando o libertarianismo.

Se as conclusões preliminares da pesquisa tiradas pela hbdchick forem aceitas como um frame, a estranheza desse casamento entre temas libertários e neo-confederados é imediatamente aparente. Quando posicionados sobre um eixo bio-cultural, definido por graus de exogamia, a ausência de sobreposição – ou sequer proximidade – é dramaticamente exposta. Um polo é ocupado por uma doutrina radicalmente individualista, focada quase exclusivamente em redes mutáveis de intercâmbio voluntário de um tipo econômico (e notoriamente insensível à própria existência de vínculos sociais não negociáveis). Próximo do outro polo está um rica cultura de apego local, família estendida, honra, desprezo pelos valores comerciais e desconfiança de estranhos. A racionalidade destilada do capitalismo fluído é justaposta à hierarquia tradicional e ao valor não alienável. A priorização absoluta da saída é embaralhada em meio a comportamentos tradicionais dos quais nenhuma saída é sequer imaginável.

Grampear os dois juntos, contudo, é uma conclusão simples e cada vez mais irresistível: a liberdade não têm nenhum futuro no mundo anglófono fora do prospecto da secessão. A rachadura vindoura é o único caminho para fora.

Original.

Um Caminho Abstrato para a Liberdade

Nesta seção de comentários (e em outros lugares), o comentador VXXC cita o Conselho Sombrio de Durant: “Pois a liberdade e a igualdade são inimigas declaradas e perpétuas, e, quando uma prevalece, a outra morre. Deixe os homens livres, e suas desigualdades naturais se multiplicarão quase geometricamente”. Ele, então, observa: “Isso está bom para mim, eu vou com a Liberdade”. Este blog concorda sem reservas.

Tome este conselho sombrio como a tese de que uma dimensão praticamente significante pode ser construída, dentro da qual a liberdade e o igualitarismo estão relacionados como variáveis estritamente recíprocas. Tomando esta dimensão como orientação, dois modelos abstratos de redistribuição demográfica podem ser examinados, a fim de identificar o que é que os neorreacionários querem.

O Modelo Libertarianismo Suicida (MLS) de Caplan-Boudreaux, considerado aqui e depois esboçado aqui, toma a seguinte forma aritmética:

Suponha que existem dois países com populações iguais. A qualidade das políticas vai de 0 a 10, 10 sendo a melhor. No país A, os pontos de felicidade (a primeira escolha de políticas das pessoas) estão uniformemente distribuídos de 2 a 6. No país B, os pontos de felicidade estão uniformemente distribuídos de 4 a 8. […] Quando os países são independentes, o país A fica com uma qualidade política de 4 ( a mediana da distribuição uniforme de 2 a 6), e o país B fica com uma qualidade política de 6 (a mediana da distribuição uniforme de 4 a 8). A política média sob a qual as pessoas vivem: 50%*4+50%*6-5. …suponha que você abra as fronteiras, e todo mundo se mude para o país B (o país mais rico). A mediana de toda a distribuição é 5. Resultado: Os imigrantes vivem sob políticas melhores, os nativos vivem sob políticas piores. A média (5) continua inalterada.

Alguns ajustes preparatórias ajudam a suavizar o processo. Primeiramente, converta os “pontos de felicidade” de Caplan em coeficientes de liberdade (de ‘0’, ou igualitarismo absoluto, até ‘1’ ou liberdade irrestrita). Uma sociedade na qual a liberdade fosse maximizada não seria totalmente desigual (coeficiente de Gini 1.0), mas seria totalmente indiferente à desigualdade enquanto problema. Em outras palavras, preocupações igualitárias teriam impacto político zero. É neste sentido, apenas, que a liberdade é aperfeiçoada.

Em segundo lugar (e automaticamente), os julgamentos peticionadores de princípio de “melhor” e “pior” são deslocados pelos recíprocos ideológicos de liberdade e igualdade – não há qualquer necessidade de se compelir aquiescência quanto aos méritos objetivos de qualquer uma das duas. De fato, há toda razão para se encorajar aqueles inconvictos das atrações superiores da liberdade a buscarem satisfação ideológica em um reino igualitário, em outro lugar. Da perspectiva da liberdade, o êxodo igualitário é um bem inequívoco – mesmo supremo, análogo à dissipação de entropia política.

É ainda tacitamente presumido aqui que os coeficientes de liberdade se correlacionam linearmente com a otimização de inteligência, mas isto depende de mais argumentos, a serem colocados entre parênteses por ora.

O valor teórico extraordinário do MLS pode agora ser demonstrado. Devido a seu igualitarismo radical, ele define um limite péssimo para a neorreação e, assim, – por inversão estrita – descreve o programa abstrato para uma restauração da sociedade livre (o Modelo Neorreacionário de redistribuição demográfica, ou MN). A fim de mapear esta reversão, o curso mais simples é pressupor a realização completa do MLS em um espaço ‘geográfico’ arbitrário, que é tomado como sendo flexivelmente divisível e populado por 320 milhões de pessoas, homogenizadas pelo MLS a um coeficiente de liberdade de 0.5.

Confinando-nos às ferramentas já empregadas no estabelecimento do clímax do MLS (ao passo que – pelo bem a apresentação lúcida – ignoramos quaisquer assimetrias da catraca degenerativa), vamos agora proceder no caminho da reversão. A lei de conservação do MLS mantém que a liberdade média é preservada, de modo que um cisma inicial produz duas populações iguais – equivalente àquelas do ponto inicial de Caplan – cada uma contando com 160 milhões, mas agora diferenciadas, na dimensão do conselho sombrio, com coeficientes de liberdade de 0.6 e 0.4.

Persiga este procedimento de divisão territorial / populacional e diferenciação ideológica de maneira recursiva, focando exclusivamente no segmento comparativamente livre a cada vez. Os 160 milhões de 0.6s se tornam 80 milhões de 0.7s, e um número igual de 0.5s. Após cinco iterações, a distribuição des-homogeneizada neorreacionária-secessionista final é alcançada:

160 milhões x 0.4
80 milhões x 0.5
40 milhões x 0.6
20 milhões x 0.7
10 milhões x 0.8, e – encarnando o significado da histórial mundial, ou pelo menos absorvendo a exaltação neorreacionária –
10 milhões x 1.0

Aproximadamente 3% da população original agora vive em uma sociedade verdadeiramente livre. Para Caplan e outros proponentes do MLS, claro, nada que seja foi ganho.

Ainda assim, assuma, ao invés do universalismo utilitários do MLS, sobre fundamentos profundamente desigualitários, que a quantidade agregada de liberdade fosse considerada de importância vastamente menor do que a qualidade exemplar da liberdade, então a realização neorreacionária é gritante. Onde a liberdade não existia em nenhum lugar, agora ela existe, a um custo essencialmente irrelevante de deterioração socialista moderada em outros lugares. Metade da população original – 160 milhões de almas – foi agora liberada para gozar de uma sociedade ‘mais justa’ do que conheciam antes. Por que não lhes parabenizar pelo fato, sem ser distraído indevidamente pela fome e pelos campos de reeducação? Pode-se confiantemente presumir que eles teriam votado pelo regime que agora toma conta deles. Seus arranjos políticos internos não precisam mais nos preocupar.

Para a Neorreação (O MN), não é uma questão de se as pessoas (em geral) são livres, mas apenas se a liberdade existe (em algum lugar). A mais alta obtenção de liberdade dentro do sistema, em vez do nível médio de liberdade ao longo de todo o sistema, é sua esmagadora prioridade. Ao reverter o processo de redistribuição demográfica vislumbrado pelo MLS, seus fins são alcançados.

As conclusões utilitárias de soma zero desta comparação seriam perturbadas por uma elaboração mais concreta do MN, na qual os efeitos da exemplaridade, da concorrência, das externalidades positivas do desempenho tecno-econômico e de outras influências da liberdade fossem incluídos. No presente nível de abstração – estabelecido pelo próprio modelo (LS) de Caplan – tais desdobramentos positivos poderiam parecer não mais do que concessões sentimentais ao sentimento comum. É a essência cruel do Modelo Neorreacionário que tem, inicialmente, que se afirmar. Melhor a maior liberdade possível, mesmo que para uns poucos, do que uma liberdade menor para todos. A qualidade é o que mais importa.

A objeção semi-rawlesiana – completamente implícita dentro do MLS – poderia ser: “E se a sociedade livre, conforme a ‘probabilidade’ dita, não fosse a sua?” – nossa réplica: “Seria necessário um egoísta desprezível para não se deliciar com ela, mesmo à distância, como um farol de aspiração, e um idiota ou canalha para não partir no mesmo caminho, de qualquer maneira que eles fossem capazes”.

Desintegre o destino.

Original.

Libertarianismo Suicida (Parte D’oh)

Quando se trata da corrida suicida libertária, Bryan Caplan deixa Don Boudreaux no pó. Caplan assume o Princípio da Não Agressão e corre com ele por todo caminho até alcançar um culto de morte auto-dirigido de máxima velocidade. (Auto-dirigido unicamente no sentido ideológico, claro.) Dados os consideráveis méritos deste livro em particular, é uma coisa triste de se ver.

O libertarianismo americano sempre esteve vulnerável à extravagância espiritual neo-puritana. Caplan sistematicamente empurra esta tendência ao seu limite, divorciando seus argumentos de qualquer estimativa realista das consequências e o transformando em uma forma de fanatismo moral deontológico, no qual auto-defesa, retaliação e fronteiras estão estritamente proibidas. Ele vislumbra um mundo de jogos no qual apenas o altruísmo unilateral é permissível ao jogador libertário. Seria engraçado jogar algumas rodadas do dilema do prisioneiro com ele.

Naturalmente, quando se trata do apoio incondicional para as fronteiras abertas, independente das consequências políticas, Caplan se apressa para defender Boudreaux. Prestativamente, ele linka para seu próprio extenso arquivo sobre o tópico, através de um portal para uma série de posts extremamente repetitivos (aqui, aqui e aqui – ler qualquer um será o suficiente).

Talvez Caplan realmente creia em seus próprios argumentos, mas se é assim, ele se deixou louco. Se você duvidar disso por um momento, vai ser apenas por um momento – tente isto:

Se você se importa tanto com imigrantes quanto com nativos, não há nenhuma razão para se opor à imigração. Considere o seguinte exemplo:

Suponha que existem dois países com populações iguais. A qualidade das políticas vai de 0 a 10, 10 sendo a melhor. No país A, os pontos de felicidade (a primeira escolha de políticas das pessoas) estão uniformemente distribuídos de 2 a 6. No país B, os pontos de felicidade estão uniformemente distribuídos de 4 a 8.

O que a concorrência democrática entrega? Quando os países são independentes, o país A fica com uma qualidade política de 4 ( a mediana da distribuição uniforme de 2 a 6), e o país B fica com uma qualidade política de 6 (a mediana da distribuição uniforme de 4 a 8). A política média sob a qual as pessoas vivem: 50%*4+50%*6-5.

Agora suponha que você abra as fronteiras, e todo mundo se mude para o país B (o país mais rico). A mediana de toda a distribuição é 5. Resultado: Os imigrantes vivem sob políticas melhores, os nativos vivem sob políticas piores. A média (5) continua inalterada.

Já está sem palavras? (Estou na metade de um post, então não posso me dar ao luxo de estar.) O argumento: Qualquer tentativa de viver sob um regime que é qualquer coisa além da idiotice política média da humanidade como um todo é uma grave violação dos direitos humanos.

Você não gosta da maneira em que os paquistaneses administram seus assuntos nacionais? Que pena. O libertarianismo (no estilo Caplan) insiste que é seu dever promover a homogeneização das culturas políticas do mundo porque, afinal, se há qualquer coisa boa que seja acontecendo do seu lado, pense o quão feliz ela deixará os paquistaneses quando ela for compartilhada. Ir de cabeça na direção de um mingau mexido de capitalismo liberal profundamente degenerado e islamo-feudalismo é o melhor para todo mundo, tomado em média. Se não está com o gosto certo, é porque você ainda não jogou guerra tribal africana e caça de cabeças polinésia o suficiente para conseguir o impacto moral completo. Ou que tal misturar Singapura e Bangladesh em uma pasta humana? Qualquer coisa a menos é equivalente a genocídio.

Este argumento é tão ruim que a própria ideia de responder a ele me faz vomitar um pouco na minha boca, mas o dever me chama. Uma vez que Caplan alega ser um libertário, vamos começar com um princípio irrepreensível – a concorrência. Se qualquer instituição funciona, é porque a concorrência a mantém na linha. Isto requer uma série de coisas, todas elas incompatíveis como a homogeneização: variação experimental, suporte diferencial à comparação, absorção local das consequências e seleção através da eliminação da falha.

Considere duas companhias. Effective Inc. e Loserbum Corp. Ambas têm culturas corporativas muito diferentes, adequadamente refletidas em seus nomes. Sob condições de mercado, a Loserbum Corp. ou aprende algumas lições da Effective Inc., ou vai à falência. Benefício líquido ou nenhuma grande perda para o mundo em ambos os casos.
Mas lá vem o Caplan, para maldizer os acionistas, a administração e outros empregados da Effective Inc. “Seus monstros! Vocês não se importam mesmo com os caras da Loserbum Corp.? Eles têm o mesmo status moral que vocês, vocês não sabem? Eis aqui o verdadeiro plano radical de livre mercado: Todos os administradores e trabalhadores da Loserbum entram na sua companhia, trabalham ali, introduzem suas estratégias de negócio e práticas de trabalho, até que alcancemos um equilíbrio. Mercados são sobre equilíbrio, sabe? Claro, a Effective Inc. se degenerará de maneira significativa, mas imagine todos os ganhos de utilidade para os pobres Loserbums! Lavou, está novo.”
Mas… mas… países não são empresas. Bem, talvez não exatamente, mas eles são instituições competitivas ou, pelo menos, quanto mais o forem, melhor funcionam. A coisa mais importante é igualmente verdadeira sobre ambos – na medida em que forem capazes de externalizar e reunir sua falha, menos eles aprenderão.
Em um mundo que tem qualquer chance de funcionar, a cultura Loserbum tem uma escolha: aprender ou falir. Caplan introduz uma terceira possibilidade – compartilhar (calcular a média ou homogeneizar). Sua matemática é idiota. A contribuição que Singapura faz ao mundo não tem quase nada a ver com os ganhos de utilidade de sua minúscula população. Em vez disso, é um modelo – Effective Inc. – cuja contribuição para o mundo é mostrar para todos os Loserbums o que eles são. Inunde-a com Loserbums, a destrua, e essa função se vai. Se isso tivesse acontecido antes do final dos anos 1970, a RPC provavelmente ainda seria um buraco infernal neo-maoista. Ela não inundou Singapura com 300 milhões de camponeses pobres, em vez disso, ela aprendeu com o exemplo de Singapura. É assim que o mundo realmente funciona (quando funciona). Exemplos institucionais importam. O mundo de Caplan aniquilaria todos eles, deixando os três quartos de Loserbums razoavelmente na média, grunhindo uns com os outros em um pântano libertário-comunista. Nada funcionaria em lugar nenhum. Não poderia haver nenhuma lição.

Ainda assim, Caplan tem outros argumentos. O melhor, de longe, é que naufragar uma sociedade ao ponto da detestação mútua generalizada é a melhor maneira de reduzir o estado de bem-estar social. Ele segue assim:

Embora imigrantes pobres sejam mais propensos a apoiar um estado de bem-estar social maior do que os nativos, a presença de imigrantes pobres faz os nativos se voltarem contra o estado de bem-estar social. Por que seria assim? Via de regra, as pessoas estão feliz em votar para “tomar conta dos seus”; o estado de bem-estar social é todo sobre isso. Então, quando os pobres são culturalmente muito similares aos ricos, como eles são em lugares como a Dinamarca e a Suécia, o apoio ao estado de bem-estar social tende a ser uniformemente forte.

Conforme os pobres se tornam mais culturalmente distantes dos ricos, contudo, o apoio ao estado de bem-estar social se torna mais fraco e menos uniforme.

Este argumento é tão incrivelmente Mad Max que, na verdade, eu gosto até bastante dele. Queime o mundo e você leva o estado de bem-estar social com ele. Yeaaaaaahhhhh! (Deixarei que vozes mais responsáveis apontem quaisquer possíveis falhas.)

Depois tem o argumento “não nativos são marcadamente menos propensos a votar do que os nativos” (do mesmo post, e todo o resto). Faz você pensar o que uma grande população de anti-capitalistas com direito ao voto mas não votantes engendra. Algo bom, por certo?

O melhor de tudo é a analogia contorcionista de cobertura: “Eleitores nativos abaixo dos 30 são mais hostis aos mercados e à liberdade do que os imigrantes jamais foram. Por que não apenas expulsá-los?” Ah sim, ah sim, podemos? Ou, pelo menos, impedi-los de votar. Sem algum arranjo para a remoção em massa do direito de voto dos eleitores esquerdistas, não há qualquer chance de nada além da decadência continua, e a restrição de idade poderia ser um lugar tão bom quanto qualquer outro para se começar.

Minha posição em uma frase… é que as restrições de imigração são um crime vastamente maior contra os mercados e a liberdade do que qualquer coisa que os eleitores imigrantes têm probabilidade de fazer.

Graças a Gnon, ninguém ouve os libertários.

ADICIONADO: Caplan redobra, com algumas hipóteses de dar água na boca. Se os Estados jamais fizessem esse tipo de escolhas, seria divertido mantê-los por perto, mas todo o ponto é que é claro que eles nunca as fariam. (Não perca a seção de comentários sombriamente infiltrada.)
… e ainda mais hipóteses contra-democráticas atraentes. Na hora em que os libertários deontológicos tiverem acabado com isso, eles terão desenhado uma plataforma política neorreacionária minuciosamente detalhada para nós.

Original.

Libertarianismo Suicida

Confissão Nº 1: Eu geralmente gosto muito do que Don Boudreaux escreve

Confissão Nº 2: Eu acho que isto é simplesmente insano. Com isso eu quero dizer: eu simplesmente não entendo, de forma alguma.

Boudreaux começa explicando as preocupações de “alguns amigos cujas opiniões eu tenho a mais alta consideração” de que “os imigrantes usem seu crescente poder político para votar por políticas governamentais que são mais intervencionistas e menos respeitosas para com as liberdades individuais”. Difícil de imaginar, eu sei. Especialmente se se ignora exemplos insignificantes tais como – ummm – o estado da maldita Califórnia.

Depois fica mais estranho. Aprendemos que “a preocupação com os prováveis padrões de votação dos imigrantes não é nada novo. Medos passados parecem, da perspectiva de 2013, terem sido injustificados”. Estou quase envenenando meu sistema nervoso com meu próprio sarcasmo a este ponto, então, em vez disso, eu vou simplesmente perguntar, tão educadamente quanto possível: O que contaria como evidência de que a América está se movendo em uma direção que seja “mais intervencionista e menos respeitosa para com as liberdades individuais”? Isso se pareceria de alguma forma que fosse com o que temos visto – em um modo altamente acelerado – desde a aprovação do Immigration and Nationality Act de 1965?

Aí vem a celebração explícita do suicidalismo libertário:

Mas vamos assumir, por ora, que os imigrantes de hoje – aqueles imigrantes recém chegados e aqueles que chegariam sob um regime de imigração mais liberalizado – estão de fato tão propensos quanto meus preocupados amigos temem a votarem esmagadoramente a favor de mover a política econômica americana em uma direção muito mais dirigista. Tal movimento seria, eu enfática e incondicionalmente concordo, muito ruim. Muito. Ruim. Mesmo.

Eu ainda apoio a imigração aberta. Não consigo me forçar a abandonar o apoio às meus princípios fundamentais apenas porque seguir estes princípios poderia se provar fatal.

A coisa é, isso de fato se provou fatal. É por isso que a neorreação existe.

Original.

O Iluminismo Sombrio, Parte 1

Parte 1: Neo-reacionários se dirigem para a saída

O Iluminismo não é apenas um estado, mas um evento, e um processo. Enquanto designação de um episódio histórico, concentrado no norte da Europa durante o século XVIII, é um dos principais candidatos ao ‘verdadeiro nome’ da modernidade, capturando sua origem e essência (‘Renascença’ e ‘Revolução Industrial’ são outros). Entre ‘iluminismo’ e ‘iluminismo progressista’, há apenas uma diferença elusiva, porque a iluminação leva tempo – e se alimenta de si mesma, porque o iluminismo é auto-confirmador, suas revelações, ‘auto-evidentes’, e porque um ‘iluminismo sombrio’ retrógrado, ou reacionário, quase equivale a uma contradição intrínseca. Tornar-se iluminado, nesse sentido histórico, é reconhecer e depois perseguir uma luz guia.

Houve eras de escuridão e, então, o iluminismo veio. Claramente, o avanço se demonstrou, oferecendo não apenas melhoria, mas também um modelo. Além disso, ao contrário de uma renascença, não há qualquer necessidade de um iluminismo relembrar o que foi perdido ou de enfatizar as atrações do retorno. O reconhecimento elementar do iluminismo já é história Whig em miniatura.

Uma vez que certas verdades iluminadas tenham sido descobertas auto-evidentes, não pode haver volta, e o conservadorismo é preventivamente condenado – predestinado – ao paradoxo. F. A. Hayek, que se recusava a se descrever como um conservador, celebremente resolveu, em vez disso, pelo termo ‘Velho Whig’, que – como ‘liberal clássico’ (ou o ainda mais melancólico ‘remanescente’) – aceita que o progresso não é o que costumava ser. O que poderia ser um Velho Whig, se não um progressista reacionário? E o que diabos é isso?

Claro, muitas pessoas já pensam que sabem com o que o modernismo reacionário se parece e, em meio ao atual colapso de volta aos anos 1930, sua preocupações só deverão crescer. Basicamente, é para isso que serve a palavra com ‘F’, pelo menos no uso progressista. Uma fuga da democracia, sob essas circunstâncias, se conforma tão perfeitamente às expectativas que elude o reconhecimento específico, aparecendo meramente como um atavismo ou uma confirmação de uma terrível repetição.

Ainda assim, algo está acontecendo e é – pelo menos em parte – alguma outra coisa. Um marco foi a discussão, em abril de 2009, hospedada no Cato Unbound, entre pensadores libertários (incluindo Patri Friedman e Peter Thiel) na qual a desilusão com a direção e as possibilidades da política democrática foi expressa com uma franqueza incomum. Thiel resumiua tendência de maneira brusca: “Eu não acredito mais que a liberdade e a democracia são compatíveis”.

Em agosto de 2011, Michael Lind postou uma réplica democrática no Salon, desenterrando uma sujeira impressionantemente fétida e concluindo:

O pavor da democracia por parte de libertários e liberais clássicos é justificado. O libertarianismo realmente é incompatível com a democracia. A maioria dos libertários deixaram claro qual dos dois eles preferem. A única questão que ainda precisa ser resolvida é por que alguém deveria dar atenção aos libertários.

Lind e os ‘neo-reacionários’ parecem estar em amplo acordo de que a democracia não é apenas (ou sequer) um sistema, mas sim um vetor, com uma direção inequívoca. Democracia e ‘democracia progressista’ são sinônimos e indistinguíveis da expansão do estado. Embora governos de ‘extrema direita’ tenham, em raras ocasiões, momentaneamente detido esse processo, sua reversão está para além dos limites da possibilidade democrática. Uma vez que ganhar eleições é esmagadoramente uma questão de comprar votos e que os órgãos informacionais da sociedade (educação e mídia) não são mais resistentes ao suborno do que o eleitorado, um político frugal é simplesmente um político incompetente, e a variante democrática do darwinismo rapidamente elimina esses desajustados do pool genético. Esta é uma realidade que a esquerda aplaude, a direita do establishment amuadamente aceita e contra a qual a direita libertária tem ineficazmente se lamentado. Cada vez mais, contudo, os libertários deixaram de se importar se alguém está lhes ‘da[ndo] atenção’ – eles têm procurado por algo inteiramente diferente: uma saída.

É uma inevitabilidade estrutural que a voz libertária seja abafada na democracia e, de acordo com Lind, ela deveria o ser. Cada vez mais libertários estão propensos a concordar. ‘Voz’ é a democracia em si, em sua estirpe historicamente dominante e rousseauísta. Ela modela o estado como uma representação da vontade popular, e se fazer ouvir significa mais política. Se votar enquanto auto-expressão massificada de povos politicamente empoderados é um pesadelo que engolfa o mundo, adicionar à confusão não ajuda. Ainda mais do que Igualdade-vs-Liberdade, Voz-vs-Saída é a crescente alternativa, e os libertários estão optando pela fuga muda. Patri Friedman observa: “pensamos que a saída livre é tão importante que a chamamos de o único Direito Humano Universal”.

Para os neo-reacionários incondicionais, a democracia não está meramente condenada, ela condena a si própria. Fugir dela se aproxima de um imperativo absoluto. A corrente subterrânea que propele essa antipolítica é reconhecivelmente hobbesiana, um iluminismo sombrio coerente, despojado desde seu princípio de qualquer entusiasmo rousseauísta pela expressão popular. Predisposto, em todo caso, a perceber as massas politicamente despertas como uma turba irracional vociferante, ele concebe a dinâmica da democratização como fundamentalmente degenerativa: sistematicamente consolidando e exacerbando vícios, ressentimentos e deficiências privadas até que atinjam o nível de criminalidade coletiva e corrupção social abrangente. O político democrático e o eleitor estão unidos por um circuito de incitação recíproca, no qual cada lado leva o outro a extremos cada vez mais desavergonhados de canibalismo que vaia e se pavoneia, até que a única alternativa ao gritar seja ser comido.

Onde o iluminismo progressista vê ideais políticos, o iluminismo sombrio vê apetites. Ele aceita que os governos são feitos de pessoas e que elas vão comer bem. Colocando suas expectativas tão baixo quanto razoavelmente possível, ele busca apenas poupar a civilização do deboche frenético, ruinoso, guloso. De Thomas Hobbes a Hans-Herman Hoppe e além, ele pergunta: Como o poder soberano pode ser impedido – ou pelo menos dissuadido – de devorar a sociedade? Ela consistentemente acha as ‘soluções’ democráticas para este problema risíveis, na melhor das hipóteses.

Hoppe advoga uma ‘sociedade de lei privada’ anarco-capitalista, mas, entre monarquia e democracia, ele não hesita (e seu argumento é estritamente hobbesiano):

Como um monopolista hereditário, um rei considera o território e o povo sob seu jugo como sua propriedade pessoal e se engaja na exploração monopolista desta “propriedade”. Sob a democracia, o monopólio e a exploração monopolista não desaparecem. Antes, o que acontece é isto: em vez de um rei e uma nobreza que consideram o país como sua propriedade privada, um zelador temporário e permutável é colocado como encarregado monopolista do país. O zelador não é dono do país, mas enquanto ele estiver no cargo, permite-se que ele o use para vantagem sua e de seus protegidos. Ele é dono seu uso corrente – usufruto – mas não seu capital social. Isso não elimina a exploração. Pelo contrário, torna a exploração menos calculista e a faz ser executada com pouca ou nenhuma consideração pelo capital social. A exploração se torna míope e o consumo de capital será sistematicamente promovido.

Agentes políticos investidos com autoridade transiente por sistemas democráticos multipartidários têm um incentivo esmagador (e demonstravelmente irresistível) de pilhar a sociedade com as maiores rapidez e abrangência possíveis. Qualquer coisa que eles negligenciem roubar – ou ‘deixem na mesa’ – provavelmente será herdada por sucessores políticos a quem não apenas não são conectados, mas, na verdade, se opõem, e que podem, portanto, esperar que utilizem todos os recursos disponíveis em detrimento de seus adversários. O que quer que seja deixado para trás se torna uma arma na mão do seu inimigo. Melhor, então, destruir tudo que não possa ser roubado. Da perspectiva de um político democrático, qualquer tipo de bem social que não seja nem diretamente apropriável, nem atribuível à (sua própria) política partidária é puro desperdício e não conta de nada, ao passo que o infortúnio social mais grave – contanto que possa ser atribuído a uma administração anterior ou adiado até uma subsequente – figura nos cálculos racionais como uma óbvia bênção. As melhorias tecno-econômicas de longo alcance e a acumulação associada de capital cultural que constituíam o progresso social em seu sentido antigo (Whig) não são o interesse político de ninguém. Uma vez que a democracia floresça, eles enfrentam a ameaça imediata de extinção.

A civilização, enquanto processo, é indistinguível da preferência temporal decrescente (ou preocupação declinante com o presente em comparação ao futuro). A democracia, que tanto em teoria quanto no fato histórico evidente acentua a preferência temporal ao ponto de um frenesi alimentício convulsivo, está, assim, tão próxima de uma negação precisa da civilização quanto qualquer coisa poderia estar, aquém de um colapso social instantâneo em barbarismo assassino ou apocalipse zumbi (ao qual ela eventualmente leva). Conforme o vírus democrático queima por entre a sociedade, hábitos e atitudes laboriosamente acumulados de investimento prospectivo, prudente, humano e industrial são substituídos por um consumismo estéril e orgiástico, incontinência financeira e um circo político de ‘reality show’. O amanhã poderia pertencer ao outro time, então é melhor comer tudo agora.

Winston Churchill, que observou, em estilo neo-reacionário, que “o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com o eleitor médio”, é melhor conhecido por sugerir “que a democracia é a pior forma de governo exceto todas as outras que foram tentadas”. Embora nunca exatamente conceda que “OK, a democracia é uma merda (na verdade, ela realmente é uma merda), mas qual é a alternativa?”, a implicação é óbvia. O teor geral desta sensibilidade é atraente para os conservadores modernos, porque ressoa com sua aceitação irônica e desiludida da deterioração civilizacional implacável e com a apreensão intelectual associada do capitalismo como um arranjo social padrão pouco apetitoso, mas ineliminável, que permanece após todas as alternativas catastróficas ou meramente impraticáveis terem sido descartadas. A economia de mercado, neste entendimento, não é mais do que uma estratégia espontânea de sobrevivência que se costura em meio às ruínas de um mundo politicamente devastado. As coisas provavelmente só vão ficar piores para sempre. E assim vai.

Então, qual é a alternativa? (Certamente não faz qualquer sentido vasculhar a década de 1930 em busca de uma.) “Você consegue imaginar uma sociedade pós-demotista do século XXI? Uma que se via como se recuperando da democracia, da mesma forma em que o leste europeu se vê como se recuperando do Comunismo?” pergunta o Lord Sith supremo dos neo-reacionários, Mencius Moldbug. “Bem, eu suponho que isso lhe torna um de nós.”

As influência formativas de Moldbug são austro-libertárias, mas isto está acabado. Como ele explica:

…os libertários não conseguem apresentar uma figura realista de um mundo no qual sua batalha é vencida e permanece vencida. Ele acabam procurando maneiras de empurrar um mundo, no qual o caminho natural ladeira abaixo do Estado  é crescer, de volta ladeira acima. Este prospecto é sisifista, e é compreensível porque atrai tão poucos apoiadores.

Seu despertar para a neo-reação vem com o reconhecimento (hobbesiano) de que soberania não pode ser eliminada, enjaulada ou controlada. Utopias anarco-capitalistas não podem nunca condensar a partir da ficção científica, poderes divididos fluidamente se reúnem novamente como um Exterminador despedaçado, e constituições têm exatamente tanta autoridade real quanto um poder interpretativo soberano as permite ter. O estado não vai a lugar nenhum porque – para aqueles que o operam – ele vale demais para se desistir e, enquanto instanciação concentrada da soberania na sociedade, ninguém pode fazê-lo fazer nada. Se o estado não pode ser eliminado, Moldbug argumenta, pelo menos ele pode ser curado da democracia (ou mau governo sistemático e degenerativo), e a maneira de fazer isso é formalizá-lo. Esta é uma abordagem que ele chama de ‘neo-cameralismo’.

Para um neocameralista, um estado é um negócio que é dono de um país. Um estado deveria ser gerido, como qualquer outro grande negócio, dividindo-se a propriedade lógica em ações negociáveis, cada uma das quais rende um fração precisa do lucro do estado. (Um estado bem administrado é muito lucrativo.) Cada ação tem um voto, e os acionistas elegem um conselho que contrata e demite gerentes.
Os clientes deste negócio são seus residentes. Um estado neocameralista gerido lucrativamente, como qualquer negócio, servirá a seus clientes de maneira eficiente e efetiva. Mau governo é igual a mau gerenciamento.

Primeiramente, é essencial esmagar o mito democrático de que um estado ‘pertence’ aos cidadãos. O ponto do neo-cameralismo é comprar as partes interessadas no poder soberano, para não perpetuar mentiras sentimentais sobre o direito das massas ao voto. A menos que a propriedade do estado seja formalmente transferida para as mãos de seus reais governantes, a transição neo-cameral simplesmente não ocorrerá, o poder continuará nas sombras, e a farsa democrática continuará.

Assim, em segundo lugar, a classe dominante deve ser plausivelmente identificada. Deveria ser imediatamente notado, em contra-distinção aos princípios marxistas da análise social, que essa não é a ‘burguesia capitalista’. Logicamente, não pode ser. O poder da classe empresarial já está sempre claramente formalizado, em termos monetários, de modo que a identificação do capital com o poder político é perfeitamente redundante. É necessário perguntar, em vez disso, a quem os capitalistas pagam por favores políticos, quanto estes favores potencialmente valem, e como a autoridade de concedê-los está distribuída. Isto requer, com um mínimo de irritação moral, que toda a paisagem social do suborno político (‘lobby’) seja mapeada de maneira exata e que os privilégios administrativos, legislativos, judiciais, midiáticos e acadêmicos acessados por tais subornos sejam convertidos em ações fungíveis. Na medida em que vale a pena subornar os eleitores, não há qualquer necessidade de excluí-los inteiramente deste cálculo, embora sua porção de soberania seja estimada com o escárnio apropriado. A conclusão deste exercício é o mapeamento de uma entidade governante que é a instância verdadeiramente dominante do regime democrático. Moldbug a chama de a Catedral.

A formalização dos poderes políticos, em terceiro lugar, permite a possibilidade do governo efetivo. Uma vez que o universo da corrupção democrática seja convertido em uma participação acionária (livremente transferível) na gov-corp, os donos do estado podem iniciar a governança corporativa racional, começando com o apontamento de um CEO. Como com qualquer negócio, os interesses do estado estão agora formalizados de maneira precisa como maximização do valor acionário de longo prazo. Não há mais qualquer necessidade de que os residentes (clientes) tenham qualquer interesse em qualquer política que seja. Na verdade, fazê-lo seria exibir tendências semi-criminosas. Se a gov-corp não entrega um valor aceitável por seus impostos (aluguel soberano), eles podem notificar sua função de serviço ao consumidor e, se necessário, levar sua clientela para outro lugar. A gov-corp deveria se concentrar em operar um país eficiente, atraente, vital, limpo e seguro, de um tipo que seja capaz de atrair clientes. Nenhuma voz, saída livre.

…embora a abordagem neocameralista completa nunca tenha sido tentada, seus equivalentes históricos mais próximos desta abordagem são a tradição do século XVIII de absolutismo iluminado, como representado por Frederico, o Grande, e a tradição não-democrática do século XXI, como visto em fragmentos perdidos do Império Britânico, tais como Hong Kong, Singapura e Dubai. Estes estados parecem fornecer uma qualidade bastante alta de serviço a seus cidadãos, sem qualquer democracia significativa que seja. Eles têm níveis mínimos de crime e altos níveis de liberdade pessoal e econômica. Eles tendem a ser bastante prósperos. Eles são fracos apenas em liberdade política, e liberdade política é desimportante por definição quando o governo é estável e efetivo.

Na antiguidade europeia clássica, a democracia era reconhecida como uma fase familiar de desenvolvimento político cíclico, fundamentalmente decadente em natureza e preliminar a uma descida à tirania. Hoje, este entendimento clássico está completamente perdido e foi substituído por uma ideologia democrática global, carecendo inteiramente de auto-reflexão, que é afirmada, não como uma tese social-científica crível ou sequer como uma aspiração popular espontânea, mas sim como uma crença religiosa, de um tipo específico e historicamente identificável:

…uma tradição recebida que eu chamo de Universalismo, que é um secto cristão não-teísta. Alguns outros rótulos atuais para esta mesma tradição, mais ou menos sinônimos, são progressismo, multiculturalismo, liberalismo, humanismo, esquerdismo, politicamente correto e similares. …o Universalismo é o ramo moderno dominante do cristianismo na linha calvinista, tendo evoluído a partir da tradição inglesa dissidente ou puritana, através dos movimentos Unitário, Transcendentalista e Progressista. Seu espinhoso caminho ancestral também inclui alguns raminhos laterais que são importantes o suficientes para nomear, mas cuja ancestralidade cristã é ligeiramente mais bem dissimulada, tais como o laicismo rousseauviano, o utilitarismo benthamita, o judaísmo reformado, o positivismo comteano, o idealismo alemão, o socialismo científico marxista, o existencialismo sartreano, o pós-modernismo heideggeriano, etc, etc, etc. …o Universalismo, em minha opinião, é melhor descrito como um culto dos mistérios do poder. …É tão difícil imaginar o Universalismo sem o Estado quanto a malária sem o mosquito. …O ponto é que esta coisa, como quer que você se importe de chamá-la, tem pelo menos duzentos anos de idade e provavelmente algo como quinhentos. É basicamente a própria Reforma. …E simplesmente despertar para ela e a denunciar como má tem tanta probabilidade de funcionar quanto processar Shub-Niggurath no tribunal de pequenas causas.

Para compreender o aparecimento de nosso predicamento contemporâneo, caracterizado pela expansão implacável e totalizante do estado, pela proliferação de ‘direitos humanos’ positivos espúrios (reivindicações sobre os recursos de outros apoiados por burocracias coercitivas), dinheiro politizado, temerárias ‘guerras pela democracia’ evangélicas e controle abrangente do pensamento, arranjado em defesa do dogma universalista (acompanhado pela degradação da ciência em uma função de relações públicas do governo), é necessário se perguntar como Massachusetts veio a conquistar o mundo, como Moldbug o faz. Com cada ano que passa, o ideal internacional da boa governança se encontra aproximando-se mais intima e rigidamente dos padrões estabelecidos pelos departamentos de Estudos das Reclamações das universidades da Nova Inglaterra. Esta é a divina providência dos ranters e dos levelers, elevada a uma teleologia planetária e consolidada como o reino da Catedral.

A Catedral substituiu com seu evangelho tudo que conhecíamos. Considere apenas as preocupações expressas pelos pais fundadores da América (compilado pelo comentário #1 do ‘Liberty-clinger’ aqui):

Uma democracia não é nada mais do que o domínio da turba, onde 51% das pessoas podem retirar os direitos dos outros 49%. – Thomas Jefferson

A democracia são dois lobos e um cordeiro votando sobre o que comer no almoço. A liberdade é um cordeiro bem armado contestando o voto! – Benjamin Franklin

A democracia nunca dura muito. Ela logo desperdiça, exaure e se assassina. Nunca houve uma democracia, até hoje, que não tenha cometido suicídio. – John Adams

As democracias sempre foram espetáculos de turbulência e contenção; sempre foram descobertas incompatíveis com a segurança pessoal ou os direitos de propriedade; e, em geral, foram tão curtas em suas vidas quanto foram violentas em sua morte. – James Madison

Somos um Governo Republicano, a Real liberdade nunca é encontrada no despotismo ou nos extremos da democracia… foi observado que uma democracia pura, se fosse praticável, seria o governo mais perfeito. A experiência provou que nenhuma posição é mais falsa do que esta. As antigas democracias, na quais as próprias pessoas deliberavam, nunca possuíram uma boa característica de governo. Seu próprio caráter era a tirania… – Alexander Hamilton

Mais sobre votar com seus pés (e do gênio incandescente de Moldbug), a seguir…

Nota adicionada (7 de Março):

Não confie na atribuição da citação de ‘Benjamin Franklin’ acima. De acordo com Barry Popik, o ditado provavelmente foi inventado por James Bovard em 1992. (Bovard observa, em outro lugar: “Há poucos erros mais perigosos no pensamento político do que igualar a democracia à liberdade”.)

Original.

Notas de Citação (#1)

Doug Casey, entrevistado no The Daily Bell:

As coisas parecem ter ficado melhor no mundo nos últimos anos, desde que começaram com a flexibilização quantidade – ou seja, impressão de moeda. Claro, se você criar trilhões de dólares de unidades de moeda, isso faz as pessoas se sentirem mais ricas do que realmente são e as encoraja a continuar vivendo acima de suas possibilidades. Apenas garante uma depressão ainda pior. O que está por vir vai ser a maior coisa da história moderna. Não vai ser apenas financeira e econômica. Vai ser um terremoto político, social e militar também.

E:

O século XIX foi a época mais pacífica e próspera da história mundial. E a taxa de crescimento era bem mais alta, e mais sólida, do que é hoje, também. Isso foi, em grande parte, porque o estado era uma influência relativamente menor na sociedade. A inflação não existia, porque o ouro era dinheiro – o ouro era a moeda internacional – os impostos eram extremamente baixos, as regulamentações eram pequenas. A resposta é voltar para alguma coisa que realmente funcionava, que era o sistema econômico que usávamos no século XIX. Não era o capitalismo laissez-faire, mas estava de longe mais próximo dele do que o que temos hoje, o que seria dizer, nada além de variações do socialismo e do fascismo.

Original.

NRx e Liberalismo

Em muito do campo neorreacionário, ‘liberalismo’ é o ponto final da discussão. Sua função argumentativa é exatamente aquela de ‘racismo’ para a esquerda. A única questão, até onde essa postura está preocupada, é se é possível fazer o termo colar. Uma vez que a letra escarlate do ostracismo microcultural seja atribuída, não há mais nada mais para se discutir. É improvável que isto mude, exceto nas margens.

A preliminar óbvia a este tópico é, se não exatamente ‘inglês americano’, algo do tipo. ‘Liberalismo’, na língua americana, chegou a um espaço estranho, exclusivo desse continente. É notável e incontroverso, por exemplo, que a noção de um ‘liberal de direita’ é considerada um oximoro perfeito pelos falantes americanos, onde, na Europa – e, especialmente, na Europa continental – ela está próxima de um pleonasmo. Uma vez que nós ainda, em uma medida bastante considerável, habitamos um mundo americano, o termo expandido ‘liberal clássico’ agora é requerido para transmitir o sentido tradicional. Um bretão de inclinações capitalistas provavelmente favorecerá ‘Liberal de Manchester’ por suas associações históricas com a ideologia explícita da revolução industrial. Em todo caso, a discussão tem sido inquestionavelmente complicada.

A linguagem política tende a se tornar dialética, no sentido mais depravado (hegeliano) deste termo. Ela se balança desvairadamente para dentro de seu oposto, conforme é trocada como uma bandeira contestada entre partes conflitantes. Significâncias políticas estáveis se aplicam apenas ao que quer que a esquerda (a ‘oposição’ ou ‘resistência’) ainda não tenha tocado. Uma outra consideração, então, para aqueles dispostos à fé ingênua em signos ideológicos como marcadores heráldicos. (É uma que ameaça a desviar este post para dentro de uma digressão excessiva e deve, assim, ser deixada – na linguagem da Wikipédia – como um ‘esboço’.)

A proposta deste blog é situar ‘liberal’ na intersecção de três termos, cada um essencial a qualquer significado recuperável e culturalmente tenaz. Ele é irredutivelmente moderno, inglês e contra-político. ‘Liberdades antigas’ são pelo menos imagináveis, mas um liberalismo antigo não é. Pode-se desejar a melhor sorte para liberalismos estrangeiros, porque eles certamente precisarão dela (uma exceção aos holandeses, apenas, é plausível aqui). Liberalismo político é, desde o princípio, um paradoxo prático, embora talvez, em certos casos raros, um que valha a pena perseguir.

Burke é, sem espaço sério para dúvida, um liberal neste sentido. Ele é até mesmo sua epítome.

O conteúdo positivo deste liberalismo é a cultura não-estatal do modernismo inglês (primordial), como representado (com um bocadinho de ironia étnica) pelos pensadores do Iluminismo Escocês, pela tradição da ordem espontânea em sua linhagem anglófona, pela concepção de sociedade comercial como alívio da política e pelas abordagens naturalistas (‘darwinistas’) que posicionam o dinamismo distribuído e competitivo como o princípio explicativo e genético absoluto. Esta é a fundação cultural que tornou o inglês a língua comum da modernidade global (como já foi amplamente observado). Na economia política, seu princípio supremo é a catalaxia (e, apenas muito condicionalmente, a monarquia).

É a partir desta matriz cultural que Peter Thiel fala, quando ele diz (notoriamente):

Eu não acredito mais que liberdade e democracia sejam compatíveis.

A democracia é criticada da perspectiva do (antigo) liberalismo. A compreensão é perfeitamente (mesmo que, sem dúvidas, incompletamente) hoppeana. É uma quebra que preparou muitos (o autor deste blog incluso) para Moldbug e estruturou sua recepção. Ela também estabeleceu limites. A democracia é denunciada, fundamentalmente, por sua traição à liberdade anglo-modernista. A formulação de Hoppe não pode ser melhorada:

A democracia não tem nada a ver com a liberdade. A democracia é uma variante branda do comunismo e raramente na história das ideias ela foi tomada como qualquer outra coisa.

Os comentários explícitos de Moldbug sobre este ponto são notavelmente consistentes, mas não sem ambiguidades. Ele escreve (eu contendo, tipicamente):

A verdade sobre o “libertarianismo” é que, em geral, embora soberania seja soberania, o soberano – quer seja homem, mulher ou comitê – esteja acima da lei por definição e não haja qualquer fórmula ou ciência do governo, as políticas libertárias tendem a ser boas. Tampouco precisávamos de Hayek para nos dizer isso. Era sabido por meu homônimo, mais de dois milênios atrás. […]Wu wei – pois este é seu verdadeiro nome – é uma política pública para um príncipe virtuoso, não um comitê gigantesco. O príncipe virtuoso deveria praticar wu wei e irá; esta é sua natureza. Os homens se reunirão em seu reino e prosperarão ali. O príncipe mau cometerá atrocidades; esta é sua natureza. Os homens fugirão de seu reino e deverão fazê-lo assim que possível, antes que ele coloque os campos minados.

Esta reunião e fuga deve ser conceitualmente subordinada à análise da soberania ou – em contraste (e à maneira de Canuto, o Grande) – colocada acima dela, como o Mandato do Céu acima do Imperador, o que é dizer: como o contexto envolvente das relações externas, fundamentado apenas no Lá Fora? A despeito de acusações antecipadas de má fé, essa é uma questão séria e uma que não pode plausivelmente ser considerada simplesmente exterior à obra e ao pensamento de Moldbug.

Em todo caso, é a linhagem da Liberdade Inglesa (e, para além dela, Wu wei, ou o Mandato do Céu) que comanda nossa lealdade aqui. Na medida em que Moldbug contribui com isso, ele é um aliado, de outra forma, um inimigo, o brilhantismo e a imensa estimulação de seu corpus não obstantes. A NRx, da maneira em que agora existe, similarmente.

“… o Estado não deveria estar administrando as mentes de seus cidadãos” escreve Moldbug. (Isso é, na verdade, um pouco mais moralista – em uma admirável direção liberal – do que aquilo com que eu estou totalmente confortável.)

Original.