O Desvendamento

Uma democracia não pode sobreviver como forma permanente de governo. Ela só pode durar até que seus cidadãos descubram que eles podem votar benesses para si mesmos vindas dos cofres públicos. Deste momento em diante, a maioria (que vota) votará nos candidatos que prometam os maiores benefícios vindos do erário público, com o resultado de que uma democracia sempre colapsará por conta de políticas ficais relaxadas, sempre seguidas por uma ditadura. – Macaulay [ou a ‘Calúnia de Tytler‘ (obrigado Matt)]

Do Urban Dictionary, Democracia:

1) Um sistema comum de governo, dirigido pelos caprichos das massas e marcado por uma baixa tolerância a direitos humanos básicos e ao senso comum; primariamente usado para se transicionar, de maneira incremental, de um governo regrado pelo direito comum (República) para um governo regrado pela lei política de uma pequena elite (Oligarquia).

Conforme o declive continua, o entendimento perene do estadismo anti-demótico (e compreensão iniciadora da nova reação) parece estar ficando mainstream. Alex Berezow escreve no blog The Compass do Realclearworld:

Têm sido anos duros para a democracia. Apesar disso, os ocidentais sempre parecem assumir que a forma mais altamente evoluída de governo é democrática. O problema com essa noção é que, em algum ponto, a maioria dos eleitores percebem que podem votar em políticos que lhes prometam mais coisas, independente de se é uma boa política ou financeiramente sustentável, ou não. E, uma vez que isso ocorra, o país está (talvez irreversivelmente) em um caminho para o declínio.

Embora levianamente insubstancial para os padrões de Moldbug (claro), o artigo nunca retira esta premissa inicial e conclui com a sugestão de que o mundo todo poderia, com lucro, aprender da China as artes de inibição da democracia.

[Nota: os dois artigo imediatamente abaixo do de Berezow no site da RCW são ‘Is Cameron’s EU Strategy Unraveling?’ (“A Estratégia de Cameron na EU Está se Desvendando?”) (por Benedict Brogan) e ‘Libya Is Still Unraveling’ (“A Líbia Ainda Está se Desvendando’ (por Max Boot) – apenas notei (conscientemente). Notícias contemporâneas: tudo se desvendando, todo o tempo.]

O ‘mundo pós-democrático’ terá um princípio claro de legitimidade política? O mais elegante, de longe, seria a introdução da comutatividade no slogan da rebelião colonial da Anglosfera: ‘Nenhuma tributação sem representação’.

Nenhuma representação sem tributação restringe a legitimidade àqueles regimes nos quais aqueles que financiam o governo determinam sua estrutura, escopo e política, em proporção direta à sua contribuição. As melhorias que resultariam desta integração dos circuitos de feedback fiscal e eleitoral do Estado são profundas e numerosas demais para se delinear prontamente, mas elas podem ser resumidas em uma única expectativa: uma mudança radical, irreversível e contínua para a direita.

Entre as objeções antecipadas mais óbvias:
(1) Não é prático (Ah sim, apenas horrores são práticos)
(2) É injusto (Para soldados e tiras, talvez, mas os efeitos deletérios da complicação prevalecem sobre os benefícios do nuance moral)
(3) No Ocidente, pelo menos, os plutocratas brâmanes o desfariam na primeira oportunidade (Uma previsão tristemente plausível – talvez nenhum cultura abraâmica seja capaz de sustentar uma ordem social sã e sempre escolherá resolver problemas de policiamento através da expensão do direito ao voto.)

Concedendo todas estas objeções, e mais, o princípio da política fiscal comutativa ainda fornece um serviço muito valioso: ele explica o que deu errado. A hipertrofia representativa destruiu a ordem constitucional moderna, embasada em uma interpretação unilateral da exigência de que o governo seja feito responsável por suas exações. O equilíbrio (comutatividade) poderia muito bem ser inalcançável, mas não é difícil entender o que ele seria.

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O Problema de Odisseu

A insistência de Moldbug de que a ‘Soberania é conservada’ certamente conta como uma das mais significantes afirmações na história do pensamento político. É, sem dúvida, o axioma fundamental de seu ‘sistema’, e suas implicações são quase inestimavelmente profundas.

A soberania é conservada diz que qualquer coisa que pareça restringir a soberania é em si, na realidade, a verdadeira soberania, restringindo alguma outra coisa, e alguma coisa menor. É, portanto, uma resposta negativa ao Problema de Odisseu: A soberania pode limitar a si mesma? Se a afirmação de Moldbug for aceita, o governo constitucional é impossível, exceto enquanto fútil aspiração, uma ‘mentira nobre’ ou uma piada cínica.

Além dos argumentos poderosos de Moldbug, sabemos, a partir do trabalho de Kurt Gödel, que o Problema de Odisseu é pelo menos parcialmente insolúvel, uma vez que é logicamente impossível que haja um nó perfeito. Não importa o quão bem construída possa ser uma constituição, ela não pode, em princípio, selar a si mesma contra a possibilidade de uma dissolução furtiva. Em uma ordem constitucional suficientemente complexa (auto-referencial), sempre haverão procedimentos permissíveis cujas consequências não foram completamente antecipadas e cuja consistência com a continuação do sistema não pode ser assegurada com antecedência.

Ainda assim, seria obviamente ilusório assumir que tais preocupações ja não estivessem ativas durante a formulação da Constituição Americana. É precisamente porque alguma compreensão bastante lúcida do Problema de Odisseu estava em funcionamento que os fundadores vislumbraram o princípio fundamental do constitucionalismo republicano como uma divisão de poderes, por meio da qual as unidades componentes de uma soberania desintegrada restringiam uns aos outros. O sistema animador de incentivos não deveria repousar sobre uma inocente expectativa de altruísmo ou restrição voluntária, mas sobre uma rede de suspeita sistematicamente integrada, que instalava formalmente o impulso anti-monárquico como uma função durável e distribuída. Se a república fosse funcionar, seria porque o medo do poder em outras mãos permanentemente ultrapassava a ganância por poder em suas próprias.

A Constituição Americana foi, claro, destruída, em ondas sucessivas. Depois de Lincoln e FDR, apenas uma casca patética e ridicularizada permanece. O USG se unificou, e o princípio do poder soberano foi completamente relegitimado na corte da opinião popular. A democracia se elevou conforme a república caiu, expondo ainda mais uma vez o vínculo político essencial do tirano com a plebe, do Leviatã com o povo.

Esta ruína refuta a conjectura constitucional? Não há realmente nada mais a ser dito em defesa de nós imperfeitos (mas talvez cultiváveis)? Este foi horrivelmente desfeito. Poderia haver outros melhores? Este blog permanece obstinadamente interessado no problema…

ADICIONADO: Muitas especulações relevantes e compreensões serão encontradas neste sobre a praticabilidades da secessão (especialmente as seções XI J, XII, XIII e XIV). “Uma vez que é importante que a RFA [ou proposta República Federativa Americana] funcione como uma república constitucional, uma das primeiras coisas que ela deveria fazer é realizar uma convenção constitucional. Antecipamos que o documento resultante será similar à presente constituição americana, mas não idêntico.” Ele inclui algumas recomendações (muito modestas) para reduzir a democracia.

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O Abrigo da Pirâmide

O ‘Monarquismo’ (ou reação carlyleana) de Moldbug repousa sobre a proposição de que a ordem catalática misesiana é, assim como a mecânica newtoniana, verdadeira apenas como um caso especial dentro de um sistema mais geral de princípios.

Ele escreve:

Eis aqui o roteiro carlyleano para a meta misesiana. A ordem espontânea, também conhecida como liberdade, é o nível mais alto de uma pirâmide de necessidades política. Estas necessidades são: paz, segurança, lei e liberdade. Para promover a ordem, sempre trabalhe pelo próximo passo – sem pular passos. Em um estado de guerra, avance em direção à paz; em um estado de insegurança, avance em direção à segurança; em um estado de segurança, avance em direção à lei; em um estado de direito, avance em direção à liberdade.

Alexander Hamilton (Federalist #8) persegue um argumento intimamente relacionado, em reverso:

A segurança contra um perigo externo é o diretor mais poderoso da conduta nacional. Mesmo o ardente amor pela liberdade irá, após um tempo, dar lugar a seus ditames. A destruição violenta de vida e propriedade incidente à guerra, o esforço e alerta contínuos concomitante a um estado de perigo contínuo, irão compelir as nações mais apegadas à liberdade a recorrerem, para seu repouso e segurança, a instituições que têm a tendência de destruir seus direitos civis e políticos. Para ficarem mais seguras, elas, em grande medida, se tornam dispostas a correr o risco de serem menos livres.

Este esquema piramidal é ‘elegante’, mas de maneira alguma sem problemas. Como qualquer estrutura hierárquica que opere dentro de um campo complexo e reflexivo, ela convida loops estranhos que embaralham sua ordem aparentemente coerente. Mesmo aceitando, como o realismo dita, que a guerra existe no nível mais básico de possibilidade social, de modo que a sobrevivência militar fundamenta todas as elaborações ‘superiores’, podemos estar inteiramente confiantes de que as forças cataláticas estão elegantemente confinadas ao âmbito das relações civis pacíficas e sofisticadas? Este modo de análise não leva à conclusão exatamente oposta? Redes auto-organizantes são fortes, e talvez supremamente fortes.

Não há nada óbvio ou incontroverso sobre o modelo da ordem de mercado como uma flor frágil, que floresce tarde e precariamente, dentro de uma estufa construída sobre princípios muito diferentes. O pacto já é catalático, e quem pode dizer – pelo menos, sem uma luta prolongada – que ele é subordinado, em princípio, a uma afirmação mais primordial de ordem. A subordinação é complexa e conflituosa e, embora a Pirâmide certamente tenha um caso, o julgamento da realidade não é facilmente previsível. Uma derradeira (ou básica) liberdade com presas é eminentemente pensável. (Não é sobre isso que fala a Segunda Emenda?)

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Tricotomocracia

Por volta de 2037, as fases duras da Revolta finalmente acabaram. A Eurásia Ocidental está arruinada e confusa, mas o combate se reduziu a cinzas entre os escombros. No Extremo Oriente, a República Confucionista da China foi grandemente bem-sucedida em restaurar a ordem e está até gozando da primeira onda de prosperidade renovada. A guerra civil islâmica continua, mas – agora quase completamente introvertida – é facilmente colocada em quarentena. Ninguém quer pensar demais sobre o que está acontecendo na África.

O território dos extintos EUA é firmemente controlado pela Coalizão Neorreacionária, cuja vantagem é fortalecida pela fuga de 20 milhões de Legalistas da Catedral para o Canadá e para a Europa (incidentalmente derrubando ambos em caos terminal). O Conselho Tricotômico Provisório, selecionado primariamente através de um processo de promoção militar e delegação a partir de dentro dos principais grupos guerrilheiros Neorreacionários, agora se confronta com a tarefa de estabelecer uma ordem política restaurada.

Rapidamente fica óbvio para cada uma das três principais facções Neorreacionárias que futuros desenvolvimentos – mesmo que estes devam incluir uma subdivisão ordeira da nação – dependerão inicialmente da instituição de um governo que equilibre as três grandes correntes que agora dominam o continente norte-americano: Etno-Nacionalistas (“Gênios” ou “Rochosos”); Teonomistas (“Toras” ou “Chiasoures”); e Tecno-Comercialistas (“Ciboides” ou “Cedulosos”). Agora que a Catedral foi completamente extirpada, divergências significativas entre estas três visões do futuro da nação ameaçam se escalar, de maneira imprevisível, até antagonismos perigosos.

Uma vez que o realismo prático, enraizado em um entendimento da dependência de trajetória, é uma herança comum à todas as três facções, há um consenso imediato sobre a necessidade de se começar de onde as coisas estão. Uma vez que uma ordem triangular virtual de agendas parcialmente compatíveis já está refletida na composição do Conselho Provisório, esta é reconhecida como o modelo para um governo emergente e triadicamente estruturado – a ascendente Tricotomocracia Neorreacionária, ou “Trike”. (Uma estátua colossal de Spandrell – o reverenciado barba-branca da Tricotomia – já foi erigida na comparativamente livre de radiação capital provisória de Omaha, contemplando moisaicamente a nova terra prometida, com uma cintilante espada cerimonial samurai colocada triunfantemente acima de sua cabeça.)

Dentro de alguns meses, a fórmula básica da Tricotomocracia foi ajustada no lugar. Ela consiste em três Compartimentos, cada um dominado de forma abrangente por uma das facções principais. Procedimentos para a seleção de oficiais são determinados internamente por cada Compartimento, valendo-se das tradições específicas da hierarquia funcional afinada durante a Guerra Zumbi.

A autoridade é distribuída entre os Compartimentos em um circuito triangular. Cada Compartimento tem uma responsabilidade interna e externa específica – sua própria função governamental positiva, assim como um controle externo (e estritamente negativo, ou inibidor) do Compartimento seguinte. Isto é coloquialmente conhecido como o sistema ‘Rochoso-Chiasouro-Ceduloso’.

Os ‘Rochosos’ Etno-Nacionalistas administram o Compartimento da Segurança, que inclui as funções essenciais do Executivo. Ele é controlado financeiramente pelo Compartimento dos Recursos. Sua responsabilidade externa é a limitação do Compartimento da Lei, cujos estatutos podem ser devolvidos e, em último caso, vetados (mas não positivamente emendados), se forem considerados incompatíveis com aplicação prática. A estrutura do Compartimento da Segurança coincide,em grande parte, com a cadeia de comando militar. (Os Rochosos podem decidir se querem descrever o Comandante Supremo como um monarca constitucional, um senhor supremo da guerra ou um semideus da aniquilação.)

Os ‘Chiasoures’ Teonomistas administram o Compartimento da Lei, que combina funções legislativas e judiciais. Para efeitos de financiamento, o Compartimento da Lei está subordinado ao Compartimento da Segurança, por razões constitucionais óbvias. Isto o mantém pequeno, restringindo seu potencial para atividades legislativas extravagantes. Uma vez que o Compartimento da Segurança também filtra a legislação (de acordo com um critério prático), a Lei da Tricotomocracia é notável por sua clareza, economia e concisão. Todo o edifício da Lei, pelo entendimento informal, está limitado a um único volume de proporções bíblicas. Espera-se que os oficiais Chiasoures sêniores o memorizem. A responsabilidade externa do Compartimento da Lei é restringir o Compartimento dos Recursos, limitando estritamente a legalidade das medidas de levantamento de receitas (vinculadas informalmente a um ‘dízimo’ nacional). A ordem interna do Compatimento é determinada pela hierarquia eclesiástica da Igreja Neorreacionária do Triarquiteto Cósmico.

Os ‘Cedulosos’ Tecno-Comercialistas administram o Compartimento dos Recursos, com o ‘poder do bolso’. Como único Compartimento ‘auto-financiado’, ele é minuciosamente escrutinado pelo Compartimento da Lei, que controla de maneira estrita seus procedimentos de levantamento de receitas. Dominado por uma cabala de capitalistas e tecnólogos extremamente laissez-faire, o Compartimento dos Recursos é guiado pelo mantra de economizar em todas as coisas. Ele faz tão pouco quanto possível, para além do financiamento maximamente parcimonioso do Compartimento da Segurança, com suas próprias operações internas restritas rigorosamente a racionalização de impostos de Pigou, pesquisas estatísticas e a provisão de incentivos ao desenvolvimento no estilo XPRIZE. O conselho do Compartimento é preenchido pelos nove maiores pagadores de impostos, rotacionados a cada três anos. O conselho elege um CEO.

As discrepâncias ideológicas entre os Compartimentos fazem uma importante contribuição à estabilidade da Tricotomocracia, uma vez que limitam o potencial para uma re-amalgamação em uma unidade tirânica. Este é um dos princípios gêmeos através dos quais seu sucesso deve ser estimado – a perpetuação da pluralidade governamental durável. O segundo princípio – imunidade completa à pressão populista – é garantido automaticamente na medida em que a Tricotomocracia perdure, uma vez que nenhum dos Compartimentos são demoticamente sensíveis e, mesmo que este não fosse o caso, cada um está isolado da subversão demótica que afeta qualquer um dos outros. O resultado é um governo que responde apenas a si mesmo, com um si que é irredutivelmente plural e, assim, intrinsecamente auto-crítico.

Sob a mão leve do governo da Tricotomocracia, qualquer ‘cidadão’ que busque participar do governo, de qualquer maneira que seja, tem três opções aberta a ele: (a) Juntar-se aos Serviços de Segurança e subir na hierarquia. (b) Juntar-se à Igreja da Sagrada Triarquia e se tornar adepto da lei; (c) Criar renda vulnerável a impostos o suficiente para conseguir um lugar no Conselho Nacional de Recursos. Poderiam existir, além disso, oportunidades de carreira para um número bem pequeno de administradores profissionais, a depender das políticas internas de pessoal dos três Compartimentos. Qualquer outra ‘política’ seria desordem social criminosa, embora, na maioria dos casos, isso provavelmente seria tratado de maneira leniente, devido a sua completa impotência. Se suficientemente disruptiva, tal comportamento ‘de relíquia demo-zumbi’ seria melhor administrado através de deportação.

(Questões sobre diversidade do governo local, secessão e construção de micro-estados excedem os termos deste acordo inicial Integral-Neorreacionário. Tais potenciais podem apenas fortalecer os controles externos e, assim, restringir ainda mais o escopo da discrição governamental.)

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Casino Royale

Mesmo antes da catástrofe da twiterização e da desintegração terminal do pensamento em nanopartículas, a orquestração sinfônica obviamente não emergia como competência central deste blog. Uma consequência infeliz desta deficiência é que ideias altamente persuasivas para o blog são interminavelmente chutadas como latas, a menos que possam ser facilmente pulverizadas.

“Ideias para o blog” não significa nada grandioso (esse tipo de pensamentos que estilhaçam qualquer coisa em seu caminho e penetram), mas sim pacotes de discussão altamente adaptados ao meio de transmissão, que apresentam as coisas de uma forma que acumulem acessos. O exemplo mais relevante nesse momento é  – ou, melhor, ‘era para ser’ – As X Disputas Fundamentais da Neoreação (‘X’ sendo um número ainda não definido – otimamente, de significância qabalística oculta). Esse filhote teria acumulado visualizações como o Old Faithful, mas a confusão reina, e a paciência acabou. Vai para a máquina de trituração.

As principais provocações a este espasmo de impaciência são dois posts sobre o tópico do monarquismo, no Anomaly UK e no More Right. O grande post no AUK é estruturado como um cenário de ficção científica, modelando um futuro regime monarquista, ao passo que a defesa de Michael Anissimov no MR do “tradicionalismo e monarquismo” é organizada de forma dialética. Ambos servem para consolidar uma afinidade entre a neorreação e os ideais monarquistas que já estava estabelecida pelo Jacobitismo de Moldbug. Não seria desarrazoado propor que esta afinidade é forte o suficiente para se aproximar de uma identidade (o que bem possivelmente é o que ambos esses autores contemplam). Assim, o momento de se enquadrar o argumento monarquista dentro de uma questão, como uma Disputa Fundamental da Neorreação, é agora.

Talvez a primeira coisa a se notar é que, muito embora este blog adote a posição antimonárquica nesta disputa, ele acha a descrição do Anomaly UK de uma futura Grã-Bretanha notavelmente atraente e – sem qualquer hesitação – uma vasta melhoria do atual estado sinistro dos arranjos políticos daquele país. Além disso, não há uma única objeção à ideia monarquista, entre as dez listadas por Anissimov, que achemos sequer ligeiramente convincentes. Se aquelas fossem as razões para se recusar o governo monárquico, qualquer sugestão de sentimento republicano nos impressionaria como uma perversão detestável. Nossa insatisfação com a solução monarquista tem outros fundamentos.

A preocupação primária é abstratamente constitucional, ou seja, ela surge de considerações de engenharia política. Para nossos propósitos aqui, o conceito de ‘governo constitucional’ pode ser especificado de forma bem exata, referindo-se a um desenho do mecanismo de poder que alcança fechamento cibernético. Uma constituição adequada projeta uma fragmentação de autoridade, de modo que cada elemento não seja mais controlado do que controlador, com o resultado de que a soberania emerge a partir de um sistema distribuído, em vez de ser inerente, em forma concentrada, a qualquer nó em particular. O modelo mais simples para um sistema desses é um triângulo dinâmico, comparável ao circuito de papel-tesoura-pedra, em que o poder flui de maneira não linear, ou circula. Assim concebida, uma constituição é um plano para a dissolução de reservatórios de poder, no qual a função administrativa ótima de cada nó é um contrapeso, ou restrição, à autoridade efetiva dos nós seguintes (dentro de um arranjo circular). A realização da autolimitação governamental dinamicamente estável através da fragmentação estratégica (de funções e poderes) é o objetivo constitucional.

Claramente, o monarquismo representa um abandono definitivo desta ambição constitucional. Ele afirma que, uma vez que a soberania não pode ser efetiva ou permanentemente desmantelada, a atenção racional está melhor focada em sua expressão concentrada. O argumento monarquista é capaz de extrair grande sustentação da manifesta degeneração do constitucionalismo republicano – mais obviamente dentro dos Estados Unidos da América – onde sua possibilidade mais radicalmente deteriorada, a democracia de massas, revela uma inferioridade dificilmente contestável em relação ao governo monárquico nas manchetes de notícias de cada dia. É necessário enfatizar, neste ponto, que qualquer republicanismo constitucional que seja menos antidemocrático do que a monarquia absoluta é, neste sentido, desprezível. A neorreação é essencialmente antidemocrática, mas apenas hipoteticamente monarquista.

O republicanismo, assim como a monarquia, tem um arquivo histórico rico e profundo de exemplos em que se basear, que remonta à antiguidade clássica. A confusão entre governo republicano e democracia é uma eventualidade recente e infeliz. As razões históricas desta confusão não são, de forma alguma, triviais, mas tampouco elas apontam inexoravelmente para a conclusão monarquista. É especialmente importante considerar a possibilidade de que a destruição domótica dos regimes monárquicos e das repúblicas funcionais foi um processo paralelo, em vez de uma sucessão (na qual o republicanismo teria servido como uma estágio intermediário de desorganização política). Uma análise histórica detalhada das revoluções de 1848 exibiria um pouco da complexidade que este tópico introduz. Em particular,  isso levanta a questão de por que o modelo da República Holandesa (1581-1795) foi incapaz de oferecer um padrão de governo constitucional de relevância efetiva para além da Anglosfera. Da perspectiva do republicanismo constitucional, a influência limitada do exemplo holandês marca um bifurcação histórica fatal, que expôs os povos europeus à calamitosa luta bipolar entre forças monárquicas e democráticas (a partir da qual nossa presente ruína foi tramada). Também é imediatamente evidente, a partir desta perspectiva, que a emergência da organização econômica avançada é inextricável da propagação do modelo holandês (transplantado para o Reino Unido pela Revolução Gloriosa de 1688 e dali para o Novo Mundo Anglófono). Uma vez que o capitalismo é a epítome do fecho cibernético – um sistema sem nós não controlados – essas conexões não deveriam nos surpreender.

Uma vez que o monarquismo descarta a possibilidade de fechamento cibernético e, assim, nos pede para aceitar a inevitabilidade de nós não controlados, ou a soberania concentrada, ele necessariamente se compromete em relação aos prospectos da seleção meritocrática. Ele argumenta, de maneira sólida o suficiente, que podemos fazer bem pior do que reis e que o fizemos, mas, ao fazer este argumento, ele fica bem aquém do mecanismo selecionador de excelência que o capitalismo rotineiramente demonstra. Quando Moldbug compara um monarca a um CEO, é com o entendimento de que – sob condições de aproximada livre iniciativa – a liderança empresarial foi socialmente peneirada em busca de talentos raros, de uma forma que a sucessão dinástica não conseguiria igualar. O fato de que o resultado da seleção democrática-eleitoral é, de forma confiável, bem pior do que a alternativa monárquica não indica que a ‘realeza’ represente uma solução impressionante para o problema meritocrático – ela simplesmente é menos apavorante que a que atualmente predomina entre nossos sistemas políticos contemporâneos. É o capitalismo que encontrou a solução, da qual qualquer política racional buscaria aprender.

Que a monarquia é superior à democracia é um ponto seguro de consenso neorreacionário, mas esta é uma marca extremamente baixa a se estabelecer. Que há qualquer coisa além disso recomendar o retorno dos reis permanece uma questão não resolvida de disputa.

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