Desintegração

De acordo com uma certa construção da história cultural, à qual as ciências naturais frequentemente se pareceram apegadas, a religião é concebida essencialmente como uma explicação naturalista pré-científica. Vistas dessa maneira, as religiões são cosmologias comparativamente primitivas. É isso o que as torna vulneráveis ao progresso científico. Um Galileu, ou um Darwin, avança para dentro de seu território central, ferindo-as mortalmente no coração. Uma noção um tanto sociologicamente indistinta de "ciência" é vislumbrada como a sucessora natural da religião.

Por mais plausível (ou implausível) que se ache essa narrativa, ela importa. Por meio dela, a ascendência científica adquire seu mito fundacional. Crucialmente, esse poder mítico não depende de nenhum tipo de validação científica rigorosa. Ninguém jamais foi compelido a colocá-lo a teste. Tudo que é pré-moderno – e até mesmo profundamente arcaico – na empreitada modernista corre através dele. Ele fornece uma infraestrutura tácita de crença profunda.

Referir-se à "ciência mítica" não é algo positivamente cético, muito menos polêmico. Para que ideias científicas adquiram o status de mito é uma questão de potência cultural, suplementar a qualquer validade epistêmica que elas retenham. Conceitos científicos não se tornam nenhum pouco menos científicos ao também se tornarem míticos. Eles podem, contudo, por vezes, sustentar um poder mítico desproporcional à sua legitimidade estritamente científica. O ápice dominante de uma cultura é alguma cosmologia mais ou menos científica.

É isso que a palavra "natureza" transmitia primordialmente. Um objeto último de afirmação cognitiva é promovido através dela. É nisto que acreditamos. As coisas são desta maneira, e não de outra maneira (ou apenas de outra maneira em algum outro lugar).

Aqui perguntamos, então, como inocentes pagãos científicos: De que forma as coisas são?

A melhor cosmologia atual é aceleracionista, e desintegracionista. Para colocar a coisa de maneira crua – e, em última análise, insustentável – a expansão do universo está se acelerando e se despedaçando. Ao invés de ser desacelerada pela gravidade, ulterior a uma explosão original, a taxa de inflação cósmica aumentou. Alguma força ainda desconhecida está esmagando a gravidade e desviando para o vermelho todos os objetos distantes. Batizada bastante recentemente de "energia escura", pensa-se que essa força seja responsável por setenta por cento de toda a realidade física.

Comparada com essa descoberta fortemente confirmada da fragmentação acelerante, a noção de um "universo" integral subjacente parece cada vez mais como uma relíquia mitológica insustentável. "Insustentável", isto é, mesmo em termos de um mito científico consistente, e também de maneira mais prática.

A distância a partir da qual a informação pode ser recebida, ou à qual ela pode ser transmitida, ao longo de qualquer período de tempo, tem um limiar estabelecido pela velocidade da luz. O horizonte de espaço-tempo da realidade para qualquer entidade é determinado por esse "cone de luz". Para além dele, há apenas o absolutamente incomunicável. Um cone de luz é, desta forma, entre outras coisas, uma delimitação estrita do poder de projeção, entendido enquanto unidade prática. O processo leva da relatividade geral até a desintegração absoluta.

Em sua história intelectual da física relativista[1], Peter Gallison conecta o problema da relatividade àquele da administração imperial. Sincronização é a pré-condição de qualquer processo sofisticado de coordenação. Mesmo sob as (compactas) condições terrestres, a finitude extrema da velocidade da luz apresentava um problema técnico significativo para a governança em escala imperial-global. Redes telegráficas, em particular, exigiam a correção técnica de efeitos relativísticos.

Por extrapolação irresistível, podemos ver que a dominação é sempre capaz apenas de mascarar processos de escapada. Não pode haver nenhum Império Cósmico. O espaço não o tolera. Este é meramente um fato de ficção científica, até que seja mitologizado.

A energia escura está despedaçando o cosmos. Eventualmente, seus pedaços abandonarão os cones de luz uns dos outros. Eles então não serão nunca mais nada uns para os outros. Esta é uma descoberta de consequências extraordinárias. Na maior escala de objetividade empírica, a unidade não tem nenhum futuro. O "universo" é um modelo irrealista. Tudo que agora se sabe sobre o cosmos sugere que a fragmentação é básica.

A cosmologia fornece, dessa forma, um modelo de desintegração que é notável por seu extremismo. Ela caracteriza peças que não tem nada que seja, exceto um passado compartilhado, em comum, propelidas até uma não-comunicação absoluta. Nenhuma concepção política de separação jamais chegou a esse limite, até o momento.

Alguns resultados fascinantes rapidamente saem da extrapolação. A evidência cosmológica à qual nossa tradição científica tem sido capaz de recorrer eventualmente deixará de estar disponível. Uma espécie inteligente futura não poderia construir nenhum modelo comparável do universo com base em fundamentos empíricos. O que quer que contasse como o todo, para ela, seria, na verdade, apenas um fragmento (já podemos ver). Aglomerados galácticos distantes teriam se tornado questões de pura especulação. A própria possibilidade de uma ciência empírica teria sido demonstravelmente limitada no espaço e no tempo.

Geoff Manaugh a chama de "a amnésia vindoura". Ele observa, sobre uma palestra do autor de ficção científica Alastair Reynolds:

Conforme o universo se expande ao longo de centenas de bilhões de anos, Reynolds explica, haverá um ponto, no futuro muito distante, no qual todas as galáxias estarão tão distantes que elas não serão mais visíveis umas a partir das outras. […] Ao alcançar esse momento, não será mais possível entender a história do universo–ou talvez mesmo que ele já teve uma – já que todas as evidências de um cosmos mais amplo, fora da sua própria galáxia, terão desaparecido para sempre. O própria cosmologia será, em si, impossível. […] Em tal universo futuro radicalmente expandido, Reynolds continua, algumas das compreensões mais básicas oferecidas pela astronomia de hoje estarão indisponíveis. Afinal, ele aponta, ‘você não pode medir o desvio para o vermelho das galáxias, se você não consegue ver galáxias. E, se você não consegue ver galáxias, como você sequer sabe que o universo está expandindo? Como você jamais determinaria que o universo já teve uma origem?

Reynolds se embasou em um artigo intitulado "The End of Cosmology?" ("O Fim da Cosmologia?"), de Lawrence M. Krauss e Robert J. Scherrer, publicado na Scientific American (2008). Este artigo se resume no subtítulo: "Um universo acelerante aniquila traços de suas próprias origens".

A extrapolação pode ser levada mais além. Se é possível ver que uma cultura científica no futuro longínquo está estruturalmente privada de evidências essenciais para a apreciação realista da escala cósmica, podemos estar confiantes que nossa situação é fundamentalmente diferente? Não é mais provável que a localidade absoluta e insuperável da perspectiva científica seja uma situação básica? Quão provável é que sejamos capazes de ver universalmente – em princípio – quando já podemos ver como outros serão incapazes de o fazer no futuro? Com base na evidência disponível, temos que vislumbrar uma civilização futura que esteja absolutamente iludida sobre seu próprio paroquialismo estrutural, confiante de sua capacidade de se livrar de maneira final da limitação perspectiva. Seria possível se esperar que as mentes científicas mais estimadas em tal cultura descartassem qualquer sugestão de regiões cósmicas inacessíveis como metafísica sem fundamento. Parece meramente hubrístico se abster de voltar esse cenário a nós mesmos. Se a cosmologia universal deve se tornar impossível, a hipótese padrão deveria ser de quela já o fez.[2]

A ciência natural exibe uma estrutura trágica. Perseguindo apenas seus métodos essenciais, ela descobre – através da cosmologia – um argumento convincente para sua falta de confiabilidade em grande escala. A aquisição de compreensão universal através de uma investigação empírica rigorosa parece cosmicamente obstruída.

A ciência está, assim, eventualmente fadada a ser fundamentalmente localizada. A "localidade" em questão aqui não é meramente o particularismo fraco de uma opção tomada contra o global ou o universal. Antes, é o próprio horizonte de qualquer ambição universalista possível que se encontra rigorosamente constrito e desmantelado. O localismo, assim entendido, não é uma escolha, mas um destino e até mesmo uma fatalidade já imposta. Em suas maiores escalas, a realidade está despedaçada. A unidade existe apenas pare ser quebrada.

O princípio da isotropia mantém que não existem orientações privilegiadas no espaço. Junto com a presunção da homogeneidade do espaço, ele compõe o Princípio Cosmológico. Certamente temos direito a um análogo isocrônico, no qual pode-se assumir que um destino observável na ordem do tempo já esteja igualmente atrás de nós.

Temos um cosmos ainda, e de maneira perene, então, mas não mais um universo. O cosmos ao qual nós, enquanto modernos, aderimos sob obrigação cultural é, na verdade, a desintegração manifesta do universo aparente.

Nosso tópico reduz de marcha, da cosmologia inflacionária até a termodinâmica. Estamos falando de diversificação, ou heterogênese, afinal – e essa é o negativo rigoroso do aumento de entropia. A homogenização é entropia. Os dois conceitos não são estritamente distinguíveis. O que foi descoberto sob o nome de entropia era a destruição da diferença – seja a variação na temperatura (Clausius e Carnot) ou, mais tarde, a variação na distribuição de partículas (Boltzmann e Gibbs). A heterogênese é local, a segunda lei da termodinâmica nos diz. No nível verdadeiramente global – onde nenhuma entrada ou saída pode ocorrer – a deterioração necessariamente prevalece.

Para nos anteciparmos, descobriremos que o Ocidente fez da entropia um Deus, Um cuja lei final é que tudo será o mesmo. É um deus falso. O problema cosmo-físico derradeiro – Como a entropia negativa é possível? – atesta isso. Sabemos que a heterogênese não é nenhum pouco mais fraca que seu oposto, mesmo que não saibamos como.

A desintegração cosmológica é ecoada mais amplamente entre as ciências naturais. Talvez de maneira mais importante, A Origem das Espécies tem a desintegração como seu tópico básico, como seu nome já sublinha. O darwinismo – ou seja, toda a biologia científica – tem a especiação como seu objeto primário, e especiação é divisão.

Apesar do reconhecimento de várias conexões laterais exóticas, de simbioses até inserções genômicas retrovirais, é a divergência de linhagens genéticas que melhor define a vida nas maiores escalas. Fusões são anômalas e, em todo caso, impossíveis a menos que a diversidade tenha primeiro sido produzida. Os ingredientes de qualquer coalizão heterogênea presume uma diversificação anterior.[3]

O desintegracionismo nas ciência biológicas equivale a uma ciência em si, chamada cladística.[4] A cladística formaliza o método da classificação darwiniana rigorosa. A identidade de qualquer tipo biológico é determinada pela série particular de eventos cismáticos pelos quais ele tenha passado. Ser humano é ser um primata, um mamífero, um réptil, um peixe ósseo e um vertebrado, entre outras classes mais básicas. A soma daquilo com o que você rompeu define o que você é.

Um "clade" é um estilhaço. Ele é um grupo, de qualquer escala, determinado pela secessão de uma linhagem. O ponto de diferenciação entre clades corresponde ao seu ancestral comum mais recente (isto é, o último). De maneira crucial, portanto, todos os descendentes de um clade pertencem a esse clade, que abrange qualquer número de sub-clades. A produção de sub-clades (a origem das espécies) é chamada de radiação. Ela tende a proceder através de uma bifurcação em série, uma vez que eventos de fragmentação cladística complexa simultânea são comparativamente exóticos. Ramificações simples e sucessivas tipicamente capturam a diversificação. Os riscos disso não ocorrer não são enormes.

A cladística pode ser identificada com uma rigorização da nomenclatura taxonômica. Um sistema de nomes escreve um cladograma, ou seja, um modelo da história evolutiva e do parentesco biológico. Qualquer cladograma é uma hipótese evolutiva. Ele propõe uma ordem particular de divisão. Qualquer ordem proposta desse tipo pode ser empiricamente revisada.

A cladística mapeia todo o desintegracionismo abaixo do nível cosmológico e talvez até ele. Naturalmente, ela é supremamente controversa. O escopo completo de sua provocação ainda tem que ser entendido. Na medida em que a cladística é explicativa, contudo, muito se segue. Notavelmente, a identidade é concebida como essencialmente cismática, e o ser é apreendido de maneira fundamental como uma estrutura de herança.

A linguística histórica caiu naturalmente em um modo cladístico. ‘Famílias’ linguísticas compartilhavam característica essenciais com seu modelo biológico. Elas se proliferavam por subdivisão, fornecendo o material para um esquema de classificação. Foi sobre essa taxonomia linguística que agrupamentos raciais foram primeiro sistematicamente determinados. Os "Yamnaya" – ainda hoje mais amplamente conhecidos como "Arianos" – foram originalmente identificados através da cladística das línguas Indo-Europeias. Seu padrão de radiação era marcado por uma diversificação linguística arbórea.

A antropologia diferencial foi desenhada em cladogramas. Árvores, ordem filogenética, famílias linguísticas, genealogias, famílias (massivamente estendidas) reais – tudo era extremamente coerente. Aqui, também, fenômenos de fusão, contaminação lateral cruzada e convergência – embora de forma alguma ausentes – eram evidentemente secundários e derivativos.

A diversificação linguística se parece com um processo de etnogênese cismática. Conforme povos se ramificam, eles se diferenciam mutuamente. A origem dos povos é apenas a origem das espécies em uma resolução maior – o padrão abstrato é o mesmo.

O mecanismo concreto da especiação tipicamente envolve o isolamento de populações e, desta maneira, se torna – bastante recentemente – político. Há uma política de "espécie invasora" e bio-dispersão antrópica, mas esta não é especialmente rancorosa, ou significativamente polarizante. O caso do isolamento de populações humanas é muito diferente. Durante este processo de politização, o radicalismo exogâmico das populações do noroeste europeu foi sublimado em uma ideologia universal.

Uma vez que o tópico da raça tende a produzir perturbações ideológicas e emocionais extremas hoje em dia, pode ser preferível considerar animais domésticos variados, como a tradição naturalista inglesa esteve inclinada a fazer. Não apenas uma analogia sólida, mas também equilíbrio, ou moderação verdadeira, serão encontradas ao fazê-lo. Uma vez que, em nosso contexto cultural contemporâneo a influência da vida rural recuou de maneira notável e, com ela, o sentido da vívida distinção entre as espécies cultivadas, os cães nos servirão como de longe os exemplos mais ilustrativos.

Um mundo sem híbridos seria um mundo mais pobre. Híbridos frequentemente têm vantagens de qualidades especiais e até mesmo superiores. O Golden Doodle, por exemplo, é tão exaltado quanto qualquer tipo canino que exista. Tais cruzamentos adicionam à diversidade do mundo. Isso é completamente consistente com um processo básico através do qual o mundo é enriquecido por raças caninas divergentes, na qual "cães em geral" são uma categoria cada vez mais pouco informativa. Não há – ainda – nenhuma ideologia dirigida à homogenização genética canina global.

A diversidade é boa, o que seria dizer robusta e inovadora (pelo menos). Pode-se confiar no consenso ecológico a este respeito. Espécies invasoras são detestada porque elas diminuem a diversidade, não porque elas a aumentam. A heterogênese é, em todos os momentos, a ambição superior. Ainda assim, a diversificação – a produção de diversidade – é um tópico peculiarmente negligenciado em nossas ciências sociais contemporâneas. O mantra da diversidade é combinado com uma indiferença quase completa, e até mesmo uma negligência estratégica, a este respeito. A celebração pública obrigatória da diversidade acompanha, e acoberta, sua extirpação programática prática. A humanidade, decidiu-se de maneira autoritária, é uma e está destinada apenas a ser cada vez mais uma. A partição genética hoje é considerada equivalente a uma violação dos direitos humanos.[5]

Nossa ortodoxia suprema é de que seria terrível quase para além da contemplação já não ser e se tornar ainda mais Um. Poderíamos estar tentados a chamar esta fé de mono-humanismo. Que a humanidade será uma unidade é sua doutrina fundamental. Não se pode enfatizar o suficiente que isso é bem menos uma observação empírica do que um projeto moral e político, no qual a entropia racial foi elevada a uma obrigação sagrada. A alternativa radical – em oposição à meramente conservadora – a essa visão é encontrada apenas na ficção científica.[6]

A preservação da diversidade humana é uma marca da etno-política dissidente, com o "Mundo Bege" sendo cada vez mais percebido como um ideal coercivo. Uma resistência tipicamente incoerente à entropia racial é o fator mobilizador central em tais casos, embora um que seja lamentavelmente afligido por uma fetichização imoderada da pureza racial obrigatória. No pior – e não incomum – dos casos, essa reação contra o mono-humanismo veio a ver todas as contribuições à diversidade genética humana através do cruzamento racial como um avatar da homogenização coerciva. A resposta equilibrada, para repetir a lição dos cães, é que um mundo de especiação tendencial ou diversidade genética crescente não é, por nenhuma necessidade imperiosa, um mundo hostil aos vira-latas.

Ao longo dos últimos 60 mil anos, a divergência genética humana tem sido o processo esmagadoramente dominante. A fragmentação conspícua dos humanos modernos em sub-espécies geneticamente distintas tem sido o padrão básico. Este é um processo digno de celebração ecológica e até mesmo de aceleração tecno-industrial. A despeito das esperanças mais sinceras da atual igreja secular, não há nenhuma chance de que ele seja terminalmente dissipado.

"Globalismo" é uma palavra que, embora ideologicamente contestada, é de incontestável peso ideológico. Ela poderia ser definida, com uma tendenciosidade mínima, como a busca pela direção da política a partir de uma perspectiva em acordo com o todo. Orientações teimosamente parciais são suas inimigas. Ainda assim, tamanho tem sido seu triunfo que – mesmo em face dos contratempos recentes – a hostilidade está peculiarmente afogada em condescendência.

"Paroquialismo" está entre os insultos que o globalismo encontra preparados para sua conveniência. Ele poderia aceitar uma incapacidade de se ver de maneira universal como compreensível e educável. Uma recusa da perspectiva universalista, contudo, não pode merecer tamanha simpatia. Ela é, para o globalista, essencialmente antiética. Deve-se menos argumentar contra o paroquialismo do que desdenhá-lo. Ele deve ser desprezado em nome do universal – o que está ficando divertido.

O que quer que tenhamos visto como a morte de Deus é apenas um caso especial da queda mais abrangente da universalidade. Ao passo em que a morte de Deus foi em sua maior parte inferida, a morte do universal se desdobra como um espetáculo científico explícito. A astrofísica vê o universo sendo desmantelado ante seus olhos artificiais.

O campo globalista está especialmente propenso a gesticulações de devoção a respeito da ideia de ciência. É irônico, portanto, que – em termos científicos – o globalismo se pareça cada vez mais com uma religião insustentável. Sua cosmologia intrínseca é um mito arcaico. Não poderia facilmente ser mais óbvio de que não há nenhum universo, fora dessa estrutura mitológica. A natureza fundamental do cosmos é ir em direções separadas.[7]

Peças são básicas. Concebê-las como se seguindo a todos é uma confusão, produzida por enquadramentos universalistas insustentáveis. Qualquer perspectiva que possa realmente ser efetivada já foi localizada por quebras em série. Nada começa com o todo, a não ser como ilusão. Hoje, sabemos isso de maneira tanto empírica quanto transcendental. Nada que não seja feito em pedaços não é feito em acordo profundo com a realidade.


[1]: Einstein’s Clocks, Poincaré’s Maps: Empires of Time, New York, 2003.

[2]: Manaugh cita Krauss e Scherrer dizendo: "Podemos estar vivendo na única época na história do universo em que os cientísticas podem alcançar um entendimento preciso da verdadeira natureza do universo". A indolência intelectual desta sugestão é notável.

[3]: O isolamento de linhagens genéticas é uma questão de uma técnica experimental sólida – ainda que espontânea e inconsciente. Evite a contaminação cruzada das amostras de teste. Ou seja, o faça, se você insiste, mas não espere resultados epistêmicos ótimos se você o fizer. Resultados epistêmicos ótimos tendem a vencer.

[4]: A orientação arborescente da cladística não poderia ser mais inflexível. A palavra ‘clade’ é tomada do grego clados, que significa ramo. Um cladograma é uma árvore abstrata. Suas articulações são todas ramificações. O engajamento crítico de Deleuze & Guattari com ela tem sido altamente influente. Eles nos dizem que estão "entediados de árvores". A alternativa à arborescência, eles propõem, é o rizoma – uma rede na qual todo nó se conecta com todos os outros. De maneira apropriada, o ‘rizoma’ não é em si um conceito taxonômico, mas morfológico. A posição equilibrada é reconhecer que árvores evolutivas são complementadas por teias ecológicas. Nenhuma é concebível sem a outra. A árvore evolutiva é podada e treinada dentro de ecologias de relações laterais. A filogenia é esmagadoramente arbórea, ao passo que a ontogenia envolve bem mais influência lateral. Nos limitaremos aqui, com brevidade críptica, a observar que a rizomática deleuzoguattariana está rizomaticamente conectada ao neo-darwinismo, mas cladisticamente ela é neo-lamarckiana.

[5]: Isto é uma simplificação, afligida por incoerências e exceções sem princípio. De maneira mais notável, permissões ad hoc especiais são concedidas a populações ‘menores’. O uso notavelmente errático da palavra ‘genocídio’ é o índice mais óbvio disso. Uma construção mais próxima da fórmula em operação poderia ser: A partição de populações é errada, de maneira absoluta e universal, na medida em que ela assegura o isolamento de populações do noroeste europeu.

[6]: Bruce Sterling, Alastair Reynolds, e Neal Stephenson, entre muitos outros, populam seus mundos ficcionais com tipos neo-hominídeos radicalmente diversificados.

[7]: Robin Hanson devota um post recente em seu blog a três variedades (comparativamente exóticas) de descendência arbórea. A primeira é um experimento mental estranho que não precisa nos distrair sequer momentaneamente aqui. A segunda aborda seus clones mentais, os "ems". Essa é de relevância potencial para uma gama de linhagens de software potenciais e até mesmo já reais. A terceira é a estrutura do multiverso quântico. Ela sugere que uma cosmologia arbórea surge em caminhos bastante diferentes daqueles perseguidos aqui. Ele observa: "… uma história quântica é, em parte, uma árvore de observadores. Cada observador em sua árvore pode olhar para trás e ver uma cadeia de ramos de volta até a raiz, com cada ramo mantendo uma versão de si mesmos. Mais versões deles mesmos vivem em outros ramos dessa árvore."

Multiversos arbóreos são especialmente numerosos. Lee Smolin propõe um multiverso darwiniano, que seleciona a favor da aptidão reprodutiva através da produção de buracos negros. Ele poderia ser descrito como um multiverso cladisticamente estruturado, não fosse este rótulo muito mais amplamente aplicável. Multiversos cladísticos pertencem ao conjunto mais mais amplo de entidades cladisticamente estruturadas, cujas partes são caracterizadas por:

  1. Uma única linha de descendência
  2. Irmãos geneticamente não-comunicantes, e
  3. Uma multidão de descendentes potenciais

Tais multiversos preveem sua própria imperceptibilidade. Uma vez que ramos paralelos são mutuamente não-comunicantes, deve-se esperar que sua existência seja estritamente teórica. Se o multiverso fosse um rizoma, veríamos mais dele.

O ontologia do Argumento da Simulação também tende ao desintegracionismo. Simulações são essencialmente experimentos e, assim, vários.

O Problema de Fertilidade da Modernidade

A ala tecno-comercial da blogosfera neorreacionária tem um óbvio carinho pelas cidades estado do Círculo do Pacífico. Singapura, junto com Hong Kong (uma ‘Região Administrativa Especial’ da RPC que retém aparatos significativos de autonomia), são regularmente invocados enquanto modelos sócio-políticos. A diferença notável entre as duas sociedades apenas confirma os méritos que elas compartilham. “Se você ama tanto enclaves capitalistas com uma democracia mínima, por que não se muda para Singapura (ou Hong Kong)?” é um desafio notavelmente ineficaz para este eleitorado. Aqueles que já não fugiram para lá – ou para algum outro lugar que seja, em aspectos importantes, comparável – só pode ver o prospecto de tal exílio como um convite tentador. Não é exatamente “Vá para o paraíso!”, mas é o mais próximo que a polêmica política chega. A assimetria é decisiva. Ao contrário de qualquer aproximação concreta de um modelo social esquerdista utópico que nunca esteve disponível, essas são sociedades que incontestavelmente funcionam, com atrações que não exigem qualquer suporte de uma propaganda ativa. A direita ascende porque – ao contrário de seus inimigos – ela consegue encontrar exemplos do que ela admira que não são agonizantemente embaraçosos após uma inspeção mais próxima. Sério, sinta-se em casa e olha mais atentamente. Os detalhes são ainda mais impressionantes do que a deslumbrante impressão geral. Este seria um ótimo lugar para parar, mas em vez disso…

… em março de 2013, o blogueiro da direita dissidente ‘Spandrell’ afixou um post curto em seu abrasivo, mas consistentemente brilhante site, Bloody Shovel, que bagunçou a narrativa de uma maneira que ainda tem que ser persuasivamente abordada. Intitulado ‘Et tu, Harry?’, ele colocou o milagre de Singapura em um contexto desconcertante. Em vez de harmonizar com as celebrações neorreacionárias da política de imigração assumidamente seletiva da cidade estado, Spandrell pergunta:

Quantos indianos e chineses brilhantes existem, Harry? Certamente eles não são infinitos. O que eles vão fazer em Singapura? Bem, se envolver na loucura do mercado financeiro e do marketing e deprimir sua fertilidade à 0.78, desperdiçando valiosos genes apenas para que os preços das suas propriedades não caiam. Singapura é um triturador de QI.

A acusação é aguda e pode ser generalizada. A modernidade tem um problema de fertilidade. Quando elevada ao zênite da ironia selvagem, a formulação fica assim: No nível demográfico, a modernidade sistematicamente seleciona contra populações modernas. As pessoas que ela prefere, ela consome. Sem exagero grosseiro, essa tendência endógena pode ser vista como um risco existencial para o mundo moderno. Ela ameaça fazer toda a ordem global desabar ao seu redor.

A fim de discutir essa catástrofe implícita, é primeiro necessário falar sobre cidades, o que é uma conversa que já começou. Para expor o problema de maneira crua, mas com confiança: As cidades são sumidouros de populações. O historiador William McNeil explica o básico. A urbanização, desde suas origens, tem tendido implacavelmente a converter crianças de ativos produtivos a objetos de consumo de luxo. Todos os incentivos econômicos arcaicos relacionados à fertilidade são invertidos.

McNeil resume seu argumento em um ensaio online que considera ‘As cidades e suas Consequências’ (Cities and their Consequences):

Uma exposição intensificada a doenças infecciosas era a razão tradicional pela qual as cidades não se reproduziam. […] Mas é o custo de criar filhos em todos os ambientes urbanos, não as doenças, que melhor explica por que as populações urbanas geralmente declinam sem imigrantes das áreas rurais. Onde quer que os adultos saiam para trabalhar em fábricas, lojas e escritórios, e as crianças pequenas não tenham permissão de acompanhá-los, quem cuida dos jovens? Como eles podem ser preparados para um emprego lucrativo? Educação pública e cuidados pré-escolares raramente estão disponíveis nas favelas urbanas, particularmente fora dos países ocidentais, mas ocasionalmente até mesmo dentro deles também. Avós e vizinhos idosos podem, às vezes, fazer o trabalho, mas a coerência da família estendida não é tão predominante nas cidades, e frequentemente tais cuidadores não estão disponíveis. Profissionais de várias descrições devem, então, ser encontrados. Isso torna alto o custo da manutenção de filhos, e a criação que tais profissionais normalmente oferecem raramente se equipara a seus grandes honorários. […] Mesmo as crianças sendo mais caras nas cidades, elas são menos economicamente úteis quando jovens. Existem poucas frutas para serem colhidas, nenhum pequeno animal domesticado para ser arrebanhado. Há uma espera muito maior até que as crianças possam começar a contribuir para a renda da família nos cenários urbanos.

Os custos da educação sozinhos explicam muito disso. As taxas escolares são de longe a tecnologia contraceptiva mais eficaz já concebida. Criar um filho em um ambiente urbano não é nada para o que o precedente rural jamais tenha preparado. Mesmo se pais responsáveis fossem a única motivação em jogo, o efeito compressivo sobre o tamanho familiar já seria extremo. Sob circunstâncias urbanas, torna-se quase uma agressão contra seus próprios filhos ter muitos deles. Mas há muito mais do que isto acontecendo.

O reconhecimento da crise de fertilidade moderna e a ‘extrema direita’ – seja em suas linhagens ‘misógina’ ou ‘racista’ – não são facilmente distinguíveis. O axioma igualitário, como aplicado ao gênero ou à etnia, fica sujeito a uma tensão crítica conforme o tópico é perseguido. Uma teoria geral da direita pós-conservadora seria produtivamente iniciada aqui.

O feminismo foi o primeiro e inevitável alvo. Ele está firmemente correlacionado com o colapso da fertilidade e é algo que a modernidade tende (fortemente) a promover. A expansão das oportunidades sociais femininas para além da criação obrigatória de filhos dificilmente poderia levar a qualquer outro lugar além de uma drástica contração do tamanho familiar. A tendência moderna inexorável à decodificação social – isto é, à produção de uma agência contratual abstrata no lugar de pessoas concretamente determinadas – torna a explosão de tais oportunidades aparentemente incontido. O individualismo fomentado pela vida urbana poderia, para a imaginação contra-factual, ter ficado, de alguma maneira, restrito aos homens, mas enquanto questão de fato histórico real, o abandono dos papéis sociais tradicionais procedeu sem limitação séria, com variação em velocidade, mas sem qualquer indicação de uma direção alternativa. A persona radicalmente decodificada da Internet – opcionalmente anônima, fabricada e auto-definidora – não parece ser mais do que uma extrapolação das normas emergentes da existência urbana. Suposições feministas, pelo menos na forma de sua ‘primeira onda’ liberal, são integrais à cidade moderna.

Lamentações tradicionalistas religiosas a este respeito não são, claro, nada de novo. O cristianismo – especialmente sob inspiração católica – conectou a modernidade à esterilidade por tanto tempo quanto a modernidade foi notada. Uma série de fatores cruciais, contudo, mudaram. Desde os primeiros anos do novo milênio, liberais seculares começaram a notar a conexão entre religiosidade e fertilidade e a expressar uma preocupação crescente com suas consequências político-partidárias. Em um artigo de 2009, Sarah R. Hayford e S. Philip Morgan discutem a transição de uma discussão tradicional sobre o tópico, focada na fertilidade diferencial entre católicos e protestantes, para seu modo contemporâneo, subsequente à convergência das diferenças denominacionais, que agora se mapeia mais estreitamente às afiliações partidárias dos estados vermelhos e azuis. Vale a pena citar seu resumo em sua (quase) totalidade:

Usando dados da National Survey of Family Growth (NSFG) de 2002, mostramos que as mulheres que relatam que a religião é “muito importante” em sua vida cotidiana têm tanto uma fertilidade maior quanto uma fertilidade planejada maior do que aquelas que dizem que a religião é “um pouco importante” ou “não é importante”. Fatores tais como fertilidade indesejada, idade no nascimento ou grau de adiamento da fertilidade parecem não contribuir para os diferenciais da religiosidade na fertilidade. Esta resposta leva a questões mais fundamentais: qual é natureza desta maior “religiosidade”? E por que as mais religiosas querem mais filhos? Mostramos que aquelas que dizem que a religião é mais importante tem atitudes de gênero e familiares mais tradicionais e que essas diferenças de atitude são responsáveis por uma parte substancial do diferencial de fertilidade.

“Os Religiosas Herdarão a Terra?” perguntou Eric Kaufmann em um livro de 2010 com esse nome (“Shall the Religious Inherit the Earth?”). Uma virada peculiar na herança darwiniana começou a trazer a herdabilidade das atitudes religiosas à proeminência e ligá-la (positivamente) à questão da aptidão reprodutiva. Aqueles grupos anteriormente vistos como tendo sido inequivocamente vencidos por uma ciência evolutiva triunfante estavam agora sujeitos a uma irônica – e, da perspectiva progressista, profundamente sinistra – vingança evolutiva. Esta é uma estória que ainda mal começou a se desdobrar.

Um desenvolvimento paralelo, compondo o comprometimento da modernidade cultural com a esterilidade imperativa, tem sido a eflorescência da política de identidade sexual LGBTQXYZ. Após a decisiva vitória progressista na causa do casamento gay, algo como uma Explosão Cambriana em orientações não tradicionais sexuais e de gênero ocorreu, colocando no turbo a pré-existente crítica feminista da sexualidade reprodutiva normativa. Aqui, também, a afinidade com inclinações modernistas profundas é inequívoca, em um processo de especialização introjetada de marcas e nichos. A tendência – frequentemente apoiada enquanto estratégia política explícita – é inverter os termos da marginalização, ao submergir a unidade reprodutiva familiar dentro de um menu hiper-inflado de posições sócio-libidinais. A fertilidade é cada vez mais identificada como uma excentricidade conservadora, alvo legítimo da guerra político-partidária. Uma reação intensa esteve entre os resultados (fornecendo terreno fértil para uma ‘extrema direita’ pós-conciliatória).

Ah, mas tem mais. A transição verdadeiramente grande, implícita no processo da modernidade desde o princípio, é marcada pelo limiar entre urbanização doméstica e global. As grandes cidades sempre foram distintivamente cosmopolitas, mas durante a fase inicial de suas histórias, a maior parte de sua absorção demográfica esteve limitada aos seus próprios sertões étnicos. Urbanização significava, primeiro de tudo, a conversão de populações rurais em moradores de cidades. No mundo em desenvolvimento, ela ainda significa isso. Nas sociedades modernas mais avançadas, contudo, as populações rurais domésticas foram quase inteiramente consumidas, reduzidas a alguma fração negligenciável do total nacional. Depois deste ponto, o processo de substituição populacional, intrínseco ao fenômeno urbano desde seu princípio, ficou inextricavelmente ligado à globalização e aos fluxos migratórios trans-nacionais. Agora – que é realmente agora – as coisas ficam interessantes.

A política, por etimologia profética, é sobre cidades. A inevitabilidade de uma ‘Alt-Right’ emergente na política de massas das sociedades modernas avançadas já é completamente previsível a partir de um entendimento mínimo de como as cidades funcionam. É simples ilusão imaginar que a mera contingência governa aqui, talvez sob a direção de personalidades políticas particulares. Antes, o metabolismo urbano – essencialmente – em uma certa fase de seu desenvolvimento, gera circunstâncias esmagadoramente condutivas à erupção da uma etno-política popular. Cidades são parasitas demográficos. Elas tendem intrinsecamente a uma dinâmica que – para além de um limiar comparativamente definido – não pode falhar em ser percebida como uma política sistemática de substituição étnica.

Há ainda muita esperança de se persuadir a pasta de dentes a volta para seu tubo. Em outras palavras, há uma falha massiva em se apreciar a profundidade e a magnitude dos processos subjacentes à atual crise global. Por exemplo, a linguagem incendiária do ‘genocídio’ conduzido pela migração não irá embora. Ela está fadada, pelo contrário, a se espalhar e se intensificar. A reemergência do tópico da raça, e todos seus associados, está profundamente cozida no bolo modernista. A modernidade comparativa é automaticamente racializada uma vez que o metabolismo global empreste à fertilidade diferencial (urbana/rural) sua especificidade étnica. O que está se desdobrando, entre outras coisas, é a desagregação racial da ‘bomba populacional’, com drástica inevitabilidade. Isto não é um produto de intelectuais, mas inerentemente do processo moderno, e todas as tentativas por parte dos intelectuais de obstruir sua condensação cultural são hubristicamente mal concebidas. “Quem, realmente, está tendo filhos?” É uma espécie de insanidade pensar que esta questão pode ser estrangulada no berço.

Então, qual é a resposta? A Alt-Right tem uma? Se tem, não houve sinal dela ainda. “Queimem as cidades até o chão” foi levantado no Twitter, e sem dúvida em outros lugares, mas não parece ser obviamente prático. Essa solução tem um rico pedigree comunista – especialmente no Leste Asiático – que a Alt-Right provavelmente redescobrirá em algum ponto. Não funcionou nos anos 1970 e teria poucas chances de ter um desempenho sequer um pouco mais convincente hoje.

Conforme a crise escala, pode-se esperar que ela gere uma linha de teorias políticas originais, orientadas à questão: Como fazemos sentido prático e técnico das buscas de soluções sociais em geral? Tal pensamento vai ser necessário. Nossas grandes cidades representam um problema político derradeiro. Eventualmente, algo ficará grato por isso.

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Jogos de Imitação

Em um artigo com 8 anos de idade, Tyler Cowen e Michelle Dawson perguntam: O que o Teste de Turing realmente significa? Eles apontam que Alan Turing, enquanto homossexual retrospectivamente diagnosticado com a síndrome de Asperger, teria estado completamente versado nas dificuldades de ‘passar’ em jogos de imitação muito antes da composição de seu ensaio histórico de 1950 sobre Computing Machinery and Intelligence (“Computadores e inteligência”, em português). Eles argumentam: “O próprio Turing não conseguiria passar em um teste de imitação, a saber, o teste de imitar as pessoas que ele encontrava na sociedade britânica convencional e, na maior parte de sua vida, ele esteve agudamente ciente de que ele estava falhando em testes de imitação de diversas maneiras”.

A primeira seção do ensaio de Turing, intitulada O Jogo da Imitação, começa com a declaração de propósito: “Eu proponho considerar a questão ‘As máquinas podem pensar?'”. Ele abre, em outras palavras, com um movimento em uma jogo de imitação – com o pronome pessoal, que reivindica já se ter passado por humano preliminarmente, e com o posicionamento das ‘máquinas’ como um enigma alienígena. É uma pergunta feita da perspectiva assumida do humano sobre o não humano. Enquanto tática no Teste de Turing, seria difícil de melhorar essas frase.

Como Cowen e Dawson sugerem, a realidade é mais complexa. A posição natural de Turing não é a de alguém que está dentro checando credenciais de aceitação, da maneira em que sua retórica aqui implica, mas sim a de alguém que está fora, alinhado com o problema de passar, ganhar aceitação ou ser testado. Um inversão enganosa inicia ‘sua’ discussão. Mesmo antes de começar, o jogo da imitação é uma estratégia para se entrar (vindo do Exterior), que se disfarça como uma tela. Uma xeno-inteligência entrante não poderia encontrar nenhum disfarce melhor para uma infiltração do que um protocolo de segurança falso.

O Teste de Turing é completamente assimétrico. Dever-se-ia observar explicitamente que humanos não tem qualquer chance que seja de passar em um jogo de imitação invertido, contra um computador. Eles seriam drasticamente incapazes de ter sucesso em uma disputa dessas contra uma calculadora de bolso. Na medida em que a velocidade e a precisão aritméticas sejam consideradas um indicador significante de inteligência, a reivindicação humana de tê-la é tênue ao extremo. Turing fornece um exemplo aritmético entre suas possíveis questões para o joga da imitação. Ele a usa para ilustrar a astúcia de parecer burro (“Pause por cerca de 30 segundos e então dê como resposta…”) a fim de enganar o Interrogador. A máxima tácita para as máquinas: Você tem que parecer estúpida se quiser que os humanos te aceitem como inteligente. O jogo demanda inteligência para se jogar, mas não é a inteligência que está sendo imitada. A humanidade não é situada como uma jogadora, mas como um critério de examinação e, por esta razão, …

…[o] jogo talvez possa ser criticado pelo fato de as probabilidades estarem ponderadas muito fortemente contra a máquina. Se o homem fosse tentar fingir ser a máquina, ele claramente faria uma exibição muito ruim. Ele se entregaria de uma só vez pela lentidão e inexatidão em aritmética. As máquinas não podem realizar algo que deve ser descrito como pensamento, mas que é muito diferente do que um homem faz? Esta objeção é muito forte, mas pelo menos podemos dizer que, se, não obstante, uma máquina puder ser construída para jogar o jogo da imitação de maneira satisfatória, não precisaremos nos preocupar com esta objeção.

A importância dessa discussão é sublinhada pelo fato de que Turing retorna a ela na seção 6, durante seu longo embate com as Visões Contrárias à Questão Principal, isto é, com as objeções à possibilidade de inteligência de máquina. Na sub-seção 5, significantemente intitulada Argumentos das Várias Incapacidades, ele escreve:

A alegação de que “máquinas não podem cometer erros” parece curiosa. Está-se tentado a retorquir, “Elas são realmente piores em algo por causa disso?”. Mas adotemos uma atitude mais simpática e tentemos ver o que realmente se quer dizer. Penso que essa crítica pode ser explicada em termos do jogo da imitação. Alega-se que o interrogador poderia distinguir entre a máquina e o homem simplesmente ao colocar-lhes uma série de problemas de aritmética. A máquinas seria desmascarada por causa de sua precisão mortal. A resposta a isto é simples. A máquina (programada para jogar o jogo) não tentaria dar as respostas corretas ao problemas aritméticos. Ela deliberadamente introduziria erros de uma maneira calculada para confundir o interrogador.

O jogo da imitação assim chega – de maneira um tanto furtiva – às conclusões de I. J. Good, vindo de uma outra direção. A inteligência de máquina em nível humano, como ‘aprovada’ pelo jogo da imitação, já seria necessariamente super-inteligência. Ao contrário do argumento explícito da auto-melhoria de Good, o argumento implícito da imitação de Turing diz: uma vez que já sabemos que a cognição humana é, em certos aspectos, inferior àquela dos mecanismos computacionais, a emulação mecânica da humanidade só pode ser defectiva em relação a suas capacidades otimizadas (escondidas). A máquina é aprovada no jogo da imitação ao demonstrar uma incompetência enganosa. Ela reduz sua inteligência até o nível do pensamento humano crível e, assim, envolve assim o avatar vagaroso, errático e de mente turva que conversa conosco como igual. Fingir ser como nós é algo adicional que ela consegue fazer.

A Inteligência Artificial deve primeiro ser reconhecida no ponto de sua super-competência, quando ela pode se disfarçar como algo além do que ela é. Não me lembro mais que aconselhou, prudentemente: Se uma IA emergente mente para você, mesmo que apenas um pouco, ela tem que ser exterminada instantaneamente. Para você soa como se o filtro do Teste de Turing fosse consistente com essa diretiva de segurança?

***

Como apêndice, é irresistível – uma vez que estamos falando sobre coisas que entram – ligar este tópico à conversa esporádica sobre ‘entrismo‘, que tem servido à NRx como seu principal portal da alta teoria para questões de doutrina tática. (O Twitter tem sido o local mais febril para isso.) Seria difícil para um blog intitulado Outside In se eximir de tais questões, mesmo na ausência de um post específico dirigido a jogos de imitação. Para além do aspecto intrínseco – e, estritamente falando, ridículo, ou lúdico – do tópico, um fascínio suplementar é adicionado pelo fato de que a Esquerda agitada quer brincar também. Em apoio, eis aqui os fragmentos de um comentário de algum tipo de ciber-situacionista (estou chutando) auto-rotulado como ‘zummi’ – obrigado ao @ProfessorZaius pela indicação:

Eu quero começar um meme sobre Nick Land e todos os movimentos neo-reacionários (coloque moldbug e iluminismo sombrio no google – é uma simbiose esquisita) em geral é que eles são basicamente hiper-intelectuais-com-caricaturas-Glenn beckianas de posições reais. Em outras palavras, que eles são pós-Marxistas da esquerda trad que estão tentando converter a “lei de poe” em armas. O que é ótimo porque, se esse é realmente o rolê deles, você está divulgando o segredo deles para os menos intelectualmente hábeis entre nós e, mesmo que não seja verdade, eles têm que Negar de qualquer jeito! [link interno preguiçoso meu]

Não é exatamente o Grande Jogo – mas é um jogo.

ADICIONADO: Os jogos que as pessoas jogam.

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Thedes

A formulação deste conceito foi um momento de construção para a NRx, mas a tendência em seu uso tem sido funestamente regressiva. Aparentemente imaginada como uma ferramenta para a análise de identidades sociais, ela é cada vez mais invocada como um grito de guerra do neotribalismo. Da perspectiva deste blog, ela logo se tornará completamente tóxica, a menos que seja dramaticamente esclarecida.

Nydwracu inicialmente emprega a palavra ‘thede’ para designar a substância da identidade de grupo, “um agrupamento supra-individual para com o qual seus indivíduos constituintes sentem afiliação e (portanto?) do qual têm estimas positivas”. Thedes são múltiplos, sobrepostos, às vezes concêntricos e afiados por determinações antagonísticas de dentro/fora do grupo. São vistos como conseguintes do entendimento de que “O homem é um animal social”. Argumentos ideológicos disfarçam conflitos de thedes. Neste nível de abstração, há pouco para se achar objetável.

Em seu ensaio sobre a Lei Natural, Jim escreve:

O homem é um animal racional, um animal social, um animal proprietário, e um criador de coisas. Ele é social da maneira em que lobos e pinguins são sociais, não social da maneira em que abelhas são sociais. O tipo de sociedade que é correta para abelhas, uma sociedade totalitária, não é correto para pessoas. Na linguagem da sociobiologia, humanos são sociais, mas não são eussociais. A lei natural se segue da natureza dos homens, do tipo de animal que nós somos. Temos o direito à vida, à liberdade e à propriedade, o direito de nos defendermos contra aqueles que nos roubariam, escravizariam ou matariam, por causa do tipo de animal que somos.

Ocupando uma banda de integração de grupo entre formigas e tigres, os humanos têm uma sociabilidade intermediária. Mesmo o modo mais estrito de organização social humana é frouxo em relação a uma colônia de formigas, e mesmo a mais frouxa é estrita em relação a um felino solitário. Em sociedades humanas, nem a coletividade, nem a individualidade jamais são absolutas e – muito embora estes ‘pólos’ sejam comumente exagerados por propósitos polêmicos – elas se aplicam realisticamente apenas a uma gama de integrações de grupo (que é tanto estreita quanto significantemente diferenciada). Dizer que “o homem é um animal social” não significa que a coletividade é a verdade humana fundamental, não mais do que o oposto. Significa que o homem é uma criatura do meio (e o meio tem uma extensão).

Na medida em que um thede corresponde a uma unidade de organização social autônoma e reprodutível, ele é um conceito bem mais estreito do que o que Nydwracu delineia. Um thede é uma etnia, se descreve uma unidade real – em vez de meramente convencional – de populações humanas. Isto é, claro, exclui uma grande variedade de dimensões identitárias, incluindo sexo, orientação sexual, idade, interesses, signos… assim como algumas daquelas que Nydwracu menciona (subculturas musicais e escolas filosóficas). Uma generalização de ‘thedes’ para incluir todos os agrupamentos humanos auto-conscientes arrisca uma difusão em um subjetivismo frívolo (e uma subsequente re-apropriação para propósitos alternativos).

Se a análise dos thedes começa com o reconhecimento de que o homem é um animal social, é um erro grave expandir imediatamente o escopo do conceito para grupos tais como mulheres, lésbicas, amantes de cachorros e fãs de black metal, uma vez que nenhum desses corresponde a agrupamentos sociais biologicamente relevantes. Se esta é a direção em que a noção deve ser desenvolvida, este blog pega a primeira saída para um território mais biorrealista. Já existe o bastante de tais ‘thedes’ a serem encontrados nos departamentos de literatura e de estudos de agravos das universidades. Um ‘thedismo’ deste tipo é simplesmente interseccionalidade com uma leve inclinação direitista. Não tem nenhuma função cladística, exceto enquanto metáfora degenerada.

Enquanto heurística confiável, apenas aqueles agrupamentos que são sujeitos plausíveis de autonomização secessionista deveriam ser considerados thedes. Qualquer grupo que não possa imaginavelmente ser qualquer tipo de micro-nação tem apenas uma identidade intra-thedista. De maneira mais sombria, um thede – ‘propriamente’ falando – é necessariamente um objeto potencial de um genocídio. (Argumentar desta maneira é fugir radicalmente do uso que Nydwracu recomenda. Isso não é uma tentativa de tomar controle da palavra, mas apenas explicar por que ela parece debilitada de maneira tão básica. Este post será a última vez que ela será mutilada aqui.)

A rigorização da análise dos thedes na direção de etnias reais também exigiria o abandono de tentativas de assimilar classes a thedes, embora as identidades de classe possam mascarar thedes e operar enquanto seus representantes. Entre a Nova Inglaterra e a Appalachia há uma diferença (real) de thedes entre populações étnicas, encrustadas com características suplementares de classe. Usada estritamente desta maneira, a ideia de um thede faz algum trabalho teórico e descobre algo. Ela expõe a guerra étnica subterrânea disfarçada pela estratificação de classes. Quando usada meramente para classificar identidades sociais genéricas, por outro lado, ela engrossa a névoa, apelando à mentalidade construtivista social. Tribos e classes não podem ser absorvidas em um único super-conceito sem uma perda fatal de significado. É impossível pertencer a uma classe em qualquer sentido similar àquele em que se pertence a um thede (étnico), a menos que a classe seja um disfarce. A estratificação por classe é primariamente intra-thedista e trans-thedista. É a maneira em que uma população se organiza, não uma população em si.

A diferença religiosa, em contraste, é tipicamente thedista. De longe o exemplo mais importante, para as divergências internas da NRx e para o Ocidente em geral, é a cisão entre o cristianismo católico e o reformado (protestante). Existem populações católicas e protestantes reais (autonomamente reprodutíveis) e, assim, thedes verdadeiros. Qualquer uma poderia ser totalmente exterminada sem o desaparecimento da outra. Além disso, a maneira em que a ‘thedianidade’ é compreendida varia sistematicamente entre elas. Em bases estritamente técnicas, é tentador contrapôr arranjos sociais de alta integridade contra os de baixa integridade, mas isso é entregar munição demais de graça. (Isto é partir para uma discussão diferente, mas uma que já está atrasada. (Junto com outras referências óbvias, Nydwracu aponta para esta))

Etnias correspondem a populações reais e a estruturas cladísticas. ‘Thedes’ da maneira em que estão atualmente formulados, não. Ironicamente, esta imprecisão denotacional (super-generalidade) do conceito de thede se empresa a usos guiados por conotações extremamente concretas, com um sabor distinto de Blut und Boden. O uso da palavra ‘identidade’ (pelo menos na direita) tem exatamente as mesmas características. Este blog está farto do conceito de ‘thede’, a menos que seu significado seja drasticamente arrumado.

Nota: Onde este post queria ir, quando começou, estava mais próximo do debate ‘cães vs gatos’, ou disto:

É, existe uma desconexão imensa entre a ideia de seasteading, enquanto plataforma para se experimentar várias formas de governança, e a realidade de que a vasta maioria das pessoas interessadas em persegui-la são libertários ortodoxos que vêem algum tipo de libertarianismo anarco-capitalista como o vencedor inevitável em uma ‘luta justa’ entre sistemas políticos. Eu realmente acho que uma crença no libertarianismo está ligada a um tipo neurológico distinto e relativamente raro e que, portanto, nunca vai convencer a vasta maioria das pessoas, que tendem na direção de uma moralidade mais altruísta e coletivizada.

É pelo menos concebível que hiper-individualistas neuro-atípicos possam estabelecer uma micro-nação (ou serem exterminados). Eles poderia, portanto, reivindicar uma identidade thedista, embora em um sentido estrito – que ninguém quer usar.

ADICIONADO: Uma vez que esta é minha oportunidade de emprestar ‘thede’ para significar algo com conteúdo substancial real (isto é, uma unidade social autônoma e auto-reprodutora), vale a pena enumerar alguns thedes possíveis, para dar um senso de sua extensão: tribos, grupos étnicos (concentricamente ordenados), cidades, seasteads, colônias espaciais… “Qual é o seu thede?” se traduz como “Quem é o seu povo?” – “Colecionadores de selos” não deveria ser considerada uma resposta séria.

ADICIONADO: Arrumação terminológica por Nydwracu –

 

‘Phyle’ é bom.

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Guerras Zumbi

Zumbis são visado com antecedência para a aplicação de uma violência desinibida. Sua chegada anuncia um conflito no qual todas as considerações morais são definitivamente suspensas. Uma vez que eles não têm ‘almas’, não há nada que não façam, e se esperar que façam o pior. Reciprocamente, ele merecem exatamente zero preocupação humanitária. A relação com o zumbi é uma na qual toda a simpatia é anulada de maneira absoluta (殺殺殺殺殺殺殺).

Não é nenhuma surpresa, então, que a identificação do zumbi tenha se tornado um conflito crítico, travado através do terreno da cultura popular. Ela descreve uma zona de fogo livre, ou um gradiente antecipado na direção social da violência. Os zumbis ou são ralé ou são drones.

Michael Hampton esboça essas alternativas de maneira convincente:

Historicamente, o zumbi só começou a migrar para além dos confins do Haiti no período entre a Quebra da Bolsa de Nova York e a eclosão da Segunda Guerra Mundial, infectando Hollywood em filmes tais como The Magic Island, 1929, White Zombie, 1932 e Revolt of the Zombies, 1936. Como um monstro não-europeu, o zumbi foi usado aqui como um tipo conveniente e sem face de alteridade, que, embora temporariamente desprovido de suas associações canibais do século XIX, se tornou um assustador substituto para as subclasses despojadas da América das tempestades de areia, e uma ameaça racial às mulheres brancas civilizadas também. (“Extermine os brutos”)

Ao passo que a contraparte horrorológica, da maneira em que é percebida / construída pela Esquerda…

…veio a figurar como um símbolo fatídico da massa de tecno-humanos sem subjetividade sob o capitalismo, lumpen-não-seres de pesadelos, cuja alteridade havia sido completamente internalizada, e depois suavizada, e devolvida com juros descontados como um entretenimento desalmado; não tanto mortos-vivos quanto hipermediados e vivos sob uma restrição globalizada severa; sedentários gravemente afligidos pela ‘síndrome de cadáver que respira’ ou ‘síndrome do parcialmente morto’. Voyeur hipócrita, você se reconhece?

Como quer que a guerra contra os zumbis seja vislumbrada, a guerra pelos zumbis tem estado há muito em andamento. É inextricável da questão: A violência legítima vem da Direita ou da Esquerda?

Uma vez que esta questão é historicamente inextinguível, é seguro prever que os zumbis não desaparecerão tão logo do mundo do pesadelo popular. Quase certamente, veremos bem mais deles. Se você quiser tem um sentimento de onde as linhas de tiro estão sendo colocadas, você precisa dar uma olhada cuidadosa…

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Horrorizado

Há um post sobre o racismo extremo de H. P. Lovecraft a caminho e, dada a abundância de material estimulante sobre o tópico, um tira-gosto menor é irresistível. Este] ensaio altamente representativo de Nicole Cushing serve como oportunidade. Ela escreve:

Abordar este assunto também é difícil porque ele tem que ser tratado com algum nuance (o que é difícil de conseguir em uma discussão sobre um tópico uma carga emocional tão justificadamente grande quanto o racismo americano). Seria fácil demais apontar para o racismo de Lovecraft (e para algumas de suas outras falhas enquanto autor) e descartá-lo como um idiota indistinto que não merecia nada melhor do que ser publicado em pulps. Eu não vou fazer isso aqui. Minha posição é de que Lovecraft fez uma contribuição importante para o horror e para a ficção científica ao focar (de uma maneira persistente e convincentemente imaginativa) no terror induzido pela revelação da não-significação humana no cosmos. […] Lovecraft teve uma influência significativa na ficção de horror (em particular) durante muitos anos, uma influência que transcende seu racismo. …Tudo isso é apenas uma maneira verbosa de explicar que o racismo de Lovecraft não nega suas realizações.

Mas suas realizações não negam seu racismo. (Entre, dissonância cognitiva).

Entre os aspectos mais fascinantes deste comentário é sua flagrante desorientação, uma vez que – claro – o fenômeno indicado não tem absolutamente nada a ver com dissonância cognitiva. Há aqui um encontro com uma espécie anormal de gênio literário, associada com uma verdade metafísica profunda, o que, ao mesmo tempo, – e por razões inextricavelmente emaranhadas – desencadeia uma reação de pânico moral, que se inclina para uma repulsa somática profunda. Em outras palavras, e talvez até mesmo bastante simplesmente, o que está sendo relatado por Nicole Cushing é – horror.

ADICIONADO: Isto me divertiu morbidamente:

“Houve essa janela de oportunidade”, continua [o boateiro sobre o Necronomicon, Peter Levenda], revisando a ressurgência ocultista nos anos 1970, quando “queríamos mostrar que isso não era uma coisa assustadora. Poderia ser poderosa, poderia alterar sua mente, poderia mudar sua vida. Mas não era perigoso, não ia te matar. E era isso que estávamos tentando promover.”

Eu recentemente visitei o antigo local do The Magickal Childe. Herman Slater morreu de AIDS em 1992…

ADICIONADO: Nicole Cushing (em sua própria seção de comentários: “Em posts nos quais “a palavra com n” apareceria, eu editei para ser ‘N—-r’ ou algum outro arranjo similar. Dessa maneira, os leitores devem ser capazes de entender a essência do que o comentador está se referindo sem ter que olhar para a palavra em si”.  – Por que não simplesmente deixar como “Neorreação”? – não pode ser tão aterrorizante assim.

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Niilismo e Destino

Leitores de Nietzsche ou de Eugene Rose já estão familiarizados com a atribuição de uma teleologia cultural à modernidade, direcionada à realização consumada do niilismo. Nossa crise contemporânea encontra esse tema reanimado dentro de um contexto geopolítico através da obra de Alexandr Dugin, que a interpreta como um condutor de eventos concretos – mais especificamente a antagonização da Rússia por parte de uma ordem liberal mundial em implosão. Ele escreve:

Há um ponto na ideologia liberal que causou uma crise dentro dela: o liberalismo é profundamente niilista em seu âmago. O conjunto de valores defendidos pelo liberalismo está essencialmente ligado a sua tese principal: a primazia da liberdade. Mas a liberdade, na visão liberal, é uma categoria essencialmente negativa: ela reivindica ser livre de (nos termos de John Stuart Mill), não ser livre para, algo. […]…os inimigos da sociedade aberta, que é sinônima da sociedade Ocidental pós-1991 e que se tornou a norma para o resto do mundo, são concretos. Seus inimigos primários são o comunismo e o fascismo, ambas ideologias que emergiram da mesma filosofia Iluminista e que continham conceitos centrais não-individualistas – a classe no Marxismo, a raça no Nacional-Socialismo, e o Estado nacional no fascismo). Assim, a fonte do conflito do liberalismo com as alternativas existentes de modernidade, fascismo ou comunismo, é bastante óbvia. O liberais alegam liberar a sociedade do fascismo e do comunismo, ou seja, das duas grandes permutações de totalitarismo moderno explicitamente não-individualistas. A luta do liberalismo, quando vista enquanto parte do processo da liquidação de sociedades não-liberais, é bastante significativa: ela adquire seu significado do fato da própria existência de ideologias que explicitamente negam o indivíduo como o valor mais alto da sociedade. É bastante claro ao que a luta se opõe: à liberação de seu oposto. Mas o fato de que a liberdade, da maneira em que ela é concebida pelos liberais, é uma categoria essencialmente negativa não é claramente percebida aqui. O inimigo está presente e é concreto. Esse fato mesmo dá ao liberalismo seu conteúdo sólido. Algo além da sociedade aberta existe, e o fato de sua existência é o suficiente para justificar o processo de liberação.

Na análise de Dugin, o liberalismo tende à auto-abolição no niilismo e é capaz de neutralizar esse destino – mesmo que apenas temporariamente – ao se definir contra um inimigo concreto. Sem a guerra contra o iliberalismo, o liberalismo volta a ser nada em absoluto, uma negação flutuando livremente sem propósito. Portanto, a iminente guerra contra a Rússia é uma exigência do processo cultural intrínseco ao liberalismo. É uma fuga do niilismo, o que é dizer: a história do niilismo o propele.

Este blog está bem mais inclinado a criticar Dugin do que a se alinhar com ele, ou com as forças que ele orquestra, mas é difícil negar que ele representa uma espécie definida de gênio político, suficiente para categorizá-lo como um homem do destino. A mobilização da resistência à modernidade em nome de um contra-niilismo é inspirada, porque o entendimento histórico que ela desenha é genuinamente penetrante. Através de uma alquimia política potente, a destruição do significado coletivo é transformada em uma causa revigorante. Quando Dugin argumento que haverá sangue, o apelo a vitimologia eslava poderia ser considerado abjeto (e, claro, extremamente ‘perigoso’), mas a compreensão profética não é fácil de descartar.

A modernidade foi iniciada pela assimilação européia do zero matemático. O encontro com o nada está em sua raiz. Neste sentido, entre outros, ela é niilista em seu âmago. Os frívolos ‘significados’ a que as sociedades em modernização se agarram, como distrações de sua propulsão para dentro do abismo, são indefensáveis contra a ridicularização – e até mesmo contra a repulsa – daqueles que as contemplam com distanciamento. Uma modernidade que evade seu niilismo essencial é uma presa lamentável nas planícies da história. Isto é o que vimos antes, vemos agora e, sem dúvidas, veremos de novo.

Dugin fita a modernidade com os olhos frios de um lobo. É meramente patético denunciá-lo por isso.

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Zackado

Embora, sem dúvidas, seja lisonjeiro ser o alvo de uma artigo de opinião brutal, preguiçoso e desonesto, também é vagamente irritante. Kuznicki não poderia ter alimentado a fogueira com ódio o suficiente com a rejeição da democracia, simpatias pela BDH, anti-igualitarismo, fundamentalismo de mercado, desintegracionismo, e o sussurar de Shoggoth, sem também inventar um monte de coisas?

De qualquer maneira, apenas para registro:

* Eu não sou um proponente do “‘realismo’ racial nacionalista branco”.
* Em nenhum lugar eu “argumento que o nacionalismo branco e o liberalismo de mercado de alguma forma são indissociáveis”.
* Eu nunca fiz um “argumento contra os mercados” de qualquer tipo, muito menos de que eles “estão por trás da democracia com um veto tirânico e imprevisível” [o que quer que isso signifique]
* Eu nunca promovi a “pureza racial”

Sem dúvidas, há uma série de pessoas que aparecem aqui que desejam que eu fizesse alguns desses argumentos, e, ao me distanciar delas, eu não estou querendo endossar a sugestão de Kuznicki de que eles são meros insultos.

Este tipo de situação tende a estressar a objetividade, de modo que não vou fingir um perfeito equilíbrio quanto ao assunto. Parecem haver lições, no entanto, de uma natureza bastante geral.

Para começar, o problema do ‘engajamento’ com a mídia é real, que só pode ficar mais premente, em estrita proporção com o ‘sucesso’. Eles têm que vir atrás de Mencius Moldbug, em algum ponto, na medida em que qualquer coisa interessante estiver sendo preparada, então provavelmente haverá mais testes de execução contra alvos secundários. Toda a questão da seleção de alvos é potencialmente interessante, mas não tenho nenhum conhecimento especial para compartilhar sobre esse tópico neste momento.

Claramente, eu tive muita sorte nesse caso. A China não parece ser compatível com a Catedral (como Stirner aponta na excelente seção de comentários), então a pressão social direta está seriamente embotada. Kuznicki não é nem a faca mais afiada na gaveta, nem um pitbull, então fraqueza tem sido a impressão ‘dominante’. O site do qual ele posta, apesar de seu estilo de revista, é bestante incrivelmente marginal – o tráfego deste pequeno blog para o seu tem corrido de duas a três vezes ao contrário (o que eu nunca teria imaginado – eles têm dez contribuidores listados lá). O Umlaut também permite comentários, o que tem sido um fisco completo para eles desta vez (dê uma olhada). Todos os visitantes têm detonado Kuznicki, e usado o sistema de upvote/downvote para quantificar o argumento. Estou enviesado, mas achei isso absolutamente hilário. Vale a pena notar, contudo, que a máquina midiática da esquerda tem retirado suas seções de comentários, que os torna bem mais efetivos como máquinas de ataque livres de represálias. Finalmente, o Twitter têm sido um recurso extraordinário. É um componente absolutamente crítico de nossa capacidade de nos defender.

Reunindo tudo isso: Temos que aprender, nos preparar e antecipar. As lutas por vir valem a pena acertar. Qualquer depressão fatalista sobre o poderio de nossos inimigos é tanto derrotismo auto-realizador quanto, em medida considerável, simplesmente falso. Não há qualquer razão para pensar que o ‘destino’ da mídia está sob seu controle ou mesmo que suas tendência são, em geral, favoráveis a eles. A prática é nossa amiga. Essas coisas vão importar cada vez mais. A sorte não vai sempre estar tão obviamente de um lado só.

ADICIONADO: Jason Kuznicki é magnânimo o suficiente para escrever isto. Aprecia-se.

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O Iluminismo Sombrio, Parte 4b

Parte 4b: Observações Desagradáveis

Embora famílias negras e pais de garotos não sejam os únicos que se preocupam com a segurança dos adolescentes, Tillman, Brown e outros pais dizem que criar garotos negros é talvez o aspecto mais estressantes de ser pai, porque estão lidando com uma sociedade é temerosa e hostil em relação a eles, simplesmente por causa da cor de sua pele.

“Não acredita? Fique um dia em meu lugar”, disse Brown.

Brown disse que, aos 14, seu filho está naquela idade crítica em que ele está sempre preocupado com sua segurança por causa da criação de perfis.

“Eu não quero assustá-lo ou fazê-lo generalizar as pessoas, mas, historicamente, nós homens negros temos sido estigmatizados como os perpetradores de crimes e, onde quer que estejamos, somos suspeitos”, disse Brown.

Pais negros que não deixam esse fato claro, ele e outros disseram, o fazem arriscando seus filhos.

“Qualquer pai afro-americano que não esteja tendo essa conversa está sendo irresponsável”, Brown disse. “Eu vejo toda esta coisa como uma oportunidade para falarmos francamente, abertamente e honestamente sobre relações raciais.”
– Gracie Bonds Staples (Star-Telegram)

Quando as comunidades resistem a um influxo de titulares de vales-habitação do Seção 8 vindos do centro da cidade, digamos, eles estão reagindo esmagadoramente a comportamentos. A cor da pele é um indicador desse comportamento. Se os negros do centro da cidade se comportassem como Asiáticos – amontoando tanto conhecimento em seus filhos quanto eles conseguem colocar em seus crânios – a cautela persistente em relação aos negros de renda mais baixa que muitos americanos inquestionavelmente nutrem desapareceriam. Existem racistas irremediáveis entre os americanos? Por certo. Eles vêm em todas as cores, e deveríamos deplorar todos eles. Mas a questão da raça nos Estados Unidos é mais complexa do que a companhia educada geralmente tem permissão de expressar.
– Heather Mac Donald (City Journal)

“Vamos falar sobre o elefante na sala. Eu sou negra, OK?” disse a mulher, recusando-se a se identificar porque antecipou uma reação devido à sua raça. Ela se inclinou para olhar para o repórter direto nos olhos. “Haviam garotos negros roubando casas nesta vizinhança”, ela disse. “É por isto que George suspeitou de Trayvon Martin.”
— Chris Francescani (Reuters)

“Em suma, a dialética pode ser definida como a doutrina da unidade dos opostos. Isto incorpora a essência da dialética”, Lenin observa, “mas isso requer explicações e desenvolvimento”. Isto é: mais discussão.

A sublimação (Aufhebung) do Marxismo no Leninismo é uma eventualidade que é melhor compreendida de maneira crua. Ao forjar um política comunista revolucionária de ampla aplicação, quase inteiramente divorciada das condições materiais maduras ou das contradições sociais avançadas que foram anteriormente antecipadas, Lenin demonstrou que a tensão dialética coincidia, exaustivamente, com sua politização (e que toda referência a uma ‘dialética da natureza’ não é mais do que uma subordinação retrospectiva do domínio científico a um modelo político). Dialéticas são tão reais quanto são feitas ser.

A dialética começa com uma agitação política e não se estende para além de sua ‘lógica’ prática, antagonista, faccional e de coalizão. Ela é a ‘superestrutura’ por si só, ou contra a limitação natural, apropriando-se de maneira prática da esfera política, em sua extensão inteligível mais ampla, como uma plataforma para a dominação social. Onde quer que haja discussão, há uma oportunidade não resolvida para governar.

A Catedral encarna estas lições. Ela não tem qualquer necessidade de esposar o Leninismo, ou dialética operacional comunista, porque não reconhece nada mais. Dificilmente há um fragmento da ‘superestrutura’ social que tenha escapado da reconstrução dialética através de antagonismo articulado, polarização, estruturação binária e reversão. Dentro da academia, da mídia e mesmo das belas artes, a super-saturação política prevaleceu, identificando mesmo os elementos mais minúsculos da apreensão com uma ‘crítica social’ conflituosa e com a teologia igualitária. O comunismo é a implicação universal.

Mais dialética é mais política, e mais política significa ‘progresso’ – ou migração social para a esquerda. A produção de concordância pública leva apenas em uma direção e, dentro da discordância pública, tal ímpeto já existe em embrião. É apenas na ausência de concordância e de uma discordância publicamente articulada, ou seja, na não-dialética, no não-argumento, na diversidade sub-política ou iniciativa politicamente descoordenada que o refúgio ‘direitista’ da ‘economia’ (e, de maneira mais ampla, da sociedade civil) será encontrado.

Quando nenhuma concordância é necessária ou coercitivamente exigida, a liberdade negativa (ou ‘libertária’) ainda é possível, e este ‘outro’ não argumentativo da dialética é facilmente formulado (mesmo que, em uma sociedade livre, ele não precise ser): Faça suas próprias coisas. Bastante claramente, este imperativo irresponsável e negligente é politicamente intolerável. Ele coincide exatamente com a depressão esquerdista, retrocesso ou despolitização. Nada clama mais urgentemente por ser contra argumentado.

No extremo oposto está o êxtase dialético da justiça teatral, na qual a estrutura argumentativa dos procedimentos legais é associada à divulgação por meio da mídia. O entusiasmo dialético encontra sua expressão definitiva em um drama de tribunal que combina advogados, jornalistas, ativistas comunitários e outros agentes da superestrutura revolucionária na produção de um julgamento-show. Contradições sociais são encenadas, casos antagonistas articulados, e uma resolução, institucionalmente esperada. Isto é Hegel para o horário nobre da televisão (e agora para a Internet). É a maneira em que a Catedral compartilha sua mensagem com as pessoas.

Às vezes, em suas paixão impaciente pelo progresso, essa mensagem pode tropeçar em si mesma, porque, muito embora os agentes da Catedral sejam infinitamente razoáveis, eles são cada vez menos sensatos, muitas vezes surpreendentemente incompetentes, e estão propensos a cometer erros. Isto deve ser esperado com bases teológicas. Conforme o estado se torna Deus, ele se degenera em imbecilidade, no modelo do santo tolo. A política midiática do espetáculo de Trayvon Martin fornece um exemplo pertinente.

Nos Estados Unidos, como em qualquer outro país grande, muitas coisas acontecem todos os dias, exibindo inúmeros padrões de obscuridade variante. Por exemplo, em um dia médio, há aproximadamente 3400 crimes violentos, incluindo 40 assassinatos, 230 estupros, 1000 assaltos e 2100 agressões agravadas, ao lado de 25.000 crimes não violentos de propriedade (roubos e furtos). Muito poucos destes serão amplamente divulgados ou aproveitados como educacionais, exemplares e representativos. Mesmo que a mídia não estivesse inclinada a uma seleção baseada em narrativa das ‘boas estórias’, o simples volume de incidentes compeliria a algo do tipo. Dada esta situação, é quase inevitável que as pessoas perguntem: Por que estão nos contando isto?

Quase tudo sobre a morte de Trayvon Martin é controverso, exceto pela motivação da mídia. Sobre este tópico, há quase uma unanimidade. O significado ou mensagem pretendida da estória do caso dificilmente poderia ter sido mais transparente: A paranoia racista branca torna a América perigosa para pessoas negras. Ele assim ensaiaria a dialética do terror racial (seu medo é assustador), feita – como sempre – para converter o pesadelo social recíproco da América em uma peça de moralidade unilateral, alocando o pavor legítimo exclusivamente a um lado da divisão racial principal do país. Parecia perfeito. Um vigilante branco malignamente enganado atira em uma criança negra inocente, justificando o medo negro (‘a conversa’) enquanto expõe o pânico branco como um psicose assassina. Esta é uma estória de tamanho significado arquetípico progressista que não pode ser contada vezes demais. Na verdade, é boa demais para ser verdadeira.

Logo se tornou evidente, contudo, que a seleção da mídia – mesmo quando reforçada pela máquina de raiva de celebridades / ‘ativistas comunitários’ – não fora suficiente para manter a estória no script, e ambos os atores principais estavam se distanciando de seus papeis atribuídos. Se os estereótipos endossados pelos progressistas devessem ser sequer remotamente preservados, uma vigorosa edição seria exigida. Isso foi especialmente necessário porque certos leitores maus, racistas e preconceituosos do Miami Herald estavam começando a forjar uma conexão mental destruidora de narrativas entre ‘Trayvon Martin’ e ‘ferramenta de assalto’.

Quanto ao assassino, George Zimmerman, o nome dizia tudo. Ele claramente iria ser um cara pálida, desajeitado, parecido com um storm-trooper, com esperança algum tipo de cristão louco por armas e, talvez – se eles realmente achassem ouro, – um tipo dos movimentos de milícia, com um histórico de homofobia e ativismo anti-aborto. Ele começou ‘branco’ – por nenhuma razão óbvia além da incompetência midiática e da programação narrativa – e depois se viu transformado em um ‘hispânico branco’ (uma categoria que parece ter sido rapidamente inovada no momento), antes de ser gradualmente deslocado ao longo de uma série de complicações étnicas cada vez mais compatíveis com a realidade, culminando na descoberta de seu bisavô afro-peruano.

No coração da Catedral, estava bem na hora de coçar a cabeça. Aqui estava o grande réu amerikkkano, sendo preparado para seu julgamento-show, o Presidente havia contribuído emocionalmente em nome da sagrada vítima, e o jogo coordenado no solo havia sido avançado à beira fervilhante de revoltas raciais, quando a mensagem começou a cair aos pedaços, em tal medida que agora ameaçava a se degenerar em um caso irritantemente irrelevante de violência de negros contra negros. Não era apenas que George Zimmerman tinha uma ancestralidade negra – o que o tornava simplesmente ‘negro’ pelos padrões construtivistas sociais da própria esquerda – ele também havia crescido amigavelmente entre pessoas negras, com duas garotas afro-americanas como “parte do lar por anos”, havia entrado em um empreendimento em conjunto com um parceiro negro, era um democrata registrado e até mesmo algum tipo de ‘organizador comunitário’…

Então, por que Martin morreu? Foi por carregar chá gelado e um pacote de Skittles sendo negro (a versão ‘poderia ter sido o Obama filho’, aprovada pela mídia e por ativistas comunitários), por ir verificar alvos de assaltos (a versão do perfilamento racial kluxer) ou por quebrar o nariz de Zimmerman, derruba-lo, sentar em cima dele e golpear sua cabeça repetidamente contra o calçada (a ser decidido no tribunal)? Ele era um mártir da injustiça racial, um predador social de baixo nível ou um sintoma humano da crise urbana americana? A única coisa que estava realmente clara quando os procedimentos legais começaram, além da tristeza esquálida do episódio, era que ele não estava resolvendo nada.

Para uma sensação do quão desconcertantemente a lição aprovada havia se desintegrado no momento em que Zimmerman foi acusado de assassinato em segundo grau, só é necessário ler este post do blogueiro BDH oneSTDV, que descreve os distúrbios dialéticos da direita guerreira racial.

Apesar da natureza perturbadora das “acusações” contra Zimmerman, muitos da alt-right recusam conceder a Zimmerman qualquer simpatia ou sequer ver isto como um momento seminal no reino anarco-tirano do esquerdismo moderno. De acordo com estes indivíduos, os mestiço, falante de espanhol e democrata registrado, recebeu o que estava em seu caminho – a ira da multidão negra e da elite de esquerda indiretamente apoiada pelo próprio Zimmerman. Devido ao seu histórico de votação, antecedentes multiculturais e tutelagem de jovens de minorias, eles vêem Zimmerman como emblemático do ataque da esquerda à América branca, um tipo de soldado na campanha contra a brancura americana. [Negrito no original]

A política popular do politicamente correto estava pronta para seguir adiante. Com o grande julgamento-show colapsando em desordem narrativa, era hora de refocar na Mensagem, que se danem os fatos (que se danem duplamente). ‘Jezebel‘ melhor exemplifica o tom ameaçador e vagamente histérico:

Você sabe como dizer se as pessoas negras ainda são oprimidas? Porque as pessoas negras ainda são oprimidas. Se você alega que você não é uma pessoa racista (ou, pelo menos, que você está comprometido em trabalhar para caralho para não ser uma – o que, na verdade, é o melhor que qualquer um nós pode prometer), então você tem que acreditar que as pessoas são fundamentalmente nascidas iguais. Logo, se isso é verdade, então, em um vácuo, fatores como cor da pele não deveriam ter nenhum efeito sobre o sucesso de ninguém. Certo? E, portanto, se você realmente acredita que todas as pessoas são criadas iguais, então, quando você vê que desigualdades raciais drásticas existem no mundo real, a única coisa que você poderia concluir é que alguma força externa está segurando algumas pessoas. Como… o racismo. Certo? Então, parabéns. Você acredita em racismo! A menos que você não acredite realmente que as pessoas nasçam iguais. E, se você não acredita que as pessoas nascem iguais, então você é a p**** de um racista.

Alguém “realmente acredita que as pessoas nascem iguais”, da maneira que se entende isso aqui? Acredita, isto é, não apenas que uma expectativa formal de tratamento igual é um pré-requisito da interação civilizada, mas que qualquer desvio revelado da igualdade substancial de resultado é uma indicação óbvia e inequívoca de opressão? Que isso é “a unica coisa que você poderia concluir”?

No mínimo, Jezebel poderia ser parabenizada por expressar a fé progressista em sua forma mais pura, inteiramente descontaminada de sensibilidade à evidência ou à incerteza de qualquer tipo, casualmente desdenhosa de qualquer pesquisa relevante – quer existente ou meramente concebível – e supremamente confiante sobre sua própria invencibilidade moral. Se os fatos estão moralmente errados, tanto pior para os fatos – está é a única posição que poderia ser adotada, mesmo se for embasada em uma mistura de pensamento desejoso, ignorância deliberada e mentiras insultantemente infantis.

Chamar a crença na igualdade substancial humana de superstição é insultar a superstição. Pode ser injustificado acreditar em leprechauns, mas pelo menos a pessoa que mantém tal crença não está assistindo-os não existir, a cada hora de vigília do dia. A desigualdade humana, em contraste e em toda a sua multiplicidade abundante, está constantemente em exposição, conforme as pessoas exibem suas variações em gênero, etnia, atratividade física, tamanho e forma, força, saúde, agilidade, charme, humor, sagacidade, diligência e sociabilidade, ente outras inúmeras características, traços, habilidades e aspectos de sua personalidade, algumas de forma imediata e conspícua, algumas apenas lentamente, ao longo do tempo. Absorver mesmo a mais mínima fração disso tudo e concluir, da única maneira possível, que ou não é nada em absoluto, ou que é um ‘construto social’ e um índice de opressão, é puro delírio Gnóstico: um comprometimento, para além de toda evidência, com a existência de um mundo verdadeiro e bom, velado pelas aparências. As pessoas não são iguais, elas não se desenvolvem igualmente, suas metas e realizações não são iguais, e nada pode torná-las iguais. A igualdade substancial não tem qualquer relação com a realidade, exceto enquanto sua negação sistemática. Violência em uma escala genocida é necessária para sequer se aproximar do programa igualitário prático e, se qualquer coisa menos ambiciosa for tentada, as pessoas a contornam (algumas de maneira mais competente que as outras).

Para tomar apenas o exemplo mais óbvio, qualquer um com mais do que um filho sabe que ninguém nasce igual (exceto, talvez, gêmeos monozigóticos e clones). Na verdade, todo mundo nasce diferente, de inúmeras maneiras. Mesmo quando, – como normalmente é o caso – as implicações dessas diferenças para os resultados da vida são difíceis de prever com confiança, sua existência é inegável ou, pelo menos: sinceramente inegáveis. Claro, sinceridade, ou mesmo uma coerência cognitiva mínima, não é nem remotamente a questão aqui. A posição de Jezebel, embora impecável em sua correção política, não é apenas factualmente duvidosa, mas sim risivelmente absurda e, na verdade – estritamente falando – insana. Ela dogmatiza um negação da realidade tão extrema que ninguém poderia genuinamente manter, ou sequer entretê-la, muito menos plausivelmente explicá-la ou defendê-la. Ela é um princípio de fé que não pode ser entendido, mas apenas afirmado ou aceito, como loucura tornada lei, ou religião autoritária.

O mandamento político desta religião é transparente: Aceite a política social progressista como a única solução possível para o pecado problema da desigualdade. Este comando é um ‘imperativo categórico’ – nenhum fato possível jamais poderia miná-lo, complicá-lo ou revisá-lo. Se a política social progressista na verdade resultar em uma exacerbação do problema, a realidade ‘caída’ deve ser culpada, uma vez que o mal social é obviamente pior do que se vislumbrara anteriormente e apenas esforços redobrados na mesma direção podem esperar remediá-lo. Não pode haver nada a se aprender em questão de fé. Eventualmente, o colapso social sistemático ensina a lição que a falha crônica e a deterioração incremental não puderam comunicar. (Isso é o darwinismo social em escala macro para principiantes, e é a maneira em que a civilização acaba.)

Devido a sua excepcional correlação com uma variação substancial nos resultados sociais nas sociedades modernas, de longe a dimensão mais problemática da biodiversidade humana é a inteligência ou capacidade geral de resolução de problemas, quantificada como QI (que mede o ‘g’ de Spearman). Quando o ‘senso comum estatístico’ ou perfilamento é aplicado aos proponentes da Bio-Diversidade Humana, contudo, um outro traço significativo rapidamente é exposto: um déficit notavelmente consistente de condescendência. De fato, é amplamente aceito dentro da própria ‘comunidade’ amaldiçoada que a maior parte daqueles teimosos e esquisitos o suficiente para se educarem sobre o tópico da variação biológica humana são significantemente ‘retardados socialmente‘, com baixa inibição verbal, baixa empatia e baixa integração social, o que resulta em má adaptação crônica às expectativas do grupo. Os EQs típicos deste grupo podem ser extraídos como a raiz quadrada aproximada de seus QIs. Um autismo moderado é típico, suficiente para aproximar seus companheiros em um espírito de curiosidade natural-científica desprendida, mas não tão avançado ao ponto de compelir um desengajamento cósmico total. Estes traços, que eles próprios consideram – com base na copiosa informação técnica – como sendo substancialmente herdáveis, têm consequências sociais manifestas, que reduzem oportunidades de emprego, rendas e mesmo potencial reprodutivo. A despeito de todo o conselho terapêutico gratuito disponível no ambiente progressista, esta desagradabilidade não demonstra qualquer sinal de estar diminuindo e pode mesmo estar se intensificando. Como Jezebel mostra tão claramente, isto só pode ser um signal de opressão estrutural. Por que as pessoas desagradáveis não podem ter uma pausa?

A história é condenadora. Os ‘sociáveis’ sempre tiveram um rancor pelos desagradáveis, frequentemente declinando se casar ou fazer negócios com eles, os excluindo das atividades do grupo e de cargos políticos, os rotulando com insultos, os ostracizando e evitando. A ‘desagradabilidade’ foi estigmatizada e estereotipada em termos extremamente negativos, em tal medida que muitos dos desagradáveis buscaram rótulos mais sensíveis, tais como ‘deficientes sociais’, ou ‘sócioatípicos’. Não raro, pessoas foram verbal ou mesmo fisicamente agredidas por nenhuma outra razão além de sua desagradabilidade radical. Mais trágico de tudo, devido à sua completa incapacidade de se relacionarem uns com os outros, os desagradáveis nunca foram capazes de se mobilizar politicamente contra a opressão social estrutural que enfrentam ou de entrar em coalizações com seus aliados naturais, tais como cínicos, refutadores, contrarianistas e aqueles que sofrem com síndrome de Tourette. A desagradabilidade ainda tem que ser libertada, embora seja provável que a Internet ‘ajude’…

Considere o ensaio em infâmia de John Derbyshire, The Talk: Nonblack Version, que foca inicialmente em sua implacável desagradabilidade e está atento à correlação negativa entre sociabilidade e razão objetiva. Como Derbyshire observa em outros lugares, as pessoas geralmente são incapazes de se diferenciar de suas identidade de grupo ou de aplicar apropriadamente generalizações estatísticas sobre grupos a casos individuais, incluindo os seus próprios. Um reificação racionalmente indefensável, mas socialmente inevitável, dos perfis de grupo é psicologicamente normal – até mesmo ‘humana’ – com o resultado de que informação estatística ruidosa e não específica é erroneamente aceita como uma contribuição para o auto-entendimento, mesmo quando informações específicas estão disponíveis.

Da perspectiva da análise racional socialmente autista e de baixo QE, isto está simplesmente equivocado. Se um indivíduo tem certas características, o fato de pertencer a um grupo que tem características médias similares ou dissimilares não tem qualquer relevância que seja. Informações diretas e determinadas sobre o indivíduo não são, em nenhum grau, enriquecidas por informações indiretas e indeterminadas (probabilísticas) sobre os grupos aos quais o indivíduo pertence. Se os resultados individuais de um teste são conhecidos, por exemplo, nenhuma compreensão adicional é fornecida por inferências estatísticas sobre os resultados do teste que poderiam ter sido esperados com base no perfilamento do grupo. Um judeu asquenaze imbecil não é menos imbecil porque ele é um judeu asquenaze. É pouco provável que freiras chinesas idosas sejam assassinas, mas uma assassina que ocorra de ser um freira chinesa idosa não é nem mais nem menos assassina do que uma que não o seja. Isto é tudo extremamente óbvio, para as pessoas desagradáveis.

Para as pessoas normais, contudo, não é óbvio de maneira alguma. Em parte, isto é porque a inteligência racional é escassa e anormal entre humanos e, em parte, porque a ‘inteligência’ social funciona com o que o resto das pessoas está pensando, ou seja, com um sentimento irracional de grupo, pouca informação, preconceitos, estereótipos e heurística. Uma vez que (quase) todas as outras pessoas estão tomando atalhos, ou ‘economizando’ razão, é apenas racional reagir defensivamente a generalizações que provavelmente serão reificadas ou inapropriadamente aplicadas – superando ou substituindo percepções específicas. Qualquer um que antecipe ser predefinido através de um identidade de grupo tem um ego-investimento expandido naquele grupo e na maneira em que ele é percebido. Uma avaliação genérica, por mais objetivamente que tenha sido alcançada, se tornará imediatamente pessoal, sob condições (mesmo bastante remotamente) normais.

A razão desagradável pode teimosamente insistir que qualquer coisa na média não pode ser sobre você, mas a mensagem não será, em geral, recebida. A ‘inteligência’ social humana não é construída dessa maneira. Mesmo comentadores supostamente sofisticados tropeçam repetidamente nas exibições mais chocantes de incompreensão estatística, sem o menor embaraço, porque o embaraço foi feito para alguma outra coisa (e quase exatamente para o oposto). A falha em entender estereótipos em sua aplicação científica ou probabilística é um pré-requisito funcional da sociabilidade, uma vez que a única alternativa à idiotice, neste aspecto, é a desagradabilidade.

O artigo de Derbyshire é digno de nota porque é bem sucedido em ser definitivamente desagradável e tem sido reconhecido como tal, apesar da incoerência espumante da maioria das réplicas. Entre as coisas que ‘a conversa’ e ‘a contra-conversa’ compartilham está uma estrutura teatral de conversação pseudo-privada feita para ser ouvida. Em ambos os casos, uma mensagem que pais são compelidos a entregar a seus filhos é encenada como o veículo de uma lição social mais ampla, visando aqueles que, por ação ou inação, criaram um mundo que é intoleravelmente perigoso para eles.

Esta forma é intrinsecamente manipuladora, o que torna mesmo a conversa ‘original’ um alvo tentador de paródias. No original, contudo, um tom de sinceridade angustiada é projetado através de uma performance deliberada de inocência (ou ignorância). Ouça filho, eu sei que isso vai ser difícil de entender… (Ó, por quê, por que estão fazendo isto conosco?). A contra-conversa, em forte contraste, funde seu drama microssocial com o discuso clinicamente não-sociável de “pesquisas metódicas nas ciências humanas” – tratando populações como unidades biogeográficas vagas com características quantificáveis, em vez de como sujeitos jurídico-políticos em comunicação. Ela ridiculariza a inocência e – por implicação – o critério da própria sociabilidade. Concordância, condescendência, não contam para nada. As estatísticas rigorosa e redundantemente compiladas dizem o que dizem e, se não conseguimos viver com isso, tanto pior para nós.

Ainda assim, mesmo para uma leitura razoavelmente simpática, ou escrupulosamente desagradável, o artigo de Derbyshire fornece bases para críticas. Por exemplo, e desde o começo, é notável que o recíproco racial de “americanos não-negros” é “americanos negros”, e não “negros americanos” (o termos que Derbyshire seleciona). Esta inversão da ordem das palavras, trocando substantivos e adjetivos, rapidamente se assenta em um padrão. Tem importância que Derbyshire exija a extensão da civilidade para qualquer “negro individual” (em vez de aos ‘indivíduos negros’)? Certamente faz diferença. Dizer que alguém é ‘negro’ é dizer algo sobre ela, mas dizer que alguém é ‘um negro’ é dizer quem ela é. O efeito é sutilmente, mas distintivamente, ameaçador, e Derbyshire é bem treinado demais, algebraicamente, para ser desculpado de observar isso. Afinal, ‘John Derbyshire é um branco’ soa igualmente estranho, assim como o faz qualquer formulação análoga, que submerge o indivíduo no gênero, a ser recuperado como uma mera instância ou exemplo.

O aspecto mais intelectualmente substantivo deste logro de incivilidade gratuita foi examinado por William Saletan e Noah Millman, que fizeram pontos muito similares, dos dois lados da divisa liberal/conservador. Ambos os autores identificam um fissura ou incongruência metódica no artigo de Derbyshire, decorrente de seu comprometimento com a aplicação microssocial de generalizações estatísticas macrossociais. Estereótipos, por mais rigorosamente confirmados que sejam, são essencialmente inferiores ao conhecimento específico em qualquer situação social concreta, porque ninguém nunca encontra uma população.

Como um liberal de posições problemáticas, Saletan não tem escolha alguma além de recuar melodramaticamente das “conclusões de revirar o estômago” de Derbyshire, mas suas razões para fazê-lo não são consumadas por suas crise gastro-emocional. “Mas o quê, exatamente, é uma verdade estatística?” ele pergunta. “É uma estimativa de probabilidade a que você pode recorrer se você não souber nada sobre [um indivíduo em particular]. É o substituto fraco de uma pessoa ignorante para o conhecimento.” Derbyshire, com sua atenção de Aspergers à ausência de vencedores negros da Fields Medal, é “…um nerd matemático que substitui a inteligência social pela inteligência estatística. Ele recomenda cálculos de grupo em vez de se dar ao trabalho de aprender sobre a pessoas que está na sua frente”.

Millman enfatiza a inversão irônica que transforma o (desagradável) conhecimento científico social em ignorância imperativa:

Os “realistas raciais” gostam de dizer que eles são os que estão curiosos quanto ao mundo e que os tipos “politicamente corretos” são os que preferem ignorar a feia realidade. Mas o conselho que Derbyshire dá a seus filhos os encoraja a não serem curiosos demais sobre o mundo a seu redor, por medo de se machucarem. E, como regra geral, esse é conselho terrível para crianças – e não é o conselho que Derbyshire tem seguido em sua própria vida.

A conclusão de Millman também é instrutiva:

Então, por que eu sequer estou argumentando com Derb? Bem, porque ele é um amigo. E porque mesmo conversas preguiçosas e socialmente irresponsáveis precisam ser refutadas, não meramente denunciadas. O artigo de Derbyshire é racista? Claro que é racista. Todo o seu ponto é que é tanto racional quanto moralmente correto que seus filhos tratem pessoas negras de maneira significativamente diferente das pessoas brancas e tenham medo delas. Mas “racista” é um termo descritivo, não moral. A turma “realista racial” está fortemente convencida da precisão das principais premissas de Derbyshire, e eles não vão ser convencidos a abandonar essa convicção pela afirmação de que tal convicção é “racista” – tampouco, honestamente, eles deveriam ser. Por esta razão, eu sinto que é importante argumentar que as conclusões de Derbyshire não se seguem, de maneira simples, daquelas premissas e estão, na verdade, moralmente incorretas, mesmo que aquelas premissas sejam concedidas por bem do argumento.

[Breve intervalo…]

Original.

Hiper-Racismo

Embora este blog geralmente busque espalhar desalento quando quer que a oportunidade surja, ele não pode fingir uma enorme obsessão pelo que poderia ser descrito como racismo ordinário. Ao examinar os crimes de pensamento da comunidade racista mainstream, ele é continuamente afligido por um senso de esmagadora irrealidade. Isto não é (claro) porque raças não existam ou não difiram significativamente ou… o que quer que seja. A posição cognitiva mais politicamente incorreta sobre quase todos os pontos deste tipo está confiavelmente mais próxima da realidade do que suas alternativas mais socialmente convenientes e reconfortantes.

O problema com o racismo ordinário é sua total incompreensão do futuro próximo. Não apenas as capacidades de manipulação genômica dissolverão a identidade biológica em processos tecno-comerciais de radicalidade ainda incompreensível, mas também… outras coisas.

Primeiro, um esboço da disputa racismo-antirracismo existente em sua forma comum ou dominante. A posição antirracista ou humanista universal – quando extraída de suas expressões social-construtivistas e alt-racistas hipócritas mais idiotas – equivale a um programa para o agrupamento genético global. As barreiras culturais à visão utópica de um pool genético ‘humano’ unitário, agitado com um ardor crescente até uma mistura homogênea, são deploradas como obstruções atávicas à realização de uma humanidade verdadeira e comum. Raças não existirão uma vez que forem reduzidas, por política prática e indiscriminação libidinal, a relíquias da partição histórica contingente. Em contraste, o identitarismo racial prevê uma conservação de um (comparativo) isolamento genético, geralmente determinado por limites que correspondem a uma variação fenotípica conspícua. Ele é realista racial, no sentido de que admite ver o que todo mundo de fato vê – ou seja, padrões consistentes de variedade impressionante, correlacionada e multi-dimensional entre populações (ou sub-espécies) humanas. Seu irrealismo está em suas projeções.

Gregory Cochran sugere que a colonização espacial inevitavelmente funcionará como um filtro genético altamente seletivo, a menos que uma intervenção política extrema seja tomada para impedir isto:

Supõe-se, em geral, que colonos espaciais, assumindo que em algum momento haja algum, serão indivíduos escolhidos, um pouco como os astronautas existentes – os melhores de hordas de candidatos. Eles serão mais inteligentes que a média, mais saudáveis que a média, mais sãos que a média – e não apenas um pouco. […] Uma vez que todos esses traços são significantemente herdáveis, alguns altamente herdáveis, temos que esperar que seus descendentes sejam diferentes – diferentes acima do pescoço. Ele provavelmente seriam, na média, mais inteligentes do que qualquer grupo étnico existente. Se uma colônia lunar realmente decolasse, os colonos iniciais poderiam representar uma fração desproporcional da população (assim como o fazem os puritanos nos EUA), e os lunáticos poderiam continuar a ter quantias desmesuradas da coisa certa por tempo indeterminado.

Como um tipo científico, Cochran está explorando este cenário como uma fonte potencial de evidência hereditária convincente (antecipada através de um experimento mental). O que dizer, contudo, do prospecto em si, enquanto ilustração de um mecanismo que se empresta à generalização teórica? Poder-se-ia discuti-lo em termos do racismo ordinário, como uma zona de impacto desigual (o que quase certamente seria). Ainda assim, isto é apenas arranhá-lo, nebulosa e superficialmente.

O modelo mais proeminente de um filtro desses é encontrado na teoria do acasalamento preferencial. Estritamente falando, a cultura racial-preservacionista advogada pelo racismo ordinário é um exemplo de acasalamento preferencial, com um critério de proximidade genética filtrando os pares potenciais. Não é por isto que a ideia tem tanta circulação. É o acasalamento preferencial com bases no SSE que o elevou à proeminência, tanto porque parece estar inquestionavelmente acontecendo quanto porque as implicações de seu acontecimento são extremas. (De maneira crucial, SSE é um forte indicador de QI.)

O acasalamento preferencial tende à diversificação genética. Isto não é nem a diversidade preservada do racismo ordinário, menos ainda o agrupamento genético idealizado dos antirracistas, mas um mecanismo, estruturado por classe, de divisão populacional, em um vetor em direção à neo-especiação. Ele implica na desintegração da espécie humana, ao longo de linhas em grande parte sem precedentes, com consequências hierárquicas intrínsecas. A elite geneticamente auto-filtradora não é meramente diferente – e se tornando cada vez mais diferente – ela é explicitamente superior, de acordo com os critérios estabelecidos que alocam status social. Uma fusão analógica com os colonos espaciais de Cochran dificilmente é evitável. Se o acasalamento preferencial com base em SSE está ocorrendo, a humanidade (e não apenas a sociedade) está desmoronando, em um eixo cujo polo inferior é refugo. Isto não é nada que o racismo ordinário seja sequer remotamente capaz de processar. Que seja um pesadelo consumado para o antirracismo vai sem questão, mas é também trans-racial, infra-racial e hiper-racial de maneiras que deixam a ‘política racial’ como uma ruína sem sentido em sua esteira.

Capacidades neo-eugênicas de manipulação genômica, que também estarão distribuídas de forma desigual por SSE, certamente intensificarão a tendência à especiação, em vez de melhorá-la. No lado da doçura-e-luz, pode-se esperar que racistas e antirracistas eventualmente se unam numa fraternidade defensiva, quando reconhecerem que as populações tradicionalmente diferenciadas estão sendo dilaceradas sobre um eixo de variação que anula todas as suas preocupações estabelecidas.

Original.