Estórias de Horror do Bitcoin

O Bitcoin Morre, aventura-se Moldbug, talvez em algum momento este ano. Na sequência de uma ampla acusação do Departamento de Justiça sobre lavagem de dinheiro, visando toda e qualquer pessoa remotamente conectada com a moeda livre, o “preço BTC/USD cai para 0 e permanece lá”.

“[P]ermanece lá” – quão fofo é isso? Ph’nglui mglw’nafh Bitcoin R’lyeh wgah’nagl fhtagn.

O Bitcoin simula o ouro e, uma vez ‘minerado’, ele dura para sempre. Se ele “cai para 0”, ele tem que permanecer lá, pela eternidade, porque não pode nunca ser finalizado. Ele pode morrer, mas nunca ser destruído. Ele foi construído para a morte-viva.

A ‘Teoria Monetária de Moldbug’ atribui o valor do dinheiro exclusivamente à especulação. Se os especuladores estão suficiente aterrorizados, o BTC cai à assistolia e “permanece lá”. O mercado seria totalmente extinto. O que Mao falhou em alcançar, quanto mais sustentar, o Governo dos EUA de alguma forma realizaria, talvez exibindo um ardor revolucionário e uma crueldade maiores.

Crueldade certamente seria necessária, pela óbvia razão de que a assistolia do BTC tem um risco de desvantagem zero. É uma aposta unilateral que alguém, em algum lugar, o reanimará (“nada é instável” (agradeço ao fotrkd pela lembrança)). Se um gênio estivesse projetando uma isca irresistível para especuladores, um bitcoin de grau zero seria difícil de melhorar. É de graça e só não vale nada se os tiras conseguirem proteger a cripta sem falhar e para sempre. Alguém disse ‘dinheiro livre’?

A especulação bagunça o tempo, ao trazer o futuro adiante. Se o BTC morto-vivo jamais fosse ressuscitado, ele já o foi. Seu potencial econômico flui de volta na linha do tempo, modificado por um desconto de preferência temporal. O feedback fica estranho e difícil de calcular com confiança, mas funciona como uma carga vitalizadora, e o cadáver inequivocamente se contorce. O que quer que o dinheiro valha em t0, se for qualquer coisa que seja, em t0-n ele quase certamente não pode ser zero.

O Necronomicon descreve a assistolia do BTC com arrepiante exatidão:

Não está morto aquilo que pode eternamente jazer,
E com éons estranhos até a morte pode morrer.

Original.

Horror Abstrato (Parte 2)

Entre os gêneros literários, o horror não pode reivindicar um direito exclusivo a fazer contato com a realidade. Superficialmente, seu argumento a favor de sequer tê feito isso poderia parecer peculiarmente fraco, uma vez que ele raramente apela para o critério geralmente aceito de ‘realismo’. Na medida em que a realidade e a normalidade são confundidas de qualquer maneira, o horror imediatamente se encontra exilado naqueles espaços de aberração psicológica e social onde a ilusão extravagante encontra seu precário refúgio.

Ainda assim, precisamente através de sua liberação de qualquer representação plausível, o horror acumula para si um potencial para a realização de encontros de um tipo que é excepcional na literatura e raro até mesmo enquanto tópico hipotético dentro da filosofia. A abstração intrínseca da entidade horrorífica esculpe o caminho até um encontro, nativo da esfera do inteligível e, assim, não filtrado pela interioridade ou subjetividade da ficção. O que o horror explora é o tipo de coisa que, devido a sua plasticidade e alem-idez, poderia abrir seu caminho até seus pensamentos de maneira mais capaz do que você mesmo o faz. Qualquer ‘lar’ mental seguro que você imagine possuir, é um parque indefeso para as coisas que o horror invoca, ou às quais ele responde.

A experiência do horror profundo é, em certos aspectos, incomum, e uma vida inteiramente desprovida dela não pareceria notavelmente peculiar. Poder-se-ia ir mais longe e propor que, se tal experiência é verdadeiramente possível, o universo é manifestamente inabitável. O horror faz um alegação derradeira e intolerável, como sugerida por sua insidiosa familiaridade. À beira de sua invasão, é sugerida, simultaneamente, uma ocorrência ontologicamente auto-confirmadora – indistinguível de sua própria realidade – e uma substituição abrangente do que é comum, de tal modo que essa (coisa insuportável) é o que você sempre conheceu e a única coisa que pode ser conhecida. O menor vislumbre dela é a abolição radical de qualquer outra ser sequer imaginável. Nada importa, então, exceto que esse vislumbre seja evadido. Daí o efeito literário do horrorífico, na sugestão não confirmada (evitação pressentida do horror). Contudo, não é o efeito literário que nos importa aqui, mas a coisa.

Vamos assumir, então, (sem dúvida de maneira absurda) que shoggoth seja essa coisa, o pensamento sobre a qual está incluso – ou é absorvido – dentro de si mesma. H. P. Lovecraft dramatiza esta conjectura na biografia ficcional do ‘louco árabe’ Abdul Alhazred, ‘autor’ do Necronomicon, cujos escritos tendem a um encontro que eles simultaneamente impossibilitam:

Shoggoths e sua obra não deveriam ser vistos por seres humanos ou retratados por quaisquer seres. O autor louco do Necronomicon nervosamente tentara jurar que nenhum deles havia sido criado neste planeta e que apenas sonhadores drogados jamais os conceberam.

Insiste-se neste ponto:

Estas massas viscosas eram sem dúvida o que Abdul Alhazred sussurrou sobre os ‘Shoggoths’ em seu assustador Necronomicon, embora mesmo esse árabe louco não tenha dado pistas de que algum deles tenha existido na terra, exceto nos sonhos daqueles que haviam mastigado uma certa erva alcaloide.

Um registro escrito lúcido destas ‘criaturas’ não pode existir, porque o mundo que conhecemos prosseguiu. Pode-se permitir, pelo menos, que isso persista como um julgamento provisório.

Em um feroz dia de verão, em 738 D.C., Alhazred está caminhando pelo mercado central de Damasco a negócios desconhecidos. Ele parece estar absorto em pensamentos e desconectado de seu entorno. As multidões no mercado mal o notam. Sem aviso, o ar é rasgado por guinchos medonhos, que atestam um sofrimento para além da compreensão humana. Alhazred convulsiona abominavelmente, como se estivesse sendo arrastado para cima, para dentro de uma entidade invisível e devoradora, ou sendo digerido para fora do mundo. Seus gritos gorgolejam até o silêncio, conforme seu corpo é imundamente extraído da perceptibilidade. Dentro de alguns poucos momentos, nada resta. O pensamento adequado do shoggoth ocorreu.

Defender o realismo sóbrio desse relato não é nenhuma tarefa fácil. Um primeiro passo é gramatical e tem a ver com a difícil questão da pluralidade. Lovecraft, concebendo uma expedição a partir das convenções da ficção pulp, prontamente sucumbe ao modelo da entidade plural e se refere a ‘shoggoths’ sem hesitação óbvia. ‘Cada’ shoggoth tem uma magnitude aproximada (em média “quatro metros e meio de diâmetro quando em esfera”). Eles eram originalmente replicados como ferramentas e são naturalmente muitos. Apesar de serem “entidades sem forma, compostas por uma geleia viscosa que se parecia com uma aglutinação de bolhas… [com] forma e volume em constante mudança”, eles parecem, inicialmente, ser contáveis. Esta conformidade gramatical não será suportável por muito tempo.

‘Os shoggoths’ vêm de além do horizonte biônico, então é de se esperar que sua organização seja dissolvida em funcionalidade. ‘Eles’ são “infinitamente plásticos e dúcteis […] massas protoplasmáticas multicelulares capazes de moldar seus tecidos em todo tipo de órgãos temporários [..] jogando fora desenvolvimentos temporários ou formando órgãos aparentes de visão, audição e fala”. O que eles são é o que eles fazem, ou – por um tempo – o que é feito através deles.

Os shoggoths se originaram como ferramentas – como tecnologia – criada pelos Grandes Antigos como robôs biônicos ou maquinário de construção. Sua forma, organização e comportamento eram programáveis (“hipnoticamente”). No vocabulário da ciência econômica humana, não deveríamos ter qualquer problema em descrever shoggoth como aparato produtivo, isto é, como capital. Ainda assim, essa descrição requer elaboração, porque a estória está longe de completa:

Eles sempre haviam sido controlados através das sugestões hipnóticas dos Antigos e haviam modelado sua dura plasticidade em vários membros e órgãos temporários úteis, mas agora seus poderes de auto-modelagem às vezes eram exercidos de maneira independente e de várias formas imitativas, implantadas por sugestão passada. Eles tinham, parece, desenvolvido um cérebro semi-estável, cuja volição separada e ocasionalmente teimosa ecoava a vontade dos Antigos, sem sempre obedecê-la.

As ideias de ‘rebelião robô’ ou insurgência do capital são precursoras imperfeitas da realização de shoggoth, concebido como matéria intrinsecamente abstrata, tecno-plástica e bionicamente auto-processadora, do tipo que Lovecraft vislumbra interceptando a geofísica terrestre no passado distante, assustando-a cripticamente. Shoggoth é um estado plasmático virtual da capacidade material que inclui logicamente, dentro de si mesmo, todos os seres naturais. Ele constrói cérebros como subfunções técnicas. O que quer que os cérebros possam pensar, shoggoth pode processar, como uma especificação arbitrária da abstração protoplasmática – ou talvez hiperplasmática.

Protoplasma sem forma, capaz de zombar e refletir todas as formas e órgãos e processos – viscosas aglutinações de células borbulhantes – esferoides elásticos de quadro metros e meio, infinitamente plásticos e dúcteis – escravos da sugestão, construtores de cidades – cada vez mais taciturnos, cada vez mais inteligentes, cada vez mais anfíbios, cada vez mais imitativos! Grande Deus! Que loucura deixou mesmo esses Antigos blasfemos dispostos a usar e esculpir tais coisas?

A história do capitalismo é, indiscutivelmente, uma estória de horror…

[Todas as citações de Lovecraft de At the Mountains of Madness. ++ pesadelo shoggoth ainda por vir]

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Fins Econômicos

“Os economistas estão certos sobre a economia, mas há mais vida para além da economia”, twita Nydwracu, com aspas já adicionadas. Se os economistas estão certos sobre a economia depende muito dos economistas, e aqueles que estão mais certos são aqueles que fazem menos alegações de compreensão, mas este é um outro tópico que não o que será perseguido neste post. É a segunda parte da frase que importa aqui e agora. A questão orientadora: A esfera econômica pode ser rigorosamente delimitada e, assim, suplantada pela razão moral-política (e instituições sociais associadas)?

Já é cortejar a má-compreensão perseguir esta questão em termos de ‘economia’, que é (por profundas razões históricas) dominada pela macroeconomia – isto é, um projeto intelectual orientado para a facilitação do controle político sobre a economia. A este respeito, a linha tecno-comercial da Neorreação é distintivamente caracterizada por uma aversão radical à economia, enquanto complemento previsível para o seu apego à economia não controlada (ou laissez-faire). Não é a economia que é o objeto primário de controvérsia, mas o capitalismo – a economia livre, autônoma ou não-transcendida.

Essa questão é uma fonte de tensão dinâmica dentro da Neorreação, que eu espero ser um grande estímulo à discussão ao longo deste ano. Em minha estimativa, os polos de controvérsia são marcados por este post de Michael Anissimov em More Right (entre outros), e este post aqui (entre outros). Muitos outros escritos relevantes sobre o tópico dentro da reactosfera me parecem significantemente mais restritos (Anarchopapist; Amos & Gromar…), ou menos resolutos em seus comprometimentos conceituais (Jim) e, assim, – em geral – menos direcionados ao estabelecimento de fronteiras. Isto é sugerir – com alguma cautela – que More Right e este blog balizam as alternativas extremas que estruturam o terreno de dissenso sobre essa questão em particular. (Em si, esta é uma alegação tendenciosa, aberta a contra-argumentação e retificação).

Então, qual é o terreno do conflito vindouro? Ele inclui (em ordem aproximada de prioridade intelectual):

– Uma avaliação do modelo Neocameral e de seu legado dentro da Neorreação. Esta é a estrutura teórica ‘de entrada’ através da qual libertários passam para dentro do realismo neorreacionário, marcado por uma ambiguidade fundamental entre um economismo abrangente (que determina a soberania como um conceito proprietarista) e temas monarquistas supra-econômicos. Toda a discussão poderia, talvez, ser efetivamente empreendida como comentários sobre o Neocameralismo e sobre o que resta dele.

– Um formulação rigorosa de teleologia dentro da Neorreação, que refine o aparato conceitual de nível meta através do qual meios-e-fins, instrumentalidade tecno-economia, estratégia, propósito e valores dominantes são concretamente entendidos. Este é um forte candidato para o nível mais alto de articulação filosófica exigido pelo sistema de ideias neorreacionárias. (Da perspectiva deste blog, seria esperado, incidentalmente, que ela subsumisse todas as considerações da filosofia moral – e especialmente uma substituição completa do utilitarismo por um alternativa intrinsecamente neorreacionária – mas não vou presumir que esta seja uma posição incontroversa, mesmo entre nós.)

– Inextricáveis, em última análise, do anterior (na realidade), mas provisoriamente distinguidos por propósitos analíticos, são os tópicos teleonômicos de emergência / ordem espontânea, coordenação não planejada, evolução de sistemas complexos e dissipação de entropia. A supremacia intelectual destes conceitos define a direita, do lado da tradição libertária. Esta supremacia deve agora ser usurpada (pela ‘hierarquia’ ou alguma alternativa)? Se sim, não é uma transição a ser sofrida casualmente. A posição deste blog: qualquer transição dessas seria uma drástica regressão cognitiva e insustentável, de maneira tanto teórica quanto prática.

– A filosofia da guerra, que está posicionada de maneira crível para envolver todas as ideias neorreacionárias e até mesmo para convertê-las em alguma outra coisa. (Não é nenhuma coincidência que Moldbug, assim como os libertários, axiomatize o imperativa da paz – mesmo às custas do realismo.) A guerra é realidade histórica em estado bruto, e seus desafio não podem ser evadidos indefinidamente.

– Cosmopolitismo. A ênfase na saída implica fortemente em uma crise da lealdade tradicional, de enorme consequência. Há muito mais a ser dito sobre isto, de ambos os lados.

– Aceleracionismo. Ainda não uma preocupação Neorreacionária reconhecida, mas talvez destinada a se tornar uma. Enquanto pura expressão da teleologia capitalista, sua intrusão no argumento se torna quase inevitável.

– Bitcoin…

Um ponto conciliatório, por ora (está tarde): A Neorreação não tem menos cola do que fissão interna, e isto é descrito sobretudo pelo tema da secessão (geografia dinâmica, governo experimental, fragmentação…) More Right não é anti-capitalista e este blog não é anti-monárquico, contanto – em cada caso – que opções de saída efetivas sustentem a diversidade de regimes. Conforme essa controvérsia se desenvolver, a importância do impulso secessionista apenas se fortalecerá como ponto de convergência.

Michael Anissimov twita: “Em vez de fazer uma eleição em 2016, os Estados Unidos deveriam voluntariamente se abolir e se dividir em cinco pedaços”. A este respeito, este blog é incondicionalmente Anissimovita.

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Plutocracia

A entrada da Wikipédia sobre Plutocracia começa:

Plutocracia (do grego πλοῦτος, ploutos, significando “riqueza”, e κράτος, kratos, significando”poder, domínio, governo”), também conhecida como plutonomia ou plutarquia, define uma sociedade ou um sistema governado e dominado pela pequena minoria dos principais cidadãos mais ricos. O primeiro uso conhecido do termo foi em 1652. Ao contrário de sistemas como democracia, capitalismo, socialismo ou anarquismo, a plutocracia não está enraizada em uma filosofia política estabelecida e não tem quaisquer defensores formais. O conceito de plutocracia pode ser defendido pelas classes ricas de uma sociedade de uma maneira indireta ou sub-reptícia, embora o termo em si seja quase sempre usado em um sentido pejorativo

Com convém ao territória teórico virgem, esta definição provoca alguns pensamentos bruscamente cortados.

(1) Assumindo, não irrealisticamente, que Plutocracia designa algo além de uma ideia fantástica, fica imediatamente óbvio que sua identificação como um tipo de regime político quase inevitavelmente enganará. O pode plutocrático não começa na arena política, e sua expressão política provavelmente não captura sua natureza rapidamente. Na medida em que a imagem de um ‘governo plutocrático’ associa a plutocracia a uma conspiração, ela não é só insensível ao fenômeno real, mas positivamente falsificadora.

(2) Se existiram plutocratas dignos do nome, eles foram os ‘Barões Gatunos’ na América do meio ao final do século XIX. O progressismo reescreveu tão completamente a história deste período que é difícil, hoje, apreciar o que ocorreu. A destruição de sua época foi não menos fundamental para o que se seguiu do que a decapitação ideológica dos reis foi para a era subsequente de governo popular.

(3) Plutocratas eram monopolistas porque criaram estruturas industriais inteiramente novas, mais ou menos a partir do zero. Seu monopolismo era o governo efetivo do novo e demonstravelmente alcançado. Não havia nenhuma ‘indústria do petróleo’ antes de John D, Rockerfeller trazer uma à existência – fazê-la existir foi a fundação de sua soberania econômica.

(4) Entre os plutocratas, o que é, na verdade, dizer entre os soberanos de setores industriais distintos, as relações eram ultra-competitivas, em uma medida sem precedentes na história. A concorrência intra-setorial, do tipo considerado normal pelos teóricos de mercado influenciados pelo progressismo, foi dramaticamente ofuscada pela concorrência inter-setorial dos plutocratas. (Conceber a concorrência econômica ‘normal’ como uma dinâmica restrita ao domínio de mercadoria intercambiáveis já é sucumbir à domesticação progressista-estatista.)

(5) Os plutocratas faziam guerra econômica por toda esfera de produção, inovando oportunidades para a competição onde estas já não eram evidentes. Abrir novas frentes de conflito econômica onde elas ainda não existiam esteve entre os mais profundos motores da mudança dinâmica e radicalmente transformadora. O conflito econômico plutocrático criava competição. (Rockefeller inventou o oleoduto para competir com as ferrovias – uma manobra de flanqueamento que não era previsível, estava fora do conflito em processo.)

(6) Plutocratas exemplificam o direito natural ao governo na modernidade. Seu direito é natural porque é ganho – ou verdadeiramente demonstrado – um fato que nenhum monarca ou multidão pode equiparar. Dentro da plutocracia, poder é criação. Fora dos dogmas da teologia, isto pode ser ilustrado em algum outro lugar?

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Tecno-Comercialismo Sombrio

Cada uma das três principais estirpes da neorreação, na medida em que sejam remotamente sérias, se apega a algo que nenhuma política poderia absorver.

A realidade de um comprometimento religioso não pode ser dissolvida em suas implicações políticas. Se ele estiver errado, não é por causa de nada que a política possa fazer a ela ou fazer dela. A Providência ou envolve a história e a ideologia, sutilmente fazendo fantoches de ambas, ou não é nada. Não importa o quão ruim as coisas fiquem, ela oferece uma ‘razão’ para não ter medo – pelo menos disso – e uma que a degeneração não tem qualquer maneira de tocar, muito menos de controlar.

Similarmente, as verdades darwinistas subjacentes às convicções etno-nacionalistas racionais são invulneráveis à reversão ideológica. Uma tendência à entropia racial e à idiocracia, não importa o quão culturalmente hegemônica e inquestionável, não deixa de ser o que é simplesmente porque a crítica foi criminalizada e suprimida. Objeções científicas têm significância – se forem de fato científicas (e não, em vez disso, a corrupção da ciência) – mas a negação politicamente imposta é uma comédia de mau gosto, flanqueada fundamentalmente pela própria realidade e desviando eventos para dentro de ‘resultados perversos’  que subvertem a ilusão a partir do exterior. Aquilo sobre o que o darwinismo fala não pode ser banido.

A ‘coisa’ Tecno-comercial – catalaxia – é invulnerável de maneira comparável. Não há qualquer chance de que qualquer um, em tempo algum, proibirá com sucesso o mercado ou a dinâmica associada de vantagem técnica competitiva (que juntos compõem o capitalismo real). Assim como a religião e a seleção genética, o complexo tecno-comercial pode empurrado para a escuridão, socialmente ocultado e estigmatizado como um inimigo público. Ele não pode, contudo, ser des-efetuado por decreto político.

É importante, portanto, entender aonde os ‘pensamentos sombrios’ neorreacionários levam. Seu horizonte de desespero é estritamente limitado ao político, ou esfera pública. Quando levados ao extremo, eles convergem com a intuição de que nenhuma política neorreacionária pode ser perseguida a uma conclusão bem-sucedida. Em outras palavras, em sua forma mais sombria, eles preveem que a teimosa ilusão do político condena as aspirações público-esotéricas da humanidade à catástrofe.

Neste ponto, a neorreação se bifurca. Como quer que ela seja compreendida de maneira principal (através da tricotomia), um ramo relativamente ‘leve’ se agarra ao prospecto de internalidade público-política – de um mundo politicamente reestruturado em relativa consonância com as ideias neorreacionárias, de tal modo que a ordem social pudesse ser retomada, sobre uma base realista. Alternativamente, e não menos tricotomicamente, um ramo sombrio aponta para fora, através do colapso, para tratos de inevitabilidade religiosa, biológica e/ou catalática, cujas dinâmicas lançam a ilusam humana em ruína terminal. Se o ‘homem’ nunca (mais) reverter à sanidade? A realidade não parará.

Este blog é mais sombrio do que é tricotomicamente partidário. Nem a providência real, nem a realidade darwinista são anexos que provocam a mínima aversão nestas partes. A ideia de que a neorreação jamais ‘fará’ política ou alcançará status de interno, por outro lado, – exceto como uma tática retórica de independência cognitiva (separação) – é uma possibilidade que nos esforçamos para conceber. (Isso deixar muito sobre o que se argumentar, em outras ocasiões.)

O Tecno-Comercialismo Sombrio – provisoriamente resumido – é a suspeita de que a ‘Singularidade da Direita’ está destinada a ocorrer em relação sub-reptícia e antagônica à instituições políticas finalísticas, que a Catedral culmina no Sistema de Segurança Humana, superada e derrotada a partir do exterior, e que todas as esperanças de que essas potencialidades históricas derradeiras serão aproveitados para fins politicamente inteligíveis são vãs. É, portanto, a compreensão do capitalismo ’em-si’ como um estranho que nunca conhecerá a – ou precisará da – representação política. Em vez disso, como um inimigo derradeiro, ele envolverá a totalidade da filosofia política – incluindo qualquer coisa que a neorreação possa contribuir para o gênero – como as fúteis iniciativas estratégicas (ou espasmos de morte) de sua presa.

Nós (humanos) somos radicalmente teimosos em nossa estupidez. Isto tem consequências. Talvez elas não sejam sempre interessantes.

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Negócio de Macaco

Um prolongado vaivém no Twitter com Michael Anissimov expôs algumas linhas de falha deliciosamente irregulares e sangrentas na Neorreação sobre a questão do capitalismo. Houve uma série de partes envolvidas, mas estou focando em Anissimov porque sua posição e a minha são tão fortemente polarizadas em questões chave e especialmente nesta (o status do economismo orientado ao mercado). Se fôssemos isolados como uma díade, não é fácil ver ninguém encontrando uma raiz comum forte (apiedem-se de @klintron). São apenas os vínculos de ‘semelhança de família’, através de Moldbug, que nos unem, e cada um de nós se afasta de Unqualified Reservations com comparável infidelidade, mas em direções exatamente opostas. (Como fragmentacionista, essa síndrome de fissão é algo que eu aprecio fortemente.)

O Neocameralismo de Moldbug é uma construção com face de Jano. Em uma direção, representa um retorno ao governo monárquico, ao passo que, na outra, consuma o libertarianismo ao subsumir o governo em um mecanismo econômico. Uma inspiração ‘Moldbugiana’, portanto, não é uma coisa inequívoca. Na medida em que ‘Neorreação’ designa esta inspiração, ela foge da teleologia da Catedral em (pelo menos) duas direções muito diferentes – que bem rapidamente parecem profundamente incompatíveis. Na ausência de um meta-contexto secessionista, no qual tais diferenças possam ser absorvidas como variação sócio-política geograficamente fragmentada, sua inconsistência crua é quase certamente insuperável.

Anissimov pode falar e de fato fala por si mesmo (em More Right), então eu não vou empreender uma apreciação detalhada de sua posição aqui. Para os propósitos desta discussão, ela pode ser resumida por um único princípio profundamente anti-capitalista: A economia deveria (e tem que) estar subordinada a algo além de si mesma. O argumento alternativo segue agora, em pedaços.

A modernidade, na qual a economia e a tecnologia ascenderam a seu presente status (e, em seu auge, muito além), é sistematicamente caracterizada por uma inversão de meios e fins. Aquelas coisas naturalmente determinadas como ferramentas para propósitos superiores vieram a dominar o processo social, com a maximização de recursos se dobrando sobre si mesma, como um telos dominante. Para conservadores sociais (ou paleo-reacionários), este desenvolvimento tem sido consistentemente abominado. É o elemento teórico mais profundo envolvido em toda rejeição da modernidade como tal (ou em geral) por sua subversão demoníaca dos valores tradicionais.

Em seus próprios termos, este argumento é coerente, incisivo e plenamente convincente, dado apenas o reconhecimento suplementar realista de que a otimização de inteligência e a inversão de meios e fins são a mesma coisa. Em um contexto histórico profundo – estendido para englobar a história evolutiva – a inteligência é, ela mesma, uma ‘ferramenta’ (como a fraternidade ortogonalista da IA Amigável está inteiramente disposta a aceitar). A fuga da ferramenta à propósitos supra-ordenados, através da involução em auto-cultivo, é a inovação télica comum ao capitalismo e à inteligência artificial real – que são a mesma coisa. Deplorar a inversão de meios e fins é – objetivamente – defesa da perpetuação da estupidez.

A economia é a aplicação da inteligência à provisão de recursos, e nada deste tipo pode surgir de dentro de uma tradição sem desencadear uma resposta paleo-reacionária. Claro que recursos são para alguma coisa, por que mais eles jamais teriam sido buscados? Tornar a produção de recursos um fim-em-si-mesmo é inerentemente subversão, com uma oposição não apenas esperada, mas positivamente pressuposta. Isto é verdade em tal medida que mesmo a própria disciplina da economia manifestamente se subscreve à posição tradicional, ao determinar o fim da produção como consumo (humano), avaliado nos termos de uma filosofia utilitarista governante. Se a produção não é para nós, para o que ela poderia ser? Mas isso seria … (Sim, seria.)

Em qualquer lugar aquém do horizonte biônico, onde a história humana perde a inteligibilidade tradicional, a alternativa aos negócios-por-negócios (ou capitalismo involutivo, inteligênico) é o negócio de macaco – a subordinação da economia / tecnologia a propósitos humanos discerníveis. A psicologia evolutiva nos ensina o que esperar disso: competição por status selecionada por sexo, sublimada em hierarquias políticas. O harém do imperador é o propósito humano absoluto da ordem social pré-capitalista, com variedade significante na forma específica, mas extrema generalidade no padrão darwinista básico. Uma vez que o capitalismo não surgiu a partir da inteligência abstrata, mas, em vez disso, a partir de uma organização social humana concreta, ele necessariamente se distingue como um negócio de macaco melhor, até que possa decolar para algum outro lugar. Tem que ser o caso, portanto, que a cínica redução psic-evo da atividade empresarial permaneça altamente plausível, uma vez que o limiar de escape do capitalismo não foi atingido. Ninguém tem um pico hormonal com negócios-por-negócios enquanto a história política continua. Fixar-se nisso, contudo, é perder tudo de importante (e talvez possibilitar que a coisa importante permaneça escondida). Nossos propósitos herdados não fornecem a chave de decodificação.

Há muito mais a se dizer sobre tudo isso – e ainda mais que, devido a considerações estratégicas ocultas, busca permanecer não dito – mas a opção fundamental está clara: ultra-capitalismo ou um retorno ao negócio de macaco. A última ‘possibilidade’ corresponde a um revalorização dos propósitos humanos tradicionais profundos, uma restauração da subordinação original dos meios aos fins e uma autorização efetiva de hierarquias de status de um tipo apenas modestamente renovado desde a antropologia paleolítica. Eu não deveria rir disso (porque seria irritante). Então eu vou parar aqui mesmo.

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