Parte 4b: Observações Desagradáveis
Embora famílias negras e pais de garotos não sejam os únicos que se preocupam com a segurança dos adolescentes, Tillman, Brown e outros pais dizem que criar garotos negros é talvez o aspecto mais estressantes de ser pai, porque estão lidando com uma sociedade é temerosa e hostil em relação a eles, simplesmente por causa da cor de sua pele.
“Não acredita? Fique um dia em meu lugar”, disse Brown.
Brown disse que, aos 14, seu filho está naquela idade crítica em que ele está sempre preocupado com sua segurança por causa da criação de perfis.
“Eu não quero assustá-lo ou fazê-lo generalizar as pessoas, mas, historicamente, nós homens negros temos sido estigmatizados como os perpetradores de crimes e, onde quer que estejamos, somos suspeitos”, disse Brown.
Pais negros que não deixam esse fato claro, ele e outros disseram, o fazem arriscando seus filhos.
“Qualquer pai afro-americano que não esteja tendo essa conversa está sendo irresponsável”, Brown disse. “Eu vejo toda esta coisa como uma oportunidade para falarmos francamente, abertamente e honestamente sobre relações raciais.”
– Gracie Bonds Staples (Star-Telegram)
Quando as comunidades resistem a um influxo de titulares de vales-habitação do Seção 8 vindos do centro da cidade, digamos, eles estão reagindo esmagadoramente a comportamentos. A cor da pele é um indicador desse comportamento. Se os negros do centro da cidade se comportassem como Asiáticos – amontoando tanto conhecimento em seus filhos quanto eles conseguem colocar em seus crânios – a cautela persistente em relação aos negros de renda mais baixa que muitos americanos inquestionavelmente nutrem desapareceriam. Existem racistas irremediáveis entre os americanos? Por certo. Eles vêm em todas as cores, e deveríamos deplorar todos eles. Mas a questão da raça nos Estados Unidos é mais complexa do que a companhia educada geralmente tem permissão de expressar.
– Heather Mac Donald (City Journal)
“Vamos falar sobre o elefante na sala. Eu sou negra, OK?” disse a mulher, recusando-se a se identificar porque antecipou uma reação devido à sua raça. Ela se inclinou para olhar para o repórter direto nos olhos. “Haviam garotos negros roubando casas nesta vizinhança”, ela disse. “É por isto que George suspeitou de Trayvon Martin.”
— Chris Francescani (Reuters)
“Em suma, a dialética pode ser definida como a doutrina da unidade dos opostos. Isto incorpora a essência da dialética”, Lenin observa, “mas isso requer explicações e desenvolvimento”. Isto é: mais discussão.
A sublimação (Aufhebung) do Marxismo no Leninismo é uma eventualidade que é melhor compreendida de maneira crua. Ao forjar um política comunista revolucionária de ampla aplicação, quase inteiramente divorciada das condições materiais maduras ou das contradições sociais avançadas que foram anteriormente antecipadas, Lenin demonstrou que a tensão dialética coincidia, exaustivamente, com sua politização (e que toda referência a uma ‘dialética da natureza’ não é mais do que uma subordinação retrospectiva do domínio científico a um modelo político). Dialéticas são tão reais quanto são feitas ser.
A dialética começa com uma agitação política e não se estende para além de sua ‘lógica’ prática, antagonista, faccional e de coalizão. Ela é a ‘superestrutura’ por si só, ou contra a limitação natural, apropriando-se de maneira prática da esfera política, em sua extensão inteligível mais ampla, como uma plataforma para a dominação social. Onde quer que haja discussão, há uma oportunidade não resolvida para governar.
A Catedral encarna estas lições. Ela não tem qualquer necessidade de esposar o Leninismo, ou dialética operacional comunista, porque não reconhece nada mais. Dificilmente há um fragmento da ‘superestrutura’ social que tenha escapado da reconstrução dialética através de antagonismo articulado, polarização, estruturação binária e reversão. Dentro da academia, da mídia e mesmo das belas artes, a super-saturação política prevaleceu, identificando mesmo os elementos mais minúsculos da apreensão com uma ‘crítica social’ conflituosa e com a teologia igualitária. O comunismo é a implicação universal.
Mais dialética é mais política, e mais política significa ‘progresso’ – ou migração social para a esquerda. A produção de concordância pública leva apenas em uma direção e, dentro da discordância pública, tal ímpeto já existe em embrião. É apenas na ausência de concordância e de uma discordância publicamente articulada, ou seja, na não-dialética, no não-argumento, na diversidade sub-política ou iniciativa politicamente descoordenada que o refúgio ‘direitista’ da ‘economia’ (e, de maneira mais ampla, da sociedade civil) será encontrado.
Quando nenhuma concordância é necessária ou coercitivamente exigida, a liberdade negativa (ou ‘libertária’) ainda é possível, e este ‘outro’ não argumentativo da dialética é facilmente formulado (mesmo que, em uma sociedade livre, ele não precise ser): Faça suas próprias coisas. Bastante claramente, este imperativo irresponsável e negligente é politicamente intolerável. Ele coincide exatamente com a depressão esquerdista, retrocesso ou despolitização. Nada clama mais urgentemente por ser contra argumentado.
No extremo oposto está o êxtase dialético da justiça teatral, na qual a estrutura argumentativa dos procedimentos legais é associada à divulgação por meio da mídia. O entusiasmo dialético encontra sua expressão definitiva em um drama de tribunal que combina advogados, jornalistas, ativistas comunitários e outros agentes da superestrutura revolucionária na produção de um julgamento-show. Contradições sociais são encenadas, casos antagonistas articulados, e uma resolução, institucionalmente esperada. Isto é Hegel para o horário nobre da televisão (e agora para a Internet). É a maneira em que a Catedral compartilha sua mensagem com as pessoas.
Às vezes, em suas paixão impaciente pelo progresso, essa mensagem pode tropeçar em si mesma, porque, muito embora os agentes da Catedral sejam infinitamente razoáveis, eles são cada vez menos sensatos, muitas vezes surpreendentemente incompetentes, e estão propensos a cometer erros. Isto deve ser esperado com bases teológicas. Conforme o estado se torna Deus, ele se degenera em imbecilidade, no modelo do santo tolo. A política midiática do espetáculo de Trayvon Martin fornece um exemplo pertinente.
Nos Estados Unidos, como em qualquer outro país grande, muitas coisas acontecem todos os dias, exibindo inúmeros padrões de obscuridade variante. Por exemplo, em um dia médio, há aproximadamente 3400 crimes violentos, incluindo 40 assassinatos, 230 estupros, 1000 assaltos e 2100 agressões agravadas, ao lado de 25.000 crimes não violentos de propriedade (roubos e furtos). Muito poucos destes serão amplamente divulgados ou aproveitados como educacionais, exemplares e representativos. Mesmo que a mídia não estivesse inclinada a uma seleção baseada em narrativa das ‘boas estórias’, o simples volume de incidentes compeliria a algo do tipo. Dada esta situação, é quase inevitável que as pessoas perguntem: Por que estão nos contando isto?
Quase tudo sobre a morte de Trayvon Martin é controverso, exceto pela motivação da mídia. Sobre este tópico, há quase uma unanimidade. O significado ou mensagem pretendida da estória do caso dificilmente poderia ter sido mais transparente: A paranoia racista branca torna a América perigosa para pessoas negras. Ele assim ensaiaria a dialética do terror racial (seu medo é assustador), feita – como sempre – para converter o pesadelo social recíproco da América em uma peça de moralidade unilateral, alocando o pavor legítimo exclusivamente a um lado da divisão racial principal do país. Parecia perfeito. Um vigilante branco malignamente enganado atira em uma criança negra inocente, justificando o medo negro (‘a conversa’) enquanto expõe o pânico branco como um psicose assassina. Esta é uma estória de tamanho significado arquetípico progressista que não pode ser contada vezes demais. Na verdade, é boa demais para ser verdadeira.
Logo se tornou evidente, contudo, que a seleção da mídia – mesmo quando reforçada pela máquina de raiva de celebridades / ‘ativistas comunitários’ – não fora suficiente para manter a estória no script, e ambos os atores principais estavam se distanciando de seus papeis atribuídos. Se os estereótipos endossados pelos progressistas devessem ser sequer remotamente preservados, uma vigorosa edição seria exigida. Isso foi especialmente necessário porque certos leitores maus, racistas e preconceituosos do Miami Herald estavam começando a forjar uma conexão mental destruidora de narrativas entre ‘Trayvon Martin’ e ‘ferramenta de assalto’.
Quanto ao assassino, George Zimmerman, o nome dizia tudo. Ele claramente iria ser um cara pálida, desajeitado, parecido com um storm-trooper, com esperança algum tipo de cristão louco por armas e, talvez – se eles realmente achassem ouro, – um tipo dos movimentos de milícia, com um histórico de homofobia e ativismo anti-aborto. Ele começou ‘branco’ – por nenhuma razão óbvia além da incompetência midiática e da programação narrativa – e depois se viu transformado em um ‘hispânico branco’ (uma categoria que parece ter sido rapidamente inovada no momento), antes de ser gradualmente deslocado ao longo de uma série de complicações étnicas cada vez mais compatíveis com a realidade, culminando na descoberta de seu bisavô afro-peruano.
No coração da Catedral, estava bem na hora de coçar a cabeça. Aqui estava o grande réu amerikkkano, sendo preparado para seu julgamento-show, o Presidente havia contribuído emocionalmente em nome da sagrada vítima, e o jogo coordenado no solo havia sido avançado à beira fervilhante de revoltas raciais, quando a mensagem começou a cair aos pedaços, em tal medida que agora ameaçava a se degenerar em um caso irritantemente irrelevante de violência de negros contra negros. Não era apenas que George Zimmerman tinha uma ancestralidade negra – o que o tornava simplesmente ‘negro’ pelos padrões construtivistas sociais da própria esquerda – ele também havia crescido amigavelmente entre pessoas negras, com duas garotas afro-americanas como “parte do lar por anos”, havia entrado em um empreendimento em conjunto com um parceiro negro, era um democrata registrado e até mesmo algum tipo de ‘organizador comunitário’…
Então, por que Martin morreu? Foi por carregar chá gelado e um pacote de Skittles sendo negro (a versão ‘poderia ter sido o Obama filho’, aprovada pela mídia e por ativistas comunitários), por ir verificar alvos de assaltos (a versão do perfilamento racial kluxer) ou por quebrar o nariz de Zimmerman, derruba-lo, sentar em cima dele e golpear sua cabeça repetidamente contra o calçada (a ser decidido no tribunal)? Ele era um mártir da injustiça racial, um predador social de baixo nível ou um sintoma humano da crise urbana americana? A única coisa que estava realmente clara quando os procedimentos legais começaram, além da tristeza esquálida do episódio, era que ele não estava resolvendo nada.
Para uma sensação do quão desconcertantemente a lição aprovada havia se desintegrado no momento em que Zimmerman foi acusado de assassinato em segundo grau, só é necessário ler este post do blogueiro BDH oneSTDV, que descreve os distúrbios dialéticos da direita guerreira racial.
Apesar da natureza perturbadora das “acusações” contra Zimmerman, muitos da alt-right recusam conceder a Zimmerman qualquer simpatia ou sequer ver isto como um momento seminal no reino anarco-tirano do esquerdismo moderno. De acordo com estes indivíduos, os mestiço, falante de espanhol e democrata registrado, recebeu o que estava em seu caminho – a ira da multidão negra e da elite de esquerda indiretamente apoiada pelo próprio Zimmerman. Devido ao seu histórico de votação, antecedentes multiculturais e tutelagem de jovens de minorias, eles vêem Zimmerman como emblemático do ataque da esquerda à América branca, um tipo de soldado na campanha contra a brancura americana. [Negrito no original]
A política popular do politicamente correto estava pronta para seguir adiante. Com o grande julgamento-show colapsando em desordem narrativa, era hora de refocar na Mensagem, que se danem os fatos (que se danem duplamente). ‘Jezebel‘ melhor exemplifica o tom ameaçador e vagamente histérico:
Você sabe como dizer se as pessoas negras ainda são oprimidas? Porque as pessoas negras ainda são oprimidas. Se você alega que você não é uma pessoa racista (ou, pelo menos, que você está comprometido em trabalhar para caralho para não ser uma – o que, na verdade, é o melhor que qualquer um nós pode prometer), então você tem que acreditar que as pessoas são fundamentalmente nascidas iguais. Logo, se isso é verdade, então, em um vácuo, fatores como cor da pele não deveriam ter nenhum efeito sobre o sucesso de ninguém. Certo? E, portanto, se você realmente acredita que todas as pessoas são criadas iguais, então, quando você vê que desigualdades raciais drásticas existem no mundo real, a única coisa que você poderia concluir é que alguma força externa está segurando algumas pessoas. Como… o racismo. Certo? Então, parabéns. Você acredita em racismo! A menos que você não acredite realmente que as pessoas nasçam iguais. E, se você não acredita que as pessoas nascem iguais, então você é a p**** de um racista.
Alguém “realmente acredita que as pessoas nascem iguais”, da maneira que se entende isso aqui? Acredita, isto é, não apenas que uma expectativa formal de tratamento igual é um pré-requisito da interação civilizada, mas que qualquer desvio revelado da igualdade substancial de resultado é uma indicação óbvia e inequívoca de opressão? Que isso é “a unica coisa que você poderia concluir”?
No mínimo, Jezebel poderia ser parabenizada por expressar a fé progressista em sua forma mais pura, inteiramente descontaminada de sensibilidade à evidência ou à incerteza de qualquer tipo, casualmente desdenhosa de qualquer pesquisa relevante – quer existente ou meramente concebível – e supremamente confiante sobre sua própria invencibilidade moral. Se os fatos estão moralmente errados, tanto pior para os fatos – está é a única posição que poderia ser adotada, mesmo se for embasada em uma mistura de pensamento desejoso, ignorância deliberada e mentiras insultantemente infantis.
Chamar a crença na igualdade substancial humana de superstição é insultar a superstição. Pode ser injustificado acreditar em leprechauns, mas pelo menos a pessoa que mantém tal crença não está assistindo-os não existir, a cada hora de vigília do dia. A desigualdade humana, em contraste e em toda a sua multiplicidade abundante, está constantemente em exposição, conforme as pessoas exibem suas variações em gênero, etnia, atratividade física, tamanho e forma, força, saúde, agilidade, charme, humor, sagacidade, diligência e sociabilidade, ente outras inúmeras características, traços, habilidades e aspectos de sua personalidade, algumas de forma imediata e conspícua, algumas apenas lentamente, ao longo do tempo. Absorver mesmo a mais mínima fração disso tudo e concluir, da única maneira possível, que ou não é nada em absoluto, ou que é um ‘construto social’ e um índice de opressão, é puro delírio Gnóstico: um comprometimento, para além de toda evidência, com a existência de um mundo verdadeiro e bom, velado pelas aparências. As pessoas não são iguais, elas não se desenvolvem igualmente, suas metas e realizações não são iguais, e nada pode torná-las iguais. A igualdade substancial não tem qualquer relação com a realidade, exceto enquanto sua negação sistemática. Violência em uma escala genocida é necessária para sequer se aproximar do programa igualitário prático e, se qualquer coisa menos ambiciosa for tentada, as pessoas a contornam (algumas de maneira mais competente que as outras).
Para tomar apenas o exemplo mais óbvio, qualquer um com mais do que um filho sabe que ninguém nasce igual (exceto, talvez, gêmeos monozigóticos e clones). Na verdade, todo mundo nasce diferente, de inúmeras maneiras. Mesmo quando, – como normalmente é o caso – as implicações dessas diferenças para os resultados da vida são difíceis de prever com confiança, sua existência é inegável ou, pelo menos: sinceramente inegáveis. Claro, sinceridade, ou mesmo uma coerência cognitiva mínima, não é nem remotamente a questão aqui. A posição de Jezebel, embora impecável em sua correção política, não é apenas factualmente duvidosa, mas sim risivelmente absurda e, na verdade – estritamente falando – insana. Ela dogmatiza um negação da realidade tão extrema que ninguém poderia genuinamente manter, ou sequer entretê-la, muito menos plausivelmente explicá-la ou defendê-la. Ela é um princípio de fé que não pode ser entendido, mas apenas afirmado ou aceito, como loucura tornada lei, ou religião autoritária.
O mandamento político desta religião é transparente: Aceite a política social progressista como a única solução possível para o pecado problema da desigualdade. Este comando é um ‘imperativo categórico’ – nenhum fato possível jamais poderia miná-lo, complicá-lo ou revisá-lo. Se a política social progressista na verdade resultar em uma exacerbação do problema, a realidade ‘caída’ deve ser culpada, uma vez que o mal social é obviamente pior do que se vislumbrara anteriormente e apenas esforços redobrados na mesma direção podem esperar remediá-lo. Não pode haver nada a se aprender em questão de fé. Eventualmente, o colapso social sistemático ensina a lição que a falha crônica e a deterioração incremental não puderam comunicar. (Isso é o darwinismo social em escala macro para principiantes, e é a maneira em que a civilização acaba.)
Devido a sua excepcional correlação com uma variação substancial nos resultados sociais nas sociedades modernas, de longe a dimensão mais problemática da biodiversidade humana é a inteligência ou capacidade geral de resolução de problemas, quantificada como QI (que mede o ‘g’ de Spearman). Quando o ‘senso comum estatístico’ ou perfilamento é aplicado aos proponentes da Bio-Diversidade Humana, contudo, um outro traço significativo rapidamente é exposto: um déficit notavelmente consistente de condescendência. De fato, é amplamente aceito dentro da própria ‘comunidade’ amaldiçoada que a maior parte daqueles teimosos e esquisitos o suficiente para se educarem sobre o tópico da variação biológica humana são significantemente ‘retardados socialmente‘, com baixa inibição verbal, baixa empatia e baixa integração social, o que resulta em má adaptação crônica às expectativas do grupo. Os EQs típicos deste grupo podem ser extraídos como a raiz quadrada aproximada de seus QIs. Um autismo moderado é típico, suficiente para aproximar seus companheiros em um espírito de curiosidade natural-científica desprendida, mas não tão avançado ao ponto de compelir um desengajamento cósmico total. Estes traços, que eles próprios consideram – com base na copiosa informação técnica – como sendo substancialmente herdáveis, têm consequências sociais manifestas, que reduzem oportunidades de emprego, rendas e mesmo potencial reprodutivo. A despeito de todo o conselho terapêutico gratuito disponível no ambiente progressista, esta desagradabilidade não demonstra qualquer sinal de estar diminuindo e pode mesmo estar se intensificando. Como Jezebel mostra tão claramente, isto só pode ser um signal de opressão estrutural. Por que as pessoas desagradáveis não podem ter uma pausa?
A história é condenadora. Os ‘sociáveis’ sempre tiveram um rancor pelos desagradáveis, frequentemente declinando se casar ou fazer negócios com eles, os excluindo das atividades do grupo e de cargos políticos, os rotulando com insultos, os ostracizando e evitando. A ‘desagradabilidade’ foi estigmatizada e estereotipada em termos extremamente negativos, em tal medida que muitos dos desagradáveis buscaram rótulos mais sensíveis, tais como ‘deficientes sociais’, ou ‘sócioatípicos’. Não raro, pessoas foram verbal ou mesmo fisicamente agredidas por nenhuma outra razão além de sua desagradabilidade radical. Mais trágico de tudo, devido à sua completa incapacidade de se relacionarem uns com os outros, os desagradáveis nunca foram capazes de se mobilizar politicamente contra a opressão social estrutural que enfrentam ou de entrar em coalizações com seus aliados naturais, tais como cínicos, refutadores, contrarianistas e aqueles que sofrem com síndrome de Tourette. A desagradabilidade ainda tem que ser libertada, embora seja provável que a Internet ‘ajude’…
Considere o ensaio em infâmia de John Derbyshire, The Talk: Nonblack Version, que foca inicialmente em sua implacável desagradabilidade e está atento à correlação negativa entre sociabilidade e razão objetiva. Como Derbyshire observa em outros lugares, as pessoas geralmente são incapazes de se diferenciar de suas identidade de grupo ou de aplicar apropriadamente generalizações estatísticas sobre grupos a casos individuais, incluindo os seus próprios. Um reificação racionalmente indefensável, mas socialmente inevitável, dos perfis de grupo é psicologicamente normal – até mesmo ‘humana’ – com o resultado de que informação estatística ruidosa e não específica é erroneamente aceita como uma contribuição para o auto-entendimento, mesmo quando informações específicas estão disponíveis.
Da perspectiva da análise racional socialmente autista e de baixo QE, isto está simplesmente equivocado. Se um indivíduo tem certas características, o fato de pertencer a um grupo que tem características médias similares ou dissimilares não tem qualquer relevância que seja. Informações diretas e determinadas sobre o indivíduo não são, em nenhum grau, enriquecidas por informações indiretas e indeterminadas (probabilísticas) sobre os grupos aos quais o indivíduo pertence. Se os resultados individuais de um teste são conhecidos, por exemplo, nenhuma compreensão adicional é fornecida por inferências estatísticas sobre os resultados do teste que poderiam ter sido esperados com base no perfilamento do grupo. Um judeu asquenaze imbecil não é menos imbecil porque ele é um judeu asquenaze. É pouco provável que freiras chinesas idosas sejam assassinas, mas uma assassina que ocorra de ser um freira chinesa idosa não é nem mais nem menos assassina do que uma que não o seja. Isto é tudo extremamente óbvio, para as pessoas desagradáveis.
Para as pessoas normais, contudo, não é óbvio de maneira alguma. Em parte, isto é porque a inteligência racional é escassa e anormal entre humanos e, em parte, porque a ‘inteligência’ social funciona com o que o resto das pessoas está pensando, ou seja, com um sentimento irracional de grupo, pouca informação, preconceitos, estereótipos e heurística. Uma vez que (quase) todas as outras pessoas estão tomando atalhos, ou ‘economizando’ razão, é apenas racional reagir defensivamente a generalizações que provavelmente serão reificadas ou inapropriadamente aplicadas – superando ou substituindo percepções específicas. Qualquer um que antecipe ser predefinido através de um identidade de grupo tem um ego-investimento expandido naquele grupo e na maneira em que ele é percebido. Uma avaliação genérica, por mais objetivamente que tenha sido alcançada, se tornará imediatamente pessoal, sob condições (mesmo bastante remotamente) normais.
A razão desagradável pode teimosamente insistir que qualquer coisa na média não pode ser sobre você, mas a mensagem não será, em geral, recebida. A ‘inteligência’ social humana não é construída dessa maneira. Mesmo comentadores supostamente sofisticados tropeçam repetidamente nas exibições mais chocantes de incompreensão estatística, sem o menor embaraço, porque o embaraço foi feito para alguma outra coisa (e quase exatamente para o oposto). A falha em entender estereótipos em sua aplicação científica ou probabilística é um pré-requisito funcional da sociabilidade, uma vez que a única alternativa à idiotice, neste aspecto, é a desagradabilidade.
O artigo de Derbyshire é digno de nota porque é bem sucedido em ser definitivamente desagradável e tem sido reconhecido como tal, apesar da incoerência espumante da maioria das réplicas. Entre as coisas que ‘a conversa’ e ‘a contra-conversa’ compartilham está uma estrutura teatral de conversação pseudo-privada feita para ser ouvida. Em ambos os casos, uma mensagem que pais são compelidos a entregar a seus filhos é encenada como o veículo de uma lição social mais ampla, visando aqueles que, por ação ou inação, criaram um mundo que é intoleravelmente perigoso para eles.
Esta forma é intrinsecamente manipuladora, o que torna mesmo a conversa ‘original’ um alvo tentador de paródias. No original, contudo, um tom de sinceridade angustiada é projetado através de uma performance deliberada de inocência (ou ignorância). Ouça filho, eu sei que isso vai ser difícil de entender… (Ó, por quê, por que estão fazendo isto conosco?). A contra-conversa, em forte contraste, funde seu drama microssocial com o discuso clinicamente não-sociável de “pesquisas metódicas nas ciências humanas” – tratando populações como unidades biogeográficas vagas com características quantificáveis, em vez de como sujeitos jurídico-políticos em comunicação. Ela ridiculariza a inocência e – por implicação – o critério da própria sociabilidade. Concordância, condescendência, não contam para nada. As estatísticas rigorosa e redundantemente compiladas dizem o que dizem e, se não conseguimos viver com isso, tanto pior para nós.
Ainda assim, mesmo para uma leitura razoavelmente simpática, ou escrupulosamente desagradável, o artigo de Derbyshire fornece bases para críticas. Por exemplo, e desde o começo, é notável que o recíproco racial de “americanos não-negros” é “americanos negros”, e não “negros americanos” (o termos que Derbyshire seleciona). Esta inversão da ordem das palavras, trocando substantivos e adjetivos, rapidamente se assenta em um padrão. Tem importância que Derbyshire exija a extensão da civilidade para qualquer “negro individual” (em vez de aos ‘indivíduos negros’)? Certamente faz diferença. Dizer que alguém é ‘negro’ é dizer algo sobre ela, mas dizer que alguém é ‘um negro’ é dizer quem ela é. O efeito é sutilmente, mas distintivamente, ameaçador, e Derbyshire é bem treinado demais, algebraicamente, para ser desculpado de observar isso. Afinal, ‘John Derbyshire é um branco’ soa igualmente estranho, assim como o faz qualquer formulação análoga, que submerge o indivíduo no gênero, a ser recuperado como uma mera instância ou exemplo.
O aspecto mais intelectualmente substantivo deste logro de incivilidade gratuita foi examinado por William Saletan e Noah Millman, que fizeram pontos muito similares, dos dois lados da divisa liberal/conservador. Ambos os autores identificam um fissura ou incongruência metódica no artigo de Derbyshire, decorrente de seu comprometimento com a aplicação microssocial de generalizações estatísticas macrossociais. Estereótipos, por mais rigorosamente confirmados que sejam, são essencialmente inferiores ao conhecimento específico em qualquer situação social concreta, porque ninguém nunca encontra uma população.
Como um liberal de posições problemáticas, Saletan não tem escolha alguma além de recuar melodramaticamente das “conclusões de revirar o estômago” de Derbyshire, mas suas razões para fazê-lo não são consumadas por suas crise gastro-emocional. “Mas o quê, exatamente, é uma verdade estatística?” ele pergunta. “É uma estimativa de probabilidade a que você pode recorrer se você não souber nada sobre [um indivíduo em particular]. É o substituto fraco de uma pessoa ignorante para o conhecimento.” Derbyshire, com sua atenção de Aspergers à ausência de vencedores negros da Fields Medal, é “…um nerd matemático que substitui a inteligência social pela inteligência estatística. Ele recomenda cálculos de grupo em vez de se dar ao trabalho de aprender sobre a pessoas que está na sua frente”.
Millman enfatiza a inversão irônica que transforma o (desagradável) conhecimento científico social em ignorância imperativa:
Os “realistas raciais” gostam de dizer que eles são os que estão curiosos quanto ao mundo e que os tipos “politicamente corretos” são os que preferem ignorar a feia realidade. Mas o conselho que Derbyshire dá a seus filhos os encoraja a não serem curiosos demais sobre o mundo a seu redor, por medo de se machucarem. E, como regra geral, esse é conselho terrível para crianças – e não é o conselho que Derbyshire tem seguido em sua própria vida.
A conclusão de Millman também é instrutiva:
Então, por que eu sequer estou argumentando com Derb? Bem, porque ele é um amigo. E porque mesmo conversas preguiçosas e socialmente irresponsáveis precisam ser refutadas, não meramente denunciadas. O artigo de Derbyshire é racista? Claro que é racista. Todo o seu ponto é que é tanto racional quanto moralmente correto que seus filhos tratem pessoas negras de maneira significativamente diferente das pessoas brancas e tenham medo delas. Mas “racista” é um termo descritivo, não moral. A turma “realista racial” está fortemente convencida da precisão das principais premissas de Derbyshire, e eles não vão ser convencidos a abandonar essa convicção pela afirmação de que tal convicção é “racista” – tampouco, honestamente, eles deveriam ser. Por esta razão, eu sinto que é importante argumentar que as conclusões de Derbyshire não se seguem, de maneira simples, daquelas premissas e estão, na verdade, moralmente incorretas, mesmo que aquelas premissas sejam concedidas por bem do argumento.
[Breve intervalo…]
Original.