O Psykonomist encaminhou (pt) um extraordinário ensaio sobre o tópico do apetite popular pelo Apocalipse Zumbi, considerado como um canal expressivo para uma hostilidade vagamente ‘anarquista’ ao estado. Dada a falha das iniciativas democráticas do polo Direito em reverter – ou sequer restringir – as implacáveis concentração e expansão governamentais, ‘soluções’ catastróficas emergem como a única alternativa:
Filmes e programas de televisão têm permitido que os americanos imaginem como seria a vida sem todas as instituições que lhes disseram que eles precisam, mas que eles agora suspeitam que podem estar frustrando sua autorrealização. Estamos lidando com uma ampla variedade de fantasias aqui, principalmente nos gêneros do horror e da ficção científica, mas o padrão é bastante consistente e impressionante, atravessando distinções genéricas. No programa de televisão Revolution, por exemplo, algum evento misterioso faz com que todos os dispositivos elétrico ao redor do mundo deixem de funcionar. O resultado é catastrófico e envolve uma enorme perda de vida, conforme aviões em pleno ar se chocam contra a terra, por exemplo. Todas as instituições sociais se dissolvem, e as pessoas são foçadas a confiar em suas habilidades pessoais de sobrevivência. Governos ao redor do mundo colapsam, e os Estados Unidos se dividem em uma série de unidades políticas menores. Este desenvolvimento contraria tudo que temos sido ensinados a acreditar sobre “uma nação, indivisível”. Ainda assim, é característico de quase todos esses programas que o governo federal esteja entre as primeiras baixas do evento apocalíptico e – por mais estranho que isso possa parecer a princípio – que haja um forte elemento de realização de desejos neste evento. A força destes cenários de fim do mundo é precisamente o governo ficar menor ou desaparecer inteiramente. Esses programas parecem refletir um sentimento que o governo ficou grande e distante demais das preocupações dos cidadãos comuns e indiferente às suas necessidades e exigências. Se o Congresso e o Presidente são incapazes de diminuir o tamanho do governo, talvez uma praga ou uma catástrofe cósmica possam fazer algum corte real de orçamento para variar.
O ensaio captura uma dimensão crítica de desintegração dentro do ‘campo reacionário’, que divide aqueles que buscam cooptar a elite gerencial da Catedral-Leviatã para uma filosofia política mais realista (ou tolerante à tradição) e aqueles que – bem mais numerosa e desarticuladamente – estão investidos na morte dura do regime. A última posição (imoderada), parece, é genuinamente e até mesmo chocantemente popular. Grupos de produção de entretenimento em massa são capazes de prosperar com base em seus pesadelos sedutores. (Seria o catastrofismo pulp é a base econômica que apoiará o contágio neorreacionário?)
Ler o ensaio de Cantor junto com o histórico ensaio Natural Law and Natural Rights de Jim Donald é altamente sugestivo. Um fio condutor comum a ambos é a centralidade do vigilantismo para a Direita popular. O propósito da Lei Natural, Donald argumenta, não é exigir justiça de uma autoridade superior, mas neutralizar a interferência de qualquer autoridade desse tipo na busca da justiça por parte de agências descentralizada. A Lei Natural protege o direito de vingança legítima, garantindo que os indivíduos não sejam inibidos no seu exercício da auto-proteção. Quando o se vê o Estado operar primariamente como uma força social que defende os criminosos contra a retaliação, ele perde a solidariedade instintiva dos cidadãos, e sonhos sombrios de um Apocalipse Zumbi começam a se amalgamar.
Dada a ética sobrevivencialista em todos esses programas sobre o fim do mundo, eles provavelmente não são populares com os defensores controle de armas. Um dos motivos mais impressionantes que eles têm em comum – evidente em Revolution, Falling Skies, The Walking Dead e muitos outros programas do tipo – é o cuidado amoroso com o qual eles descrevem um espantoso conjunto de armas. The Walking Dead apresenta uma guerreira amazona, que é adepta de uma espada samurai, assim como um redneck sulista, que se especializa em uma besta. A oferta cada vez menor de munições coloca um prêmio nas armas que precisam de balas. Isso não quer dizer, contudo, que The Walking Dead não tenha lugar para armas de fogo modernas e, com efeito, para o que há de mais recente em armas automáticas. Tanto os heróis quanto os vilões na série – difíceis de diferenciar a este respeito – estão tão bem armados quanto o time local da SWAT na América contemporânea.
Entre as atrações do Apocalipse Zumbi, nesta construção, está o desaparecimento do Estado enquanto um fator inibidor na economia social da retaliação. O mundo empesteado de zumbis é uma zona de fogo livre, na qual não há mais nenhuma autoridade entre os remanescentes armados e as hordas triturantes de descivilização. Quaisquer que sejam as probabilidades da luta por vir, o direito à violência vigilante e contra-revolucionária foi inequivocamente restaurado e isto é profundamente apreciado – por um impulso popular opaco – como um returno à ordem natural. O Estado havia tomado partido contra a Lei Natural, de modo que sua extirpação do campo social é saudada com alívio, mesmo que o custo deste desaparecimento seja um mundo reduzido a cinzas, predominantemente populadas pelos mortos-vivos canibais.
Há uma ferocidade nisto que será trabalhada. É melhor estar preparado.
Original.