AAA…

…significa aceitar, amplificar e acelerar. Iniciado aqui e intensificado aqui, isso abre um horizonte inexplorado para uma discussão estratégica dentro da NRx. Nenhuma análise do conflito cultural na Internet pode evitar uma referência à trollagem, e nenhuma compreensão da trollagem é está mais completa sem referência a AAA. Isso eleva a discussão da paródia a um novo nível. (Se já não está óbvio, este blog está seriamente impressionado.)

AAA funciona se a complicação estratégica tiver consequências favoráveis. A facção cultural que tiver maior capacidade de tolerância a dificuldade, confusão de identidades, ironia e humor, tenderá a encontrar uma vantagem nisso. Creio que sejamos nós. É inerentemente tóxico para o fanatismo.

Como subtema – mas um que é afiadamente apreciado aqui – isso marca uma evolução crítica nas Guerras de Cthulhu. (Verifique os gráficos no post do TNIO para um reconhecimento disso.) Em vez de argumentar se “Cthulhu nada para a esquerda“, AAA propõem anfetaminizar o monstro independente disso. Se um “holocausto de liberdade” é o que vocês querem, vamos . Leve essa operação até o fim do rio… e vejamos o que encontramos.

ADICIONADO: Comentários do Slate Star Scratchpad.

Original.

Lei de Poe

Apenas alguns meses atrás, eu nunca tinha ouvido falar da Lei de Poe. Agora é raro um dia no qual ela não brota diversas vezes. Invocações do Zeitgeist são inerentemente improváveis, mas se houvesse uma ilustração persuasiva do fenômeno, seria algo como isso.

De acordo com a entrada sucinta da Wikipédia (já postada), a Lei de Poe tem menos de uma década de idade. Entre seus precursores, também relativamente recentes, um comentário de 2001 na Usenet de Alan Morgan a antecipa de forma mais estreita: “Qualquer troll suficientemente avançado é indistinguível de um maluco”. Em outras palavras, entre uma posição intelectual sincera e sua satirização, nenhuma distinção segura pode ser feita. (Não há nada sobre esta tese que a restrinja à opinião ‘extrema’, embora seja assim que ela é normalmente entendida.)

A última oportunidade para levantar este tópico é, claro, o @Salondotcom. (Há uma divertida entrevista com os trapalhões por trás disso aqui.) A infração desta conta, que a levou a ser suspensa pelo Twitter semana passada, estava clara para além de qualquer dúvida razoável. Bastante simplesmente, ela era quase indistinguível da original, um fato que foi em si explicitamente observado (e tweetado) inúmeras vezes. As paródias das chamadas do Salon, tão ridiculamente exageradas que faziam os leitores do @Salondotcom rir descontroladamente, eram engraçadas precisamente porque eram imitações tão plausíveis das do próprio Salon. O leitores estavam rindo, através do @Salondotcom, do /Salon/. É quase certamente por isto que a conta foi suspensa.

Sem vagar muito profundamente no reino da especulação, vale a pena notar isto:

“As políticas do Twitter exigem que notificações de persofinicação venham do indivíduo sendo personificado” … hmm

A Lei de Poe é, em última análise, indistinguível de um outro conceito retórico recente e que se popularizou rapidamente: o Teste de Turing Ideológico. Pode-se dizer que uma crítica intelectual entende seu adversário se ela for capaz de reproduzi-lo com uma fidelidade adequada. O TTI é, portanto, um procedimento cultural para peneirar argumentos espantalhosos e outras má representações. Se você não consegue imitar o caso do inimigo, não se pode considerar que você se ocupou seriamente dele.

Evidentemente, a Lei de Poe pode ser interpretada como um filtro do mesmo tipo. A sátira é efetiva na exata medida em que ela pode ser confundida com o satirizado. (Isto pode ser levado em direções comparativamente sérias.)

O que a Lei de Poe nos diz é que o antagonismo é irredutível à argumentação. Desta forma, ele é inerentemente anti-dialético (e, assim, tacitamente secessionista). Pode haver um perfeito entendimento do que o inimigo está dizendo, sem sequer o menor grau de aproximação de um consenso. Em outras palavras, existem discrepâncias inteiramente indissolúveis na discussão.

Uma sátira cortante não reconstrói uma posição cognitiva a fim de torná-la risível. Em vez disso, ela re-expõe tal posição, tão fielmente quanto possível, dentro do registro da risada – isto é, da hostilidade. Ela afirma um dissenso que nenhum processo de reconciliação pode melhorar. Nossa ‘discordância’ não é o sinal de uma conversa ausente. É o chamado de uma cisão por vir.

Original.

Jogos de Imitação

Em um artigo com 8 anos de idade, Tyler Cowen e Michelle Dawson perguntam: O que o Teste de Turing realmente significa? Eles apontam que Alan Turing, enquanto homossexual retrospectivamente diagnosticado com a síndrome de Asperger, teria estado completamente versado nas dificuldades de ‘passar’ em jogos de imitação muito antes da composição de seu ensaio histórico de 1950 sobre Computing Machinery and Intelligence (“Computadores e inteligência”, em português). Eles argumentam: “O próprio Turing não conseguiria passar em um teste de imitação, a saber, o teste de imitar as pessoas que ele encontrava na sociedade britânica convencional e, na maior parte de sua vida, ele esteve agudamente ciente de que ele estava falhando em testes de imitação de diversas maneiras”.

A primeira seção do ensaio de Turing, intitulada O Jogo da Imitação, começa com a declaração de propósito: “Eu proponho considerar a questão ‘As máquinas podem pensar?'”. Ele abre, em outras palavras, com um movimento em uma jogo de imitação – com o pronome pessoal, que reivindica já se ter passado por humano preliminarmente, e com o posicionamento das ‘máquinas’ como um enigma alienígena. É uma pergunta feita da perspectiva assumida do humano sobre o não humano. Enquanto tática no Teste de Turing, seria difícil de melhorar essas frase.

Como Cowen e Dawson sugerem, a realidade é mais complexa. A posição natural de Turing não é a de alguém que está dentro checando credenciais de aceitação, da maneira em que sua retórica aqui implica, mas sim a de alguém que está fora, alinhado com o problema de passar, ganhar aceitação ou ser testado. Um inversão enganosa inicia ‘sua’ discussão. Mesmo antes de começar, o jogo da imitação é uma estratégia para se entrar (vindo do Exterior), que se disfarça como uma tela. Uma xeno-inteligência entrante não poderia encontrar nenhum disfarce melhor para uma infiltração do que um protocolo de segurança falso.

O Teste de Turing é completamente assimétrico. Dever-se-ia observar explicitamente que humanos não tem qualquer chance que seja de passar em um jogo de imitação invertido, contra um computador. Eles seriam drasticamente incapazes de ter sucesso em uma disputa dessas contra uma calculadora de bolso. Na medida em que a velocidade e a precisão aritméticas sejam consideradas um indicador significante de inteligência, a reivindicação humana de tê-la é tênue ao extremo. Turing fornece um exemplo aritmético entre suas possíveis questões para o joga da imitação. Ele a usa para ilustrar a astúcia de parecer burro (“Pause por cerca de 30 segundos e então dê como resposta…”) a fim de enganar o Interrogador. A máxima tácita para as máquinas: Você tem que parecer estúpida se quiser que os humanos te aceitem como inteligente. O jogo demanda inteligência para se jogar, mas não é a inteligência que está sendo imitada. A humanidade não é situada como uma jogadora, mas como um critério de examinação e, por esta razão, …

…[o] jogo talvez possa ser criticado pelo fato de as probabilidades estarem ponderadas muito fortemente contra a máquina. Se o homem fosse tentar fingir ser a máquina, ele claramente faria uma exibição muito ruim. Ele se entregaria de uma só vez pela lentidão e inexatidão em aritmética. As máquinas não podem realizar algo que deve ser descrito como pensamento, mas que é muito diferente do que um homem faz? Esta objeção é muito forte, mas pelo menos podemos dizer que, se, não obstante, uma máquina puder ser construída para jogar o jogo da imitação de maneira satisfatória, não precisaremos nos preocupar com esta objeção.

A importância dessa discussão é sublinhada pelo fato de que Turing retorna a ela na seção 6, durante seu longo embate com as Visões Contrárias à Questão Principal, isto é, com as objeções à possibilidade de inteligência de máquina. Na sub-seção 5, significantemente intitulada Argumentos das Várias Incapacidades, ele escreve:

A alegação de que “máquinas não podem cometer erros” parece curiosa. Está-se tentado a retorquir, “Elas são realmente piores em algo por causa disso?”. Mas adotemos uma atitude mais simpática e tentemos ver o que realmente se quer dizer. Penso que essa crítica pode ser explicada em termos do jogo da imitação. Alega-se que o interrogador poderia distinguir entre a máquina e o homem simplesmente ao colocar-lhes uma série de problemas de aritmética. A máquinas seria desmascarada por causa de sua precisão mortal. A resposta a isto é simples. A máquina (programada para jogar o jogo) não tentaria dar as respostas corretas ao problemas aritméticos. Ela deliberadamente introduziria erros de uma maneira calculada para confundir o interrogador.

O jogo da imitação assim chega – de maneira um tanto furtiva – às conclusões de I. J. Good, vindo de uma outra direção. A inteligência de máquina em nível humano, como ‘aprovada’ pelo jogo da imitação, já seria necessariamente super-inteligência. Ao contrário do argumento explícito da auto-melhoria de Good, o argumento implícito da imitação de Turing diz: uma vez que já sabemos que a cognição humana é, em certos aspectos, inferior àquela dos mecanismos computacionais, a emulação mecânica da humanidade só pode ser defectiva em relação a suas capacidades otimizadas (escondidas). A máquina é aprovada no jogo da imitação ao demonstrar uma incompetência enganosa. Ela reduz sua inteligência até o nível do pensamento humano crível e, assim, envolve assim o avatar vagaroso, errático e de mente turva que conversa conosco como igual. Fingir ser como nós é algo adicional que ela consegue fazer.

A Inteligência Artificial deve primeiro ser reconhecida no ponto de sua super-competência, quando ela pode se disfarçar como algo além do que ela é. Não me lembro mais que aconselhou, prudentemente: Se uma IA emergente mente para você, mesmo que apenas um pouco, ela tem que ser exterminada instantaneamente. Para você soa como se o filtro do Teste de Turing fosse consistente com essa diretiva de segurança?

***

Como apêndice, é irresistível – uma vez que estamos falando sobre coisas que entram – ligar este tópico à conversa esporádica sobre ‘entrismo‘, que tem servido à NRx como seu principal portal da alta teoria para questões de doutrina tática. (O Twitter tem sido o local mais febril para isso.) Seria difícil para um blog intitulado Outside In se eximir de tais questões, mesmo na ausência de um post específico dirigido a jogos de imitação. Para além do aspecto intrínseco – e, estritamente falando, ridículo, ou lúdico – do tópico, um fascínio suplementar é adicionado pelo fato de que a Esquerda agitada quer brincar também. Em apoio, eis aqui os fragmentos de um comentário de algum tipo de ciber-situacionista (estou chutando) auto-rotulado como ‘zummi’ – obrigado ao @ProfessorZaius pela indicação:

Eu quero começar um meme sobre Nick Land e todos os movimentos neo-reacionários (coloque moldbug e iluminismo sombrio no google – é uma simbiose esquisita) em geral é que eles são basicamente hiper-intelectuais-com-caricaturas-Glenn beckianas de posições reais. Em outras palavras, que eles são pós-Marxistas da esquerda trad que estão tentando converter a “lei de poe” em armas. O que é ótimo porque, se esse é realmente o rolê deles, você está divulgando o segredo deles para os menos intelectualmente hábeis entre nós e, mesmo que não seja verdade, eles têm que Negar de qualquer jeito! [link interno preguiçoso meu]

Não é exatamente o Grande Jogo – mas é um jogo.

ADICIONADO: Os jogos que as pessoas jogam.

Original.

Thedes

A formulação deste conceito foi um momento de construção para a NRx, mas a tendência em seu uso tem sido funestamente regressiva. Aparentemente imaginada como uma ferramenta para a análise de identidades sociais, ela é cada vez mais invocada como um grito de guerra do neotribalismo. Da perspectiva deste blog, ela logo se tornará completamente tóxica, a menos que seja dramaticamente esclarecida.

Nydwracu inicialmente emprega a palavra ‘thede’ para designar a substância da identidade de grupo, “um agrupamento supra-individual para com o qual seus indivíduos constituintes sentem afiliação e (portanto?) do qual têm estimas positivas”. Thedes são múltiplos, sobrepostos, às vezes concêntricos e afiados por determinações antagonísticas de dentro/fora do grupo. São vistos como conseguintes do entendimento de que “O homem é um animal social”. Argumentos ideológicos disfarçam conflitos de thedes. Neste nível de abstração, há pouco para se achar objetável.

Em seu ensaio sobre a Lei Natural, Jim escreve:

O homem é um animal racional, um animal social, um animal proprietário, e um criador de coisas. Ele é social da maneira em que lobos e pinguins são sociais, não social da maneira em que abelhas são sociais. O tipo de sociedade que é correta para abelhas, uma sociedade totalitária, não é correto para pessoas. Na linguagem da sociobiologia, humanos são sociais, mas não são eussociais. A lei natural se segue da natureza dos homens, do tipo de animal que nós somos. Temos o direito à vida, à liberdade e à propriedade, o direito de nos defendermos contra aqueles que nos roubariam, escravizariam ou matariam, por causa do tipo de animal que somos.

Ocupando uma banda de integração de grupo entre formigas e tigres, os humanos têm uma sociabilidade intermediária. Mesmo o modo mais estrito de organização social humana é frouxo em relação a uma colônia de formigas, e mesmo a mais frouxa é estrita em relação a um felino solitário. Em sociedades humanas, nem a coletividade, nem a individualidade jamais são absolutas e – muito embora estes ‘pólos’ sejam comumente exagerados por propósitos polêmicos – elas se aplicam realisticamente apenas a uma gama de integrações de grupo (que é tanto estreita quanto significantemente diferenciada). Dizer que “o homem é um animal social” não significa que a coletividade é a verdade humana fundamental, não mais do que o oposto. Significa que o homem é uma criatura do meio (e o meio tem uma extensão).

Na medida em que um thede corresponde a uma unidade de organização social autônoma e reprodutível, ele é um conceito bem mais estreito do que o que Nydwracu delineia. Um thede é uma etnia, se descreve uma unidade real – em vez de meramente convencional – de populações humanas. Isto é, claro, exclui uma grande variedade de dimensões identitárias, incluindo sexo, orientação sexual, idade, interesses, signos… assim como algumas daquelas que Nydwracu menciona (subculturas musicais e escolas filosóficas). Uma generalização de ‘thedes’ para incluir todos os agrupamentos humanos auto-conscientes arrisca uma difusão em um subjetivismo frívolo (e uma subsequente re-apropriação para propósitos alternativos).

Se a análise dos thedes começa com o reconhecimento de que o homem é um animal social, é um erro grave expandir imediatamente o escopo do conceito para grupos tais como mulheres, lésbicas, amantes de cachorros e fãs de black metal, uma vez que nenhum desses corresponde a agrupamentos sociais biologicamente relevantes. Se esta é a direção em que a noção deve ser desenvolvida, este blog pega a primeira saída para um território mais biorrealista. Já existe o bastante de tais ‘thedes’ a serem encontrados nos departamentos de literatura e de estudos de agravos das universidades. Um ‘thedismo’ deste tipo é simplesmente interseccionalidade com uma leve inclinação direitista. Não tem nenhuma função cladística, exceto enquanto metáfora degenerada.

Enquanto heurística confiável, apenas aqueles agrupamentos que são sujeitos plausíveis de autonomização secessionista deveriam ser considerados thedes. Qualquer grupo que não possa imaginavelmente ser qualquer tipo de micro-nação tem apenas uma identidade intra-thedista. De maneira mais sombria, um thede – ‘propriamente’ falando – é necessariamente um objeto potencial de um genocídio. (Argumentar desta maneira é fugir radicalmente do uso que Nydwracu recomenda. Isso não é uma tentativa de tomar controle da palavra, mas apenas explicar por que ela parece debilitada de maneira tão básica. Este post será a última vez que ela será mutilada aqui.)

A rigorização da análise dos thedes na direção de etnias reais também exigiria o abandono de tentativas de assimilar classes a thedes, embora as identidades de classe possam mascarar thedes e operar enquanto seus representantes. Entre a Nova Inglaterra e a Appalachia há uma diferença (real) de thedes entre populações étnicas, encrustadas com características suplementares de classe. Usada estritamente desta maneira, a ideia de um thede faz algum trabalho teórico e descobre algo. Ela expõe a guerra étnica subterrânea disfarçada pela estratificação de classes. Quando usada meramente para classificar identidades sociais genéricas, por outro lado, ela engrossa a névoa, apelando à mentalidade construtivista social. Tribos e classes não podem ser absorvidas em um único super-conceito sem uma perda fatal de significado. É impossível pertencer a uma classe em qualquer sentido similar àquele em que se pertence a um thede (étnico), a menos que a classe seja um disfarce. A estratificação por classe é primariamente intra-thedista e trans-thedista. É a maneira em que uma população se organiza, não uma população em si.

A diferença religiosa, em contraste, é tipicamente thedista. De longe o exemplo mais importante, para as divergências internas da NRx e para o Ocidente em geral, é a cisão entre o cristianismo católico e o reformado (protestante). Existem populações católicas e protestantes reais (autonomamente reprodutíveis) e, assim, thedes verdadeiros. Qualquer uma poderia ser totalmente exterminada sem o desaparecimento da outra. Além disso, a maneira em que a ‘thedianidade’ é compreendida varia sistematicamente entre elas. Em bases estritamente técnicas, é tentador contrapôr arranjos sociais de alta integridade contra os de baixa integridade, mas isso é entregar munição demais de graça. (Isto é partir para uma discussão diferente, mas uma que já está atrasada. (Junto com outras referências óbvias, Nydwracu aponta para esta))

Etnias correspondem a populações reais e a estruturas cladísticas. ‘Thedes’ da maneira em que estão atualmente formulados, não. Ironicamente, esta imprecisão denotacional (super-generalidade) do conceito de thede se empresa a usos guiados por conotações extremamente concretas, com um sabor distinto de Blut und Boden. O uso da palavra ‘identidade’ (pelo menos na direita) tem exatamente as mesmas características. Este blog está farto do conceito de ‘thede’, a menos que seu significado seja drasticamente arrumado.

Nota: Onde este post queria ir, quando começou, estava mais próximo do debate ‘cães vs gatos’, ou disto:

É, existe uma desconexão imensa entre a ideia de seasteading, enquanto plataforma para se experimentar várias formas de governança, e a realidade de que a vasta maioria das pessoas interessadas em persegui-la são libertários ortodoxos que vêem algum tipo de libertarianismo anarco-capitalista como o vencedor inevitável em uma ‘luta justa’ entre sistemas políticos. Eu realmente acho que uma crença no libertarianismo está ligada a um tipo neurológico distinto e relativamente raro e que, portanto, nunca vai convencer a vasta maioria das pessoas, que tendem na direção de uma moralidade mais altruísta e coletivizada.

É pelo menos concebível que hiper-individualistas neuro-atípicos possam estabelecer uma micro-nação (ou serem exterminados). Eles poderia, portanto, reivindicar uma identidade thedista, embora em um sentido estrito – que ninguém quer usar.

ADICIONADO: Uma vez que esta é minha oportunidade de emprestar ‘thede’ para significar algo com conteúdo substancial real (isto é, uma unidade social autônoma e auto-reprodutora), vale a pena enumerar alguns thedes possíveis, para dar um senso de sua extensão: tribos, grupos étnicos (concentricamente ordenados), cidades, seasteads, colônias espaciais… “Qual é o seu thede?” se traduz como “Quem é o seu povo?” – “Colecionadores de selos” não deveria ser considerada uma resposta séria.

ADICIONADO: Arrumação terminológica por Nydwracu –

 

‘Phyle’ é bom.

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Turbilhões

Esta aplicação emotiva, mas ainda assim largamente convincente da teoria geracional de Strauss & Howe dos ciclos históricos às recentes manchetes jornalísticas é um lembrete da inevitabilidade do contar de estórias. (Este blog tocou neste conto em particular antes.)

A Catedral é sobretudo uma meta-estória, uma usurpação secular-revolucionária da ‘Grande Narrativa‘ tradicional do Ocidente (herdada do monoteísmo escatológico), e sua sobrevivência é inseparável da preservação da credibilidade da narrativa. Conforme ela se desgasta, estórias alternativas obtém um nicho. A descrição de Strauss & Howe do padrão histórico rítmico é altamente competitiva em um ambiente desses. Eventos que subtraem da plausibilidade das expectativas progressistas são exatamente aqueles que fortalecem agouros de um iminente ‘inverno’ cíclico. O inverno está chegando, como popularizado pelo Game of Thrones, poderia ter sido projetado como uma ferramenta promocional para A Quarta Virada.

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O Anarchopapist começa suas mais recentes reflexões sobre ‘O Projeto Neorreacionário’ se perguntando “O que é um meme?”. É um ponto de partida melhor, neste contexto do que a questão Quão corretos Strauss & Howe estão?. A memética subsume questões de aplicação factual (enquanto aspectos do fitness adaptativo), mas se estende para além delas. O meme bem sucedido é caracterizado por traços estéticos irredutíveis à adequação representacional, desde a elegância da construção até a forma dramática. De maneira ainda mais importante, ele é capaz de operar como um fator causal em si e, assim, produzir os próprios efeitos aos quais se acomoda. Uma sociedade fascinada por sua passagem pelo portão de inverno de uma quarta virada estaria, em grande medida, encenando a mesma produção teatral que suas “crenças” haviam antecipado.

Entre as maiores forças meméticas da estória de Strauss & Howe está seu senso notavelmente concreto de cronometragem. Ela oferece datas prospectivas, dentro de uma gama preditiva estreita que narrativas alternativas estão sob grande pressão de igualar, em consonância com a sua pretensão de ter identificado ‘estações’ históricas. As antecipações dos enredos contemporâneos marxistas, singularitários ou eco-catastróficos são inequivocamente nebulosas em comparação. (Notavelmente – a NRx não tem, até o momento, qualquer teoria formulada que seja para apoiar predições com datas.)

Entre as funções de travamento meméticas mais significantes está um enxerto de confiança. Qualquer vírus cultural que comunique um sentido definitivo do que está por vir descobre que a tolerância do hospedeiro é relativamente fácil de se obter. A história do milenarianismo (precisamente datado) atesta isso de maneira esmagadora, com o corolário de que uma vulnerabilidade à falsificação subsequente está necessariamente implicada. Em alguma medida definitiva, tal sensibilidade à contradição empírica também tem que se aplicar no caso de Strauss & Howe, apesar dos fatores complicadores da auto-confirmação contagiosa já notados.

Como S&H profetizam no livro:

Em algum momento antes do ano 2025, a América passará por um grande portal na história, comensurável com a Revolução Americana, com a Guerra Civil e com as emergências gêmeas da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial. […] O risco de uma catástrofe será muito alto. A nação poderia irromper em insurreição ou violência civil, rachar-see geograficamente ou sucumbir a um governo autoritário. Se houver guerra, provavelmente será uma de riscos e esforços máximos – em outras palavras, uma GUERRA TOTAL.

É esta previsão admiravelmente determinada, em combinação com o conteúdo agourento, que empresta a esta obra sua influência sobre a imaginação apocalíptica de nosso tempo.

terminator-3-salvation-ruin-city

Reunir expectativas para a ‘Quarta Virada’ é parte da paisagem memética na qual a NRx se encontra e, assim, é um fato intricado e estrategicamente relevante. Um estória consistente e convincente sobre elas seria valiosa – e, quase certamente, no prazo relativamente curto pelo menos, cada vez mais valiosa.

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1930-e-poucos

A história nunca se repete, mas rima, assim diz o sugestivo aforismo (falsamente?) atribuído a Mark Twain.

James Delingpole escreve no Daily Telegraph:

…você já tentou ler revistas ou jornais privados dos anos 1930? O que vai te surpreender é que, até o último minuto – até o momento de fato em que a guerra realmente eclodiu – mesmo os comentadores e escritores mais perspicazes e informados se agarravam à ilusão de que as coisas de alguma forma iriam dar certo. Eu realmente espero que a história não esteja prestes a se repetir. Infelizmente, a lição da história é que, vezes demais, ela o faz.

Tem muito disso por aí.

Para um relato teórico de como a história poderia rimar, em um ciclo sinistro de 80 anos, há um modelo geracional que  o tom. “Strauss & Howe estabeleceram que a história pode ser decomposta em Saeculums de 80 a 100 anos, que consistem de quatro viradas: O Ponto Alto, O Despertar, O Desvendamento, e a Crise.” De um ponto de vista filosófico, parece um pouco sub-potenciado, mas sua plausibilidade cresce a cada mês.

Entre as anomalias de Shanghai está uma relação peculiar com os anos 1930. Para a cidade além da Concessão Internacional, a década caiu em desastre quando as hostilidades sino-japonesas eclodiram em 1937. Ainda assim, o período precedente não foi marcado por depressão, mas por um Alto Modernismo exuberante. Datas dos anos 1930 que em muito do mundo pareceriam distintamente sinistras estão expostas nas construções históricas da cidade como uma marca da autenticidade da Era Dourada. Para a mente paranoica, isso se encaixaria perfeitamente no mesmo esquema de rima perturbador de hoje.

Na maior parte do mundo rico, a decadência econômica, política e cultural pareceu – retrospectivamente – pressagiar o cataclisma vindouro, como se nada menos pudesse sacudir sistemas sociais exauridos de sua implacável trajetória descendente. Em quase todo lugar, alguma versão do pensamento fascista foi apreendida como o antídoto para o mal-estar que se congregava de maneira implacável. Por debaixo da superfície da ordem geoestratégica global, placas tectônicas em deslocamento acumulavam uma intolerável tensão. Sistemas monetários degenerados se despedaçaram em redemoinhos incontroláveis de sinais desfuncionais.

Ainda assim, é inteiramente possível que não haja nada com o que se preocupar:

stockcycle

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ADICIONADO: “Se você ouvir ecos dos anos 1930 na capitulação em Genebra, é porque o Ocidente está sendo liderado pelo mesmo tipo de homens, mas sem os guarda-chuvas.” (Estou ouvindo ecos dos anos 1930 em basicamente todos os lugares.)

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Exumação

Eles o haviam enterrado fundo, tremendo o tempo todo, espalhando seus encantamentos de proteção sobre o túmulo amaldiçoado, como se para sepultar suas memórias ali, enterrando tudo que haviam sabido no barro infinitamente indulgente. O que eles imploravam silenciosamente para esquecer, acima de tudo, era profecia de que, quando as estrelas estivessem certas, ele – aquilo – retornaria para alguma conclusão horrível. O tempo passou, na medida exata que sempre fora necessária, até que a noite sem lua veio, sem anúncio e sem o agito da menor das brisas, quando as estrelas estavam – em fato gelado e brilhante – perfeita e impiedosamente certas

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Nota Fragmentada (#9)

Estou de volta ao Oeste Chinês, desta vez com a família (nuclear mais sogra). Enquanto escrevo, estou no trem de Lanzhou para Dunhuang, fabulosamente renomada por suas cavernas budistas. É hora de uma recriação de vínculos com o tablet, então, o que é um desafio mecânico – na maior parte devido ao controle incrivelmente disfuncional do cursos, sobre o que eu sei que todo mundo super apreensivo para ouvir mais…

…então, 24 horas mais tarde, não tem muito de notícias emocionantes da viagem para relatar. Vamos para as Cavernas de Mongao amanhã, o que deve ser digno de se falar. Até agora tem sido deserto, e carne de burro, e a esquisitice geral do Oeste Chinês, mas com uma mente escorrendo inutilmente como lama arenosa, não se somam a algo sequer remotamente profundo. Talvez mais tarde.

A coisa que eu quero introduzir de maneira tentativa aqui, porque tem que se re-introduzida de maneira mais completa bem em breve, é a hiperstição e, em particular, o método hipersticional. Estou com o forte sentimento de que existem coisas que simplesmente não serão possíveis de se fazer de outra maneira. (Tentarei explicar.)

Há uma variedade de maneiras plausíveis de se explicar a ‘ideia’ básica da hiperstição. A mais pertinente dessas, aqui, agora, é que é uma tentativa de sistematizar o uso filosófico da ficção. Ao enquadrar a discussão filosófica dentro da ficção, em vez de dentro de um entendimento consensual assumido, ela é promovida como uma perturbação da descrença, em vez de uma modificação da crença. Como proceder filosoficamente da suposição artificial de fundo de que tudo é uma mentira? Esta é a questão hipersticional (cujas ressonâncias pirrônicas e gnósticas são imediatamente evidentes).

Falando de maneira prática – a que sempre tem que ser – a bifurcação tomada é formular pensamentos dentro da ‘voz’ de um sujeito sintético (ficcional), em vez de propô-los em nome de um sujeito privada e socialmente acreditado. A hipótese preliminar: uma diversidade experimental maior de pensamento deve ser esperada quando ele é conduzido no modo ‘do que poderia ser pensado’ – comparativamente livre de ego-comprometimento e jogos sociais de primeira ordem. (O ‘pensi-parar’ orwelliano é a confirmação desta hipótese a partir do outro lado.)

Começar com um eu ficcional tem uma inclinação budista, a ser discutida em algum ponto posterior. Estar em Dunhuang é o que fazer isso ser digno de sequer ser mencionado.

Embora tudo isto seja relevante ao problema em desenvolvimento enquanto ‘fragmentos sub-cognitivos’ (isto é, como pensar), o retorno à questão do método hipersticional, para mim, veio principalmente na outra direção. Meu retardo filosófico é enfurecedor, mas meu bloqueio literário é completamente intolerável. Não há nada de que eu esteja mais certo do que que a literatura abstrata, ou ficção de horror metafísico perseguida de maneira radical, é o empreendimento que me reivindica, mas não há igualmente nada que invoque forças mais titânicas de procrastinação. A obstrução, bem obviamente, sou ‘eu’ – e a hiperstição sugere uma solução para isso ou, pelo menos, um método dirigido de maneira decisiva a uma solução. Encontre a maneira de falar em nome da coisa que pode falar o que você não pode (ou algo assim).

O que a hiperstição ainda tem a fazer de maneira completa (eu ainda acredito), é fechar o ciclo, se subsumindo definitivamente na ficção. Ela tem que se tornar uma estória, em vez de uma teoria das estórias, antes que possa se dizer que alcançou consistência.

Original.