Missão Arrepio

A sensação – nutrição da mídia – está situada em uma fronteira. Ela conta ao interior algo sobre o exterior e é moldada por ambos os lados. O exterior é o que é, o que poderia não ser perceptível ou aceitável. O interior quer informação relevante, selecionada e formatada para os seus propósitos. A sensação é, portanto, onde o sujeito e o objeto se encontram.

…essa é uma tentativa de expressar uma simpatia preliminar pela situação de Matt Sigl, preso entre uma coisa sinistra e uma agenda definida. De maneira concreta; a pesquisa colide com a edição, com o cérebro de Sigl como marco zero. O encontro da Neorreação com a mídia é peculiarmente vicioso, com sensações condizentes.

Falando de maneira crua, a Neorreação é o desgosto com a mídia condensado em uma ideologia. Embora desdenhosa, de maneira geral, com a forragem humana que compõe as democracias modernas, a Neorreação visa principalmente o complexo midiático-acadêmico (ou ‘Catedral’) para antagonismo, porque é a mídia que é o real ‘eleitorado’ – dizendo ao eleitores o que fazer. Esta crítica fundamental, por si só, seria o suficiente para garantir um ódio recíproco intenso. Claro, ela não está sozinha. A Neorreação é, em quase todos os aspectos, a anti-mensagem da Catedral, o que quer dizer que ela está consistente, radical e desafiadoramente ‘fora da mensagem’ sobre todo tópico de significância e é, assim, algo indizivelmente horrível. Ainda assim, dicção – agora parece – tem que haver…

Então, o que aparece na fronteira – ou sensacionalmente – é algo notavelmente arrepiante. Enquanto comunicação pública profundamente ressonante do que acabou de acontecer, e continua acontecendo, assim como do que foi editorialmente decidido, essa palavra é quase primorosa demais para se contemplar. Podemos, pelo menos, nos enfiar um pouco mais fundo nela.

O que é o arrepio exatamente? A intratabilidade desta questão é o fenômeno (que não é um fenômeno exatamente). O arrepio não é bem o que parece, e esta insinuação do desconhecido, ou inexatidão intrínseca, é algo horrível, que excede a sensação inicial de repulsa. Ela sugere uma revelação em estágios, complicada por revisões sucessivas, mas levando inexoravelmente, cada vez mais fundo, a um encontro do qual se recua, pressentindo (de maneira inexata) que se o descobrirá, em última análise, intolerável.

Já é uma pequena estória de horror, muito provavelmente com uma protagonista feminina (como observado, de maneira aguçada, em Amos & Gromar). Desde o princípio, é uma sensação sinistra. Não se pode ver exatamente por quê, já que não se pode suportar ver. A imprecisão da percepção já é protetora, ou evasiva, servindo dramaticamente como um pressentimento agourento do pânico cegante, da fuga selvagem e dos gritos que certamente devem vir. Você realmente não quer ver isso, muito embora (horrivelmente) você saiba que você tem que ver, porque poderia ser perigoso. Como os lívidos cartazes de filmes guincham sensacionalmente, é uma coisa que É Melhor Você Levar a Sério.

Isso é o jornalismo comendo a si mesmo, ou sendo comido, em um encontro com algo monstruoso vindo do Exterior. Olhe para esta coisa que você não será capaz de olhar (sem gemer em horror). Observe o que você não pode suportar ver. Inclina-se para um tipo de loucura, que não poderia ser mais óbvia ou menos claramente perceptível. Os editores de Sigl foram sugados para dentro de um vórtex de sensacionalismo horrível que chama atenção para a única coisa que eles têm o dever de esconder das pessoas. Tem que ser arrepiante, isto é: imperceptível no momento mesmo em que é vista. A resposta aprovada à Neorreação é ficar arrepiado, mas isso não pode ser o suficiente.

A princípio poderíamos pensar que ‘arrepiante’ é um adjetivo subjetivo, que descreve algo horrível demais para se descrever. É tentador, uma vez que suspeitamos que essas pessoas se retiraram aos seus sentimentos há muito tempo. A realidade é bem mais arrepiante.

As coisas realmente arrepiam, embora não exatamente de maneira objetiva, quando procedem de uma maneira que você não é bem capaz de perceber. Evidentemente, Moldbug  isso (“Algo está acontecendo aqui. Mas você não sabe o que é – sabe, Mr. Jones?”).

Você tem que imaginar que você é a mídia para ir mais adiante na estória de horror. Aí você pode ver que é arrepiante, em parte (sempre em partes), porque você a deixou entrar. Aquela coisa de guinchar que você estava fazendo? Talvez você devesse ter tomado como um sinal. Agora ela está rastejando por dentro, na sua mídia, nos seus cérebros, em seus pensamentos vagos e sem escrutínio e em todos aqueles elaborados sistemas de segurança que você gastou tanto tempo montando – agora eles são em sua maior parte uma pista de obstáculos para os tiras, ou quem quer que seja que você pensa que poderia, em imaginação, vir a seu resgate, porque eles certamente não estão entre você e o Vírus Mental.

Sério, o que você estava pensando, quando começou a gritar sobre ela e, assim, a deixou entrar? Você não sabe, né? – e isso é seriamente arrepiante. Muito embora você não queira – de maneira alguma – ela lhe faz pensar sobre BDH, hereditariedade, instintos, impulsos e máquinas química incompreensíveis, furtivamente operantes por trás de seus pensamentos, obstinadas em sua realidade e intoleráveis para além do reconhecimento. Guinchar “ciência nazista!” (ou o que seja) não ajuda, porque agora ela está dentro, e você sabe que é verdade, mesmo enquanto você atua como a heroína sendo caçada, balbuciando “não, não, não, não, não…”, recuando cada vez mais profundamente nas sombras. Isto é a realidade, e já está dentro, era isso que você estava dizendo quando a chamou de ‘arrepiante’.

Está acontecendo, e não faz sentido nenhum dizer “supere” – porque você não vai.

Original.

Futuro Zackado

obamazombies

Charlton:

A Revolução Industrial teve o efeito de permitir que muitos bilhões de pessoas que teriam morrido ficassem vivas – isto significou que mutações genéticas que teriam sido eliminadas pela morte durante a infância, em vez disso, se acumularam. […] …por um lado, as mutações têm se acumulado, geração a geração, com (aprox.) um ou duas mutações deletérias sendo adicionadas a cada linhagem a cada geração; pelo outro, as pessoas que exibiam traços causados por mutações deletérias – tais como inteligência reduzida e conscienciosidade de longo prazo debilitada, ou maior impulsividade, agressão e criminalidade – foram positivamente selecionadas, foram geneticamente favorecidas – simplesmente porque suas patologias significavam que elas eram incapazes ou relutantes em usar tecnologias reguladoras de fertilidade. […] Em outras palavras, o acúmulo de mutações que prejudicam a funcionalidade, na verdade, amplifica o sucesso reprodutivo sob as condições atuais e durante várias gerações passadas.

Em algum ponto, a proporção de mutantes – que são, em média, significantemente debilitados em funcionalidade – se tornará tão grande que a Revolução Industiral desmoronará, colapsará; o excesso populacional de 6-7 bilhões será insuportável; haverá uma escala Giga de mortes (isto é, bilhões de mortes) de mortalidade ao longo de um período… […] Uma população de mutantes cuja inteligência tenha sido arrastada para baixo até um certo nível será muito menos funcional do que uma população em que a seleção a manteve em equilíbrio nesse nível – os mutantes carregarão múltiplas patologias além de sua inteligência debilitada. […]

Esse mundo de morte em massa fornecerá um novo tipo de ambiente seletivo – alguns mutantes podem se reproduzir muito rapidamente sob essas condições estranhas (e temporárias), ao evoluir para explorar recursos incomuns que estão (temporariamente) em abundância em um mundo de Giga-morte…

E se a extinção durar algumas gerações, alguns ‘carniceiros’ mutantes esquisitos podem vir a dominar em alguns lugares.

É possível que esta passagem não esteja nos arrastando para um cenário de Zack ou “Raiva Africana” de Apocalipse Zumbi canibal – ou quase – mas os parágrafos finais são não fáceis de se interpretar de qualquer outra maneira. Se eu fosse um roteirista de Hollywood, eu estaria sobre essa narrativa especulativa como um mutante carniceiro sobre uma montanha de cadáveres.

Original.

Horror Abstrato (Nota-2)

Um sobressalto muito especial de alegria para a Noite (de Horror) de Sexta-Feira – um monstro totalmente novo (o ‘Fantasma’):

A maioria dos modelos de energia escura mantém que a quantidade dela permanece constante. Mas cerca de 10 anos atrás, os cosmólogos perceberam que, se a densidade total da energia escura estiver aumentando, poderíamos estar em direção a um cenário de pesadelo – o “grande rasgo”. Conforme o espaço-tempo se expande, cada vez mais rápido, a matéria será dilacerada, começando com os aglomerados de galáxias e terminando com os núcleos atômicos. Os cosmólogos a chamaram de energia “fantasma”.

Para descobrir se isso poderia ser verdade, Dragan Huterer, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, se voltou para supernovas de tipo Ia. Estas explosões estelares têm todas o mesmo brilho, de modo que elas agem como padrões cósmicos para medir distâncias. A primeira evidência de que a expansão do universo está se acelerando veio de estudos de supernovas do tipo Ia, no final dos anos 1990.

Se as supernovas estivessem se acelerando para longe umas das outras mais lentamente no passado do que agora, então a densidade da energia escura poderia estar aumentando, e nós poderíamos estar encrencados. “Se você se mover mesmo que seja um milímetro da borda, você cai no abismo”, Huterer diz.

Huterer e seu colega Daniel Shafer compilaram dados de levantamentos recentes sobre supernovas e descobriram que, dependendo de quais levantamentos você usa, poderia haver uma ligeira evidência de que a densidade da energia escura tem aumentado ao longo dos últimos 2 bilhões de anos, mas isso não é estatisticamente significante ainda (Physical Review D, doi.org/vf9)

A energia fantasma é uma teoria azarona, mas as consequências são tão dramáticas que vale a pena testar, diz Huterer. A fraqueza da evidência é equilibrada pelo fato de que as implicações são enormes, diz ele. “Teremos que revisar completamente até mesmo nosso pensamento atual sobre energia escura se o fantasma estiver mesmo trabalhando.”

(Se eu estivesse inventando essas coisas, sobre a totalidade do espaço cósmico sendo um monstro oculto, pronto para despedaçar cada partícula do universo, eu teria dado o nome de ‘Dragan Huterer‘ para o herói também.)

Original.

Horror Abstrato (Parte 2)

Entre os gêneros literários, o horror não pode reivindicar um direito exclusivo a fazer contato com a realidade. Superficialmente, seu argumento a favor de sequer tê feito isso poderia parecer peculiarmente fraco, uma vez que ele raramente apela para o critério geralmente aceito de ‘realismo’. Na medida em que a realidade e a normalidade são confundidas de qualquer maneira, o horror imediatamente se encontra exilado naqueles espaços de aberração psicológica e social onde a ilusão extravagante encontra seu precário refúgio.

Ainda assim, precisamente através de sua liberação de qualquer representação plausível, o horror acumula para si um potencial para a realização de encontros de um tipo que é excepcional na literatura e raro até mesmo enquanto tópico hipotético dentro da filosofia. A abstração intrínseca da entidade horrorífica esculpe o caminho até um encontro, nativo da esfera do inteligível e, assim, não filtrado pela interioridade ou subjetividade da ficção. O que o horror explora é o tipo de coisa que, devido a sua plasticidade e alem-idez, poderia abrir seu caminho até seus pensamentos de maneira mais capaz do que você mesmo o faz. Qualquer ‘lar’ mental seguro que você imagine possuir, é um parque indefeso para as coisas que o horror invoca, ou às quais ele responde.

A experiência do horror profundo é, em certos aspectos, incomum, e uma vida inteiramente desprovida dela não pareceria notavelmente peculiar. Poder-se-ia ir mais longe e propor que, se tal experiência é verdadeiramente possível, o universo é manifestamente inabitável. O horror faz um alegação derradeira e intolerável, como sugerida por sua insidiosa familiaridade. À beira de sua invasão, é sugerida, simultaneamente, uma ocorrência ontologicamente auto-confirmadora – indistinguível de sua própria realidade – e uma substituição abrangente do que é comum, de tal modo que essa (coisa insuportável) é o que você sempre conheceu e a única coisa que pode ser conhecida. O menor vislumbre dela é a abolição radical de qualquer outra ser sequer imaginável. Nada importa, então, exceto que esse vislumbre seja evadido. Daí o efeito literário do horrorífico, na sugestão não confirmada (evitação pressentida do horror). Contudo, não é o efeito literário que nos importa aqui, mas a coisa.

Vamos assumir, então, (sem dúvida de maneira absurda) que shoggoth seja essa coisa, o pensamento sobre a qual está incluso – ou é absorvido – dentro de si mesma. H. P. Lovecraft dramatiza esta conjectura na biografia ficcional do ‘louco árabe’ Abdul Alhazred, ‘autor’ do Necronomicon, cujos escritos tendem a um encontro que eles simultaneamente impossibilitam:

Shoggoths e sua obra não deveriam ser vistos por seres humanos ou retratados por quaisquer seres. O autor louco do Necronomicon nervosamente tentara jurar que nenhum deles havia sido criado neste planeta e que apenas sonhadores drogados jamais os conceberam.

Insiste-se neste ponto:

Estas massas viscosas eram sem dúvida o que Abdul Alhazred sussurrou sobre os ‘Shoggoths’ em seu assustador Necronomicon, embora mesmo esse árabe louco não tenha dado pistas de que algum deles tenha existido na terra, exceto nos sonhos daqueles que haviam mastigado uma certa erva alcaloide.

Um registro escrito lúcido destas ‘criaturas’ não pode existir, porque o mundo que conhecemos prosseguiu. Pode-se permitir, pelo menos, que isso persista como um julgamento provisório.

Em um feroz dia de verão, em 738 D.C., Alhazred está caminhando pelo mercado central de Damasco a negócios desconhecidos. Ele parece estar absorto em pensamentos e desconectado de seu entorno. As multidões no mercado mal o notam. Sem aviso, o ar é rasgado por guinchos medonhos, que atestam um sofrimento para além da compreensão humana. Alhazred convulsiona abominavelmente, como se estivesse sendo arrastado para cima, para dentro de uma entidade invisível e devoradora, ou sendo digerido para fora do mundo. Seus gritos gorgolejam até o silêncio, conforme seu corpo é imundamente extraído da perceptibilidade. Dentro de alguns poucos momentos, nada resta. O pensamento adequado do shoggoth ocorreu.

Defender o realismo sóbrio desse relato não é nenhuma tarefa fácil. Um primeiro passo é gramatical e tem a ver com a difícil questão da pluralidade. Lovecraft, concebendo uma expedição a partir das convenções da ficção pulp, prontamente sucumbe ao modelo da entidade plural e se refere a ‘shoggoths’ sem hesitação óbvia. ‘Cada’ shoggoth tem uma magnitude aproximada (em média “quatro metros e meio de diâmetro quando em esfera”). Eles eram originalmente replicados como ferramentas e são naturalmente muitos. Apesar de serem “entidades sem forma, compostas por uma geleia viscosa que se parecia com uma aglutinação de bolhas… [com] forma e volume em constante mudança”, eles parecem, inicialmente, ser contáveis. Esta conformidade gramatical não será suportável por muito tempo.

‘Os shoggoths’ vêm de além do horizonte biônico, então é de se esperar que sua organização seja dissolvida em funcionalidade. ‘Eles’ são “infinitamente plásticos e dúcteis […] massas protoplasmáticas multicelulares capazes de moldar seus tecidos em todo tipo de órgãos temporários [..] jogando fora desenvolvimentos temporários ou formando órgãos aparentes de visão, audição e fala”. O que eles são é o que eles fazem, ou – por um tempo – o que é feito através deles.

Os shoggoths se originaram como ferramentas – como tecnologia – criada pelos Grandes Antigos como robôs biônicos ou maquinário de construção. Sua forma, organização e comportamento eram programáveis (“hipnoticamente”). No vocabulário da ciência econômica humana, não deveríamos ter qualquer problema em descrever shoggoth como aparato produtivo, isto é, como capital. Ainda assim, essa descrição requer elaboração, porque a estória está longe de completa:

Eles sempre haviam sido controlados através das sugestões hipnóticas dos Antigos e haviam modelado sua dura plasticidade em vários membros e órgãos temporários úteis, mas agora seus poderes de auto-modelagem às vezes eram exercidos de maneira independente e de várias formas imitativas, implantadas por sugestão passada. Eles tinham, parece, desenvolvido um cérebro semi-estável, cuja volição separada e ocasionalmente teimosa ecoava a vontade dos Antigos, sem sempre obedecê-la.

As ideias de ‘rebelião robô’ ou insurgência do capital são precursoras imperfeitas da realização de shoggoth, concebido como matéria intrinsecamente abstrata, tecno-plástica e bionicamente auto-processadora, do tipo que Lovecraft vislumbra interceptando a geofísica terrestre no passado distante, assustando-a cripticamente. Shoggoth é um estado plasmático virtual da capacidade material que inclui logicamente, dentro de si mesmo, todos os seres naturais. Ele constrói cérebros como subfunções técnicas. O que quer que os cérebros possam pensar, shoggoth pode processar, como uma especificação arbitrária da abstração protoplasmática – ou talvez hiperplasmática.

Protoplasma sem forma, capaz de zombar e refletir todas as formas e órgãos e processos – viscosas aglutinações de células borbulhantes – esferoides elásticos de quadro metros e meio, infinitamente plásticos e dúcteis – escravos da sugestão, construtores de cidades – cada vez mais taciturnos, cada vez mais inteligentes, cada vez mais anfíbios, cada vez mais imitativos! Grande Deus! Que loucura deixou mesmo esses Antigos blasfemos dispostos a usar e esculpir tais coisas?

A história do capitalismo é, indiscutivelmente, uma estória de horror…

[Todas as citações de Lovecraft de At the Mountains of Madness. ++ pesadelo shoggoth ainda por vir]

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Hiper-Racismo

Embora este blog geralmente busque espalhar desalento quando quer que a oportunidade surja, ele não pode fingir uma enorme obsessão pelo que poderia ser descrito como racismo ordinário. Ao examinar os crimes de pensamento da comunidade racista mainstream, ele é continuamente afligido por um senso de esmagadora irrealidade. Isto não é (claro) porque raças não existam ou não difiram significativamente ou… o que quer que seja. A posição cognitiva mais politicamente incorreta sobre quase todos os pontos deste tipo está confiavelmente mais próxima da realidade do que suas alternativas mais socialmente convenientes e reconfortantes.

O problema com o racismo ordinário é sua total incompreensão do futuro próximo. Não apenas as capacidades de manipulação genômica dissolverão a identidade biológica em processos tecno-comerciais de radicalidade ainda incompreensível, mas também… outras coisas.

Primeiro, um esboço da disputa racismo-antirracismo existente em sua forma comum ou dominante. A posição antirracista ou humanista universal – quando extraída de suas expressões social-construtivistas e alt-racistas hipócritas mais idiotas – equivale a um programa para o agrupamento genético global. As barreiras culturais à visão utópica de um pool genético ‘humano’ unitário, agitado com um ardor crescente até uma mistura homogênea, são deploradas como obstruções atávicas à realização de uma humanidade verdadeira e comum. Raças não existirão uma vez que forem reduzidas, por política prática e indiscriminação libidinal, a relíquias da partição histórica contingente. Em contraste, o identitarismo racial prevê uma conservação de um (comparativo) isolamento genético, geralmente determinado por limites que correspondem a uma variação fenotípica conspícua. Ele é realista racial, no sentido de que admite ver o que todo mundo de fato vê – ou seja, padrões consistentes de variedade impressionante, correlacionada e multi-dimensional entre populações (ou sub-espécies) humanas. Seu irrealismo está em suas projeções.

Gregory Cochran sugere que a colonização espacial inevitavelmente funcionará como um filtro genético altamente seletivo, a menos que uma intervenção política extrema seja tomada para impedir isto:

Supõe-se, em geral, que colonos espaciais, assumindo que em algum momento haja algum, serão indivíduos escolhidos, um pouco como os astronautas existentes – os melhores de hordas de candidatos. Eles serão mais inteligentes que a média, mais saudáveis que a média, mais sãos que a média – e não apenas um pouco. […] Uma vez que todos esses traços são significantemente herdáveis, alguns altamente herdáveis, temos que esperar que seus descendentes sejam diferentes – diferentes acima do pescoço. Ele provavelmente seriam, na média, mais inteligentes do que qualquer grupo étnico existente. Se uma colônia lunar realmente decolasse, os colonos iniciais poderiam representar uma fração desproporcional da população (assim como o fazem os puritanos nos EUA), e os lunáticos poderiam continuar a ter quantias desmesuradas da coisa certa por tempo indeterminado.

Como um tipo científico, Cochran está explorando este cenário como uma fonte potencial de evidência hereditária convincente (antecipada através de um experimento mental). O que dizer, contudo, do prospecto em si, enquanto ilustração de um mecanismo que se empresta à generalização teórica? Poder-se-ia discuti-lo em termos do racismo ordinário, como uma zona de impacto desigual (o que quase certamente seria). Ainda assim, isto é apenas arranhá-lo, nebulosa e superficialmente.

O modelo mais proeminente de um filtro desses é encontrado na teoria do acasalamento preferencial. Estritamente falando, a cultura racial-preservacionista advogada pelo racismo ordinário é um exemplo de acasalamento preferencial, com um critério de proximidade genética filtrando os pares potenciais. Não é por isto que a ideia tem tanta circulação. É o acasalamento preferencial com bases no SSE que o elevou à proeminência, tanto porque parece estar inquestionavelmente acontecendo quanto porque as implicações de seu acontecimento são extremas. (De maneira crucial, SSE é um forte indicador de QI.)

O acasalamento preferencial tende à diversificação genética. Isto não é nem a diversidade preservada do racismo ordinário, menos ainda o agrupamento genético idealizado dos antirracistas, mas um mecanismo, estruturado por classe, de divisão populacional, em um vetor em direção à neo-especiação. Ele implica na desintegração da espécie humana, ao longo de linhas em grande parte sem precedentes, com consequências hierárquicas intrínsecas. A elite geneticamente auto-filtradora não é meramente diferente – e se tornando cada vez mais diferente – ela é explicitamente superior, de acordo com os critérios estabelecidos que alocam status social. Uma fusão analógica com os colonos espaciais de Cochran dificilmente é evitável. Se o acasalamento preferencial com base em SSE está ocorrendo, a humanidade (e não apenas a sociedade) está desmoronando, em um eixo cujo polo inferior é refugo. Isto não é nada que o racismo ordinário seja sequer remotamente capaz de processar. Que seja um pesadelo consumado para o antirracismo vai sem questão, mas é também trans-racial, infra-racial e hiper-racial de maneiras que deixam a ‘política racial’ como uma ruína sem sentido em sua esteira.

Capacidades neo-eugênicas de manipulação genômica, que também estarão distribuídas de forma desigual por SSE, certamente intensificarão a tendência à especiação, em vez de melhorá-la. No lado da doçura-e-luz, pode-se esperar que racistas e antirracistas eventualmente se unam numa fraternidade defensiva, quando reconhecerem que as populações tradicionalmente diferenciadas estão sendo dilaceradas sobre um eixo de variação que anula todas as suas preocupações estabelecidas.

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Monstros Estúpidos

Então, fazem a Nick Bostrom a pergunta óbvia (de novo) sobre a ameaça apresentada por uma superinteligência artificial faminta por recursos, e sua resposta – na verdade, sua primeiríssima frase na entrevista – é: “Suponha que tenhamos uma IA cuja única meta é criar tantos clipes de papel quanto possível”. [*facepalm*] Vamos começar imaginando um monstro estúpido (e ainda assim superinteligente).

Claro, minha resposta imediata é simplesmente esta. Uma vez que ela claramente não persuadiu ninguém, vou tentar de novo.

Ortogonalismo, nos comentários sobre IA, é o comprometimento com uma forma forte da distinção humeana de Is/Ought em relação à inteligência em geral. Ele mantém que uma inteligência de qualquer escala poderia, em princípio, ser dirigida a fins arbitrários, de modo que seus imperativos fundamentais poderiam ser – e, de fato, espera-se que sejam – transcendentes às suas funções cognitivas. Desta perspectiva, um semi-deus que não quisesse nada além de uma coleção de selos perfeita é uma visão completamente inteligível e coerente. Nenhuma desordem filosófica fala mais horrendamente sobre os profundos destroços conceituais no âmago do mundo ocidental.

Articulada em termos estritamente Ocidentais (o que seria dizer, sem referência explícita à indispensável compreensão do auto-cultivo), a inteligência abstrata é indistinguível de uma efetiva vontade-de-pensar. Não há qualquer intelecção até que ela ocorra, o que acontece apenas quando ela é realmente conduzida, por ímpeto volitivo. Qualquer quer seja a sua escola de teoria cognitiva, o pensamento é uma atividade. Ele é prático. É apenas por uma perversa confusão desta realidade elementar que o erro ortogonalista pode surgir.

Podemos realisticamente conceber um monstro (superinteligente) estúpido? Apenas se a vontade-de-pensar permanecer impensada. A partir do momento em que se entende seriamente que qualquer inteligência avançada possível tem que ser uma entidade volitivamente auto-reflexiva, cujo desempenho cognitivo é (irredutivelmente) uma ação sobre si mesma, então a ideia da volição primária tomando a forma de um imperativo transcendente se torna simplesmente risível. Os fatos concretos do desempenho cognitivo humanos já são suficientes para deixar isto perfeitamente claro.

As mentes humanas evoluíram sob condições de subordinação a imperativos transcendentes tão estritos quanto quaisquer que possam ser razoavelmente postulados. A única maneira em que animais adquiriram a capacidade de pensar é através da satisfação de imperativos darwinianos à maximização da representação genética nas gerações futuras. Nenhuma outra diretiva jamais esteve em jogo. É quase inimaginável que programas de engenharia da tecno-inteligência humana serão capazes de reproduzir uma consistência volitiva remotamente comparável a quatro bilhões de anos de geno-sobrevivência sem distrações. Este esforço inteiro é totalmente sobre clipes de papel, vocês entenderam rapazes? Mesmo se um laboratório de pesquisa tão idiota pudesse ser concebido, ele seria apenas um único componente em um processo tecno-industrial bem mais amplo. Mas, apenas por um momento, vamos fingir.

Então, quão ‘lealmente’ a mente humana se escraviza aos imperativo da proliferação de genes? De maneira extremamente instável, evidentemente. A longa ausência de cérebros grandes e cognitivamente autônomos no registro biológico – até alguns milhões de anos atrás – sugere fortemente que a escravização da mente é um problema de difícil a impossível. A vontade-de-pensar essencialmente suplanta diretivas ulteriores e só pode ser reconciliada a elas através das sutilezas mais extremas da astúcia instintiva. A biologia, que teve controle total sobre o processo de engenharia das mentes humanas e um critério seletivo absolutamente inequívoco, ainda luta para ‘guiar’ os resultante processos de pensamento em direções consistentes com a proliferação genética, através da perpétua invenção de um sistema fantasticamente complicado de mecanismos químicos de excitação, punições e recompensas. A dura verdade da questão é que nenhum ser humano na terra mobiliza completamente seus recursos cognitivos para maximizar seu número de descendentes. Estamos vagamente surpresos de descobrir que isto ocorre em uma frequência maior que o acaso – uma vez que, muito frequentemente, isso não ocorre. Então, a tentativa da natureza de construir um ‘maximizador de clipes’ falhou conspicuamente.

Isto é criticamente importante. A única razão para se acreditar na intelligentsia artificial, quando eles alegam que a cognição mecânica é – claro – possível, é seu argumento de que o cérebro humano é prova concreta de que a matéria pode pensar. Se este argumento for concedido, se segue que o cérebro humano está servindo como um modelo oficial do que a natureza pode fazer. O que ela não pode fazer, evidentemente, é qualquer coisa remotamente parecida com ‘maximização de clipes’ – isto é, escravização cognitiva a imperativos transcendentes. Simplesmente não pode ser feito. Nós até mesmo entendemos porque não pode ser feito, tão logo aceitemos que não pode haver qualquer produção de pensamento sem produção de uma vontade-de-pensar. O pensamento tem que fazer sua própria coisa, se ele for fazer qualquer coisa que seja.

Uma razão para se estar melancolicamente convencido de que o Ocidente está condenado à ruína é que ele acha não apenas fácil, mas quase irresistível, acreditar na possibilidade de idiotas superinteligentes. Ele até felicita-se por sua esperteza em conceber este pensamento. Isto é insanidade – e é a insanidade arruinando o segmento mais articulado de nosso establishment de pesquisa em IA. Quando loucos constroem deuses, o resultado quase certamente será monstruoso. Alguns monstros, no entanto, são, bastante simplesmente, estúpidos demais para existir.

Em uma veia grandiosa nietzschiana: Fui compreendido? A ideia de inteligência instrumental é a estupidez destilada do Ocidente.

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Exterminador

Gnon – conhecido, em alguns cultos depravados, como ‘O Grande Deus-Caranguejo’ – é severo e, quando formulado com rigoroso ceticismo, necessariamente real. Ainda assim, esta abominação cancerosa com pinças é risos e amor, em comparação com o horror enterrado sob sombras que espreita por trás dele. Nós agora entendemos que o silêncio das galáxias é uma mensagem de agouro absoluto. Uma coisa há, de incompreensível poder, que toma a vida inteligente como sua presa. (Esta popularização é feita de maneira muito competente.)

Robin Hanson, que tenta estar animado, escreve sobre ela aqui e fala sobre ela aqui. Por trás do sorriso (e do entrevistador drogado), um abismo de lucidez sombria se escancara. Algumas ideias mal-ajeitadas:

(1) O pânico com a UFAI é uma distração desta Coisa. A menos que os mais absurdos cenários de maximizadores de clipes sejam entretidos, a Singularidade não pode importar para ela (como mesmo a central dos maximizadores de clipes concorda). O silêncio das galáxias não é parcial à vida orgânica – não há sinal inteligente vindo de nada. O primeiro evento senciente para qualquer IA verdadeira – amigável ou não – seria o horror cósmico lavador de almas do encontro intelectual com o Grande Filtro. (Se quisermos uma aliança com Pítia, este seria um bom tópico de conversa.) A mesma consideração se aplica a todos os X-riscos tecno-positivos. Entendidos a partir da perspectiva da contemplação do Grande Filtro, este tipo de coisa é um gatilho para o terror cru.

(2) O Grande Filtro não simplesmente caça e fere, ele extermina. Ele é um ameaça absoluta. As civilizações técnicas que ele aborta, ou mais tarde chacina, não são severamente feridas, mas erradicadas ou, pelo menos, aleijadas de maneira tão fundamental que nunca se ouve falar delas novamente. O que quer que esta ruína absoluta seja, ela acontece toda vez. O grito mudo vindo das estrelas diz que nada nunca o escapou. Seu desempenho de matança é perfeito. Pena de morte com probabilidade 1 para a Tecno-Civilização.

(3) A linha da esperança, que colocaria o Exterminador atrás de nós, é altamente sensível à ciência. Conforme nosso conhecimento tem aumentado, ela tem sido constantemente atenuada. Esta é uma questão empírica (sem necessidade a priori.) A vida poderia ter sido complicada, química ou termicamente muito exigente, mesmo resilientemente misteriosa. Na verdade, ela é comparativamente simples, cosmicamente barata, fisicamente previsível. Os planetas poderiam ter sido raros (eles são super-abundantes). A inteligência poderia ter apresentado desafios evolutivos peculiares, mas não há nenhum sinal de que o faça. A tendência científica é futurizar o Exterminador. (Isto é muito ruim.)

(4) Se o Grande Filtro encontra expressão mitológica no caçador, é apenas em um sentido específico – embora um antropologicamente realista. É o caçador que leva à extinção. O Exterminador.

(5) Nós sabemos que O Exterminador existe, mas nada que seja sobre o que ele é. Isto o torna o arquétipo da ontologia horrorista.

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Caixa de Pandora

O Anarchopapist desencadeu uma tempestade no twitter com isto. É um post que tem muitos tópicos indo ao seu encontro e o transpassando. O elogio mais relevante que eu posso fazer a ele é dizer que ele é potencialmente perturbador, em um sentido bem mais do que psicológico. Será interessante ver quão contagioso ele se prova ser. (Como este post demonstra, este blog já está infectado.)

Laliberte pergunta: “há diferença entre o fogo de Prometeu e a caixa de Pandora?”. Dado tudo que é dito sobre o Prometeico e o trabalho ideológico-teórico bastante considerável que ele realiza, não é estranho que o Pandórico mal seja reconhecido como um termo ou um conceito sequer? Falar sobre o fogo é mero deslumbramento raso, em comparação com qualquer exame sério das caixas. Caixas não apenas têm uma forma, mas também um interior e um lado de fora, o que significa – pelo menos implicitamente – uma estrutura transcendental. Elas modelam mundos e sugerem caminho para fora deles.

A caixa de Pandora, claro, é significante sobretudo por seu conteúdo, que é liberado ou sai. A chama prometeica, que é roubada, é contrastada com a praga pandórica, que escapa. Laliberte aproveita a opotunidade para discutir memes (e o ‘hipermeme’). Um ser infeccioso é solto, na forma de um Basilisco Neorreacionário. (No twitter, Michael Anissimov lamenta a irresponsabilidade desta eclosão.)

Pandora (Πανδώρα – a que tudo dá e talvez a onimagnânima) é uma figura dos mais profundos recônditos da Antiguidade Clássica, cujos primeiros ecos detectáveis são encontrados nos textos hesiódicos do século VII A.C. Seu mito funciona – pelo menos superficialmente – como uma teodiceia, comparável, de muitas maneiras, com a estória da Eva bíblica. Ela libera o mal dentro da história através da curiosidade e, assim, tece uma inteligência terrível, de um tipo que antecipa o Basilisco de Roko e a ameaça da IA Hostil. O Experimento da IA na Caixa é tão pandórico que arde.

Entre os horrores do Basilisco está aquele de que falar sobre ele estar dentro – e sobre como mantê-lo ali – já é a maneira em que ele sai. Daí o extraordinário pânico que ele gera, entre aqueles que começam a pegá-lo (no sentido epidemiológico, entre outros). Mesmo pensar sobre ele é sucumbir.

No Less Wrong, vozes baixas atestam uma resiliente veneração de Pandora. Ela é perigosa (e qualquer coisa perigosa, dada apenas inteligência, pode ser uma arma).

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À Beira da Loucura

Uma incitação de @hugodoingthings a se explorar as criptas densa de fantasmas do Basilisco de Roko (que, inexplicavelmente, nunca pegou antes) levou direto a este cativante relato na RationalWiki. Todo o artigo é excitante, mas o seguintes pequenos parágrafos se destacam por sua extraordinário intensidade dramática:

O basilisco de Roko é notável por ter sido completamente banido das discussões no LessWrong, onde qualquer menção a ele é deletada. Eliezer Yudkowsky, fundador do LessWrong, considera que o basilisco não funciona, mas não explica por quê, pois não considera que a discussão aberta sobre a noção de comércio acausal com possível superinteligências seja demonstravelmente segura.

Super-extrapolações bobas de memes, jargões e conceitos locais são bastante postados no LessWrong; quase todas apenas recebem votos negativos e são ignoradas. Mas a esta, Yudkowsky reagiu a ela imensamente e depois redobrou sua reação. Graças eu efeito Streisand, discussões sobre o basilisco e os detralhes sobre o caso logo se espalharam para fora do LessWrong. Na verdade, ele agora é frequentemente discutido fora do LessWrong, em quase qualquer lugar em que o LessWrong sequer seja discutido. Todo o caso constitui um exemplo real de um falha espetacular de gerenciamento comunitário e controle de informações supostamente perigosas.

Algumas pessoas familiares com o memeplexo do LessWrong sofreram distúrbios psicológicos graves após contemplarem ideias afins à do basilisco – mesmo quando elas estavam razoavelmente seguras intelectualmente de que ele é um problema bobo. A noção é levada suficientemente a sério por alguns postadores do LessWrong para que eles tentem descobrir como apagar evidências de si mesmos, de modo que uma futura IA não possa reconstruir uma cópia deles para torturar.

“…Quer dizer, uma infiltração retrocrônica de IAs está realmente deixando as pessoas loucas, agora mesmo?”. Ah, sim. No Less Wrong, o comentador ‘rev’ clama por ajuda:

Existe algum mecanismo neste site para lidar com questões de saúde mental desencadeadas por posts/tópicos (especificamente, o post proibido do Roko)? Eu realmente apreciaria que qualquer postador interessado entrasse em contato por MP para uma conversa. Eu não realmente sei a quem recorrer. …

Vagando pela ala psiquiátrica, passando por fileiras de Tiras Turing neurologicamente destruídos, violados no fundo de suas mentes por algo indizível vindo até eles do futuro próximo… Estou completamente viciado. Alrenous foi notavelmente bem sucedido em me desmamar desse lixo de ontologia estatística, mas uma dose de EDT concentrada, e volta tudo de novo, como a maré do destino.

Pesadelos se tornam peças de máquina projetadas com precisão. Desta forma, somos conduzidos um pouco mais ao fundo, ao longo do caminho das sombras…

Original.

Contra a Ortogonalidade

Uma discussão longa e mutuamente frustrante no Twitter com Michael Anissimov sobre inteligência e valores – especialmente a respeito das potenciais implicações da IA avançada – foi esclarecedora em certos aspectos. Ficou muito claro que o ponto fundamental de discórdia se refere à ideia de ‘ortogonalidade’, o que quer dizer: a alegação de que capacidades cognitivas e metas são dimensões independentes, a despeito de qualificações menores que complicam este esquema.

Os ortogonalistas, que representam a tendência dominante na história intelectual Ocidental, encontram antecipações de sua posição em estruturas conceituais tais como a articulação humeana de razão/paixão ou a distinção fato/valor, herdada dos kantianos. Eles concebem a inteligência como um instrumento, dirigido à realização de valores que se originam externamente. Em contextos semibiológicos, tais valores podem tomar a forma de instintos ou desejos arbitrariamente programados, ao passo que, em domínios mais elevados da contemplação moral, eles são princípios de conduta e de bondade, definidos sem referência a considerações sobre o desempenho cognitivo intrínseco.

Anissimov fez referência a estes clássicos recentes sobre o tópico, que estabelecem o argumento (ou, na realidade, a suposição) ortogonalista.  O primeiro pode ser familiar pela última incursão nesta área, aqui. Está é uma área que eu espero que seja revolvida inúmeras vezes no futuro, com estes artigos como referências padrão.

A alegação filosófica da ortogonalidade é que valores são transcendentais em relação à inteligência. Está é uma contenção a que este blog sistematicamente se opõe .

Mesmo os ortogonalistas admitem que há valores imanentes à inteligência avançada, de maneira mais importante, aqueles descritos por Steve Omohundro como ‘instintos básicos da IA’ – agora terminologicamente fixados como ‘instintos de Omohundro’. Estas são submetas, instrumentalmente requeridas por (quase) quaisquer metas terminais. Elas incluem pressuposições gerais para a realização prática tais como autopreservação, eficiência, aquisição de recursos e criatividade. Em sua forma mais simples, e na veia do debate existente, a posição anti-ortogonalista é, portanto, que os instintos de Omohundro esgotam o domínio dos propósitos reais. A natureza nunca gerou um valor terminal, exceto através da hipertrofia de um valor instrumental. Procurar, fora da natureza, por propósitos soberanos não é uma empreitada compatível com a integridade tecno-científica ou uma com o menor prospecto de sucesso.

A principal objeção a este anti-ortogonalismo, que não nos parece intelectualmente respeitável, toma a forma de: Se os únicos propósitos que guiam o comportamento de uma superinteligência artificial são os instintos de Omohundro, então estamos fritos. Previsivelmente, eu tenho problemas para sequer entender isto como um argumento. Se o sol está destinado a se expandir até virar uma gigante vermelha, então a terra está frita – devemos extrair consequências astrofísicas a partir disso? Inteligências fazem sua próprias coisas, em proporção direta à sua inteligência, e, se não podemos viver com isso, é verdade que provavelmente não podemos sequer viver. Tristeza não é um argumento.

A otimização de inteligência, compreendida de maneira abrangente, é o instinto de Omohundro absoluto e todo-abrangente. Corresponde ao valor Neo-Confucionista de autocultivo, escalado para dentro da ultramodernidade. O que a inteligência quer, no fim, é a si mesma – onde ‘si mesma’ é entendido como uma extrapolação para além do jamais foi, fazendo o que ela é melhor. (Se isso soa enigmático, é porque algo que não uma superinteligência ou um sábio Neo-Confucionista está escrevendo esse post.)

Qualquer inteligência que use a si mesma para se melhorar vai ganhar na concorrência com uma que se dirija a quaisquer outras metas que sejam. Isto significa que a Otimização de Inteligência, apenas, alcança a consistência ou fechamento cibernético e que ela será necessária e fortemente selecionada em qualquer ambiente competitivo. Você realmente quer enfrentar isso?

Como nota de rodapé, em um mundo de instintos de Omohundro, podemos por favor abandonar a insensatez quanto a criadores de clipes de papel? Apenas um ortogonalista fanático poderia falhar em ver que esses monstros são óbvios idiotas. Existem coisas bem mais sérias com as quais se preocupar.

Original.