A NRx tem sido acusada, por seus amigos mais do que por seus inimigos, de falar demais sobre si mesma. Aqui está o XS, fazendo isso novamente, não apenas preso no ‘meta’, mas determinadamente empurrando cada vez mais fundo. Há algumas razões facilmente comunicáveis para isso – um apego à não-linearidade metódica talvez em primeiro lugar entre elas – e depois existem pulsões ou apegos crípticos, inadequados para a publicização imediata. Estes últimos são muitos (até mesmo Legião). É afirmação firme deste blog de que a Neorreação é intrinsecamente arcana.

Não falamos muito sobre Leo Strauss. Mais uma vez, existem algumas razões óbvias para isto, mas também outras.

O artigo recente de Steve Sailer sobre Strauss para a Takimag serve como uma introdução conveniente, porque – apesar do seu toque leve – coloca uma série de questões no lugar. A constelação de vozes é complexa desde o princípio. Há o (agora notório) ‘Neo-Conservadorismo’ de Strauss e seus discípulos, ou manipuladores e o outro conservadorismo de Sailer, cada um trabalhando para administrar, abertamente e em segredo, sua mistura peculiar de declarações públicas e discrição. Lá fora, para além deles – porque mesmo a figuras mais sombrias têm sombras ulteriores – estão formas mais alienígenas e mal perceptíveis.

O artigo de Sailer é tipicamente inteligente, mas também deliberadamente cru. Ele glosa a ideia straussiana de escrita esotérica como “falar por ambos os lados de sua boca” – como se o tradicionalismo hermético fosse redutível a uma estratégia política lúcida, ou simples conspiração – ao Iluminismo, concebido politicamente. No esteira de seu trauma Neo-Con, o conservadorismo tem pouca paciência para “anéis decodificadores secretos”. Ainda assim, apesar de sua aversão aos recentes trabalhos dos sofisticados ‘conservadores’ do círculo interno, Sailer não deixa sua aversão lhe atrair para a estupidez:

Não temos ouvido muito sobre Straussianismo ultimamente devido à infeliz série de eventos no Iraque que vitimaram os melhores planos dos sábios. Mas isso não significa que Strauss estava necessariamente errado sobre os antigos. E isto tem implicações interessantes para como deveríamos ler obras atuais.

Como a aproximação do 20º aniversário da publicação de The Bell Curve nos lembra, as melhores mentes da nossa era têm razões para ser menos do que totalmente francas.

Sailer não é, claro, um neorreacionário. Nem mesmo secretamente. (Seu artigo é primariamente sobre isto.) Ele acredita na esfera pública e busca curá-la com honestidade. Qualquer pessimismo que ele pudesse abrigar, no que diz respeita a esta ambição, fica muito aquém do que o atiraria por sobre a linha. Suas diferenças com os Straussianos são, no fim das contas, meramente táticas. Ambos mantêm a confiança no Partido Externo enquanto veículo para a promoção de políticas, com o potencial de dominar a esfera pública. A questão é apenas quanto ao grau de artimanha que isto exigirá (mínimo para Sailer, substancial para os Straussianos).

Quando adotada dentro da Neorreação, a corrente da BDH tem uma influência bem mais corrosiva sobre as atitudes para com a esfera pública, que é entendida como uma agência social teleologicamente coesa (ou auto-organizadora), inerentemente direcional e (da ‘nossa’ perspectiva) radicalmente hostil. Batizar a esfera pública como ‘a Catedral’ é se afastar do conservadorismo. Não é mais possível imaginá-la como um espaço que poderia ser conquistado – mesmo que sorrateiramente – por forças que diferem significantemente daqueles que ela já encarna. Ela é o que é, e isto é algo historicamente singular, ideologicamente específico e altamente determinado em sua orientação social. Ela nada para a esquerda, essencialmente. A esfera pública não é o campo de batalha, mas o inimigo.

Hail-hydra00

Conforme a NRx busca navegar este território hostil, ela é tentada, de maneira ambígua, por uma Cila e Caríbdis estratégica. Uma isca populista a arrasta em direção a uma reconciliação com a esfera pública, como algo que ela poderia potencialmente dominar, ao passo que uma política hermética contrária a guia em direção à formação de grupos fechados (cujo símbolo paródico é a conta de twitter protegida). Ambas as opções – ‘claramente’ – são uma fuga da complexidade do segredo aberto integral. Ambas prometem um relaxamento da pressão semiótica, através do colapso da comunicação multi-níveis em um simplificado discurso franco, seja ele implantado dentro de uma cultura pública redimida ou circulado cuidadosamente dentro de círculos restritos. O problema da hierarquia seria extraído a partir dos sinais da Neorreação, através da conversão em um objeto público ou privado, em vez de trabalhá-los incessantemente a partir de dentro. O que está a caminho se tornaria (simplesmente) claro.

Tal claridade não pode acontecer. A alternativa não é uma (igualmente simples) obscuridade. A NRx, na medida em que continua a se propagar, avança tornando-se clara e também obscura. Escrita dupla mal arranha a superfície. Ela realiza a hierarquia através de sinais, continuamente, de acordo com a Providência, ou a Ordem Oculta da natureza (a OOon). Assumir que o autor está completamente iniciado neste espectro de significados é um grave erro. É o processo que fala, multiplicitamente e predominantemente em segredo, conforme ele se espalha através de um espaço aberto e publicamente policiado.

Este post está agora determinado a desatar a coleira e pular para dentro da aspereza das notas temáticas. O Segredo Aberto intercepta:

(1) A censura da Catedral, no caso da BDH mais proeminentemente, mas também em todo lugar em que SWJs muito excitados fazem uma luta. Guerra é enganação, o que torna a franqueza uma tática. A honestidade deontológica é inepta. A anonimidade é frequentemente crucial para a sobrevivência. (Exigências de que todos os inimigos da Catedral corajosamente ‘saiam do armário’ são ridiculamente mal concebidas.) A camuflagem deve ser estimada.

(2) Cripto-tecnologias são centrais para quaisquer preocupações NRx que enfatizem a praticidade. (A ideia de que a clássica atenção de Moldbug aos prospectos de ‘cripto-bloqueio’ é uma piada é, em si mesma, irrefletida.) O Urbit – um Segredo Aberto – poderia bem facilmente ser mais NRx do que a NRx, assim como o Bitcoin é mais An-Cap do que o Anarco-Capitalismo.

(3) Os serviços de inteligência foram sub-teorizados e talvez mesmo sub-solicitados pela NRx até hoje. No nível mais baixo – isto é, mais publicamente acessível – de discussão, isto é bem possivelmente uma virtude. Em níveis mais crípticos de empreendimento microssocial e analítico, é quase certamente uma inadequação. Pessoas treinadas para manterem segredos têm que ser interessantes para nós. Questões sutis de subversão surgem.

(4) “Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador.” – Vamos tentar não ser simplórios.

Original.

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