Solicitado por Surviving Babel, O Ábitro do Universo pergunta: “Quem fala pela reação?”. Nick B. Steves responde: “A Natureza… ou o Deus da Natureza… ou ambos”. (Jim comenta sucintamente.)

“Natureza ou Deus da Natureza” (“Nature or Nature’s God”, em inglês) é uma expressão de especial excelência, extraída (com sutil modificação) da Declaração de Independência dos Estados Unidos da America. Para Steves, é algo como um mantra, porque permite que coisas importantes sejam ditas em contextos em que, de outra forma, um interminável argumento teria que ser concluído primeiro. Primária e estrategicamente, permite um aceitação consensual da Lei Natural, desobstruída de controvérsias teológicas. Não é necessário adiar o acordo de que a Realidade Rege até que as diferenças religiosas estejam resolvidas (e evitação de adiamento, apreendida de forma positiva, é propulsão).

“Natureza ou Deus da Natureza” não é uma declaração, mas um nome, internamente dividido por incertezas toleradas. Tem a singularidade de um nome próprio, enquanto coloca entre parênteses uma decisão suspensa (a epoche pirrônica, sobre a qual muito mais em um post futuro). Designa rígida mas obscuramente, porque aponta para a escuridão epistemológica – dando nome a uma Realidade que não apenas ‘tem’, mas epitomiza a identidade, se todavia, por ‘uma questão de argumento’, escapando à identificação categórica. Pacientes em face (ou ausência de face) de quem ou quê ele é, ‘nós’ emergimos de um pacto com um único termo básico: uma decisão preliminar não deve ser exigida. Sintetiza, assim, uma seleta comunidade linguística, fundida pelo desconhecido.

Se O Árbitro do Universo merece uma abreviação (“OAdoU”), Natureza ou Deus da Natureza tem uma causa muito maior. Um propulsor escapa à estranheza, e a singularidade compacta sua invocação. NoNG, Nong, No – certamente, não. Estes termos se inclinam a NoNGod e precipitam uma decisão. O ‘Deus da Natureza ou (talvez simplesmente) Natureza’ é Gnon[1], cujo nome é o abismo do desconhecer (epoche), necessariamente tolerado em aceitação à Realidade.

Gnon é não menos do que a realidade, o que quer mais que se aceite. O que quer que esteja suspenso agora, sem adiamento, é Gnon. O que quer que não possa ainda ser decidido, mesmo enquanto a realidade acontece, é Gnon. Se há um Deus, Gnon é seu apelido. Se não, Gnon designa o que quer que o ‘não’ seja. Gnon é o Vasto Abrupto e a travessia. Gnon é o Grande Propulsor.

O Deus sive Natura espinozista é uma decisão (de equivalência), então não descreve Gnon. O ‘ou’ interior de Gnon não é equação, mas suspensão. Não nos diz nada sobre Deus ou Natureza, mas apenas que a Realidade Rege.

Heidegger chega próximo de vislumbrar Gnon, ao notar que ‘Deus’ não é uma resposta filosoficamente satisfatória para a Questão do Ser. Uma vez que o principal legado de Heidegger é o reconhecimento de que não sabemos ainda como formular a Questão do Ser, esta compreensão atinge penetração limitada. O que ela captura, contudo, é a afinidade filosófica de Gnon, cujo abismo é um espaço de pensamento para além da fé e da infidelidade. Nem Deus nem Não-Deus adiciona informações ontológicas fundamentais, a não ser a partir das profundidades ocultas de Gnon.

O Iluminismo Sombrio não está ainda muito preocupado com arcanos ontológicos fundamentais (embora eventualmente estará). Para além do realismo radical, sua comunhão com os pavorosos ritos de Gnon está ligada a dois temas principais: a não-coerção cognitiva e a estrutura da história. Estes temas são mutualmente repulsivos, precisamente porque estão tão intimamente entrelaçados. A liberdade intelectual tem sido a tocha do iluminismo secular, ao passo que a providência divina tem organizado a perspectiva da tradição. Dificilmente é possível entreter qualquer uma das duas sem tacitamente comentar sobre a outra e, em profundidade, elas não podem ser reconciliadas. Se a mente é livre, não pode haver nenhum destino. Se a história tem um plano, a independência cognitiva é ilusória. Nenhuma solução é sequer imaginável… exceto em Gnon.

[Eu preciso fazer um pequeno intervalo a fim de sacrificar esta cabra… sintam-se livres para continuar entoando cânticos sem mim]

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[1] ‘God of Nature or Nature’

Original.

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