No nível máximo de abstração, há apenas duas coisas sobre as quais a cibernética fala: explosões e armadilhas. A dinâmica de feedback ou foge do equilíbrio ou traz os errantes de volta a ele. Qualquer outra coisa é uma compleição de ambos.

O furor fervoroso em torno do Aquecimento Global Antropogenético assume uma massa efervescente de cibernética técnica e especulativa, com mecanismos de feedback postulados alimentando inúmeras controvérsias, mas a armadilha de calor terrestre em larga escala que o envolve raramente é notada explicitamente. O que quer que os humanos tenham conseguido fazer com o clima é de insignificância que se esvai quando comparada ao que o megamecanismo bioclimático está fazendo com a vida na terra.

Com base nesta apresentação da jaula biogeológica em constante contração da terra, Ugo Bardi retrocede até o sombrio aparato de confinamento:

… a biosfera da Terra, Gaia, chegou ao auge com o começo da era Fanerozoica, cerca de 500 milhões de anos atrás. Depois disso, ela entrou em declínio. Claro, há bastante incerteza neste tipo de estudos, mas eles se embasam em fatos conhecidos sobre a homeostase planetária. Sabemos que a irradiação do sol continua a aumentar com o tempo a uma taxa de cerca de 1% a cada 100 milhões de anos. Isso deveria ter resultado no aquecimento do planeta, mas os mecanismos homeostáticos da ecosfera mantiveram temperaturas aproximadamente constantes, ao gradualmente diminuir a concentração de CO2 na atmosfera. Contudo, há um limite: a concentração de CO2 não pode ir abaixo do nível mínimo que torna a fotossíntese possível; caso contrário, Gaia “morre”.

Então, em algum momento no futuro, a homeostase planetária deixará de ser capaz de estabilizar as temperaturas. Quando atingirmos esse ponto, as temperaturas começarão a subir e, eventualmente, a terra será esterilizada. De acordo com Franck et al., em cerca de 600 milhões de anos a partir de agora, a terra terá se tornado quente demais para criaturas multicelulares existirem.

Mesmo aqueles comentadores de espírito ecológico que são atraídos pela ideia de estabilidade poderiam se encontrar perturbados pela insidiosa compreensão de que o equilíbrio bioecológico ‘Gaiano’ só é alcançado através do estrangulamento termo-atmosférico. Através do tempo profundo, as paredes estão se fechando. A biosfera está lentamente se asfixiando – de acordo com um requintado mecanismo auto-regulador – para não cozinhar.

Armadilhas cibernéticas produzem um condição objetivamente esquizoide, já que o que elas capturam é mantido em um dilema. A alternativa ‘Gaiana’ à incineração é a fito-asfixia, de modo que a biosfera só sobrevive se matando. Se a espécie humana fosse completamente extinta amanhã, a severidade deste dilema não seria aliviada nem em um iota. Não existem narrativas realistas de eco-salvação em jogo.

Podemos estar bastante confiantes de que o megamecanismo funciona da maneira delineada. A redução a longo prazo do CO2 atmosférico a um gás-traço sugere fortemente que nenhum outro ‘sintonizador’ alternativo de termo-regulação esteve disponível para a biosfera ao longo do último meio milhão de anos. Este mesmo fenômeno indubitavelmente dá suporte à principal contenção do AGA de que o CO2 é um gás ‘estufa’ significante, pelo menos em escalas de tempo longas, uma vez que ele claramente foi identificado como uma molécula termo-reguladora pela máquina biogeológica. Uma opção demonstrada pela asfixia indica uma paisagem adaptativa altamente restrita.

Essas concessões ao ‘consenso’ climático não descartam seu erro, ou falha de visão, básico. Os devotos de Gaia – não importa o quão calma e científica sua análise – estão se alinhando com uma armadilha mortal. Reverter a redução de longo prazo do CO2 atmosférico é a prioridade esmagadora da vida terrestre, e qualquer solução que não reconheça isto está meramente reparando uma máquina de lento suicídio. (Esse tipo de entendimento é pura cegueira.)

Escapar do abraço mortal de Gaia irá exigir reengenharia planetária em uma escala colossal, inevitavelmente envolvendo alguma combinação de:
(a) Aumentar o albedo da terra
(b) Construir filtros orbitais de infravermelho
(c) Elevadores espaciais com propósito duplo como drenos de calor planetário (?)
(d) Mudar a órbita da terra (admitidamente, um sério desafio)
(e) Outras coisas (sugestões, por favor).
O entendimento essencial é que essas coisas têm que ser feitas não apenas para resfriar a terra, mas a fim de ser capaz de aumentar massivamente o nível de CO2 atmosférico. A redução de CO2 a um gás-traço já é um desastre que a influência antropomórfica afeta de uma maneira essencialmente trivial. A humanidade, na pior das hipóteses, está mexendo com a mecânica de uma máquina mortífera.

Original.

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